Eu tenho minha conta das efemérides do rock brasileiro.
Pesquisa única que iniciei em 1998. A data inicial da pesquisa é 24 de outubro
de 1955, dia em que Nora Ney gravou “A Ronda das Horas”, versão de “Rock Around
the Clock”. Não uma versão em português, mas versão em inglês mesmo.
Essa foi a primeira vez que um rock foi gravado no
Brasil. Apesar do sucesso instantâneo (puxado pelo filme), demorou um pouco
para a coisa toda engrenar.
Mas depois disso veio a 1ª geração do rock, 2º a jovem
guarda, 3º os anos 70, 4º a geração 80 e 5º os anos 90. Grosso modo é isso. Pra
mim, acaba aí.
Nas minhas efemérides os últimos nomes a pesquisar foram Los
Hermanos, Pitty, Cachorro Grande e Autoramas e paro por aí. Pesquiso a geração
posterior, apesar de absolutamente irrelevante, mas não publico nada dela.
Você pode me falar de um monte de bandas recentes e/ou artistas solos (havia citado aqui alguns nomes, mas resolvi tirar). Fato é que se juntar todo mundo de hoje (não dá pra falar 'cena') não dá mesma relevância histórica de bandas dos
70 e 80 que estavam no chamado 2º escalão. Não atinge o mesmo número de pessoas,
não fala pra muita gente, não é vanguarda, não dita modas, não tem um bom texto, sequer trazem
novidades seja na composição, no texto, no arranjo, na harmonia...
Desculpe por ser direto. Falar assim não
significa que eu não goste delas ou de outras recentes. Vou a shows de bandas
novas e relativamente novas, tem algumas que gosto muito e fico entristecido em
ver que não acontecerá nada com nenhuma delas.
Vejo shows com muita gente, todo mundo cantando as
músicas e tals, mas é nitidamente uma coisa de gueto, para alguns poucos. Em
SP, onde moro, tem um circuito bom de shows com as unidades do SESC, o Centro
Cultural, algumas outras boas casas noturnas com música ao vivo que surgiram recentemente... lugares não faltam.
Bom ver que há novamente um circuito. Há bandas do
underground que conseguem fazer uma agenda de shows e tocar com certa
frequência. Legal. Ok. Mas nunca mais vai acontecer de um músico de rock com sua banda autoral viver somente de sua música. Pode haver exceções, raras. Mas como houve nos 80 e 90, de uma porção de bandas surgirem juntas e ter uma carreira profissional de lançamentos, shows, divulgação, bons cachês, reconhecimento nacional, etc... isso nunca mais.
Depois da geração 90, acabou a história do rock aqui no
Brasil. Não foi feito nada de muita relevância desde então, e também não
aconteceu nenhuma cena.
O que eu vejo de último suspiro do rock brasileiro,
aconteceu na segunda metade dos 90, que são essas bandas que citei no inicio do
texto, e ainda acrescento, claro, CPM22 e Charlie Brown Jr.
Pronto. Acabou. Fim.
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E se você pensar bem, tirar o coração, perceberá que na
verdade, a história toda acaba nos anos 1990 com CSNZ, Raimundos, Planet Hemp,
Pato Fu, O Rappa, mundo livre s/a, Skank...
Digo isso porque todas elas formaram uma cena que girou
em torno do Juntatribo, Superdemo, Abril Pro Rock e do grande boom da MTV que,
juntamente com essa galera, saiu do underground. Não dá pra não citar a
situação econômica do país naquele período. A estabilidade do Real permitiu que
as gravadoras voltassem a contratar bandas de rock, coisa que não acontecia
desde 1989-90.
Killing Chainsaw |
Essas bandas todas que estouraram nos 1990 citadas aqui
acima, todos os integrantes envolvidos nelas começaram a carreira ainda nos 80,
e nunca deixaram de cantar em português. É uma turma que ainda tocava por amor,
ralou, juntou grana pra gravar demo, pagou pra tocar e dependia de amigos para
ajudar na divulgação. Só pra dar alguns exemplos, John Ulhoa já tocava em 1982
com o Sexo Explícito; Marcelo Lobato tocava com Fausto Fawcett; Fred 04 também
na atividade já no início da década de 80; Digão tocava com Filhos de Mengele em
1986 e Raimundos começou em 1987; D2 e Skunk; Pouso Alto/Skank... tava todo mundo lá.
Essas bandas aproveitaram os festivais e o novo boom da
economia + MTV + gravadoras e tals. Nunca abriram mão do som que faziam e o
faziam sem saber no que ia dar e se ia dar em algo.
Com o estouro dessa geração, surgiram trocentas zilhões
de asquilhões de bandas fazendo as mais diversas misturas. Muitas bandas que
cantavam em inglês passaram a compor em português. Lembro de gente dessas bandas indo à MTV entregar material novo "olha, mudamos o repertório..." rã rã... Era um desespero por sucesso que dava pena ver... E o momento da morte é esse!
Eu criei o Ultrassom MTV e fiz sua direção por uma
temporada. Era tanto material que uma pessoa foi contratada para ajudar a ouvir
e já fazer uma seleção. Fitas e CDs não paravam de chegar e lotavam caixas e
caixas que ocupavam armários. Não era pouca coisa, não.
E mesmo assim era absurdamente difícil achar algo bom. Eu
precisava de apenas duas bandas por programa, que era semanal, e era muito difícil
achar material bom no meio de tudo aquilo.
E foi nesse momento que percebi que a razão do rock
existir havia acabado, havia se perdido. Todos ávidos pelo sucesso, foda-se a
música. Letras horrorosas, composições cheias de clichês, sem personalidade
alguma e o pior de tudo: não tinha história, não tinha coração.
Grosso modo os anos 90 foram duas cenas: uma underground
que começou exatamente em 1989-90, com todas aquelas bandas que surgiram
cantando em inglês; e outra que é essa que citei acima, que ao contrário do
underground internacionalizado, cantava em português e valorizava a língua.
Depois dessas duas cenas, as coisas foram acontecendo
soltas, surgindo um nome aqui e outro ali até finalmente tudo morrer de vez.
Em 2015 fiz um trabalho onde conversei com muita gente da
música, inclusive executivos de gravadoras. Todos eles afirmavam que 2016 seria
a volta do rock no mainstream. Estamos na metade de 2018 e não há nenhum sinal
de que algo nesse sentido irá acontecer.
Ter gente aí fazendo rock não significa que ele não
esteja morto. Como disse, perdeu todo o sentido, do que representava, da
contestação, e de todo o contexto que o cercava, inclusive das dificuldades. Nada
do que era fazer rock existe hoje.
Então fim. :)
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