24 de novembro de 2019

Rock Brasileiro: O Futuro Não é Mais Como Era Antigamente


Em 1998 a MTV colocou no ar seus dois primeiros programas de auditório, que foram criação minha: Quiz e Ultrassom.

O Ultrassom ficou no ar por dois anos. O número de fitas e CDs demos que recebíamos diariamente era gigante. Havia um armário de duas portas com várias prateleiras que tinham diversas caixas de sedex as quais colocávamos as fitas e CDs. Chegou um momento que contratamos uma pessoa pra ajudar a escutar e fazer a peneira.

Tirando os meses de programação especial – verão e férias, por exemplo – acredito que o Ultrassom tenha ido ao ar, em cada ano, por 35 semanas arredondando pra baixo. Ou seja, foram 70 semanas de programa e, tendo dois grupos por episódio, se apresentaram 140 nomes dos mais variados.

Quando fiz a direção, na 2ª temporada, criei programas temáticos. Teve um que até coloquei dois grupos com formação de banda: caixa, tuba, trombone de vara, pratos... Gravações divertidas.

Mas era uma loucura! Cada caixa de sedex tinha em média 20 grupos e tínhamos fácil mais de 50 caixas. Apesar do número absurdo, escutávamos tudo! Porém era muito difícil achar algo bom. Era muito difícil simplesmente achar dois grupos para fazer um programa!

A qualidade das composições e das letras era de se nivelar por baixo, muito por baixo e, por isso, criei alguns programas temáticos. Ali naquele final dos anos 90 estava tudo bem nebuloso, que misturava o momento econômico do país com o início da revolução tecnológica que ainda hoje (2019) vivemos.

O Ultrassom, por exemplo, que era uma disputa entre os grupos, o telespectador votava por telefone e, quem já tinha acesso, podia votar pelo site da MTV. Tudo começando, era a internet discada. Mesmo na MTV por um tempo, acredito que também em 1998, havia apenas um computador com acesso a internet.

Dessa média de 140 artistas que participaram do programa, apenas Rumbora teve alguma fama e lançou dois discos pela Trama. Alguns artistas, nunca havia dito isso, cheguei a apresentar pro Tom Capone que estava na Warner. Não foram muitos, mas uns 5 me chamaram a atenção. Um deles, lembro, foi o Berimbrown.

Quando entrei na emissora em setembro de 1993 havia apenas um computador no departamento de produção, era da coordenação – leia-se Soninha Francine – e seria apenas para fazer a grade de gravação e produção, e os avisos em geral. Nessa época todos os textos ditos pelos VJs eram escritos à mão pela equipe de redação. Depois era xerocado e passado pra equipe, incluindo o operador de teleprompter, que volta e meia procurava alguém da redação pra decifrar alguma palavra (os textos eram escritos com palavras pequenas por não haver espaço suficiente no espelho do programa).

Falei da economia porque aquele furor do triênio 1994-95-96 havia passado (engraçado que o auge do rock 80 foi exatamente no triênio 1984-85-86, 10 anos antes...), e as gravadoras não estavam mais contratando como antes. Alias, elas nem estavam contratando, pelo contrário, estavam quebrando a cabeça pra não dispensar artista.

Em 1999 ainda tinha muito grupo de rock querendo fazer fama. Já disse aqui, quando a geração 90 estourou em meados da década muito grupo que cantava em inglês, passou a cantar em português. Era apelo apenas pela fama, e pra nós que estávamos na MTV recebendo material dessas bandas e conversando com elas, víamos o quanto esse apelo era vergonhoso.

Muitos artistas pequenos e desconhecidos (nem vou falar underground porque muitos desses grupos nem história no underground tinham) ainda pensavam da mesma forma que em 1995, e o mundo já estava mudado! 

O 2º mandato de FHC não foi o mar de rosas que foi o 1º. Se você parar pra pensar, foi nesse final dos 90 que surgiram os últimos nomes significativos do rock brasileiro, como CPM22, Pitty e Los Hermanos. Surgiram outros grupos, claro, mas que chegaram ao mainstream, foram praticamente esses três.

Teve uma onda de baby rock e emo rock, mas não dá pra colocar essa geração junto desse contexto (café com leite, né?!).

Desse período da virada de século dá pra citar Acabou La Tequila, Matanza, Bidê ou Balde, Cascadura, Rumbora, Penélope, Dead Fish, Autoramas, Cachorro Grande e algumas outras, mas elas não chegaram ao mainstream, e nem perto da fama e importância das gerações anteriores, evidente que falo isso sem desmerecer esses nomes, mas apenas comparando os períodos e contextos.

Se você juntar todos esses nomes daria fácil uma excelente cena pra marcar a virada do século, mas isso não aconteceu.

Culpa de todo contexto social, econômico e tecnológico que aconteceu entre 1999 e 2010. Nesses anos podemos falar da popularização do computador, da chegada da banda larga, do celular; surgimento do Orkut, smartphone, Facebook, YouTube, aplicativos... quanta mudança em tão pouco tempo!

Não foi culpa desses grupos, nem das gravadoras e selos. Talvez um pouco da mídia que se afastou. A MTV estava um horror, as rádios ditas "especializadas" perdidas (como estão ainda hoje), revistas idem e, bem, se for falar de internet e dos grandes portais de notícia, ele nunca deram a mínima atenção para a música de um modo geral, com interesse apenas nos gêneros populares, de massa, e mesmo assim querendo fofoca e não a música.

A Trama, por exemplo, foi pioneira em vários formatos, distribuindo de forma digital, criou a Trama Virtual, entre outras mudanças, inclusive de gerenciamento do artista. Ali dentro teve um timaço que tentou entender as mudanças e navegou bonito com elas. Evidente que tinha suas falhas, mas isso não tira o brilho do pioneirismo. Eu diria que, tomadas as devidas proporções e levando em conta o contexto, a Deckdisc hoje tem algo de parecido com a Trama.

Veio o Napster, na sequência o Soulseek, torrent e outras formas de adquirir música gratuita. As gravadoras multinacionais poderosas sentadas em sua arrogância achavam que poderiam lidar com a tecnologia... eram dinossauros pensando de forma jurássica.

As gravadoras sugaram tudo o que podiam de você até a tecnologia chegar. Daí o feitiço virou contra o feiticeiro. Até Lars Ulrich passou vergonha e chorou contra o Naspter e a aquisição de música de forma gratuita.

De repente todas essas gigantes multinacionais que ocupavam espaços físicos enormes, prédios, salas, casas, estúdios, equipamentos, zilhões de funcionários, milhões em jabaculê e tals, se viram reduzidas a uma baia com uma mesa, dois funcionários, dois computadores e um telefone em um andar coletivo de um prédio comercial.

Em meio a esse turbilhão de mudanças, grupos de rock continuavam a surgir, porque isso é uma coisa natural. Da mesma forma que os boletos nunca param de chegar, bandas de rock também nunca irão parar de surgir.

Só que a revolução tecnológica - que já teve seu auge - trouxe outros interesses aos jovens, e a música deixou de ter um papel de protagonista na vida dessas gerações mais recentes, como era até meados dos anos 1990.

Hoje os interesses estão bem mais diluídos, a contracultura encontrou outras formas de expressão, e acredito que os amantes do rock - novos e antigos - todos sabem que nunca mais haverá uma cena forte como as que houveram dos 90 pra trás. Então sem mais alardes hoje cada um tem seus grupos atuais preferidos em suas playlists e assim seguiremos a vida. Azar dos festivais que a cada ano que passa vão perdendo o sentido....

14 de novembro de 2019

Rock Brasileiro: Os Lançamentos de 1959, 1969, 1979, 1989 e 1999


Senta que lá vem texto! Aliás, uma viagem por 60 anos!

De setembro pra cá postei na conta do instagram do Sete Doses de Cachaça, diversos discos do rock brasileiro com datas redondas de lançamento: 60 anos (1959), 50 anos (1969), 40 anos (1979), 30 anos (1989) e 20 anos (1999). Fazendo essa pesquisa foi fácil perceber o que escrevi aqui tempos atrás sobre a história esburacada do rock brasileiro. Pegando esses cinco anos citados percebe-se uma diferença gigante no número de artistas e lançamentos.

Todos esses anos significam virada de década e em todos eles há particularidades quanto a isso.

Apesar de já ter artistas de rock em 1959 como Tony e Cely Campello, Ronnie Cord, Bob Bolão e outros poucos nomes, os lançamentos foram raros, apenas compactos. O que vale destacar é o compacto de “Estúpido Cupido” (o solo de sax é de Bob Bolão). Acredite, mas nesses primeiros anos até Jô Soares, Moacyr Franco e Paulo Silvino lançaram compactos de rock, mas com pseudônimos.

Datas redondas são legais porque são boas pautas. Mas mais que isso, são ótima razão para resgatar a memória de forma divertida. Mas qual mídia especializada você conhece que comemorou as datas redondas de 2019? Dessa longa lista de lançamentos a mídia, se muito, falou do ‘As 4 Estações’ do Legião.

Imagine um programa de rádio com todos esses lançamentos. Convidados, músicos, música, conversa e muita história! Mas quem quer fazer? Se não há dindin, não há conversa.

Começar com “Estúpido Cupido" com Celly Campello é iniciar com o pé direito. Quase ninguém sabe, mas Celly foi um dos primeiros nomes femininos do rock NO MUNDO e não só no Brasil, mas isso nem as mulheres dão bola. “Estúpido Cupido” é versão feita por Fred Jorge, de “Stupid Cupid” originalmente lançada em 1958 por outra cantora americana.

Nessa virada de 1950 para 1960 o rock estava em ascensão apesar de haver poucos artistas do gênero. A Turma do Matoso também estava começando (Erasmo e Roberto Carlos, Tim Maia, Jorge Ben...), e logo vieram outros nomes, depois a Jovem Guarda e exatamente no final da década de 1960, essa cena estava desgastada apesar de alguns artistas ainda lançarem discos com essa sonoridade.

Mesmo Mutantes, Os Brazões e Ronnie Von que já buscavam outros sons, têm ainda momentos que remetem a Jovem Guarda. Mais desconhecido Os Brazões faz um rock com influencias da soul music e, em alguns momentos, lembra o samba rock. No disco há uma ótima versão de “Gotham City” de Jards Macalé.

Ronnie Von lançou o “A Misteriosa Luta do Reino...” que faz parte de uma espécie de trilogia de rock psicodélico iniciada com o disco epônimo de 1968 e finalizada em 1970  com 'A Máquina Voadora'. Bem, mas mesmo em meio a psicodelia do disco de 1969, há pingos de JG.

Por ser bem mais conhecido o grande clássico desse final dos 60 é o 2º do Mutantes que tem pérolas como “Algo Mais”, “Qualquer Bobagem”, “Don Quixote”, “2001”, “Fuga Nº 2”...

Liverpool foi o grupo gaúcho que originou o Bixo da Seda, e que tem em suas formações o mestre Mimi Lessa. O termo ‘rock gaúcho’ surgiu por conta desses grupos. ‘Por Favor Sucesso’ é um discaço! A altura do próprio Mutantes. É clássico apesar de pouco conhecido. E todos esses discos têm essa ligação sonora que estava em alta naquela virada de década, que é a sonoridade influenciada pela soul music e muito em cima do que Beach Boys e Beatles estavam fazendo – é só ver os timbres das guitarras. O auge dessa sonoridade, pra mim, está no fabuloso ‘Carlos, Erasmo’ de 1970.

Daí de 1969 até 1979 percorre-se uma década de rock progressivo, ignorado pela mídia de massa, porém bastante ativo em lançamentos e shows. Nesses 10 anos tiveram diversos discos clássicos do progressivo e grupos surgiram e sumiram. Dá pra falar de Secos e Molhados (o 1º), O Terço (‘Criaturas da Noite’), Mutantes (‘Tudo Foi Feito Pelo Sol’), Módulo 1000 ('Não Fale Com Paredes'), Rita Lee & Tutti Frutti... vai longe. Dá pra falar de um monte de Festivais que aconteceram e outros tantos anunciados e cancelados.

No eixo Rio-SP, em Porto Alegre, Belo Horizonte aconteciam shows em teatros e até ginásios. No Recife teve a Feira de Música Experimental, a forte influencia rock na sonoridade do baianos Gil e Caetano, vários grupos de rock acompanhando grandes nomes da MPB. Foi uma década louca e bastante movimentada.

Porém em 1979 toda essa agitação já não era a mesma do miolo da década. Muitos músicos dessa geração já estavam com idade avançada e os que não se renovaram ou continuaram no universo fonográfico como executivos e músicos contratados ou foram fazer outra coisa da vida.

Tanto que se percebe de forma gritante a diferença dos lançamentos de 1969 e 1979. Tem Raul Seixas (‘Por Quem os Sinos Dobram’), Rita Lee (‘Rita Lee’), 14 Bis (o 1º), A Cor do Som (‘Frutificar’), A Barca do Sol (‘Pirata’) e ‘Comunidade S8 (‘Quem Deseja Ser Criança?’). Evidente que há outros, como em todas as décadas que abordo aqui, mas tirando Raul Seixas não há nada muito rock nesta lista.

Rita Lee estava no auge de sua relação com Roberto de Carvalho, o que rendeu vários discos clássicos, mas nenhum tão rock como era nos tempos de Mutantes ou Tutti Frutti. “Chega Mais”, “Papai Me Empresta o Carro” e “Doce Vampiro” dão o norte da sonoridade desse disco.

O disco do Raul não é um dos que fazem parte dos clássicos. Nele não há nenhum mega hit. Foi a “inauguração” de um novo parceiro pós-Paulo Coelho e o último lançamento pela WEA. O disco não vendeu bem.

A Barca do Sol e Comunidade S8 são os “marginais” da lista, e pouquíssimo conhecidos. Eles vão de acordo com a sonoridade e o contexto da época: a nova geração hippie surgida no miolo dos 1970 incorporou a MPB no rock, tanto as melodias e harmonias, quanto instrumentos. Dentro desse contexto também está a sonoridade do ‘Frutificar'.

A Cor do Som era um grupo formado por músicos já bastante conhecidos no cenário. Primeiro acompanhava Novos Baianos, depois Moraes Moreira (quando saiu do NB). Foi o 1º nome contratado pela Warner na intenção de formar um casting só de rock, e ‘Frutificar’ é o 3º disco do grupo. É um disco clássico que tem “Viver Pra Sorrir”, “Beleza Pura”, “Abri a Porta” e a faixa título. Essas músicas tocaram muito nas rádios e fizeram parte de trilha sonora de novela.

Aí vai outro pulo de 1979 para 1989 e percebe-se que, se os anos 1970 foram agitados, então o que dizer dos anos 1980? Rádio TaxiGang 90, Blitz, João Penca, Rock in Rio... se eu começar a citar grupos e acontecimentos aqui terei que abrir outro texto!

A década de 80 foi de muitos clássicos lançados. É a década que ainda hoje é muito ouvida, ao contrário das décadas anteriores a ela. Mas o que marcou muito os 80 foi o momento político econômico que o país viveu. A abertura política com o fim do regime militar; o boom exagerado do consumo no biênio 1986-87; a hiperinflação. E a mega crise que se instalou bem na virada da década, bem quando houve a eleição direta para Presidente.

Dá pra dizer que os anos 1980 foram um tsunami de novidades e quem mais se deu bem com todas as mudanças foram os jovens.

Mas em 1989 as coisas não estavam legais pra ninguém. Discos eram caros (dá pra dizer que entre S40 e $70 reais hoje em dia), e a ordem era cortar supérfluos. O futuro era incerto mesmo com eleições diretas. Sarney deixou a economia do país em frangalhos. Foi um presidente de merda.

Nessa época todas as gravadoras tinham seu casting rock, então apesar da crise tiveram muitos lançamentos. De todos eu destaquei Legião Urbana ('As Quatro Estações'), Cazuza \('Burguesia'), Titãs ('O Blésq Blom'), Ultraje à Rigor ('Crescendo'), Paralamas ('Big Bang'), Engenheiros do Hawaii ('Alívio Imediato'), Sepultura ('Beneath the Remains'), Fausto Fawcett "Império dos Sentidos') e Capital Inicial ('Todos os Lados').

Desses todos o fenômeno foi o ‘As Quatro Estações’ do Legião. O disco tocou inteiro nas rádios pela primeira e única vez na história. Quando o ‘V’ foi lançado e “Teatro dos Vampiros” começou a tocar, “Sete Cidades” e “Se fiquei Esperando...” ainda eram executadas em rádios pelo Brasil. Uma loucura. Ao vivo Legião Urbana nunca mais foi o mesmo.

‘O Blésq Blom’ do Titãs é outro que merece destaque. Fez um enorme sucesso, mas nada se pode comparar ao do Legião. Lembro que todo mundo se perguntava, inclusive mídia: “e agora, o que Titãs vai fazer?” E foi um belo tapa na cara da mídia especializada que adorava falar mal dos grupos. Titãs continuou experimentando da mesma forma forma que fez em ‘Jesus Não Tem Dentes...’.

Os Paralamas do Sucesso em 1989 lançou ‘Big Bang’, disco que dá sequência a experimentos sonoros iniciados em ‘Bora Bora’. A 1ª música de trabalho foi “Perplexo”, uma lambada rock lançada no auge da lambada axé. O estranhamento foi geral. ‘Big Bang’ é ótimo disco, porém abusa um pouco dessa sonoridade da lambada. Não foi bem comercialmente, mas poucos foram.

Em relação ao ‘Burguesia’ de Cazuza, só causou impacto a música título. Com a voz fraca e uma sonoridade crua, o disco chamou mais a atenção pelo momento pessoal vivido por Cazuza, porque em relação ao repertório, pouco agregou ao que ele já havia registrado nos outros discos. O clipe de "Burguesia" ganhou um prêmio internacional em NY.

Sepultura merece respeito e parágrafo a parte porque na época era um grupo completamente desconhecido aqui no Brasil e, de repente, lança uma porrada sonora internacional. Resultado da viagem que Max fez juntando trocado dos amigos. ‘Beneath the Reamains’ já é uma boa dose do que viria ser os 1990. Aqui no país Sepultura era underground e apenas os bangers e punks conheciam o grupo.

1989 deixou claro para os anos posteriores que não iria facilitar, e em dezembro deu de presente como aviso para 1990 a eleição de Fernando Collor de Mello. Enquanto ele esteve no Poder, o Brasil só afundou mais. Pior! Confiscou dinheiro e matou do coração dezenas de aposentados e idosos – não estou brincando.

A década de 1990 tem um nome: Itamar Franco! Vice de Collor, em dois anos conseguiu ao menos apontar a direção que o Brasil deveria seguir. Foi ele quem “implementou” o Real, posto definitivamente em vigor em 1º de junho de 1994.

Mais uma vez, se olhar de 1989 a 1999, verá novamente um tsunami de acontecimentos. Em 1990 chegou a MTV e a estabilidade econômica possibilitou as gravadoras de contratar, surgiu o Banguela, selos alternativos apoiados a grandes gravadoras, rádios, revistas e uma nova cena se incorporou a cena 80.

1999 mostra bem a mistura da geração 80 com a 90, e também a geração 2000. Nomes como CPM22 e Pitty já estavam no cenário underground, mas Los Hermanos infernizou o país com a bubble gum “Ana Júlia”. Ninguém conhecia bem o grupo que desde o início teve que lutar contra o próprio hit pra provar que a música, na verdade, destoava da verdadeira sonoridade do grupo.

Além de Los Hermanos, lançaram discos em 1999 Barão Vermelho (‘Balada’), Paralamas (‘Acústico’), Titãs (‘As 10 Mais’), Lobão (‘A Vida é Doce’), Ira! (‘Isso é Amor’), Charlie Brown Jr. (‘Preço Curto, Prazo Longo’), Cássia Eller (‘Com Você Meu Mundo Ficaria Completo’), O Rappa (‘Lado A Lado B’), Raimundos (‘Só no Forévis’), Pato Fu (‘Isopor’) e Penélope (‘Mi Casa, Su Casa’). Obviamente tem muito mais, mas esses ilustram bem a passagem de década.

O que reparei é que nesse período de virada 1998-2001, muitos grupos da geração 80 não lançaram nada inédito.  E se vê clássicos da geração 90 com O Rappa, Raimundos, CBJR e Cássia Eller, que é um caso a parte. Esse é o disco que ratificou sua sonoridade e sua personalidade artística. Era um novo horizonte para carreira dela que infelizmente não seguiu.

Texto longo, mas confesso que fluiu naturalmente por se tratar de um assunto gostoso. É conversa de boteco pra mais de metro!

E, bem, infelizmente depois de 1999 não há muito que registrar já que a cena rock se diluiu e sumiu do mainstream. Pode até haver clássicos de 1999 a 2009 e de 2009 a 2019, mas aí já é algo pessoal. Você tem seus clássicos e eu tenho os meus.

Ah! E todo esse texto mostra o quanto de conteúdo legal a dita mídia especializada em rock perdeu. Poderia ter sido uma série de rádio ou de TV pra durar o ano todo. Nesses veículos há de fato experts em conteúdo?

Ao menos aqui no Sete Doses de Cachaça faço este resgate de grandes lançamentos e deixo documentados esses bons momentos do nosso rock.

PS: Se quiser esticar essa viagem, é só clicar nos links que estão no texto!

25 de outubro de 2019

A Esquerda é Elitista, Seletiva e Preconceituosa

O que me fez escrever mais este texto sobre a esquerda é o tratamento lamentável que tenho recebido de alguns “amigos” desde a radicalização da polarização ideológica que tomou conta do país. A eles junta-se conhecidos que costumo encontrar em shows de artistas, principalmente, independentes e alternativos. Artistas dessas cenas, e seu público são, de forma inexplicável, majoritariamente de esquerda e se esbaldam distribuindo preconceito e ranço com quem não compactua com seus pensamentos da ditadura socialista. Mas esse tipo de atitude preconceituosa é só um pedacinho da ponta do iceberg do que é pertencer a esta ideologia maligna. E como já escrevi, artistas independentes e alternativos não existem e jamais existiriam em um regime comunista. Com microfone e em multidão gritam "morte aos fascistas" sem se dar conta de que o regime comunista tem pontos em comum com o fascismo. É só ver a adoração da esquerda brasileira por Lula, pra ficar em um exemplo recente - ele inclusive "ganhou" um filme biográfico, igual a outros ditadores. Não discuto com fatos. Enfim, as favas com essas bostas de ideologias! E se você que diz ser contra muros, quiser continuar construindo muros pra me evitar e evitar a todos que pensam diferente de você, então que fique em sua bolha. Eu quero diversidade.

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O movimento político de um país não é uma coisa que se aprenda da noite para o dia. Mesmo quem está diretamente inserido nele não consegue entendê-lo 100%.

Por conta do documentário dos 50 anos da TV Cultura conversei com diversos jornalistas, e foram unanimes em dizer que sem conhecer Brasília, não há como entender a política. Eu sendo de BsB concordo plenamente! E mesmo conhecendo como funcionam as coisas na Capital, volto a dizer, não se sabe 100%.

Então cuidado com o que se fala, e seja seletivo(a) no que escuta. Certa vez uma menina gaúcha de 22 anos quis discutir comigo e a primeira coisa que ela disse sentada em sua arrogância foi: “sei tudo de política!”. Coitada... depois veio me pedir desculpas rsrs. Ela é um bom exemplo do que acontece hoje, com essa nova geração educada de acordo com a teoria pós-crítica que, como toda a esquerda, é muita falácia e zero de prática. Uma baboseira que só se replica por se sustentar, atualmente, em opiniões vazias publicadas nas redes sociais.

Difícil mesmo é entender como ainda há, na minha geração e gerações anteriores, gente que levanta essa bandeira escrota da esquerda, mesmo que décadas atrás tenha assistido e torcido pelo fim do comunismo.

Quando cheguei a SP, das amizades que fiz a partir de 1987, nenhuma falava ou se interessava por política. Nenhuma! Daí a partir das manifestações de 2013 essas mesmas pessoas resolveram, de uma hora pra outra, virar PhD no assunto... igual a meninota de 22 que citei. Chega a dar vergonha.

São pessoas que compram o discurso mau caráter do PT sem se tocar de que histórias como aluno bater em professor começou no Governo Petista; que houve queda na qualidade da educação (com cortes astronômicos que ninguém reclamou na época), da saúde pública – a volta de doenças já erradicadas; falta de medicamentos (minha ex-sogra teve que entrar com advogado contra o Governo para poder receber um importante medicamento que constava na lista de liberados, mas que se negavam a dar... em pleno Governo Lula); segurança pública aos frangalhos – vivendo de vergonhosos acordos com facções criminosas, como os que houveram para a Copa e Olimpíadas, por exemplo.

Travesti sendo espancada até a morte; menina menor de idade presa em cela com 40 homens que a estupravam noite e dia; enriquecimento descomunal de bancos privados; um poderoso empresário como vice-presidente; a transformação do BNDES em banco particular do PT; o País na mão de 4 empreiteiras + 4 bancos + falta de concorrência nos combustíveis e em outros tantos serviços básicos...

Olha, no meu entender, pra defender isso tudo há três hipóteses: 1) A pessoa é absolutamente ignorante em política; 2) A pessoa é mau caráter mesmo; 3) A pessoa, de alguma forma, se beneficiava dessa roubalheira.

Corrupção é a forma mais cruel e silenciosa de se assassinar dezenas, centenas, milhares de pessoas. Falo de crianças, pessoas doentes, mães grávidas, idosos... Quantos não morreram pela corrupção do governo petista? Foram milhares de mortes, mas a perversa crueldade da corrupção está aí: não dá pra mensurar quantas vidas foram ceifadas pelos trilhões roubados.

Você pode me dizer, por exemplo, que muitos alunos do ensino público ingressaram na Universidade em uma parte desse governo petista. E eu te digo que se não fosse a roubalheira, no mínimo, 4x mais alunos teriam este benefício.

E como se pode defender algo assim? A meu ver, só tendo muita maldade no coração. O “rouba, mas faz” é uma coisa horrorosa! E aquele aperto de mãos entre Lula e Maluf diz muito sobre isso.

Chamar a quem não pensa como você de torturador, fascista, racista, reacionário, nazista, etc é absolutamente infantil e mostra a evidente intolerância por parte de quem fala que luta contra intolerância, né!?

Pensar ao contrário de você não me torna um vilão, um bandido, e não quer dizer que sou a favor da desigualdade social. De novo: é deveras infantil pensar dessa forma, e vai bem de acordo com quem pouco conhece do assunto.

Lembro-me da alegria e da sensação coletiva de leveza e liberdade quando os militares deixaram o Poder. O sonho da população de ver o Brasil se tornar grande e livre era o que pautava aquele momento.

E mesmo com essa sensação de liberdade aqui no país e um tsunami de mudanças acontecendo, o mundo ainda vivia a tensão da Guerra Fria. O mundo sabia que a qualquer momento poderia ser lançada uma bomba nuclear, que iria liquidar com a humanidade. Essa ameaça era real. Bem real.

E uma das coisas que deixava essa tensão no ar era a falta de informação sobre os países comunistas. O que se fazia lá dentro? O que acontecia por lá? As informações eram poucas e confusas, tanto que várias gerações cresceram (inclusive a minha) ouvindo dizer que comunistas comiam criancinhas... e só hoje, graças a tantas fontes de informação e pesquisa, entendi que são as VÍTIMAS do comunismo que comiam criancinhas já mortas pela fome... exatamente pra não morrerem de fome.

Bem, fato é que em 1989 aconteceu o que o mundo ocidental esperava há muito: o comunismo começou a ruir com a queda do Muro de Berlim. Logo em seguida veio o fim da URSS... da Cortina de Ferro.

Aquele alívio que sentimos regionalmente com o fim do Regime Militar, se tornou mundial com a queda definitiva desses principais Muros Comunistas. Era o fim de um sistema cruel, fechado, autoritário e assassino...

O mundo comemorou!

O Brasil, país atrasado de 3º mundo que nunca incentivou a leitura e nunca levou a educação a sério, de uma hora pra outra resolveu se assumir de esquerda. Pior! Um grupo comunista da América do Sul luta ainda hoje (pasmem) para que a esquerda domine os países do nosso continente. Mesmo com a Venezuela em ruínas...

A troco do quê pessoas aqui no Brasil tem a coragem de levantar a bandeira comunista? O que pretendem com isso, uma vez que todas as experiências nesse sentido fracassaram e mataram milhões de pessoas?

Por que tamanha crueldade no coração a ponto de levantar essa bandeira maligna? Por que desejar um sistema fracassado, que estava nitidamente levando o Brasil ao colapso social e econômico?

Qual o motivo de querer tanta maldade? E porque estender essa maldade para pessoas que não compactuam com a ideias da esquerda?

Não sei se só eu tenho essa percepção, mas toda essa gente que se diz de esquerda (e que se lambuza deliciosamente no capitalismo) se fecha numa bolha, se tranca em um gueto.

Vejo assim: socialistas na bolha e o resto dos seres humanos livres, vivendo normalmente, na luta do dia-a-dia, fazendo suas coisas e levando uma vida de liberdade, interagindo, trabalhando, saindo pra se divertir...

E todos que ficam dentro dessa bolha ficam falando e repetindo que Lula é preso político, é homem do povo, que tirou 30 milhões da pobreza, que fora da esquerda não há solução, que viva Marx, que viva Che, que o mundo está errado, que todo mundo é reacionário, opressor, blá blá blá. É tão chato e tão bobo!

Entre dois idiotas escolhi o idiota que se cercou de gente competente, que falou de mudanças urgentes, que antes de ser eleito deixou clara a direção de seu governo e até divulgou parte de seu ministério; em detrimento do outro idiota que faz parte de uma quadrilha corrupta (portanto assassina), que falava na volta da censura, na soltura de presos (incluindo estupradores e assassinos), no aparelhamento do STF, e que sequer tinha um ministério formado já que dizia que só depois de conversar com os outros partidos iria formá-lo.

Ou seja, entre alguém que falava sobre um novo caminho e outro que falava em piorar o que já estava ruim, não tive muito o que pensar na hora da escolha.

E você percebe a falta de conhecimento político dessas pessoas que têm coragem de se assumir de esquerda, vendo suas atitudes de preconceito como se afastar de você, te bloquear, fingir que não te vê pra não ter que te cumprimentar.

Você conversa com essa gente tendo que medir as palavras, porque percebe que uma palavra mal compreendida pode virar alguma fobia, porque o barato delas é inventar fobias. Se você disser que está usando um “sapato preto” é o suficiente pra você ser chamado de racista! Piada, mas é quase isso.

Daí você começa ver que esse povo comunista, de esquerda, socialista, é de fato mal humorado porque essa é a essência de quem levanta essa bandeira cruel. E sendo um sistema cruel, óbvio que seus seguidores serão cruéis, fechados, mal humorados, desconfiados e nitidamente intolerantes com a liberdade.

Por fim, pra mim, os que se dizem comunistas, na verdade, sofrem uma inveja gigante de quem não levanta essa bandeira ou que não levanta bandeira alguma. Porque a vida mostra isso: pessoas sem personalidade sentem inveja de quem é independente.

A vontade de escrever este texto veio depois dos dois últimos shows que vi no Sesc Pompéia: Cólera e Siba. O ex-Mestre Ambrósio, resolveu falar umas besteiras no palco dizendo que Lula deveria estar na Presidência.... bem, ao cidadão Siba peço que entenda melhor seu país antes de falar asneiras que podem te diminuir como artista. Cuidado!

Entre o público dos shows, tinham velhos amigos, camaradas e conhecidos. De todos que vi e que sabem que não compactuo com a esquerda, apenas um veio conversar comigo, jogar conversa fora durante uma cerveja... e conversamos sobre Itamar Assumpção, veja só!

Um outro “velho amigo” me cumprimentou de cara feia e, apesar de estar na mesma cerveja, preferiu sair da roda. Dá pra perceber o quão é feia essa atitude preconceituosa? Vi duas pessoas que compraram meu livro, e que em outras ocasiões me pediram dedicatória e até fizeram selfie, mas que me ignoraram por completo. Uma coisa louca! Pessoas reclamam de figuras como Bolsonaro pelas suas atitudes preconceituosas, mas que agem da mesma forma que o atual presidente! Quanta ignorância! Hahaha

E eu continuo aqui de fora sem saber se choro ou se dou risada... Não excluo ninguém, não bloqueio ninguém e não ignoro ninguém.

Afinal, como eu, você também acha que esse pessoal da esquerda vive ou não em uma bolha mal humorada e de energia pesada?

Hey você de esquerda! Pare de tratar mal as pessoas que não pensam como você. Por favor, leve sua atitude autoritária pra puta que pariu e me deixe em paz com minha liberdade! Caso ela te incomode, tenho algumas sugestões de países nos quais você poderá visitar... quem sabe farão você mudar de ideia rapidinho.

Sem bandeiras!
Sem muros!
Viva o respeito!
Viva o amor!
Viva a liberdade!

Liberdade é respeito! Respeito é amor!


PS: Todas as imagens que ilustram este texto são do dia da queda do Muro de Berlim na esperança de que “pessoas de esquerda” se lembrem do quanto é ruim não ter liberdade, de ter a família separada e ver amigos e parentes sumirem, serem torturados e mortos considerados desaparecidos.... e do quanto é vergonhoso, além de grave desrespeito com as vítimas do comunismo afirmar uma coisa dessas.







9 de outubro de 2019

Raimundos 1994 - Por Canisso



Fuçando nas pastas reencontrei este texto que eu nem me lembrava. Pelo que entendi Canisso, a meu pedido, o escreveu para comemorar os 15 anos de lançamento do 1º do Raimundos pr’eu publicar no blog Rock Brasília Desde 1964, o qual era colaborador. Pelas contas isso foi em 2009.

Nesse início de Banguela eu estava bastante presente, mas não só eu. Além de todos os grupos contratados, tinha um monte de gente amiga que aparecia no Be Bop. Era um lugar que servia de “esquenta” pras festas, shows, baladas...

Em 1994 corria meu primeiro ano na MTV e ela ficava perto do Be Bop. Como os horários lá eram flexíveis, e nessa época acontecia tudo ao mesmo tempo agora, eu vivia no Banguela. Tanto que nem consigo lembrar se eu estava lá na gravação desse ou daquele disco, porque na verdade cada vez que se ia lá, era uma gravação diferente acontecendo.

Algo que me marcou muito foi o fato de ter sido lá a última vez que vi e interagi com Fejão como nos velhos tempos de Brasília. Não sei se era o 1º ou o 2º do Little Quail quando Miranda e Gabriel juntaram sei lá quantas zilhões de pessoas pra fazer o maior backing vocal da galáxia, e Fejão estava lá (se não me falha memória Parente, Bulhões e Helder também estavam lá - Dungeon). Eu peguei a câmera caseira de Gabriel, subi em em uma escada dessas de obra e filmei tudo. Fumamos alguns baseados, falamos um monte de besteiras, demos boas risadas e depois não lembro de ter visto Fejão novamente... (talvez quando Dungeon foi ao Fúria... mas era outro clima).

Bem, o que posso dizer da gravação desse primeiro disco do Raimundos é sobre a energia que a envolvia, e que lembrava muito a mesma que havia em Brasília quando Paralamas, Legião, Capital e Plebe gravaram nos anos 80. Era um novo horizonte se abrindo.

Mas o mais legal era que tudo era novidade. Ficar hospedado em hotel, não pagar alimentação, ter uma estrutura profissional dando apoio, ir a festas e shows, conhecer gente importante do meio artístico... Era tudo vantagem, e necessário aproveitar ao máximo.

Sempre lembro de um fato curioso em relação ao Raimundos ser o primeiro lançamento do selo Banguela criado pelo Titãs. Bobinho, mas curioso: Em 1986 o Titãs foi tocar em Brasília, era a turnê do 'Cabeça Dinossauro'. Eu e Digão estávamos juntos, e mesmo sendo menor, ele estava de carro. Terminado o show resolvemos passar no Gilbertinho (que era o point que frequentávamos). Chegando lá ficamos surpresos em ver que estava tudo fechado. A única coisa que estava lá era o tio do cachorro quente, então resolvemos comer um. Descemos do carro e pra nossa surpresa lá estavam Branco Mello e Charles Gavin. Ficamos lá comendo e conversando com eles, que queriam dar um rolé pela cidade. Não lembro o que aconteceu (talvez Digão lembre), mas acredito que tenham ido embora para o hotel... e quase 8 anos depois acontece esse "reencontro" de Digão com Branco e Charles...

Nessa época também houve uma das primeiras viagens profissionais do grupo, e foi para o Rio de Janeiro pra participar do Top 20. Eu estava lá pela MTV e lembro de termos nos esbaldado no hotel já que a produção (do Raimundos e da MTV) disse pra não ter preocupação com os gastos. Comemos bem. Muito bem. Teve também o Juntatribo, mas essa balada não lembro... por que será?

1994 foi um ano bastante intenso, daqueles que não vão acabar nunca...

E lá se vão 25 anos....

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Canisso no Porão do Rock 2000. Foto minha.

“Pois é, e a gente dá uma piscada e lá se vão 15 anos... nós quatro chegamos de Brasília de ônibus e nos hospedamos no Arthur's hotel, um hotelzinho meia bomba que ficava em pinheiros, que diziam as más línguas já ter sido um hospital e tinha fama de mal-assombrado... iríamos gravar no Be-Bop, que acabou se transformando na sede do Banguela, duas mesas e uma linha de telefone gentilmente emprestados pelo Marcelo e pela Ana, donos do estúdio...

Lá entre caixas e caixas de pizza pra viagem e no meio da névoa espessa de cigarros feitos á mão foi traduzido pra uma gravação decente toda a tosqueira e espontaneidade de um som visceral e urgente, resultado da união de influências e vivências de quatro malucos de Brasília que de certa forma conseguiram juntar no seu som elementos pesados e ao mesmo tempo populares, música pra headbanger e porteiro de prédio, forró e hardcore...

Encontramos no Be-Bop uma estrutura fenomenal, um quartel-general com  todo o apoio dos Titãs, sócios do Miranda na empreitada de fazer um selo pra dar lugar às novas tendências que já começavam a pipocar... gravamos com instrumentos emprestados, virando madrugadas sem sentir, e a coisa foi ganhando vida própria, até hoje não canso de ouvir e me surpreender... 

Com o disco pronto começaram os shows, e aí pintou o desafio de transportar aquela sonoridade obtida arduamente no estúdio pras apresentações ao vivo, e isso foi norteando o trabalho desde então, com humildade pra aprender nas oportunidades que tivemos de tocar com bandas mais experientes, e investindo em equipo e instrumentos... mas no começo foi pauleira, viajamos muito de ônibus de linha e van, empilhados junto com os cases e disputando espaço com os caminhoneiros nas churrascarias de beira de estrada...mas bastava uma horinha de show com a mulekada começando a conhecer e cantar junto nossas músicas pra dar uma sensação estranha, um misto de orgulho e dever cumprido...

Existia um clima de solidariedade, de pessoas em diferentes posições dentro da cena que se formava com um mesmo espírito de "fazer acontecer", de dar sua contribuição ao "movimento" espírito esse muito bem traduzido pelo Miranda na definição perfeita: BRODAGEM!!!

Eram jornalistas, radialistas, bandas, produtores, empresários... o barulho feito por essa corrente que queria dar voz a uma nova forma de fazer música pesada BRASILEIRA, começou a incomodar a mesmice reinante, e sem abaixar a crista pra nada que viesse de fora e tocando de igual pra igual com os "medalhões" a parada vinha como um caminhão sem freio numa ladeira, atropelando tudo no seu caminho, e começou a invadir os salões chiques com seu sotaque de peão, lavando a alma com orgulho de ser brasileiro e cantando em português chulo...”



16 de setembro de 2019

O Resgate da Memória: 51 - Sepultura e Mutilator (1986)

Nos anos 80 houve um período em que surgiram alguns estilos mais agressivos tanto de metal, quanto do punk. Era uma brincadeira saudável entre os amigos ver quem formava o grupo com o som mais "podre". Em Brasília mesmo, além dos bons grupos pesados que surgiram principalmente entre 1984 e 87, costumávamos fazer uma brincadeira que era uma espécie de batalha sonora, quando ouvíamos Slayer, Metallica, Exodus, Testament, Exploited, Dead Kennedys, Discharge e GBH pra saber quem era mais rápido e agressivo: punk ou metal? Só barulheira!
Nessa reportagem destaco negativamente as falas de Max e Jairo quanto ao surgimento - naquela época - de novos grupos. De qualquer forma é um belo documento e, arrisco em dizer, deve ter sido a primeira entrevista do Sepultura com divulgação nacional.

No início de dezembro de 1986 Venom inacreditavelmente veio ao Brasil para shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília. Então certamente esta entrevista aconteceu em novembro/86. A revista é de dezembro/86.






Sepultura – A Morte Vem das Geraes

Revista Metal, ano 3, nº 27
Por Paulo Sisinno


Beagá em chamas! Provavelmente desde a Inconfidência Mineira não havia tanta agitação e tumulto fervilhando nas Gerais. Mas agora a conspiração não é organizada por dentistas, alferes e coisas tais, e sim por uma massa enfurecida de garotos descontentes e suas faiscantes guitarras. Conheça aqui dois de seus grupos.

Novas bandas estão surgindo a cada dia e muitas demonstram uma garra e competência como há muito não se vê no badalado eixo Rio-São Paulo. Não por outra razão que METAL foi levada a buscar urgentemente colaborador naquela região de elevado teor metálico (aí é que entra na cena o nosso batalhador Ricardo David). Mas o papo é outro. O fato é que duas “mortais” bandas mineiras estavam no Rio para se apresentar ao faminto público carioca: Sepultura e Mutilator. Dois representantes fieis da linha “Death-Black Metal” (o Muitlator mais para o Black e o Sepultura mais para o Death, diria eu).

Metal – Vamos começar pela pergunta mais quente: como foi a escolha de vocês (Sepultura) para abrir o show do Venom em Minas?
Max (Sepultura, gui/voz): Foi na base de muito esforço e algum pistolão (risos). Sério, nós batalhamos bastante para que ouvissem e conhecessem o nosso trabalho. Mas também ajudou o fato de que um parente trabalha na firma Tempo Produções, que vai ajudar a organizar o evento em Minas. Talvez nós também consigamos abrir o show em Brasília.

Metal – Quais as expectativas em relação ao seu novo disco, que sairá em breve**?
Max: Eu o considero um disco acima da média em termos de Brasil. Conseguimos realmente um grande resultado. Certamente este disco está bem superior ao nosso primeiro trabalho, sempre na linha Death Metal.

**Schizophrenia

Metal – Uma perguntinha maliciosa. O metal tem crescido bastante em termos de popularidade, lá fora e agora aqui no Brasil. Como vocês reagiram frente ao sucesso? E se o metal entrar na moda?
Jairo (Sepultura, gui solo): Em relação ao sucesso, nós temos certeza que não mudaríamos. Não somos estrelas; depois de nossos shows nós saímos do palco e ficamos com a plateia! Nós andamos junto com a galera e isso não vai mudar. Quanto ao metal entrar na moda... eu curto o que eu faço, e o que eu faço é metal. Se entrar na moda eu continuo fazendo.

Metal – Nos últimos tempos MG tem gerado uma grande leva de grupos que fazem black metal. Vocês acreditam que isso seria resultado da repressão que a tradição conservadora mineira impinge aos jovens?
Max: Não; eu acho que é porque as primeiras bandas que batalharam e abriram espaços em Minas seguiam este estilo. Então as bandas que vieram depois imitaram.
Rodrigo (Mutilator, baterista): Eu acho até que pode ter sido um dos fatores que influíram, não o mais importante.

Metal – Como surgiu o Mutilator?
Rodrigo: Surgiu em fins de 1985. A formação era eu na batera, Cleber e Alexander nas guitrarras, Ricardo no baixo e Marcelo voz. Este último saiu sando lugar ao Sílvio, nosso atual vocalista e letrista.

Metal – Fale sobre suas letras e sua música.
Cleber (Mutilator, guitarra): Ouvimos muito Celtic Frost e Bathory, e nossa música é bem semelhante a isso. Quanto as letras, o indicado para falar sobre elas era o Sílvio, que não está aqui hoje. Mas são basicamente sobre feitiçaria, um assunto que o Sílvio curte muito e até estuda. Ele sabe a história da bruxaria desde a Idade Média!

Metal – Como vocês veem o crescimento do metal no Brasil?
Max: Por um lado é bom porque obriga os meios de comunicação a ver que a gente existe e que somos um público enorme. Por outro lado eu não acho legal ver novas bandas surgindo dia após dia. Explico: todo mundo que assiste um show fica fissurado e monta uma banda, mesmo sem saber tocar. Qualquer dia desses não tem ninguém na plateia; só no palco.
Jairo: Todo mundo pensa que é só formar uma banda e sair tocando qualquer coisa por aí. Tem que batalhar; isso exige esforço e dedicação!
Rodrigo: Acho que o tempo vai selecionar as bandas que continuarão existindo ou não.

Metal – Quais são as maiores dificuldades de se fazer metal no Brasil?
Max: Dentre as mesmas de sempre (apoio, condições técnicas, equipamentos...) destaco uma: o pessoal daqui não dá o devido valor as bandas brasileiras. Algumas bandas nacionais superam de longe outras lá de fora, mas os fãs preferem gastar dinheiro num disco importado que dar força a um grupo daqui, comprando seus discos ou indo aos shows. Tinha que acontecer com o metal brasileiro o que aconteceu com a new wave daqui (tipo Paralamas, RPM): o pessoal que gosta compra os discos e ouve como se fosse um grupo lá de fora! Isso o público do metal precisa entender; tem que acreditar no potencial do Brasil!

E assim rolou a entrevista. No dia seguinte, durante o show, as duas bandas mostraram que realmente estão dispostas a vencer. Apresentaram um show que (apesar dos eternos vacilos do “pessoal do som”) agradou em cheio a furiosa (no bom sentido) massa de pirados presentes. Em tempo: a formação do Sepultura é Max (gui/voz), Jairo (gui), Paulo (baixo) e Igor (bateria). O Mutilator é Sílvio (voz), Cleber e Alexander (guitarras), Ricardo (baixo) e Rodrigo (bateria).



9 de setembro de 2019

2019: O Rock de Brasília Vivo!


Ah que maravilha falar um pouco do Rock de Brasília!

Está todo mundo aí: Plebe Rude, Capital Inicial, Legião Urbana, Detrito Federal, Os Paralamas do Sucesso... isso pra ficar na década de 1980. Se eu for pra década de 1990, também vai ter um monte de gente ainda na ativa como Raimundos, Maskavo, DFC, Os Cabeloduro...

Ainda dos anos 1980 dá pra falar de Escola de Escândalo que voltou, fez alguns shows, gravou o repertório clássico; Elite Sofisticada, que gravou um álbum que não lança nunca; tem o Filhos de Mengele que em 2015 lançou pela Deckdisc o repertório completo em todas as plataformas digitais; e o Fallen Angel voltou a ativa agora em 2019.

Dinho logo lançará disco solo e Capital acabou de lançar ‘Sonora’; Plebe Rude prepara lançamento de ‘Evolução’, disco conceitual, duplo, com 28 faixas e que fala sobre a evolução da América.

Mesmo antes de se juntar novamente, a dupla Dado – Bonfá continuou na ativa tocando, gravando, produzindo... e até o ex-Legião Kadu Lambach – antigamente conhecido como Paraná – tem feito shows bem legais.

Como se vê, praticamente todo mundo ainda na atividade. Muito massa! É claro que ao longo desses 40 anos – a contar a partir de janeiro de 1979 quando o Aborto Elétrico fez seu 1º show – muita coisa aconteceu.

Mesmo que seja uma coisa óbvia, é bom registrar aqui que a obra dos três principais grupos dos anos 80 – Plebe, Legião e Capital – continua atual.

Dessas conhecidas, nunca escondi minha preferência disparada por Plebe Rude. Com Philippe e André conheci muitos dos grupos que fizeram me apaixonar por punk rock e pós-punk. Coisas como XTC, Stranglers, PIL, Killing Joke, 999, Suicide, Gang of Four, Ruts e outras tantas esquisitices que ouvi com eles. Das três é a que continua com sua essência: ótimos textos com sacadas irônicas e cínicas, som pesado e postura independente. É roque!

Fora que Plebe Rude continua criando sem parar. De 2006 pra cá só lançou bons discos: ‘R ao Contrário’, o DVD ‘Rachando Concreto’, ‘Nação Daltônica’ e ‘Primórdios’. Já no forno e na masterização o novo ‘Evolução’, que vai sair em 2020. Fora isso Seabra está no fim de sua autobiografia e já pensando em um disco solo (também conceitual).

Com todo respeito ao Capital Inicial – Dinho é outro cara que considero irmão – mas o grupo não faz esse rock todo que diz fazer. Vejo hoje o Capital Inicial mais pra Coldplay e Bon Jovi, do que pra Ramones e AC/DC. Vou até mais, pra que se entenda melhor essa minha colocação: em se tratando de rock, o Capital Inicial dos anos 2000 está bem distante daquele Capital Inicial dos tempos de Brasília. Tem texto que publiquei aqui rasgando o Capital em elogios e não tiro uma palavra dali, porém o tempo passou e percebi algo que, a meu ver, vai contra o próprio grupo.

Durante muito tempo, ao encontrar com o Capital ou seus integrantes por aí, sempre cutuquei perguntando de músicas antigas dos tempos de BsB, e do repertório gravado nos 80. A última vez que isso aconteceu foi durante as gravações de ‘Sonora’. Perguntei de algumas músicas que o grupo nunca gravou e nunca mais falou delas... Daí Dinho me falou: “São velhas. Por que gravá-las?”, mostrando zero possibilidade de resgatá-las.

É exatamente essa hojerizah com o velho repertório que faz o Capital Inicial estar mais ao lado do roquinho bonitinho, do que do bom e velho rock que um dia já fez de fato. Por que não tocar pérolas como “Autoridades”, “Cavalheiros”, “Prova”, “Leve Desespero”, “Sob Controle”, “Cai a Noite”, “Independência”, “Fantasmas”, “Mickey Mouse em Moscou”, “Belos e Malditos”, “Pedra na Mão”, “Fogo”... Músicas como essas que poderiam voltar com os arranjos mais pesados, agora são desprezadas. Mas algo me diz que em breve as coisas irão mudar para o lado do Capital... acho eu... enfim...

Desde que Dado e Bonfá voltaram a tocar juntos com essa banda atual, já fui a dois shows. Sem contar o divertidíssimo show com Wagner Moura, marcado por eu ter conhecido o ídolo Andy Gill nos bastidores! Pela TV realmente esse show com Wagner não foi bom – a direção da MTV se mostrou bastante incompetente nesta captação – mas quem estava no Espaço das Américas viu um showzaço inesquecível!

Achei ótimo eles voltarem a tocar. Formaram uma bandaça, chamaram André Frateschi, que manda incrivelmente bem, e estão fazendo shows muito mais próximos do que a Legião era nos tempos de Negrete, do que nos tempos chulos com banda de apoio que marcaram a década de 90. Me diverti pacas nos três shows e a fabulosa energia do público ajuda muito. O ambiente se torna uma célula única. Impressionante!

E tem Os Paralamas do Sucesso que, apesar de ser um grupo carioca, faz parte da Turma da Colina e da história inicial do Rock de Brasília. Mesmo com todos os problemas pelos quais Herbert passou, e com a enorme dificuldade que enfrenta para viajar pelo Brasil sendo um cadeirante, o grupo está aí firme e forte!

O Porão do Rock de 2015 foi bem legal porque toda essa galera se encontrou nos bastidores, e volta e meia continua se esbarrando pelos festivais, aeroportos e hotéis.

Profissionalmente tudo começou com Paralamas em 1983. Até quando essa história vai continuar ativa ninguém sabe dizer, mas o que eu posso afirmar é que, além do que será lançado ao longo dos próximos anos, ainda há muito material inédito sobre tudo isso: músicas nunca gravadas, fotos, imagens, letras, gravações das mais diversas.... e histórias! Muitas! Mas muitas histórias! E que tudo isso venha a tona, mesmo que daqui a 200 anos!

Viva o Rock da Colina! Viva o Rock de Brasília!

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29 de agosto de 2019

Sepultura


Só agora me toquei que desde que abri o Sete Doses de Cachaça, nunca escrevi um texto só sobre o Sepultura. Então resolvi aproveitar duas datas legais pra rabiscar algo.

São 3 os meus discos preferidos: ‘Beneath the Remains’, ‘Arise’ e ‘Chaos A.D.’ Como fã eu vejo que em ‘Arise’ o grupo chegou no ponto, estava absurdamente coeso e arrebentou, mas em ‘Chaos A.D.’ Sepultura estava “voando baixo”! Não lembro o que o grupo diz sobre isso, mas pra mim o ápice está ali entre ‘Arise’ e ‘Chaos...’, que em 93, com o lançamento em setembro, só confirmou esse ápice.

Não falo de fama internacional, mas sim da coesão entre os integrantes. Fui diretor do Fúria Metal (depois só Fúria) de 1995 a 2000, nem sei dizer quantas vezes conversamos com o Sepultura. O grupo nos dava todas as exclusivas, e era a janela que confiava pra divulgar sua carreira aqui no Brasil. Quando houve a treta com Max e Glória Cavalera, a primeira entrevista foi ao Fúria Metal, assim como quando anunciaram Derrick no vocal.

Max, Igor, Andreas e Xisto caíram na estrada depois de ‘Beneath...’ e quando chegaram em 93 na hora de gravar o ‘Chaos A.D.’, acabaram por fazer um dos maiores discos de metal dos anos 90. Impecável do começo ao fim.

O que ‘Master of Puppets’ (Metallica) e ‘Reign Blood’ (Slayer) significam para os anos 80, ‘Chaos A.D.’ significa para os anos 90. Até o inglês do Max está melhor!

Bem antes de MTV, Fúria e carreira internacional era normal cruzar com Igor, Max e Andreas na noite em SP (lembro mais deles do que de Xisto!). Aeroanta, Dama Xoc, Retrô e outros lugares e shows. Até mesmo no apê em que Max e Igor moravam na Santa Cecília, que servia de esquenta. Era normal encontrar com Igor nas arquibancadas e numeradas do Parque Antártica nos jogos do Palmeiras, assim como o Kichi que sempre estava lá (ex-vocal do Kangurus in Tilt, ex-roadie do Sepultura e hoje um dos sócios do Cão Véio).

Os 4 acreditaram e não se acomodaram. Sepultura poderia ter sido como outros grupos brasileiros da mesma época, que cantavam em inglês, mas nunca tiveram a coragem de tentar algo fora. É claro que seria impossível fazer sucesso no Brasil tocando rock cantado em inglês. Jamais! Pior ainda se o grupo fosse de Metal! Sepultura tinha plena consciência disso e não pensava em outra coisa a não ser ir pra fora.

Max juntou grana e fez uma viagem na doideira e o resultado da cara-de-pau foi um contrato assinado com a Roadrunner.

Daí também no início de setembro, mas de 1989, o Sepultura embarcou para sua 1ª turnê internacional. Foram 25 shows pela Europa, e 30 nos EUA abrindo para Sodom e Faith of Fear.

Boas histórias dessa turnê não faltam e lembro de Max, Kichi... contando-as no bar do Milton, ao lado do Aeroanta. Geravam boas gargalhadas.

Se você parar pra notar, verá que as duas primeiras turnês internacionais de bandas de rock brasileiras aconteceram com bandas independentes, pesadas e marginalizadas, porque antes de Sepultura, só o Cólera em 1987 fez uma penca de shows pela Europa.

Na época dessa 1ª turnê do Sepultura, o Ratos de Porão também começava a investir no som crossover e, em 1989, gravou ‘Brasil’ em Berlim lançando-o em português e inglês, mas essa é outra história.

Fato é que Sepultura agarrou com unhas e dentes a oportunidade que teve com essa turnê e o resto é história, né?

Triste foi a separação em um momento tão bom do grupo. Participar de tudo aquilo de perto me deixou ainda mais entristecido. Mas esse sentimento não era só meu, você via e conversava com outras pessoas que conviviam perto da banda – equipe técnica, gravadora, assessoria, etc – e todo mundo cabisbaixo sem querer acreditar.

Pior! Vi com meus próprios olhos a fatídica briga entre João Gordo e Max que aconteceu no estúdio B da MTV, pouco antes de eu entrevistar Max por conta do 1º lançamento do Soufly (Gastão infelizmente já não estava mais na MTV).

Como o grupo estaria hoje se a separação não tivesse acontecido não sei, mas sei que as obras ‘Beneath the Remains’, ‘Arise’ e ‘Chaos A.D.’ permanecerão pra sempre!