13 de janeiro de 2008

Entrevista com Digão

Em 2000 após sete de MTV Brasil, saí da emissora e fui ser editor de música de um site chamado TantoFaz.net que hoje não existe mais. Naquele ano inclusive ganhamos o prêmio IBest de Melhor Site Para Adolescentes. Bom, o fato é que entrevistei muita gente legal. Muitas dessas entrevistas perdi, mas outras acabei encontrando em disquetes que julgava perdidos.
Aqui a conversa é com Digão, então guitarrista do Raimundos. Ela aconteceu durante a gravação do disco do Filhos de Mengele, na casa de Carlinhos Bartolini, onde nós estávamos gravando as bases de bateria e baixo. Infelizmente a idéia do disco não foi adiante, mas atualmente nos reunimos novamente e agora só falta eu colocar as vozes e quem sabe ainda em 2008 o tão sonhado disco do Filhos de Mengele finalmente seja lançado. Essa conversa com Digão aconteceu em 2000, mas não lembro exatamente quando. Além dessa gravação também nos reunimos no Palco B do festival Porão do Rock para uma rápida apresentação. No site da Trama Virtual, colocando na busca Filhos de Mengele, você poderá ouvir e baixar essa apresentação no Porão do Rock e duas demos tiradas dessa gravação de 2000.
Ah!!! De quebra há, no final, uma entrevista relâmpago com Canisso e Rodolfo que não sei onde e quando aconteceu. Provavelmente no início de 2001 ou final de 2000...



Paulo Marchetti - Como começou esta história de gravar um cd com os Filhos de Mengele?
Digão - Nós nunca gravamos um disco, acho que era uma coisa que tava devendo, porque eu sempre tive vontade também de registrar as músicas que marcou uma época muito forte pra mim.

Paulo Marchetti - Quanto tempo vc ficou na banda?
Digão
- Fiquei de 86 até 89. Em 89 eu já tava desencanado.

Paulo Marchetti - Mas vc saiu por quê, por causa dos Raimundos ou…?
Digão - A banda foi desencanando e foi rolando o Raimundos, né…aí fiquei com os Raimundos até 89/90 aí a banda acabou…

Paulo Marchetti - Acabou Filhos de Mengele e Raimundos?
Digão
- É

Paulo Marchetti - E o que você ficou fazendo nesse período?
Digão - Fiquei só tocando viola, né. Vendi uma parte da minha bateria e viajei pro Rio, aí a grana acabou, voltei pra Brasília.

Paulo Marchetti - Você trabalhava nessa época?
Digão - Cheguei a trabalhar. Trabalhei com os meus pais, trabalhei na firma do meu irmão, trabalhei em loja, trabalhei na Funsef, eu até encontrava com o Betinho (roadie dos Raimundos), o Betinho fazia manutenção de impressora, sei lá, limpava… sempre fazia a mesma coisa (risos) era o Betinho, brother… amigo nosso…

Paulo Marchetti - Há quanto tempo vocês estão em turnê com o Só no Forevis?
Digão - A gente tá no Só no Forevis há um ano… já passou de um ano.

Paulo Marchetti - E quando vocês irão lançar este disco ao vivo?
Digão
- Agosto… vamos lançar em agosto.

Paulo Marchetti - E já tá tudo pronto? Mixado?…
Digão - Não… mas já tá gravado.

Paulo Marchetti - Já foram escolhidas as músicas?
Digão
- Ainda não, mas iremos escolher ainda esse mês.

Paulo Marchetti - Quantas tem?
Digão - Cara, acho que são uns seis shows gravados. Seis shows para escolher…

Paulo Marchetti - E quantas irão entrar? Você já tem idéia do que querem? Umas quinze?
Digão
- Mais, cara, vai ser um duplo ao vivo… It’s Alive… (Nota: Digão se refere ao primeiro disco ao vivo do Ramones).

Paulo Marchetti - E esses seis shows foram fotografados, foram filmados?
Digão - O de Curitiba principalmente, tem muita foto do Beto. Acho que vai sair mais as fotos do show de Curitiba, que tem muito material legal. E as músicas também no show de Curitiba foram bem legais, então acho que boa parte vai ser d’ali. Porque o show de Curitiba já era o quinto e o sexto show, já tava redondo, familiarizado, consciente, tudo… No dia do show… porra, maior esquema e tal, tocar direitinho, tocar em cima da parada...

Paulo Marchetti - E vocês estão fazendo tudo, produção…? Com quem vocês estão trabalhando?
Digão
- Estamos com o Tom Capone. Estamos fazendo com a mesma equipe.

Paulo Marchetti - A mesma equipe do Só no Forevis?
Digão
- É, e o Miranda também. Acho que o Miranda tá na parada, não sei. O Miranda tá junto né… o Miranda é o Guru espiritual da banda. O miranda não precisa falar, ele tem que estar lá, cara. Tem que estar a banda toda pra gravar e pra fazer as paradas, que rola legal. O Miranda tem que estar lá, cara.

Paulo Marchetti - Vai sair uma foto ao vivo na capa?
Digão
- Não, acho que vai sair um desenho. Porque assim (risos)… outro dia eu tava doidão assim né, aí neguinho lá e tal, e aí eu falei: pô a gente podia fazer um dia, um disco acústico, que poderia chamar Cantigas de Roda, aí o Rodolfo: “Caralho, Cantigas de Roda”, porque né, é o ao vivo pra galera pogar. Então aí ele quer fazer tipo uma fogueira, um desenho com uma fogueira e todos os personagens, curupira, mula-sem-cabeça, saci, todo mundo dançando e fazendo uma roda na fogueira, de mãos dadas. Todo mundo achou do caralho essa idéia. Eu acho legal também…

Paulo Marchetti - Bom, os hits vão estar certamente. Palhas, Nega Jurema…
Digão
- Tudo, tudo, tudo. Quer ver uma música que não vai estar…Carro Forte não vai estar, Bicharada não vai estar, Cintura Fina… só.

Paulo Marchetti - E vocês vão emendar uma turnê na outra, como vocês sempre fazem?
Digão - É , a gente nunca parou na verdade…

Paulo Marchetti - Pois é cara, é uma doideira. E vocês não sentem falta de umas férias?
Digão - Eu sinto, principalmente agora, por causa das crianças. Sinto uma falta de ficar com a molecada, mas é o problema da onda né cara, é a onda, você tem que ir junto, não pode parar…você tem que parar na hora que ela parar, aí você pára. Você pára e vai…não parou, então a gente ainda tá lá, ainda estamos remando, ainda estamos dentro da onda.

Paulo Marchetti - Onde que vocês compõem, no hotel, na estrada?
Digão - Aí que tá, foram vários lugares. O primeiro foi em Brasília, o segundo foi num estúdio em São Paulo, a gente alugou um estúdio e foi fazendo as músicas, o terceiro a gente não ensaiou, só fizemos uma música, que é o Cesta Básica. O Lapadas… fizemos na casa do Canisso, em Alphavile, no estúdio… e o Só no Forevis fizemos em São Paulo, na casa do Rodolfo, no esquema mais fulero… tipo peguei uma bateria eletronica, uma guitarra velha dele, que tava num pedestal, e enrolamos uma liga de borracha e fizemos um pedestal de microfone pra cantarmos sentados no sofá, então foi o maior esquema punk, assim isso dá maior lance pra você gravar, tipo dá maior energia legal. Você não está num estúdio cheio de equipamentos, cheio de coisas, tudo bonitinho, não, a gente tá largado e fazendo música

Paulo Marchetti - Então vocês costumam compor tudo junto? É dificil alguém chegar com alguma coisa pronta?
Digão
- Não, pronta, pronta…o Rodolfo faz isso. Uma ou outra ele chega com a música pronta, sacou…é um ajuste ou outro…é ínfima a mudança. O Rodolfo, de vez em quando, faz isso. Eu chego muito com riff e vamos montando as músicas.

Paulo Marchetti - Canisso a mesma coisa?
Digão
- Canisso é raro. Ele, de vez em quando, fala uma frase, tipo “eu quero ver o oco” que foi dele. O cara é que gritou “Eu quero ver o oco” e pronto. É importante, o cara fez simplesmente a mais importante sacou? E só fez isso também (risos), mas é o mérito, é a parada, é cada um…

Paulo Marchetti - E quantos shows vocês fizeram nesse ano de Só no Forevis?
Digão
- A gente deu muito show cara, já batemos a casa dos cem.

Paulo Marchetti - E qual a média de shows por mês?
Digão - Doze , treze…são uns quatro shows por semana.

Paulo Marchetti - Tem algum lugar que vocês não foram? Vocês já foram tipo pro Acre, pra Manaus?
Digão
- Fomos. Acre, Manaus , Porto Velho, Rio Branco, fizemos tudo, fizemos Campo Grande, fizemos Cuiabá…

Paulo Marchetti - E a galera era legal? Porque tem poucos shows por lá né?
Digão - Porra, pintou uma galera, porque a galera é carente pra caralho lá, né.
Manaus foi a primeira vez que a gente teve público acima de vinte mil pessoas, só nosso, tinham vinte e três mil, Manaus cara, debaixo de uma chuva tropical, faltou luz, a gente tocou com o gerador da casa, e dando uns raios véio…tinham uns raios que passavam em cima do público, e na nossa frente, caralho véio!!! Só tinha visto isso em Curitiba no show do sepultura…

Paulo Marchetti - Naquele que vocês fizeram com…
Digão - Com os Ramones, Sepultura, que choveu no dia, na hora do Sepultura, os caras tocaram sete músicas, era assim… a gente tocando e, em volta de pedreira, véio, só raio, raio e o Sepultura…ficou o maior cenário maquiavélico.

Paulo Marchetti - Vc tem ainda contato com o CJ Ramone?
Digão - Só quando ele vem no Brasil que a mulher dele me liga… me ligava porque não tem mais meu telefone, e sempre, toda vez que ele tava no Brasil, ele queria falar com a gente. Do caralho, CJ é brother pra caralho!

Paulo Marchetti - Então cara, vocês não vão parar de fazer turnê, vão continuar fazendo show até o final do ano e vão indo…?
Digão
- É, até a parada dar uma acalmada boa.

Paulo Marchetti - Tem alguma música inédita nesse disco ao vivo?
Digão - Não, mas eu já tenho músicas inéditas.

Paulo Marchetti - Mas vocês estão tocando alguma música nova?
Digão - Não.

Paulo Marchetti - Nem pretendem?
Digão
- Não, por enquanto não, nada. Eu quero guardar tudo para um disco novo.

Paulo Marchetti - Então um disco inédito só no ano que vem?
Digão - Só depois desse. Aí vai ter um tempo pra fazer um disco inédito bacana.

Paulo Marchetti - Só pra terminar, vocês vão tocar no Porão do Rock? ( Festival realizado em Brasília)
Digão - No Porão do Rock? Vamos.

Paulo Marchetti - É a primeira vez que vocês tocam nesse festival?
Digão
- É, é a primeira vez.

Paulo Marchetti - Mas você já foi lá assistir alguma coisa?
Digão - Não.

Paulo Marchetti - Nunca foi lá?
Digão
- Não, só vi filmagem.




Canisso - A gente gravou vários shows no decorrer dessa turnê, pelo fato da música ter emplacado e a gente teve a oportunidade de fazer uma tour bem legal. Os maiores shows, os que tinham melhor equipamento, com o público mais na palma da mão... então tinha que registrar isso. gravamos dois na Via Funchal, um em Sorocaba, mais alguma coisa em Goiânia, e gravamos dois dias em Curitiba. Sendo que no de Curitiba não vai precisar nem mexer. Ficou redondo. E a gente tem algumas músicas que ficaram melhores, vamos para o estúdio agora e vamos ver como vai ficar. Os principais shows estão gravados em vídeo. Se ele não for lançado, terá pelo menos uma faixa no CD-Rom.

Paulo Marchetti - Como você lida com as fãs mais apaixonadas?
Rodolfo - Tem que dar atenção, né? Mas você vê que essa doideira é muito culpa da mídia. Ano passado não tinha isso. Mas o assédio das fãs não me enche muito não, desde que não invada a minha vida, não vire uma doideira. Porque tem gente fanática que acaba enchendo o saco, né? Mas acho que não me incomoda não, acho massa. É um sentimento bom.

Paulo Marchetti - Se a fã for gata?
Rodolfo
- Qualquer mulher gata impressiona qualquer homem. Mas é outra parada. A mina tá ali se derretendo pelo sonho.

Paulo Marchetti - O que você pode falar sobre o disco?
Rodolfo - Tivemos a idéia de lançar um ao vivo mas, para isso, tem que ser numa turnê que esteja bem legal. E essa “Só no Forévis” foi a mais legal de todas que a gente já fez. Tanto de público, quanto do som da banda. As paradas melhoraram. Então achamos que era o momento legal da gente gravar isso. Gravamos uns oito shows, porque quisemos fazer uma parada ao vivo mesmo. A gente gravou vários shows para pegar o mais legal, e colocar com os defeitos que ele tiver.

Paulo Marchetti - Não vai Ter nenhum retoque?
Rodolfo - Cara, não. Se Deus quiser, não. Vai ser lançado em agosto.

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