9 de março de 2017

Bandas Exclusivas

Fred Banana Combo
Estava há tempos querendo registrar algumas bandas que eu gosto, desde os anos 80, mas que são desconhecidas. E o termo que me veio à cabeça para definir o que queria falar foi Bandas Exclusivas.

Tem uma coisa legal no gosto pessoal de cada pessoa que é o fato de você ter artistas que parece que só você conhece. Nem é o fato das outras pessoas não gostarem, mas sim de não conhecerem mesmo.

Em Brasília, por ter gente de todos os lugares do Brasil e do mundo, chegava muita coisa que era nada ou pouco conhecida no país.

Fred Banana Combo, Stranglers, XTC, Gang of Four, Haircut 100, Dr. Feelgood, The Fun Boy Three, Ian Dury…

Alguns nomes você até pode conhecer por ouvir falar, e até saber de uma ou outra música, mas em Brasília elas ajudaram a moldar o som dos grupos da Turma da Colina.

Mas o que quero dizer mesmo é do fato de haver diversos artistas bons, mas que são pouco conhecidos aqui, por diversos motivos. Muitos desses nomes as gravadoras multinacionais com filial no Brasil nem lançavam aqui.

Adam and The Ants teve edição nacional de dois dos três discos seus, mas não pegou. Excelente banda! Faz um som que mistura pós punk, hard rock e experimentalismo. “Stand and Deliver” tocou aqui, o clipe passava no Som Pop, no programa Clássicos da MTV, mas não rolou. De Londres, Adam Ant é da turma que tinha Clash, Sex Pistols, Siouxsie, Generation X, Damned... Os discos são cheios de esquisitices. O 1º é incrível: “Cleopatra”, “Zerox”, “Tabletalk”. Procure por ‘Dirty Wears White Sox’ que vale a pena!

Dr. Feelgood
Dessa época, início dos 1980, ainda tem o grupo punk alemão Fred Banana Combo, que fez a melhor versão de “Yesterday” do Beatles de que ouvi na vida até hoje. Assim como ninguém fez uma versão melhor que a de Joe Cocker para “With a Little Help From My Friends”, ninguém fará o que Fred Banana Combo fez com “Yesterday”. Ele lançou 4 discos. No 1º disco ainda tem outra ótima versão de Beatles (“She Loves You”) e uma maravilhosa de “Johnny B. Good” (Chuck Berry).

Fred Banana Combo é punk rock do bom e ainda tinha a belíssima Nicolle Meyer, competente tanto cantando, quanto tocando baixo ou bateria. Fera! Pra quem gosta de ver garotas de personalidade tocando rock com competência, Nicolle é um prato cheio. Não é fácil achar os discos do grupo. Há material no You Tube e em plataformas de música (inclusive uma coletânea). É um desses grupos recorrentes nos meus tocadores, desde os tempos de Walkman.

Outros três nomes que são assíduos, desde os tempos de Brasília: Ian Dury, Dr. Feelgood e Stranglers. Além da influencia, de tabela, do pub rock. Sobre tudo isso já escrevi aqui. Stranglers, por exemplo, é uma aula de punk rock com teclado, e ainda tem o baixo de JJ Burnell, que é influência indispensável pra qualquer baixista que tenha influencia de punk rock, pós-punk, alternativo. 

Não dá pra dizer o momento exato, mas acredito que até 1985 ainda havia uma cena rock (de forma geral) que dava pra seguir e conhecer, ao menos de nome, a maior parte dos artistas. Depois, a partir do início dos anos 1990, isso ficou mais difícil. Foi surgindo artista atrás de artista e virou uma coisa doida.

Adam and The Ants
Ah! E outro grupo fundamental pra escutar, principalmente quando se fala em duas guitarras, é o XTC. Absolutamente desconhecido aqui, mas com uma longa e respeitosa carreira, com diversos discos clássicos e fundamentais. Além das guitarras, o teclado é algo extraordinário. Se não me engano só o 'Drums and Wires' foi lançado aqui no Brasil (o grupo tem 10 discos).

Esses nomes todos dos 70 e 80, não só são fundamentais pra quem gosta de ouvir rock, mas importantíssimos pra quem toca e quer fazer um som de qualidade. Um som que tenha algum diferencial.

Aquele velho papo: nessas décadas não havia muitas fontes de informação e, dessas bandas que citei até agora, não conhecíamos muita coisa delas. As informações que sabíamos vinham de encartes dos discos ou de algum amigo que viajava pra fora e comprava, além de discos, alguma revista especializada (uma pro ano todo rsrs).

Entrei na MTV em 1993 e lá, obviamente, tive acesso a montes de artistas e informação. Lembro-me de assistir a uma mini apresentação ao vivo nos estúdios da MTV americana de um grupo chamado Possum Dixon. Fiquei boquiaberto e fui atrás de seus discos. Na verdade, quando o conheci, ele só tinha lançado o 1º, que é de 1993. Infelizmente não aconteceu. Lançou 3 discos, dois ótimos e um regular. Gravou clipes, participou de festivais e tals, mas não rolou. Possum Dixon acabou no final dos anos 90 e hoje o ex-vocalista e baixista Rob Zabrecky é um bem sucedido mágico ilusionista. Recomendo fácil os dois primeiros discos.

The Stranglers
Outro nome incrível dos anos 1990, mas que não é conhecido por aqui, é Squirrel Nut Zippers, grupo americano de swing jazz, retro jazz ou sei lá o quê. Lançou seis discos de estúdio (sendo três deles incríveis) e um ótimo ao vivo. Squirrel parou e voltou algumas vezes.

Ainda dos 1990, mas que só foi aparecer mesmo nos 2000, tem o Modest Mouse, que também tem texto no blog. O duo Mates of State é outra maravilha. Os primeiros discos são bem doidos e experimentais. Dá uma olhada na publicação que fiz.

Não entendo o motivo pelo qual esses artistas nunca vieram ao Brasil, mesmo nesses festivais em que há 374 shows por dia.

É engraçado que, mesmo hoje, quando existe mais de um bilhão de artistas por metro quadrado em todo o mundo, dá pra se achar bons sons que não chegam ao mainstream. Por algum motivo não se tornam queridinhas da grande mídia. Sorte pra quem gosta, como eu, de ter bandas exclusivas.

Adoraria poder assistir Modest Mouse (fez que vinha, mas não veio) com mais meia dúzia de pessoas e só. Isso aconteceu nos anos 1990, quando o Buzzcocks veio pra cá pela primeira vez, e fez dois shows vazios no Aeroanta. Foi lindo!

(e ainda ficou tanto nome de fora...)