1 de dezembro de 2018

O Rock Brasileiro dos Anos 1970 (A História Esburacada 2)


Já escrevi aqui sobre os buracos na história do rock brasileiro e o link do texto vou deixar no final desta postagem.

Ali pergunto de quem é a culpa e respondo que não é de ninguém, essa nossa história cheia de buracos. Na verdade a culpa é de todo mundo por conta de uma série de coisas que aconteceram naquele período, inclusive dos artistas.

Há quem tenha se destacado mesmo em um período bastante obscuro para o mainstream, mas a maior parte dos artistas não conseguiu destaque. Foi uma época em que não dava pra viver de shows, nem todos os grupos conseguiam fazer uma turnê com datas seguidas e bom cachê.

Da turma da jovem guarda, muitos músicos montaram novos grupos e continuaram tocando, inclusive acompanhando grandes nomes da MPB. Teve quem se tornou executivo de gravadora e quem se tornou produtor, montando estúdio, etc.

Mas é nítida a falta de conhecimento que as pessoas que gostam de rock brasileiro têm da obra deixada pela geração 70. Pena porque há discos incríveis, ótimas composições.

Apesar de não ter chegado a grande mídia, o rock brasileiro tinha seu espaço. Folha de SP, Estadão, O Globo, JB sempre noticiavam os lançamentos, shows, eventos. Publicações especializadas realmente não tinham, a não ser as independentes que eram poucas e tinham vida curta.

Tinham os festivais como de Águas Claras, Saquarema, Hollywood Rock 75, Banana Progressiva, 1ª Feira de Música Experimental e outros. Além disso, era costume ter shows de rock em teatros. Muitos grupos tinham seus shows disputados, principalmente show de lançamento. Foi assim com O Terço, Bixo da Seda, Ave Sangria, Rita Lee & Tutti Frutti, Vímana, Raul Seixas, Os Mutantes, Módulo 1000. Eram teatros lotados e gente pra fora. 

Tinha banda que apesar da carreira e de disco lançado, sobrevivia como grupo de apoio para outros artistas tipo Erasmo Carlos, Caetano, Gil, Chico, Gal, Milton e outros. Também havia as bandas que investiam em equipamento para aluga-lo para shows e gravações. Todo mundo se virava de algum jeito porque viver 100% de música no meio rock era privilégio de poucos (inclusive a mesma coisa que acontece hoje).

Ao contrário do que muita gente pensa, havia muito grupo de rock, não só concentrados no eixo Rio-São Paulo. Salvador, Recife, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte também tinham sua cena rock local e, desses e outros lugares, algumas tentaram a sorte no eixo, onde estavam gravadoras, imprensa, empresários e tals.

Esse movimento nem é exclusivo desta década. Isso aconteceu com todo mundo, dos anos 1950 até hoje, zilhões de artistas foram para RJ-SP tentar um lugar ao sol.

A comunidade rock da década de 1970 era pequena. Era um gueto. Quem podia se ajudava e todo mundo tentava manter a chama acesa. As iniciativas de se fazer festivais (também haveria o Ibirastock caso não tivesse sido proibido em cima da hora), shows em conjunto, e eventos especiais como a Semana Rock’n’Roll e premiações anuais promovidas pelos próprios promotores de shows (sem querer o Prêmio Gabriel Thomaz de Música, o qual sou DJ, resgata parte disso).

Lembro-me de ler uma entrevista com o genial Gerson Conrad (Secos & Molhados), da época em que estava lançando seu 1º disco solo junto com Zezé Mota, e nela Gerson já falava de mercado independente e da ajuda mútua entre artista e gravadora, por exemplo, em shows e divulgação, o que acontece hoje.

Nenhum artista brasileiro de rock da década de 1970 ganhou dinheiro com show ou venda de discos. As TVs e as rádios não estavam nem aí pras bandas de rock e, apesar de todo espaço que já tinha, essas forças que eram fundamentais não estavam ao lado. Raros são os rocks brasileiros dos 70 que tocaram em rádio.

Você pode inclusive perceber em conversas com amigos que todo mundo cita Paralamas, Titãs, Ira!, Legião, Raimundos, Planet Hemp e Nação Zumbi; mas ninguém fala de Módulo 1000, Peso, O Terço, Casa das Máquinas... nunca ninguém cita músicas ou discos dos grupos dos anos 70. Já percebeu?

Percebeu que as rádios que tem programas tipo flashback nunca incluem na programação músicas do rock brasileiro dos anos 70? Mesmo sendo elas rádios de rock!

Gravadora ou selo nenhum se interessa em recuperar discos dessa época. A imprensa, especializada ou não, não está nem aí - até porque está morta - e nem mesmo ninguém se interessa em conhecer essa parte da história. Ok, pode até haver relançamento de um disco ou outro, mas há muita coisa fora de catálogo. Esquecida.

Se assim fosse teríamos uma continuidade entre a 1ª geração do rock, aquela da segunda metade dos anos 1950, a Jovem Guarda do miolo dos anos 1960, o rock dos 70 e, por fim, a geração 80 e 90. Mas se ninguém conhece o que foi feito nos anos 70 e nem nos anos 60, como é que poderemos ter uma história com começo, meio e fim?

E mesmo tendo a força que teve, sem essa ajuda na divulgação e sem a atenção das gravadoras, esse rock brasileiro dos 1970 é praticamente ignorado pela maioria do público.

Então você pode imaginar: se o público que gosta de rock brasileiro já é pequeno, imagine então um público menor ainda dentro dele!

Uma pena esse esquecimento da mídia e do mainstream que acabou causando essa falta de memória e valorização dessa cena. E esse é um buraco que dói porque há coisas muito legais registradas.

Além dos conhecidos clássicos eu particularmente gosto de discos de Ave Sangria (apesar da capa horrorosa é um dos melhores da década), Módulo 1000, Sá, Rodrix e Guarabira, Novos Baianos, Som Imaginário, O Som Nosso de Cada Dia e O Terço.

Não era só a MPB que era boa nos 70, o nosso rock também!

Nota: Em 1974 foram gravados cerca de 20 discos de grupos brasileiros, aconteceu cerca de 300 shows e houve mais de um milhão de discos vendidos de rock brasileiro.






18 de novembro de 2018

Punk Rock

Comecei a escutar punk rock em 1980 com uma fita da minha irmã mais velha Mila. Nessa fita tinha Sex Pistols, Ramones, Siouxsie and the Banshees e Generation X.

Entrei neste universo conhecendo e escutando o punk rock clássico dos anos 70 tanto o americano, quanto o inglês: Clash, Jam, Damned, Television, Talking Heads, Buzzcocks, Stranglers...

Fui abençoado por estar em Brasília no lugar e no tempo certos. Quanto a isso, tive bons professores. Como na Turma também havia filhos de diplomatas de lugares diferentes, acabávamos tendo acesso a bandas da Europa, pré-punks, punks e pós-punks incomuns até para quem morava em São Paulo – a outra meca do punk rock no Brasil. Fred Banana Combo, Ian Dury, Ruts, XTC, bandas da antiga Iugoslávia, e até Gang of Four, X e Dr. Feelgood eram coisas obscuras mesmo no underground daqui. Eram muitas bandas boas e, apesar de todas pesadas, eram bem diferentes.

Mas em 1979-80 o punk rock já tinha mudado. Toda aquela geração que começou a tocar em 1975-76 já havia crescido (menos o Ramones!).

Sex Pistols não existia mais; Clash e Jam haviam mudado as influencias; Talking Heads já estava no 4º disco; Siouxsie and The Banshees mais gótico e pós-punk, e até o Ramones estava tentando algo “novo” com ‘End of the Century’.

Inicio dos anos 1980 as novidades eram outras. Tinha Dead Kennedys, Devo, PIL, Gang of Four, B-52’s, a cena ska 2 Tone, Police, a cena gótica com Joy Division, Cure e Bauhaus e toda aquela geração muito bem documentada no maravilhoso Urgh! A Music War.

Era uma novidade atrás da outra, até mesmo coisas cafonas como a cena new wave estereotipada com teclados, roupas coloridas, gel com glitter, o new romantic, etc tocavam nas rádios e danceterias.

Nessa época o punk rock foi pro fundo do poço, e lá ficou esquecido. Brincadeira! Mas deixou de ser novidade e voltou para o underground. Teve um período na minha vida, principalmente entre 1983 e 1985, que escutei muito hardcore. Acredite, eu tinha um rádio gravador no criado mudo e colocava coletânea de bandas hardcore para dormir!

A cena hardcore, digo no mundo, teve seu auge entre 1982 e 1985 e eu gravava tudo que caia na minha mão. Esse material era mais difícil de se encontrar porque não era todo mundo que gostava (mesmo entre punks), além de ser tudo independente. Então o que eu tinha dessa cena 95% era em fita cassete.

Gostava de coisas clássicas como Dead Kennedys, Exploited e GBH, mas depois apareceu Rattus, Riistetyt, Discharge, Anti-Pasti e mais um monte de outras podreiras da Europa, da Finlândia. Mesmo mergulhado no hardcore, não largava o punk rock.

Até a abertura de mercado e chegada do CD, digo início dos anos 1990, era comum você ter acesso a material do início dos anos 1980 e vê-lo como novidade. Um exemplo é o ‘It’s Alive’ do Ramones, que sempre tive em fita – cópia da cópia – desde 82-83, mas só fui pegar e ver o disco na mão em 90-91 quando eu já morava em São Paulo. Ficava horas escutando-o e admirando as fotos, lendo ficha técnica. Era como se fosse lançamento!

Mas o punk rock nos anos 80, salvo exceções, ficou ruim. Principalmente porque não gosto do tal punk rock da Califórnia que surgiu nessa virada de década 70-80 com Black Flag, Bad Religion, Social Distortion... Dessa cena gosto de Circle Jerks, The Germs e algumas coisas de Minor Threat e Adolecents.

Como o hardcore é um estilo ultra mega limitado, preferi (e isso até hoje) ficar com as bandas de raiz.

Nesse miolo dos 80 o Ramones conseguiu dar um chacoalão na carreira quando lançou 'Animal Boy' e 'Halfway to Sanity', e descobriu a América do Sul. Colocou hardcore e outros elementos do punk rock nesses discos e conseguiu dar um folego pra cena (apesar de na Europa e EUA a banda estar caída nesse período).

Pra mim, uma das melhores bandas de punk rock dos 80 é o Husker Du, que sempre escutei muito, assim como Dead Kennedys. No caso do Husker Du fui conseguir escutar coisas “antigas porém novas” só nos anos 90, apesar da Warner ter lançado dois discos aqui. No caso do Dead Kennedys, como era uma das mais queridas de Brasília, sempre tínhamos a mão os lançamentos. Eu tinha inclusive os primeiros compactos com as primeiras gravações de “Nazi Punks Fuck Off”, “Police Truck”, “California Uber Alles”...

Mas em 1987, chegando a São Paulo, meus ouvidos e olhos se voltaram para outras zilhares de coisas fora do punk rock, que estava chato e sem a menor expressão.

Uma das únicas coisas que me chamaram a atenção na virada dos anos 80 para os 90 foi o Pixies, que conheci em 1989 quando escutei Doolittle e Surfer Rosa (esse foi Miranda quem me apresentou). Aquele som esquisito lembrava muito o bom pós-punk do final dos 70, e foi uma luz no marasmo daquele período (em relação ao punk rock).

Nos anos 1990 quando eu já estava na MTV estourou uma nova geração de bandas punks americanas... da Califórnia. Tive acesso fácil a todas elas, até porque eu dirigia o Fúria, programa que tocava os grupos dessa cena.

Offspring, Green Day, No Fun at All, Biohazard, Pennywise, Rancid, o auge do Bad Religion... afê Maria! Na MTV assistia aos clipes, escutava os CDs, mas não conseguia gostar. Tudo igual, tudo um horror. Tem grupos inclusive com duas guitarras, mas é um som de radinho de pilha  e péssimas composições. Não digo todos eles, há exceções, mas é difícil.

Entrevistávamos esses grupos quando vinham pra cá, eu ia aos shows porque ganhava ingressos pra tudo, mas achava (e acho) tosco. Não entendia ver todo mundo pulando como louco no palco e aquele sonzin chifrin. Exceção: Nunca gostei de Fugazi, mas o show que rolou em Piracicaba foi de respeito. Histórico!

Meus grupos punks preferidos dos anos 90 são Nirvana, At the Drive-In e The Presidents of The Unites States of America! O Presidents não conhecia direito, mas tive que assistir e editar dois shows do grupo e fiquei de queixo caído! Pesado! Trio com guitarra de 3 cordas e baixo com 2 cordas, e era mais pesado que todos esses nomes que citei acima. Apesar da postura brincalhona, ótimo punk rock.

O Nirvana, dentro daquela cena grunge de jornalista pós moderno, era o melhor grupo de todos aqueles que estouraram (mas acrescento Mudhoney e Melvins – que ficaram na marginal desse sucesso). É punk rock clássico nos três discos de estúdio.

At the Drive-In conheci por acaso escutando o ‘In Cassino Out’. Pirei, mas só fui conseguir ter a discografia no início dos anos 2000 com o Napster e SoulSeek. ‘Vaya’ pra mim é algo de ourto mundo!

Depois disso acabou. Gosto de The Hives, que também é um ótimo punk rock clássico, mas aí já é um caso isolado.

Joe Strummer com The Mescaleros também lançou ótimos discos, os melhores pós-Clash. Há muita coisa que lembra a fase mais experimental do Sandinista e Combat Rock. Gosto muito!

E também mais recentemente, Jello Biafra trouxe um pouco daquele velho espírito do punk rock do Dead Kennedys com os discos que lançou com sua recente banda The Guantanamo School of Medicine.

Sigo contas no Instagram que postam vídeos de grupos novos, mas é tudo muito ruim. Tudo igual, mesmos riffs, mesma forma de cantar, mesmo refrão, mesmas tatuagens, mesmos instrumentos, mesmos piercings, mesma postura.... Nem dá pra levar a sério.

Punk rock sempre vai existir, mas será eternamente a mesma coisa. Digo mais: não só não dá mais pra levar a sério como se tornou caricatura. Pleno 2018 e aqueles caras de moicano vermelho, com casaco de couro preto cheio de tachinhas... já deu, né?!





9 de novembro de 2018

O Mundo Evolui e o Artista Brasileiro na Esquerda!


O mundo mudou no final de 1989 quando o Muro de Berlim caiu. E continuou mudando quando a União Soviética acabou no fim de 1991.

Porém tem gente que faltou a essas aulas, ou nunca leu nada na vida.

É claro que essas mudanças não viriam da noite pro dia. Muda-se todo um sistema político, econômico e social, além da não menos difícil mudança na política externa. Foi preciso, e muito, correr pra tirar o atraso.

E o mundo continuou girando, com mudanças contínuas na política mundial, na geopolítica, economia e tudo foi evoluindo.

O Brasil tem ainda seus 500 e poucos anos e cheira a fralda. O atraso que a corrupção implantou no país desde o Governo Sarney faz com que ele pareça ter 12 anos, e ainda chupando chupeta e comendo com babador.

Graças a Deus o Brasil é um país forte (rico) o suficiente para se manter em pé mesmo depois de tanta porrada.

O atraso aqui está em todos os lugares pra onde olhamos, e conseguimos ir mais pra trás com os anos de Governo do PT. Isso é claro e nítido. Não sou eu quem diz. São fatos da história. Como num jogo, andamos várias casas pra trás.

A esquerda morreu há tempos. Se é que um dia existiu na prática. Porém há quem insista ainda hoje... Pasmém!

O mundo abrindo o mercado (inclusive a China e a Coréia do Norte – ainda que de seu jeito), mas a esquerda brasileira querendo um estado inchado pra poder continuar mamando em suas tetas.

Agora, uma coisa que me incomoda é ver tamanha burrice e/ou ignorância em boa parte da nossa classe artística, seja na música, artes cênicas, literatura, etc. Em toda ela!

Na verdade não é só a classe artística, mas muitas das nossas minorias cometem esse engano de defender a esquerda, sistema o qual não tolera qualquer tipo de arte independente e qualquer tipo de minoria. Não sou em quem diz, mas sim a história.

Mas aqui me detenho na classe artística musical brasileira.

Incomoda ver esse monte de artista usando camiseta do Che Guevara e/ou com o símbolo comunista da foice e do martelo. É muita ignorância. Isso é praticamente igual a usar camiseta do Hitler com a suástica. Sistemas genocidas, preconceituosos e demoníacos. Sistemas que mataram sem piedade cidadãos de bem, pais, filhos, crianças, recém-nascidos, idosos, gays, negros...

Juntando todos os governos comunistas chega-se a marca impressionante de mais de 100 milhões de pessoas mortas.

Mas voltando ao assunto, pergunto: será que todos esses artistas que se dizem de esquerda não sabem que em um regime de esquerda eles jamais existiriam?

Pelo jeito, não!

Em qual regime comunista existe livre expressão artística?

Se o comunismo proíbe até a religião porque nem Deus pode ser maior que o ditador (Estado), então como um artista autoral poderia dividir a atenção com seu líder

Aliás, quantos artistas foram mortos em fuzilamentos ou em campos de trabalhos forçados?

E quantos padres e religiosos estão entre os mortos pelo comunismo?

Quantos professores e pesquisadores estão entre os mortos pelo comunismo?

Escritores, poetas, pintores, músicos, atores... Cite grandes nomes artísticos dos países comunistas.

Em país comunista, se você quiser mostrar sua arte, você tem apenas uma alternativa: ou faz o que o governo quer ou esqueça a arte. É assim!

Já escrevi aqui: fiquei 15 dias em Havana a trabalho. Conheci bastante do que é a vida em Cuba. Se você acha que como aqui há bares e casas noturnas com música ao vivo, público, drinks, garotas e garotos, estás redondamente enganado. Não há nada disso por lá. Não há casas de shows ou bares. Se quiser ver músicos e outras formas de arte, será preciso passear pelo centro a tarde ou seguir as programações oficiais que existem. Ali você verá músicos cubanos da mesma forma que o turista vem aqui ao Brasil ver aqueles shows de samba com mulatas.

Se você acha que é como aqui onde você entra em um bar 1h da manhã e vê gente se divertindo e escutando um som. Hahaha Isso não existe!

Se você toca, tem sua banda, seu repertório, faz seus shows, viaja, participa de festivais alternativos, entra em estúdio, grava suas músicas, expõe sua arte na internet através das redes sociais que alcançam o mundo todo, então esqueça essa bobagem de esquerda.

Em qualquer país de esquerda você jamais iria poder fazer qualquer coisa assim. Você jamais teria uma guitarra, dinheiro para entrar em estúdio ou até mesmo local pra se fazer shows.

Artista esqueça a esquerda. Esqueça ideologias idiotas. Se você de fato é um artista, então você deve sim é derrubar barreiras e destruir fronteiras.

Na verdade, artista que é artista não vê fronteiras.

PS 1: Sou a favor das minorias e de mais justiça e igualdade no mundo, óbvio, mas isso não é ser de esquerda ou direita. Isso é ser Ser Humano. Se quiser criar um viés ideológico para defender essas coisas, então crie, mas não cometa o erro grotesco de colocar essas defesas na ideologia de esquerda.

PS 2: Aqui falei da música, mas imagine quantos escritores brasileiros – de livros, contos, novelas, teatro – seriam proibidos de serem publicados ou encenados no regime comunista. Dias Gomes, Clarice Lispector......... (o que falar então de Henfil, Laerte....)



21 de outubro de 2018

Mundo Chato e Relações Esquisitas


Sou de maio de 1970. Sou de uma geração que aproveitou o mundo quando ele ainda era legal (comparado a hoje, principalmente).

Assistíamos ao desenho The Jetsons e ficávamos nos imaginando no futuro: carros voadores, empregada robô, comidas prontas que saiam de máquinas, esteiras rolantes pra todos os lados, telefone com vídeo. Era o máximo!

Parte do que víamos no desenho hoje temos em casa e nas mãos.

Brasília, até determinado momento – talvez na virada de 1980 para 1990, era igual a uma cidade do interior. Houve época que nem página policial havia nos jornais de Brasília. Vivíamos na rua.

Época boa, sem fronteiras entre amigos. Principalmente em Brasília, onde se conhece gente do Brasil e do mundo todo.

Os militares foram embora após o Governo Figueiredo, aí vieram Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. Agora bem provável que seja Bolsonaro.

Já escrevi aqui que não tenho partidos ou lados porque não sou boneco ou escravo de idiotices criadas por ideologia. Falo isso pra poder dizer que dessa lista os únicos que conseguiram de certa forma honrar o cargo, foram Itamar e FHC. O resto pode jogar no lixo. E parte dos anos de Governo FHC também podem ir pro lixo.

Quantos tiveram a chance de entrar para a história pela porta da frente, no entanto preferiram sair pela porta de trás?

Até certo momento eram todos contra corrupção. Ninguém discutia as marmotagens de Sarney, Maluf, Quércia, Antônio Carlos Magalhães, Collor. Fortes indícios mostravam a corrupção praticada por todos eles – e muitos outros – e isso bastava para ficarmos indignados. Nessa época não havia investigações, e quando aconteciam, eram puro jogo de cena. Diferente do que acontece hoje.

Assistimos calados a corrupção do Governo Sarney. Teve até quebra quebra em Brasília, coisa que não foi disseminada pela imprensa. Assistíamos calados a todas as barbaridades praticadas pelo Congresso Nacional e pelos Governos Estaduais e Municipais.

Desde sempre obras superfaturadas e inacabadas; desde sempre hospitais que não atendem; desde sempre escolas que não ensinam; desde sempre estradas podres; desde sempre segurança pífia; desde sempre farra e desvio de dinheiro público.

Desde sempre reclamamos dessa corrupção e nunca acontecia nada. Tanto é que se vê muitos desses protagonistas do roubo praticado desde a Abertura que estão aí livres, leves e soltos. Collor até se tornou Senador! Veja o que essas famílias fazem com seus estados. Veja como é no Maranhão, Alagoas, Ceará...

Governadores e prefeitos fazendo obras e mais obras que nunca acabavam ao final de seus mandatos, e o dinheiro ia para o bolso e a obra para o ralo. Isso acontece até hoje!

Muito do que acontecia ainda acontece hoje, mas hoje as leis evoluíram, não como deveriam ter evoluído, mas já evoluíram. Ainda tem muito político que precisa ser preso, mas há 30 anos, nem isso, há 15 anos, não podíamos imaginar que ex-Presidentes, ex-Governadores, ex-Prefeitos, ex-ministros, ex-secretários, etc um dia iriam para a cadeia.

Esse dia chegou, mas ainda abrindo trilha no início do caminho. Falta muito!

O triste de tudo isso e que faz o mundo estar esquisito e sem graça, é essa divisão que foi criada a partir do Governo do PT: o nós contra eles.

Não venho aqui discutir esse ou aquele governo. Pra mim o que é preciso discutir é se isso ou aquilo estão funcionando bem. Não importa quem faça funcionar bem. (Se eu compro disco de um artista, não me importa a gravadora. Entende?)

Pouco me importa quem está lá, contando que seja capaz de fazer o certo de forma correta. Ou seja, faça funcionar e não use de meios ilícitos para tal.

Esquisito transformar política em esporte, onde você torce para o time ou para o jogador. Política não é para torcer, é pra ter cobrança! Ficar em cima. É funcionário ganhando bem pra exercer sua função, então que o faça de forma honesta! Se você se candidatou ao cargo, então trabalhe! São todos exageradamente bem pagos para exercer a função: seja vereador, estadual ou federal, senador, presidente, ministro, secretário ou o raio que o parta!

A torcida deve ser para que todos façam o trabalho corretamente. Pois como modo de defesa para a corrupção e o mau uso da máquina, foi criado esse embate sem sentido do ‘nós contra eles’.

Há partidos que se tornaram verdadeiras ‘máquinas de poder’: PMDB, PT, PSDB, PDT, PP... Nosso jeito de fazer política ficou velho. É preciso mudar tudo. As leis dos homens são mutáveis, devem se adequar ao seu tempo. Nossa Constituição está velha, e foi mal elaborada desde o início. É preciso repensá-la. É preciso uma reforma política. O Sete Doses tem 11 anos e já escrevi isso aqui há anos! É preciso rever os conceitos.

Vejo todo mundo brigando por ideologias falidas, brigando por nada, brigando por algo que não vai mudar nada na sua vida sendo A ou B. É ridículo ver as timeline de Facebook e Instagram, e imagino que também deva ser ridículo ver o Twiter.

As discussões são por ideologia e idiotices pequenas. Discussões de um contra o outro. Enquanto isso nenhum candidato fala o que importa pra nós escutar.

Fica todo mundo dividido, discutindo coisas banais ideológicas, enquanto na verdade deveria estar – como sempre foi – todos juntos cobrando os candidatos. Há muito o que fazer, independente dessa bosta de ideologia: fim do foro privilegiado, fim das aposentadorias privilegiadas, fim da verba de gabinete individual, fim dos benefícios/auxílios, reforma tributária, (como já falei) reforma política, reforma da previdência. Tem que acabar de vez com essa coisa de político ser dono de meios de comunicação, aparelhamento do estado... há muito trabalho pela frente! Pra se votar esse tipo de coisa não se pode ter apego ao poder, por isso é necessário um Congresso novo e o caminho já foi aberto. Mas sempre novo! Congresso novo de 4 em 4 anos!

Só que fica um bando de gente idiota e ignorante postando textos imbecis, memes bobocas. Mais preocupados em ganhar likes de seus guetos, do que com o futuro do país - que é rico e com gestão honesta é capaz de deixar toda a população vivendo bem.

Hoje o país está uma merda do mesmo jeito que estava depois do fim dos Planos Cruzados que Sarney fez. Nada mudou! A máquina pública ainda não funciona pensando no cidadão!

Tivemos 14 anos de PT e tá tudo uma merda! Então agora deixa outro entrar pra ver se alguma coisa muda!!! Se não mudar, daqui a 4 anos tiramos esse e colocamos outro. Simples assim!

Esse ‘nós contra eles’ já passou dos limites. Essas pessoas bobas que caíram nessa precisam abrir os olhos, parar de agir como torcedor de torcida organizada, e ter um olhar de fora, olhar o todo e ver o quanto tudo ainda está muito sujo. É como entrar na sua empresa ver tudo sujo, tudo errado e torcer para que continue assim.

O 'nós contra eles' deve ser sempre nós cidadãos contra os políticos que são maus funcionários públicos, seja Presidente, vereador ou juiz.

Se somos uma democracia, então que a alternância de poder seja exercida. Só assim aprende-se a manter a máquina pública funcionando bem, independente da abestada da ideologia de quem está no comando. Em um bom hotel ou restaurante, independente da mudança do gerente, ele deve continuar sendo bom.

Com 518 anos o Brasil precisa aprender a andar!

O mundo está cada vez mais chato e as relações cada vez mais esquisitas.

20 de julho de 2018

Série O Resgate da Memória: 49 - Alice Pink Pank


Alice Pink Pank era uma figura enigmática. Foi uma das Absurdettes nos primeiros tempos da Gang 90, depois tocou com Lobão e Os Ronaldos. Saiu da banda, gravou um compacto que nem chegou a ser trabalhado pela gravadora e sumiu. 
Ainda que tarde, até onde me lembro, esta matéria da Roll foi a que respondeu as diversas perguntas que rondavam Alice que, no máximo, sabia-se que tinha vindo da Holanda. Bem, ao menos era essa a única coisa que se sabia na longe Brasília... :)




Alice in Wonderland
Por Luis Carlos Mansur
Revista Roll – abril/1985

Quem exige um mínimo que seja de sofisticação e criatividade no rock que rola pelos trópicos, certamente vai se encantar com Alice. Depois de participar da lendária Gang 90 & Absurdettes e dos irados Ronaldos, eis que ela pinta com um compacto e promete, em breve, um lp.

Alice já foi Pink Pank, Ronaldo, e agora resolveu assumir seu nome puro e simples. “Não quero ser rotulada de qualquer coisa, eu sou simplesmente Alice e pronto”. E não é pouco. Afinal, desde que desembarcou por aqui, há quatro anos, ela vem participando das propostas mais interessantes e inovadoras do rock falado em português, a começar pela Gang 90 (quem não se lembra?), projeto do saudoso Júlio Barroso e que foi o primeiro grito longínquo prenunciando toda a onda que viria depois. “Eu estava dançando pela Paulicéia Desvairada, onde o Júlio era DJ, e pedi uma música. Ele imediatamente me convidou para entrar no grupo. Na época eu não entendia nada do que estava se passando, de repente lá estávamos nós cantando pra milhares de pessoas” (“Perdidos na Selva” o grande estouro do grupo, no asqueroso MPB-80 da Globo). Hoje, Alice faz questão de fazer oque quer, controlando na medida do possível o resultado final do seu trabalho.

ALICE E O U2

O rock só entrou mesmo na sua vida aqui no Brasil. Alice era bailarina, da Austrália, onde nasceu, à Holanda, onde viveu uns tempos. Rola a famosa história de sua participação no LP “Boy” do U2. “Eu fiquei amiga pessoal do U2 e um dia, aparecendo no estúdio, acabei fazendo uns backing vocals. Mas foi só acidente. Eu realmente não pensava em fazer carreira com o rock”. Dessa época, guarda as preferencias mais frequentes: U2 (claro), Siouxsie, B-52’s, Talking Heads. Hoje, Prince. “Mas o que eu acho é que o som que se faz na Europa hoje em dia é muito depressivo. Eu falo com meus amigos de lá que, pelo menos, nenhum deles vai morrer de fome, enquanto aqui no Brasil eu vejo as pessoas morrerem do meu lado, na rua. E nem por isso o pessoal de cá embarca numa onda “deprê”. Minhas músicas podem ser melancólicas, mas eu sempre procuro passar uma energia positiva, que é o fundamental”. Fica dado o recado para os nossos lamentáveis “pós-deprê”...

TRABALHO COM LOBÃO

Mas como é que essa menina veio parar no Brasil? “Eu estava completamente pirada, resolvi dar um tempo, apontei para o mapa e acabou caindo no rasil”, diz em tom de blague. “Esperava só passear uns meses e acabei ficando”. Menos mal, porque ela já marca sua presença na nossa música contemporânea. Afinal, na sua segunda participação em disco por aqui – LP “Ronaldo Foi Pra Guerra” – pode-se constatar seu talento como cantora e compositora, em músicas como “Bambina” e “Inteligenzia”. “quando eu entrei para os Roanaldos, já estava claro que eu só ia ficar por um tempo. Eu entrei para tocar teclados – nem sabia e acabei aprendendo. Depois saí para fazer meu próprio trabalho, coisas que tinha mais a ver comigo mesma”. No seu trabalho atual, Alice prefere deixar os teclados para a banda que a acompanha e desenvolver mais o lado performático. “Tocar teclados é bom, mas também frustra um pouco, não dá para se movimentar no palco”. Ela pensa em contactar bailarinos e artistas plásticos para dar um realce nas suas apresentações ao vivo (aliás, como são poucos os rock’n’rollers pátrios que conseguem apresentar um show sem traços de amadorismo).

MPB ANACRÔNICA

E por falar no rock do lado de baixo do Equador, ela tem muito a dizer: “Acho que agora estão pintando coisas realmente interessantes, como por exemplo Voluntários da Pátria, a Legião Urbana – embora o disco não tenha feito justiça a este grupo. Mas ainda existe muita picaretagem por aí – é enorme a quantidade de bandas que aparecem sem um trabalho consistente. O que me espanta é como num país com uma tradição musical tão rica, como o Brasil, a maioria dos grupos daqui se limita a copiar o que vem de lá de fora” (Olhaí! Olhaí!). “É preciso um grupo inglês qualquer aproveitar elementos da música brasileira pra que muita gente se sinta disposta a fazer isso por aqui, quando devia ser exatamente o contrário”. O esquema de divulgação do rock também merece reparos: “vendem o rock no meio de todas as outras coisas, sem diferenciá-lo, criar um espaço próprio. Daí todo esse esquema de danceterias, programas de auditório, play-backs etc. É claro que se você confia no seu trabalho, não vai ter medo de entrar nesse jogo, senão fica uma coisa muito elitista. Se você está seguro de que faz algo de qualidade, fatal,mente vai marcar sua diferença. Agora, eu acho que o pu´blico está começando a ficar mais exigente, a ter uma visão mais crítica do trabalho do artista, principalmente em São Paulo. E se isso tudo tem que mudar não vai se com um ‘movimento organizado’ – odeio essas coisas – mas porque as pessoas que levam a sério o que fazem vão à luta com seus próprios meios”.

Quanto à “nova era” que se anuncia, Alice vê as coisas muito caóticas. Lobão, há algum tempo, previa outra movimentação multimídia como fora a Tropicália, há séculos. Alice acredita que isso está pintando, embora de forma ainda dispersa. É claro que , se analizarmos os principais movimentos de ideis que espoucam aqui e ali no tempo, verificaremos que o começo foi embalado, quase sempre, pelas ondas da casualidade. Não será melhor assim?
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O COMPACTO
O compacto simples com “Baby Love” e “24 Frames Per Second” é a primeira incursão solo de Alice e já é uma amostra do seu talento, que começa a vir à tona. A primeira música, uma balada cantada com emoção (segundo ela mesma, foi tudo “straight from the heart”), e com um belíssimo arranjo, destacando-se a guitarra de Herbert Vianna (completamente diferente do seu estilo “paralâmico”, confirmando suas já sobejamente reconhecidas qualidades de guitarrista). A bateria eletrônica é seca e contida, e traz reminiscência de Laurie Anderson. Os backing vocals feitos pela própria Alice estão perfeitos, compondo muito bem o clima sugerido pela música. Quanto ao outro lado, é cantado em inglês, com um eficiente arranjo de teclados e uma estrutura que lembra “Inteligenzia”, o que prova que Alice tem um estilo próprio sem comparação com as demais vocalistas mais em evidência por aqui, todas fazendo o estilo “nem débil-mental”. Destaque para a produção de Liminha. Realmente, é muito bom sentir os ventos de civilidade que – ainda tímidos – começam a varrer o rock in Brazil. Toda a força. (L.C.M.)








4 de julho de 2018

Esquerda ou Direita? Dane-se os Lados!

Não entendo o motivo pelo qual é preciso ter um lado ideológico para poder ver tudo funcionando da forma como se deve ser. Isso pra mim é papo jurássico, não mais cabível no mundo em que vivemos.

Pra saúde funcionar é preciso escolher um lado?
Pra escola funcionar é preciso escolher um lado?
Pra termos segurança é preciso escolher um lado?
Pra termos prosperidade na vida profissional e social é preciso escolher um lado?
Pro mundo funcionar de forma honesta e coletiva é preciso escolher um lado?

Coisa mais boba. Ridícula.

Certa vez, conversando com uma pessoa com uma posição radical de esquerda, ela não se conformava quando eu dizia não ter um lado. Não se conformava com o fato de eu não levantar nenhuma dessas bandeiras que só segregam mais as pessoas.

Preconceito é uma coisa absolutamente desnecessária em nossas vidas.

Dizia à pessoa que minha bandeira é a do ser humano, e ela não conseguia entender.

Esse papo de direita ou esquerda, pra começar, é papo de burguês. E de burguês não tenho nada. Vai perguntar para o frentista, o balconista, a diarista, o cobrador, o flanelinha ou o manobrista se eles são de direita ou esquerda! No máximo vão te perguntar pra onde você quer ir,  pra daí sim dizer se é preciso pegar a direita ou a esquerda. Falo isso de brincadeira, mas é verdade.

Pergunta para o feirante que tem um parente com câncer e que não consegue atendimento e remédios de acordo com sua situação, se ele está preocupado com o lado ideológico do Governo.

Já passou da hora de pararmos com essa baboseira que só favorece a quem mama no Estado.

O povo, esse que a esquerda diz representar, nunca na história desse regime participou de qualquer benefício. Sempre foi assim: nada de povo mandando, pelo contrário.

Não dá pra perceber que sejam militares de direita ou de esquerda, são todos “assassinos armados, uniformizados”? é tão óbvio!  Qual a diferença entre a farda do Médice, do Pinochet, do Franco, do Che Guevara, do Chaves, do Hitler, do Stalin, do Mao Tse Tung e dos ditadores na África?

Porque fechar os olhos pra alguns deles e odiar outros? Nenhum deles presta!

Dividir o ser humano em lados é algo muito, mas muito asqueroso!

As pessoas precisam entender primeiramente que o Planeta Terra é como se fosse nossa casa de dois quartos, banheiro, cozinha e área de serviço. E vivendo na mesma casa, precisamos nos entender, né não? Até porque, não há alternativa.

Diz pra mim: se você começar a gerar discórdia e divisões dentro de casa, ela não vai se tornar um caos?

Pô, vivemos todos no mesmo lugar, precisamos cuidar um dos outros, isso é uma coisa um tanto óbvia! E mesmo assim vivemos no caos :/

Quando você vai a uma padaria pra comprar pão e tomar um café, você pergunta se quem construiu a padaria era de direita ou esquerda? Se quem fez o pão era branco ou oriental? Se o fornecedor do café é descendente de índio ou afro descendente?

Quando você compra ou aluga uma casa você pergunta se quem a pintou era de esquerda ou direita? Se quem a reformou era gay ou hétero?

Então porque diabos é preciso ter um lado? É muita pequenez!

Volto a perguntar: pra colocar a escola ou o hospital funcionando de forma correta é preciso ter um lado?

Importa pra você saber se quem fez o posto de saúde ou a creche da sua região funcionar é de esquerda ou direita? Se é descendente de nordestino ou descendente de chileno?

Importa pra você se aquele médico pediatra atencioso do posto de saúde tem um lado?

É difícil pra você entender que esse papo de esquerda ou direita só segmenta ainda mais o ser humano, que isso só traz desigualdade, ódio e soberba?

Não contentes com o sofrimento que já temos por conta da divisão, das guerras e do ódio que as religiões trazem, temos que inventar mais essa de ter um lado!!?!

Haja paciência pra tanta idiotice!

Não importa se você é gay, trans, oriental, ruivo, rico, pobre, travesti, hétero, de esquerda, de direita, de centro ou qualquer outra definição besta dessas. Somos todos seres humanos.

A gente não precisa de lado, religião, ideologia, ou de uma vida acadêmica pra enxergar essas coisas.

Somos todos da mesma raça. Todos nós necessitamos das mesmas coisas, nem mais nem menos! Chega de criar diferenças!

Coitado do Brasil. Coitado do Planeta Terra. Não nos merecem...


PS: Deixo aqui como sugestão o texto A Última Flor

12 de junho de 2018

Quando o Rock Brasileiro Morreu?

Eu vi o rock brasileiro morrer. Acompanhei sua agonia de perto. Errado pensar que sua morte é recente...

Eu tenho minha conta das efemérides do rock brasileiro. Pesquisa única que iniciei em 1998. A data inicial da pesquisa é 24 de outubro de 1955, dia em que Nora Ney gravou “A Ronda das Horas”, versão de “Rock Around the Clock”. Não uma versão em português, mas versão em inglês mesmo.

Essa foi a primeira vez que um rock foi gravado no Brasil. Apesar do sucesso instantâneo (puxado pelo filme), demorou um pouco para a coisa toda engrenar.

Mas depois disso veio a 1ª geração do rock, 2º a jovem guarda, 3º os anos 70, 4º a geração 80 e 5º os anos 90. Grosso modo é isso. Pra mim, acaba aí.

Nas minhas efemérides os últimos nomes a pesquisar foram Los Hermanos, Pitty, Cachorro Grande e Autoramas e paro por aí. Pesquiso a geração posterior, apesar de absolutamente irrelevante, mas não publico nada dela.

Você pode me falar de um monte de bandas recentes e/ou artistas solos (havia citado aqui alguns nomes, mas resolvi tirar). Fato é que se juntar todo mundo de hoje (não dá pra falar 'cena') não dá mesma relevância histórica de bandas dos 70 e 80 que estavam no chamado 2º escalão. Não atinge o mesmo número de pessoas, não fala pra muita gente, não é vanguarda, não dita modas, não tem um bom texto, sequer trazem novidades seja na composição, no texto, no arranjo, na harmonia...

Desculpe por ser direto. Falar assim não significa que eu não goste delas ou de outras recentes. Vou a shows de bandas novas e relativamente novas, tem algumas que gosto muito e fico entristecido em ver que não acontecerá nada com nenhuma delas.

Vejo shows com muita gente, todo mundo cantando as músicas e tals, mas é nitidamente uma coisa de gueto, para alguns poucos. Em SP, onde moro, tem um circuito bom de shows com as unidades do SESC, o Centro Cultural, algumas outras boas casas noturnas com música ao vivo que surgiram recentemente... lugares não faltam.

Bom ver que há novamente um circuito. Há bandas do underground que conseguem fazer uma agenda de shows e tocar com certa frequência. Legal. Ok. Mas nunca mais vai acontecer de um músico de rock com sua banda autoral viver somente de sua música. Pode haver exceções, raras. Mas como houve nos 80 e 90, de uma porção de bandas surgirem juntas e ter uma carreira profissional de lançamentos, shows, divulgação, bons cachês, reconhecimento nacional, etc... isso nunca mais.

Depois da geração 90, acabou a história do rock aqui no Brasil. Não foi feito nada de muita relevância desde então, e também não aconteceu nenhuma cena.

O que eu vejo de último suspiro do rock brasileiro, aconteceu na segunda metade dos 90, que são essas bandas que citei no inicio do texto, e ainda acrescento, claro, CPM22 e Charlie Brown Jr.

Pronto. Acabou. Fim.
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E se você pensar bem, tirar o coração, perceberá que na verdade, a história toda acaba nos anos 1990 com CSNZ, Raimundos, Planet Hemp, Pato Fu, O Rappa, mundo livre s/a, Skank...

Digo isso porque todas elas formaram uma cena que girou em torno do Juntatribo, Superdemo, Abril Pro Rock e do grande boom da MTV que, juntamente com essa galera, saiu do underground. Não dá pra não citar a situação econômica do país naquele período. A estabilidade do Real permitiu que as gravadoras voltassem a contratar bandas de rock, coisa que não acontecia desde 1989-90.

Killing Chainsaw
Vi bem de perto essa morte. Eu ainda estava na MTV e dou aqui um depoimento enxuto que ilustra a morte:

Essas bandas todas que estouraram nos 1990 citadas aqui acima, todos os integrantes envolvidos nelas começaram a carreira ainda nos 80, e nunca deixaram de cantar em português. É uma turma que ainda tocava por amor, ralou, juntou grana pra gravar demo, pagou pra tocar e dependia de amigos para ajudar na divulgação. Só pra dar alguns exemplos, John Ulhoa já tocava em 1982 com o Sexo Explícito; Marcelo Lobato tocava com Fausto Fawcett; Fred 04 também na atividade já no início da década de 80; Digão tocava com Filhos de Mengele em 1986 e Raimundos começou em 1987; D2 e Skunk; Pouso Alto/Skank... tava todo mundo lá.

Essas bandas aproveitaram os festivais e o novo boom da economia + MTV + gravadoras e tals. Nunca abriram mão do som que faziam e o faziam sem saber no que ia dar e se ia dar em algo.

Com o estouro dessa geração, surgiram trocentas zilhões de asquilhões de bandas fazendo as mais diversas misturas. Muitas bandas que cantavam em inglês passaram a compor em português. Lembro de gente dessas bandas indo à MTV entregar material novo "olha, mudamos o repertório..." rã rã... Era um desespero por sucesso que dava pena ver... E o momento da morte é esse!

Eu criei o Ultrassom MTV e fiz sua direção por uma temporada. Era tanto material que uma pessoa foi contratada para ajudar a ouvir e já fazer uma seleção. Fitas e CDs não paravam de chegar e lotavam caixas e caixas que ocupavam armários. Não era pouca coisa, não.

E mesmo assim era absurdamente difícil achar algo bom. Eu precisava de apenas duas bandas por programa, que era semanal, e era muito difícil achar material bom no meio de tudo aquilo.

E foi nesse momento que percebi que a razão do rock existir havia acabado, havia se perdido. Todos ávidos pelo sucesso, foda-se a música. Letras horrorosas, composições cheias de clichês, sem personalidade alguma e o pior de tudo: não tinha história, não tinha coração.

Grosso modo os anos 90 foram duas cenas: uma underground que começou exatamente em 1989-90, com todas aquelas bandas que surgiram cantando em inglês; e outra que é essa que citei acima, que ao contrário do underground internacionalizado, cantava em português e valorizava a língua.

Depois dessas duas cenas, as coisas foram acontecendo soltas, surgindo um nome aqui e outro ali até finalmente tudo morrer de vez.

Em 2015 fiz um trabalho onde conversei com muita gente da música, inclusive executivos de gravadoras. Todos eles afirmavam que 2016 seria a volta do rock no mainstream. Estamos na metade de 2018 e não há nenhum sinal de que algo nesse sentido irá acontecer.

Ter gente aí fazendo rock não significa que ele não esteja morto. Como disse, perdeu todo o sentido, do que representava, da contestação, e de todo o contexto que o cercava, inclusive das dificuldades. Nada do que era fazer rock existe hoje.

Então fim. :)

17 de maio de 2018

Festival Alternativo Serve Pra Quê?

Como desdobramento do texto anterior (link no fim palavra "bolha"), faço esse tema e pergunto: festival alternativo serve pra quê? Pra mim isso é uma grande bobagem, e interessa apenas a quem ganha com isso: quem organiza, quem aluga a aparelhagem de som e luz, o local do evento, quem faz o bar... É um negócio que até gira uma grana e gera empregos temporários diretos e indiretos. Ok.

Mas fazer um festival alternativo deveria também comtemplar as grandes estrelas que são os artistas. No entanto, o que sobra à eles? Um cachêzinho meia boca e em certos casos nem isso.

É nítido que róla uma panela dos organizadores desses festivais, cada um em sua região. Há interesses por trás, muita política, etc. Exatamente igual ao que acontece nas grandes gravadoras, nos rádios, TVs, festivais mainstream (como o RiR). No fim, os bastidores são podres iguais, cada um dentro do seu universo.

O que adianta um festival alternativo colocar 50 bandas pra tocar? O que ele quer com isso? Qual o objetivo? Não consigo entender. Se os organizadores quisessem de fato ajudar aos artistas, o modelo de negócio seria outro.

Nos anos 90, 3 festivais cumpriram seu papel. Juntatribo, Superdemo e Abril Pro Rock praticamente apresentaram o que viria a ser a nova cena daquele período: Skank, O Rappa, Planet Hemp, Pato Fu, Raimundos, Chico Sciense & Nação Zumbi, mundo livre s/a, Acabou La Tequila... e outras bandas poderiam ter se dado bem caso não cantassem em inglês.

É sempre bom lembrar que o contexto era outro. Até por isso sou contra esses festivais de hoje terem zilhares de bandas tocando. Hoje, em tempos onde há quantidade sem qualidade, seria bem melhor concentrar a atenção em poucos e bons artistas. Assim, acredito, seria bem mais fácil o festival cumprir ao menos parte de seu papel.

É só pensar: quantos festivais alternativos há no Brasil hoje? Grosso modo ao menos uns cinco, e isso já há anos! Pois bem, pensemos nos últimos 10 anos desses festivais. Quantos artistas passaram por esses palcos? E quantos deles chegaram ao grande público ou ao menos conseguiram certo destaque na cena alternativa a ponto de conseguir viver de sua música? Nos últimos 20 anos alguma cena surgiu ou se destacou com a ajuda desses festivais?

Dos pouquíssimos nomes que se destacaram nesses últimos anos, nenhum surgiu de festivais.

Agora, se a ideia é apenas montar palco e botar gente pra tocar lá e divertir todo mundo, então ok. Mas até onde sei esse tipo de festival é não só pra se divertir, mas pra dar espaço a novos nomes, ajudar na divulgação do trabalho e chamar a atenção da mídia. Porém, não vejo a grande mídia cobrindo esses festivais. E nem adianta falar pra mim que isso é culpa da própria mídia! Não. A iniciativa e interesse da cobertura deve partir principalmente da organização. Trabalhei anos na MTV e em outras produções que envolvem música, e sei que quando há esforço, há bons frutos. 

Pra quem organiza, é trabalhoso, eu sei. E pode ser divertido pra quem participa (e bem cansativo também), todos se encontram, trocam ideia, divulgam o material, vendem merchandising e tals, e pronto. Acabou. 

Ok. Os artistas saem com contatos novos, armam shows em outras cidades, mas fica nisso, dentro de uma bolha. Pra mim, a organização tem a obrigação de ligar para as rádios, tvs, jornais, sites. E não só isso, mas também entrar em contato com gravadoras e selos maiores pra falar sobre algumas bandas que podem se destacar. Usar seus contatos. Levar esses profissionais até lá. Criar um bom material de divulgação e enviar para as principais mídias. Há como fazer tudo isso.

A organização desses festivais alternativos tem que fazer algo menor, com menos nomes, pra se ter mais controle da qualidade, da organização e da logística. É preciso trabalhar melhor o pré e o pós. Com menos nomes e todos se ajudando é capaz até de surgir uma nova cena.

Aí sim é fazer a diferença! Aí sim é chutar a porta de saída do gueto!

Resumindo: festivais alternativos existem para ajudar a divulgar novos nomes e a criar uma cena. Mas eles, há tempos, não fazem isso. Então....

PS: Até o Rock in Rio 1985 fez seu papel nesse contexto que escrevo. Veja o que aconteceu com o rock brasileiro depois dele!