14 de novembro de 2012

Série Coisa Fina: 16 - At the Drive-In

Lembro de um dia em que cheguei em casa, provavelmente 1996, liguei a televisão, e estava passando um documentário do At the Drive In. Peguei no final, literalmente os últimos 5 minutos, tempo suficiente para aparecer à banda tocando em um bar de beira de estrada para poucos gatos pingados, mas no palco todos estavam tomados, mandando ver. Achei incrível o som, o visual dos cabelões black power, e o guitarrista canhoto. A banda naquelas micro turnês roubadas, viajando de van, tocando em lugares pequenos e vazios.

Demorei um tempo para descobrir o nome da banda e não tinha nada dela nos arquivos da MTV. Cheguei a encomendar um CD em uma loja que era cliente, mas ele não veio e com o tempo esqueci. Fui lembrar do At the Drive In em 2003. Eu usava um desses programas de troca de arquivo pós-Nasper e consegui tudo: os singles, EPs, slipts, discos, gravações especiais. Em um site especializado em rock alternativo consegui ver, male male, um clipe. Ainda não havia You Tube.

Foi por causa do Mars Volta que lembrei de ATDI. Aí fiquei por meses escutando tudo e indo atrás de informações. Escutei De-Loused in the Comatorium e adorei. Quando fui ver foto da banda me deparei com os dois loucos que tinha visto em 1996 no documentário da TV.

Os três discos + o EP Vaya são absurdamente bons. O segundo disco In Cassino Out, produzido por Alex Newport, foi gravado ao vivo no estúdio e é impressionante ouvir a porrada. Punk rock de primeira qualidade, com o diferencial na influencia do progressivo. Ramones + Bad Brains + Dead Kennedys + Pink Floyd com Sid Barret + King Crimson + Fugazi.

At the Drive-In está no meu hall da super química entre duas guitarras. O canhoto Omar Rodríguez e Jim Ward. O folego de Cedric Bixler é coisa do outro mundo. Ele canta com convicção como era Jello Biafra no Dead Kennedys. Também sou fã de Tony Hajja, o baterista. Desce a porrada, é seguro e consegue se divertir (odeio aqueles músicos que tocam preocupados unicamente com o que estão fazendo no instrumento). Adoro sua execução no In/Cassino/Out. Todo mundo é fera e a química é absurda. De cair o queixo.

A banda é americana de El Paso, no Texas, fronteira com o México e lugar bastante improvável para se fazer um punk rock bastante agressivo. Começou em 1993 e sempre se manteve no circuito underground, tocando frequentemente, mas sempre em lugares pequenos, com público também pequeno.

Em plena era grunge, o At the Drive-In corria por fora, com um som sujo, que sei lá o motivo jornalistas especializados insistem em dizer hardcore até o absurdo de chamar de emo! Nem hardcore, nem emo. Pelamordedeus!!! Punk rock. Só punk rock. Cru e nu, com influencias no psicodélico e progressivo. A banda chegou a tocar com Sonic Youth, Fugazi e outras bandas da cena alternativa, e até mesmo para essa cena o At the Drive-In era underground. O alternativo do alternativo.

Foram 3 discos e 4 EPs lançados entre 1993 e 2001. Somando tudo, incluindo participações em Slipts, coletâneas e outras gravações especiais, não chega a 65 as gravações oficiais. Material de bom tamanho  para deixar significativo legado.

Escutando tudo em ordem cronológica é nítida a evolução. Os dois primeiros foram gravados praticamente ao vivo. Acrobatic Tenement, de 1996, custou 600 dólares e In/Cassino/Out não deve ter sido muito mais que isso. Mesmo assim ouve-se evolução nas composições, na execução e produção. Os EPs anteriores ao Acrobat são sofríveis, vale mais pela porrada, pela energia.

Há um divisor de águas na carreira da banda. Nos dois primeiros discos está retratado de forma fiel o At the Drive em sua essência pura, que é o ao vivo. Banda de palco. Aí em 1999 veio o EP Vaya, com 7 músicas que mostraram um outro At the Drive-In, mais elaborado, com elementos além do guitarra-baixo-bateria-vocal. Efeitos sonoros, teclados, barulhinhos e noises foram incorporado de vez. Vaya é um clássico. É de chorar de bom.

Ao mesmo tempo que essa evolução aconteceu, a banda ia se tornando cada vez mais falada. Tanto que o 3º disco foi lançado pelo selo do Beastie Boys, o Grand Royal. Escutando esses dois últimos lançamentos já dá pra perceber um quê de Mars Volta nas experimentações. São 3 lançamentos oficiais. 3 discos. 3 pérolas. Omar Rodriguez-Lopez é mais um gênio canhoto que tira notas do além. Sonoridade única.

At the Drive-In bem que poderia ter sido influencia para o que veio a partir dos anos 2000, mas passou batida pelo mainstream (mesmo tendo a partir de 2000 Iggy Pop como padrinho) que se ocupou com o grunge e britpop (nada contra, apenas relatando). Acho até bom que ATDI seja uma banda para poucos.

Mas nesse momento em que a banda começava a decolar entre os descolados influentes, a chamar a atenção da mídia especializada, ela acabou. Houve desentendimento com Jim Ward, além de todo mundo já estar estafado e mergulhado em drogas. Os 7 anos até Relacionship of Command foram intensos e cansativos. Quando iniciaram a banda Cedric, Omar e Jim tinham respectivamente 19, 18 e 17 anos. Foi muita ralação. Houve desgaste e a banda acabou quando o melhor estava por vir. Dividiu-se entre The Mars Volta e Sparta. Porém o engraçado é que praticamente todos os principais membros do ATDI chegaram a tocar no Mars Volta, até mesmo Jim Ward.

Agora que o MV anunciou uma pausa nas atividades, o At the Drive-In está de volta, mas só para fazer shows. Já tocou em alguns dos principais festivais europeus e americanos, e deixou claro que não irá gravar nada inédito. Nem precisa.

















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