29 de agosto de 2013

Em setembro...

O carioca Sérgio Murilo foi um dos principais nomes da 1ª geração do rock brasileiro, que muitos se referem como o período pré jovem guarda. Em 1960, depois de lançar compactos e participar de coletâneas, lançou seu 1º disco. Desse disco fizeram sucesso “Marcianita”, “Estúpido Cupido” e “Mudou Muito”. Ainda em 1960, e antes desse LP, Sérgio havia lançado outro grande sucesso, “Broto Legal”. Da jovem guarda dá pra destacar lançamento do 2º disco de uma banda não muito conhecida do grande público, o The Brazilian Bitles. Nesse disco, o Vol. 2, o grande destaque é o mega sucesso “Pára Pedro”.

Foi o mês em que Sepultura embarcou para sua primeira turnê internacional. Foram quase 60 shows entre Europa e EUA. Essa turnê foi bastante significativa não só para o próprio grupo, mas também para a nova cena rock que estava nascendo no Brasil. No final dos 1980 o país estava em um buraco sem fundo e não havia perspectiva de qualquer melhora para o rock brasileiro, ao contrário. Não à toa começaram a surgir dezenas de grupos que cantavam em inglês e muitos deles impulsionados pelo recente sucesso internacional do próprio Sepultura. Um dos problemas dessa geração é que, apesar de se acharem gringros, nenhum desses grupos teve a mesma coragem dos mineiros. Foi uma onda passageira (também impulsionada pelo grunge) que nem chegou na praia pra morrer.

Não tem como não destacar o aniversário do grande e inigualável Próspero Albanese, o mentor por trás do Joelho de Porco, que surgiu em outubro de 1966. No Joelho ele foi baterista, guitarrista e vocalista. Em 1968 ele acompanhou, tocando berimbau, Os Mutantes no Festival da Record, onde estava concorrendo com a música “2001”. Em 2009 se apresentou com o Joelho de Porco na Virada Cultural de SP para fazer a despedida oficial do grupo, que já havia parado há anos. Em 2013 ele lançou o 1º trabalho solo.

Foi no dia 17 de setembro que aconteceu a tragédia da morte do cameraman da Record envolvendo integrantes do Casa das Máquinas. Há uma reportagem da época que transcrevi aqui no Sete Doses de Cachaça. Como sempre acontece no Brasil, ninguém foi punido. Quer saber o que aconteceu com a família da vítima? Há relato de um dos filhos da vítima nos comentários da publicação.

No mesmo dia e ano dessa tragédia, aconteceu o primeiro show do Patrulha do Espaço com Arnaldo Baptista. Dessa parceria nasceu o maravilhoso disco de estúdio Elo Perdido, recheado de clássicos e letras maravilhosamente incríveis.

Coincidência ou não foi em setembro que Blitz lançou seus dois primeiros discos (com a diferença de um ano), os mais importantes de sua discografia, e também de suma importância na história do rock brasileiro. Há aqui no blog postagem a respeito do primeiro disco e de seu impacto na cultura jovem brasileira. A linguagem, as gírias, a postura, a forma de composição, o visual. Tudo era novidade. Foi uma verdadeira revolução, uma verdadeira mudança de comportamento. “Você Não Soube Me Amar”, “O Romance da Universitária Otária”, “Vai, Vai Love”, “Mais Uma de Amor (Geme Geme)”, “Weekend”, “Bete Frígida”, “A Dois Passos do Paraíso” e “Ridícula”. Esses são alguns dos clássicos desses dois discos.

Ao mesmo tempo em que Blitz lançava seu 1º disco, Legião Urbana estreava ao vivo. O show aconteceu em Patos de Minas (MG) e foi pessimamente retratado no filme lançado sobre Renato Russo (muito ruim por sinal). Foi também o primeiro show da Plebe Rude fora de Brasília. Aliás, foi a Plebe quem convidou a Legião para o show. Apesar dessa estreia, Renato Russo já era um “veterano” nos palcos improvisados de Brasília, tanto à frente do Aborto Elétrico, quanto como O Trovador Solitário.

O Barão Vermelho foi outro que em setembro lançou dois importantes discos de sua discografia: o primeiro e Maior Abandonado. Só clássicos: “Posando de Star”, “Down em Mim”, “Billy Negão”, “Rock'n'Geral”, “Ponto Fraco”, “Baby Suporte”, “”Por Que a Gente é Assim” e “Bete Balanço”.

Barão e Blitz apareceram para a grande mídia praticamente no mesmo momento, dois grupos cariocas completamente diferentes e que iniciaram a carreira juntos.

Também em setembro, mas com a separação de quase 5 anos, dois grupos paulistanos ultra significativos passaram por momentos delicados. Primeiro foi o Titãs com a saída conturbada de Nando Reis. Minha opinião é que, com a morte de Marcelo, Titãs deveria ter parado. Já fez o que tinha que fazer. O outro é o Ira! que passou maus bocados com a saída de Nasi. Coisa feia rolou e ninguém tem nada a ver com isso. 

Até hoje escuto Mudança de Comportamento frequentemente. Depois da baixaria, Nasi e Edgard voltaram a se falar, e reativaram o Ira! com outra formação. Assim como o Titãs, o Ira! já fez, com louvor, a sua parte.

Para finalizar quero destacar mais dois fatos. Assim como Legião, no mesmo ano, setembro foi o mês em que o Agentss estreou. Foi o primeiro grande grupo de tecnopop brasileiro e deixou apenas dois compactos gravados. O primeiro de 1982, que é mais que um clássico, mas uma referência, com “Agentss” e “Angra”; e o 2º já por uma grande gravadora, mas que não teve o impacto do 1º.

A nota triste do mês fica por conta da morte do incrível Gigante Brazil, um dos grandes bateristas brasileiros. Tocou com Gang 90, Marisa Monte, Jorge Mautner, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Itamar Assumpção (Banda Isca de Polícia). Gigante era uma grande figura. Foi uma enorme perda para a música.

Alguns lançamentos:
Estraño (Nenhum de Nós), Os Fabulosos The Youngsters (The Youngsters, banda acompanhou Roberto Carlos no disco clássico É Proibido Fumar, quando ainda se chamava The Angels), Cuidado! (Lobão), Lado B Lado A (O Rappa), Chaos AD (Sepultura), Independência (Capital Inicial), Feijoada Acidente? (RDP), Kingzobullshit (De Falla), Os Grãos (Paralamas), Astronauta Tupy (Pedro Luis e a Parede, clássico que escrevi a respeito aqui no blog).

Alguns aniversários:

Arnaldo Antunes, Avellar Love (João Penca), o canhoto Mingau (ex-RDP, Inocentes, Vértigo, Dinho Ouro Preto, Edgard Scandurra, atualmente Ultraje a Rigor), Igor Cavalera (ex-Sepultura), Roger Moreira (Ultraje), Wander Wildner e Rodolfo (ex-Raimundos) no mesmo dia, Vanusa, Paulo Ricardo (RPM), Xandão (O Rappa) e Renato de Barros (Renato e Seus Blue Caps).

16 de agosto de 2013

Experiências nos 80

Tem uma turma que revolucionou a música pop dos anos 1980 mesmo sendo de 1970. Uma turma que vou tentar sintetizar em dois nomes: King Crimson e Phil Collins.

São artistas que sabem muito bem usar o estúdio. Que gostam de criar equipamentos, buscar novos timbres, novas formas de executar e captar o instrumento. Experimentar, mesmo que essa palavra soe estranha para a década de 1980.

Houve um pequeno grupo de artistas dos 1970 que soube se reciclar, chegar à década seguinte. Depois de uma fase de rock progressivo e musicas intermináveis, Robert Fripp reformulou o King Crimson e lançou uma trilogia de cair o queixo. Discipline (1981), Beat (1982) e Three of a Perfect Pair (1984). Ainda de 1982 foi lançado um showzaço Live in Japan que na época saiu em Home Video. Uma monstruosidade! Depois, em 1998, foi lançado o Absent Lovers: Live in Montreal 1984. Maravilhoso.

Você ouve essa trilogia e percebe timbres diferentes de bateria, baixo, além das guitarras. Bill Bruford, baterista técnico e de bom gosto, nesses discos experimentou ao extremo as novas baterias eletrônicas daquela época, inclusive ao vivo. Pele, baquetas, timbres, mexia em tudo.

Nunca antes na história do rock (rsrs) um baixo Stick (Chapman Stick) caiu tão bem como no King Crimson. Tony Levin foi quem popularizou esse baixo de 10 ou 12 cordas. Para quebradeira que é o som do KC, cai perfeitamente bem. Levin já tocou com Lou Reed, Pink Floyd, Tom Waits e mais trocentos nomes.

Aí vêm as guitarras de Robert Fripp e Adrian Belew, com afinações, timbres, pedais, tudo diferente. Fripp tem aquela cara de nerd chato, mas é impressionante vê-lo tocar. Tem o Frippertronic que é um pedal de efeito aperfeiçoado por ele (ganhou seu nome) e que faz grande diferença. Adrian Belew é um doidão (no bom sentido!) que também tocava com Talking Heads e David Bowie. Nos anos 70 tocou com Frank Zappa. Esse era outro que gostava de viajar em timbres e jeitos diferentes de tirar som. Se não me engano, foi o próprio Fripp quem disse que fazer barulho com a guitarra é fácil, difícil é saber tirar o silêncio dela. No meio de toda quebradeira do King Crimson há silêncio.

Phil Collins foi outro que começou a mexer nos novos equipamentos que estavam saindo naquela época. Qualquer hack de efeito era fuçado ao máximo. Ele já tinha um jeito diferente de tocar bateria (canhoto!!!) e juntou com toda essa experimentação, acabou resultando em coisas incríveis . No Genesis, entre Duke (1980) e We Can’t Dance (1991) há ótimas músicas. Apesar de haver teclados, eles, na maioria, não soam datados. É como o King Crimson, sempre fuçando em equipamentos, microfones, amplificadores, formas novas de captação, mesa de som, mixagem. Tem “Keep in the Dark”, “Mama”, “That’s All”, “I Can’t Dance” além de outras músicas da carreira solo de Phil Collins - que destaco os três discos lançados em 1981, 82 e 85.

Além desses discos de King Crimson, Phil Collins e Genesis, também dá pra citar Peter Gabriel com Peter Gabriel 3 (1980) e Security (19820; The Police com Ghost in the Machine (1981) e David Bowie com Let’s Dance (1983). Ainda dá pra colocar nessa lista Warm Leatherette (1980) e Nightclubbing (1981) de Grace Jones. Citei o Police porque Andy Summers (grande amigo de Fripp) também era outro que vivia buscando novas sonoridades.

Todo esse pessoal recebia em primeira mão novos equipamentos, para testar, usar e abusar, para depois dar um feedback às empresas. Assim novos equipamentos eram desenvolvidos e aperfeiçoados. Para a música pop toda essa experimentação foi muito significativa.