23 de novembro de 2012

Mais do Mesmo 7 (Enfim, o Rock Envelheceu)


Mais do Mesmo virou uma série acidental no Sete Doses de Cachaça por se tratar de pura conversa de boteco, daquelas que nunca tem fim, e mesmo sendo sobre a mesma coisa, sempre há um novo ponto de vista, novos exemplos, e a cada gole a conversa come solta.

Impossível dizer com exatidão a idade do rock, mas vou pegar o meio da década de 1940, exatamente 1945, para ter uma base. Mas conto a partir daí, por já existir um rhythm’n’blues com certa cara de rock e ao menos uns dez nomes de destaque como T-Bone Walker, Muddy Waters e Hank Willians. Então podemos falar que o rock chegará aos seus 70 anos em 2015.

Hoje, os artistas das décadas de 1960 e 1970 já não tem o mesmo pique. Nos anos 1990 assistir a um show ou uma reunião de artistas dessas décadas ainda era legal, tinha gás. Hoje já não há gás. Pô, normal!

Vários ídolos antigos nasceram na década de 1940 e muitos já chegaram ou estão chegando aos 70 anos: Paul McCartney, Lou Reed, Andy Summers, Keith Richards, Pete Townshend, Robert Plant, David Bowie e Iggy Pop.

Aí a pessoa vai ao show do Police, do Kiss e do Stones e acha que vai ver a banda como se estivesse em seu auge, como era nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Mesmo ídolos dos anos 1980 estão chegando aos 60 anos de idade. Em 2013 Jello Biafra vai fazer 55, Angus Young e Eddie Van Halen 58 anos!

Agora, lidar com a idade avançada vai de cada um. Tem gente que aguenta, mesmo que, digamos, menos acelerado, fazer 2 horas de um bom show. Tem gente que não, tenta, mas não vai. Ou aceita a idade, muda, se adapta e segue em frente ou pode passar vergonha.

Chega uma hora em que os anos de estrada e o acúmulo de tudo o que foi ingerido e abusado com o corpo e a mente, começa a gritar. Uns, sabe se lá como, ainda aguentam o tranco, outros não. Tentar entender como Lemmy Kilmister, Iggy Pop ou Keith Richards ainda estão de pé, é impossível. Mas fato é que chega uma hora em que o cansaço bate mesmo, não há como ser diferente. Aí, como acabei de falar, cada um vai se adaptando como pode.

O lado bom é que o gás para fazer shows pode acabar, mas para compor, criar e gravar não. É certo que muitos artistas não precisam lançar mais nada. Mas artista é artista e nunca para de criar, então se há chance de lançar, por que não? Ruim ou bom tanto faz. Se mudou o estilo ou não, também tanto faz. A cada fase de nossa vida nos agarramos a coisas novas ao mesmo tempo em que largamos outras. Tudo muda e nada mais natural do que essa mudança ser retratada a cada novo trabalho. 

Nenhum desses grandes ídolos tem mais a obrigação de lançar um grande clássico, de surpreender. Isso já foi feito, e de forma brilhante. Rolling Stones não tem mais a menor obrigação de lançar nada novo, muito menos bom. Isso também serve para Metallica, Red Hot Chili Peppers, e até mesmo Strokes que prestou um grande serviço ao rock quando lançou Is This it em 2001.

Com a idade ninguém ganha à briga. Mas o que me preocupa é que está chegando a hora dos ídolos dos anos 1980 e 1990 serem os velhinhos da vez. Como as gerações seguintes não fizeram nada de significativo, o rock está fadado a morrer de fato. Só irá existir os clássicos, a história e os documentos (vídeos, reportagens, shows, entrevistas). Não haverá mais os velhos ídolos e nem mesmo os velhos fãs. Imagine o jovem em 2070 escutando Beatles, Led Zeppelin e até mesmo Foo Fighters, sem ter ninguém vivo para relatar a ele como era na época, os shows, as entrevistas.... se estiver vivo Dave Grohl terá 101 anos.

Se hoje o rock já está saturado, imagine então daqui uns 30 anos, quando Noel Gallagher estiver com 75 e Damon Albarn com 74 anos. Sem novas ideias e sem novos ídolos para ficarem velhos, o rock morrerá. Shiva: Transformação. Destruir para construir. Quem sabe o rock não precise morrer de fato para que ganhe vida nova. Quem sabe ele não ressurja sem querer, através de um moleque na garagem, em 2102, tentando fazer algum barulho com a velha guitarra do trisavô.


14 de novembro de 2012

Série Coisa Fina: 16 - At the Drive-In

Lembro de um dia em que cheguei em casa, provavelmente 1996, liguei a televisão, e estava passando um documentário do At the Drive In. Peguei no final, literalmente os últimos 5 minutos, tempo suficiente para aparecer à banda tocando em um bar de beira de estrada para poucos gatos pingados, mas no palco todos estavam tomados, mandando ver. Achei incrível o som, o visual dos cabelões black power, e o guitarrista canhoto. A banda naquelas micro turnês roubadas, viajando de van, tocando em lugares pequenos e vazios.

Demorei um tempo para descobrir o nome da banda e não tinha nada dela nos arquivos da MTV. Cheguei a encomendar um CD em uma loja que era cliente, mas ele não veio e com o tempo esqueci. Fui lembrar do At the Drive In em 2003. Eu usava um desses programas de troca de arquivo pós-Nasper e consegui tudo: os singles, EPs, slipts, discos, gravações especiais. Em um site especializado em rock alternativo consegui ver, male male, um clipe. Ainda não havia You Tube.

Foi por causa do Mars Volta que lembrei de ATDI. Aí fiquei por meses escutando tudo e indo atrás de informações. Escutei De-Loused in the Comatorium e adorei. Quando fui ver foto da banda me deparei com os dois loucos que tinha visto em 1996 no documentário da TV.

Os três discos + o EP Vaya são absurdamente bons. O segundo disco In Cassino Out, produzido por Alex Newport, foi gravado ao vivo no estúdio e é impressionante ouvir a porrada. Punk rock de primeira qualidade, com o diferencial na influencia do progressivo. Ramones + Bad Brains + Dead Kennedys + Pink Floyd com Sid Barret + King Crimson + Fugazi.

At the Drive-In está no meu hall da super química entre duas guitarras. O canhoto Omar Rodríguez e Jim Ward. O folego de Cedric Bixler é coisa do outro mundo. Ele canta com convicção como era Jello Biafra no Dead Kennedys. Também sou fã de Tony Hajja, o baterista. Desce a porrada, é seguro e consegue se divertir (odeio aqueles músicos que tocam preocupados unicamente com o que estão fazendo no instrumento). Adoro sua execução no In/Cassino/Out. Todo mundo é fera e a química é absurda. De cair o queixo.

A banda é americana de El Paso, no Texas, fronteira com o México e lugar bastante improvável para se fazer um punk rock bastante agressivo. Começou em 1993 e sempre se manteve no circuito underground, tocando frequentemente, mas sempre em lugares pequenos, com público também pequeno.

Em plena era grunge, o At the Drive-In corria por fora, com um som sujo, que sei lá o motivo jornalistas especializados insistem em dizer hardcore até o absurdo de chamar de emo! Nem hardcore, nem emo. Pelamordedeus!!! Punk rock. Só punk rock. Cru e nu, com influencias no psicodélico e progressivo. A banda chegou a tocar com Sonic Youth, Fugazi e outras bandas da cena alternativa, e até mesmo para essa cena o At the Drive-In era underground. O alternativo do alternativo.

Foram 3 discos e 4 EPs lançados entre 1993 e 2001. Somando tudo, incluindo participações em Slipts, coletâneas e outras gravações especiais, não chega a 65 as gravações oficiais. Material de bom tamanho  para deixar significativo legado.

Escutando tudo em ordem cronológica é nítida a evolução. Os dois primeiros foram gravados praticamente ao vivo. Acrobatic Tenement, de 1996, custou 600 dólares e In/Cassino/Out não deve ter sido muito mais que isso. Mesmo assim ouve-se evolução nas composições, na execução e produção. Os EPs anteriores ao Acrobat são sofríveis, vale mais pela porrada, pela energia.

Há um divisor de águas na carreira da banda. Nos dois primeiros discos está retratado de forma fiel o At the Drive em sua essência pura, que é o ao vivo. Banda de palco. Aí em 1999 veio o EP Vaya, com 7 músicas que mostraram um outro At the Drive-In, mais elaborado, com elementos além do guitarra-baixo-bateria-vocal. Efeitos sonoros, teclados, barulhinhos e noises foram incorporado de vez. Vaya é um clássico. É de chorar de bom.

Ao mesmo tempo que essa evolução aconteceu, a banda ia se tornando cada vez mais falada. Tanto que o 3º disco foi lançado pelo selo do Beastie Boys, o Grand Royal. Escutando esses dois últimos lançamentos já dá pra perceber um quê de Mars Volta nas experimentações. São 3 lançamentos oficiais. 3 discos. 3 pérolas. Omar Rodriguez-Lopez é mais um gênio canhoto que tira notas do além. Sonoridade única.

At the Drive-In bem que poderia ter sido influencia para o que veio a partir dos anos 2000, mas passou batida pelo mainstream (mesmo tendo a partir de 2000 Iggy Pop como padrinho) que se ocupou com o grunge e britpop (nada contra, apenas relatando). Acho até bom que ATDI seja uma banda para poucos.

Mas nesse momento em que a banda começava a decolar entre os descolados influentes, a chamar a atenção da mídia especializada, ela acabou. Houve desentendimento com Jim Ward, além de todo mundo já estar estafado e mergulhado em drogas. Os 7 anos até Relacionship of Command foram intensos e cansativos. Quando iniciaram a banda Cedric, Omar e Jim tinham respectivamente 19, 18 e 17 anos. Foi muita ralação. Houve desgaste e a banda acabou quando o melhor estava por vir. Dividiu-se entre The Mars Volta e Sparta. Porém o engraçado é que praticamente todos os principais membros do ATDI chegaram a tocar no Mars Volta, até mesmo Jim Ward.

Agora que o MV anunciou uma pausa nas atividades, o At the Drive-In está de volta, mas só para fazer shows. Já tocou em alguns dos principais festivais europeus e americanos, e deixou claro que não irá gravar nada inédito. Nem precisa.

















6 de novembro de 2012

Baboseiras Sobre Shows Internacionais

A venda de ingressos para os shows de Lady Gaga em países da América do Sul tem sido um fiasco. O motivo? Diversos, mas o que acredito mais é no fato dela não ter vindo quando estava no auge de sua popularidade.

Também tem o fato de Lady Gaga ser produto de marketing, já que sua música não traz nada de novo para o cenário passado, presente e futuro. Usar roupa de bife, pra mim, não significa nada. Ela é novidade efêmera, portanto, deve trabalhar em dobro enquanto ainda está na mídia, para arrancar o máximo de dinheiro possível dos fãs consumidores (os tais Little Monsters, certo?).

Muitos artistas gringos só olham para a América do Sul apenas quando estão em franca decadência, ou sumidos ou reativados. Por que o Stone Temple Pilots só veio ao país agora? Verdade é que muitas delas vem pra cá, acabam gostando e colocando o Brasil e Argentina na rota de shows.

Citei STP, mas são diversos artistas que se aproveitam da baixa na Europa e EUA e começam a olhar outros mercados. Para grande parte desses artistas vir pra cá significa diversão: sexo, drogas & rock’n’roll. Está fora da rota da turnê, por isso muitas vezes a América do Sul fica por último.

Não que isso tudo seja ruim. Pelo contrário, muitas vezes joga a favor. Muitas bandas fizeram grandes shows aqui. Memoráveis para o público e para o artista, exatamente por conta dessa descontração. Eu estava lá no Ibirapuera no memorável show do Metallica, o último da turnê do ...And Justice For All. Na verdade a banda já estava de férias e veio sem cenário e até sem bateria!

Há os artistas corajosos que apostaram no país ainda nos anos 1970 e 1980. Alice Cooper em 1974, Van Halen em 1982, além de Ramones, The Cure, Echo and the Bunnymen, PIL, Big Audio Dynamite e Sting, tudo em 1987.

Mas tem casos, claro, que irritam. Tem artistas que no auge esnobam o Brasil e depois, no aperto, acham ótimo vira pra cá com declarações incríveis como “maravilhoso estar aqui. Os fãs brasileiros são loucos! Faz muito tempo que queria vir pra cá, mas só agora deu certo. Blá blá blá...”

Não engulo também os preços dos ingressos. É um roubo. Última vez que estive em um grande festival foi no Hollywood Rock que rolou Red Hot Chili Peppers (1992?). Morumbi lotado e, no fim, os seguranças foram tirando todos a força. Resultado foi que no túnel de saída com todos esmagados, saí do chão e perdi o controle de mim mesmo por alguns segundos (que pareceram uma eternidade). Foi horrível e prometi nunca mais ir a nenhum show de grande porte. Com ingressos na mão não fui ver Stones no Pacaembú. Depois rolou apenas um Iron Maiden no Palestra Itália e os shows e festivais que fui profissionalmente.

Você paga caro, é difícil comprar, é tratado como gado, estacionamento caro, consumo de tudo é caro, a saída é tumultuada. Ufa! Valorizo meu (suado) dinheiro.

Para apelar agora há promoções para os ingressos de Lady Gaga. Ou seja, é a prova de que os shows poderiam e deveriam ser mais baratos. Uma vez fui convidado para ser o curador de um grande festival de rock brasileiro e vi que a estratégia é estabelecer 100% de lucro já no valor da meia entrada.

O público de Lady Gaga é praticamente formado por adolescentes. Dos 11 para os 13, 12 para os 15 ou dos 13 para os 16 anos, tudo muda. Digo isso porque o primeiro disco de Lady Gaga foi lançado em 2008. 2012 é apenas o 5º ano de carreira dela, porém seu público mudou muito nesses anos. Tenho uma filha pré-adolescente e sei bem o quanto as coisas mudam de um ano para o outro.

Sempre foi assim, mas hoje, por conta da tecnologia, as novidades são cada vez mais instantâneas (que digam os sites de notícias).

Lady Gaga é mais do mesmo. Quanto vale o show?

Que venha a próxima novidade!