29 de março de 2012

Série Coisa Fina: 11 - The Presidents of the United States of America

Aí então veio a virada dos 1980 para os 1990 e uma cena híbrida apareceu. Falo de Stone Roses, Inspiral Carpets, Charlatans UK, Happy Mondays, Primal Scream e outros. Uma cena que misturava elementos eletrônicos, loops e muita psicodelia. Uma coisa meio hippie moderno e um clima de “vamos tocar pra nos divertir”. Era uma espécie de rock alternativo, mas que não era sisudo.

O pessoal mais cool, que gostava de um rock mais sério, mais cabeça, mais alternativo, ia para outro lado: REM, Pixies, Husker Du, Sonic Youth, Flaming Lips, Jesus and Mary Chain, Screaming Trees, Jane’s Addiction. Essas bandas tinham uma postura mais séria, a mesma postura que anos depois tiveram Pearl Jam, Alice in Chains, PJ Harvey, Morphine, Alice in Chains, Soundgarden, Pavement, Weezer.

Essa postura mais cool, mais lado b, underground, música para intelectuais, sempre existiu, há coisas boas e coisas ruins como tudo. Nada contra. O que na verdade irrita é a postura do jornalista e fã desse rock mais cabeça. A pessoa acha que deve ser cabeça também. Não se pode levar o rock tão a sério.

O miolo dos anos 1990 foi baseado nesse rock cabeça, ainda das rádios universitárias americanas e, por causa disso, uma das melhores e mais criativas bandas da década passou batida por muitos: The Presidents of the USA, o patinho feio do tal grunge.

Tem aquele cara que se produz inteiro para parecer que não se produziu, chega na festa, encosta na parede, faz pose, não se mistura com qualquer um, tem um cigarro na orelha e outro os lábios, só pensando em qual garota ele vai levar pra cama no final da noite; e tem aquele cara que chega na festa com o cabelo despenteado sem saber, com um jeans, camiseta e tênis porque é assim que se sente bem, se dá bem com todo mundo e que está ali, acima de tudo, para beber e se divertir com os amigos. O PUSA é o segundo exemplo.

Sei lá o motivo, mas um dia na MTV tive que gravar algum programa que não era de minha responsabilidade e nele havia Presidents. Achei legal o clipe, que era da música “Lump”. Saí do estúdio e fui direto perguntar da banda para o redator do programa. Com certo desdém falou que era legal, mas não tinha nada demais. Não fui atrás, mas passei a observá-la.

Tempos depois chegou na MTV um show do Presidents no Monte Rushmore, aquele onde estão esculpidos os rostos de 4 presidentes americanos. Como era eu que tomava conta dos shows e acústicos gringos, tive que assistir ao show. Chapei de ouvir o peso do som apesar de, somando guitarra e baixo, serem apenas cinco cordas, além de uma bateria quase pelada, sem tom tom. Virei fã e resolvi ali saber melhor sobre a banda. Além disso tudo, a presença de palco era muito boa. Os três de fato se divertiam nos shows.

Chris Ballew com Mark Sandman (esq)
Antes da banda, Chris Ballew, o vocal e baixo, já havia tocado com Mark Sandman, do Morphine, e também com Beck. O baterista Jason Finn tocava no Love Battery e Dave Dederer apareceu mesmo com o Presidents (apesar de ter tocado em uma banda junto com Duff McKagan). É uma doidêra ver como Chris e Dave usam seus instrumentos. Chris toca um baixo de duas cordas (distorcido pelo amplificador), sendo que uma delas é corda de guitarra, coisa assim. Dave usa só três cordas em sua guitarra e ambos afinam de forma diferente. É um baixo meio guitarra e uma guitarra meio baixo. Isso é legal!

PUSA tem sonoridade simples, direta. Bons riffs, ótimos refrões e linhas de baixo, bateria bem seca com ótimas viradas de caixa (o que adoro). É punk rock do bom, daqueles com mais melodia como Buzzcocks, 999, Wire, Stiff Little Fingers, Generation X, The Beat, XTC. É rock pra dançar. Nessa sonoridade também tem o lance do forte sotaque americano (típico das músicas country) e mais alguns elementos dessa raiz musical americana.

Nos Estados Unidos a banda fez sucesso, ganhou Grammy e vendeu mais de 3 milhões do primeiro disco, que tem uma ótima versão de “Kick Out the Jams” do MC5.

Apesar dela não ter feito sucesso por aqui, vale a pena ouvi-la para saber como ainda é possível fazer coisas simples e de personalidade. The Presidents of the United States of America soube criar uma sonoridade própria e é, pra mim, dentro dessa cena descrita aqui e ao lado de Morphine, um diferencial na década de 1990.










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