25 de outubro de 2019

A Esquerda é Elitista, Seletiva e Preconceituosa

O que me fez escrever mais este texto sobre a esquerda é o tratamento lamentável que tenho recebido de alguns “amigos” desde a radicalização da polarização ideológica que tomou conta do país. A eles junta-se conhecidos que costumo encontrar em shows de artistas, principalmente, independentes e alternativos. Artistas dessas cenas, e seu público são, de forma inexplicável, majoritariamente de esquerda e se esbaldam distribuindo preconceito e ranço com quem não compactua com seus pensamentos da ditadura socialista. Mas esse tipo de atitude preconceituosa é só um pedacinho da ponta do iceberg do que é pertencer a esta ideologia maligna. E como já escrevi, artistas independentes e alternativos não existem e jamais existiriam em um regime comunista. Com microfone e em multidão gritam "morte aos fascistas" sem se dar conta de que o regime comunista tem pontos em comum com o fascismo. É só ver a adoração da esquerda brasileira por Lula, pra ficar em um exemplo recente - ele inclusive "ganhou" um filme biográfico, igual a outros ditadores. Não discuto com fatos. Enfim, as favas com essas bostas de ideologias! E se você que diz ser contra muros, quiser continuar construindo muros pra me evitar e evitar a todos que pensam diferente de você, então que fique em sua bolha. Eu quero diversidade.

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O movimento político de um país não é uma coisa que se aprenda da noite para o dia. Mesmo quem está diretamente inserido nele não consegue entendê-lo 100%.

Por conta do documentário dos 50 anos da TV Cultura conversei com diversos jornalistas, e foram unanimes em dizer que sem conhecer Brasília, não há como entender a política. Eu sendo de BsB concordo plenamente! E mesmo conhecendo como funcionam as coisas na Capital, volto a dizer, não se sabe 100%.

Então cuidado com o que se fala, e seja seletivo(a) no que escuta. Certa vez uma menina gaúcha de 22 anos quis discutir comigo e a primeira coisa que ela disse sentada em sua arrogância foi: “sei tudo de política!”. Coitada... depois veio me pedir desculpas rsrs. Ela é um bom exemplo do que acontece hoje, com essa nova geração educada de acordo com a teoria pós-crítica que, como toda a esquerda, é muita falácia e zero de prática. Uma baboseira que só se replica por se sustentar, atualmente, em opiniões vazias publicadas nas redes sociais.

Difícil mesmo é entender como ainda há, na minha geração e gerações anteriores, gente que levanta essa bandeira escrota da esquerda, mesmo que décadas atrás tenha assistido e torcido pelo fim do comunismo.

Quando cheguei a SP, das amizades que fiz a partir de 1987, nenhuma falava ou se interessava por política. Nenhuma! Daí a partir das manifestações de 2013 essas mesmas pessoas resolveram, de uma hora pra outra, virar PhD no assunto... igual a meninota de 22 que citei. Chega a dar vergonha.

São pessoas que compram o discurso mau caráter do PT sem se tocar de que histórias como aluno bater em professor começou no Governo Petista; que houve queda na qualidade da educação (com cortes astronômicos que ninguém reclamou na época), da saúde pública – a volta de doenças já erradicadas; falta de medicamentos (minha ex-sogra teve que entrar com advogado contra o Governo para poder receber um importante medicamento que constava na lista de liberados, mas que se negavam a dar... em pleno Governo Lula); segurança pública aos frangalhos – vivendo de vergonhosos acordos com facções criminosas, como os que houveram para a Copa e Olimpíadas, por exemplo.

Travesti sendo espancada até a morte; menina menor de idade presa em cela com 40 homens que a estupravam noite e dia; enriquecimento descomunal de bancos privados; um poderoso empresário como vice-presidente; a transformação do BNDES em banco particular do PT; o País na mão de 4 empreiteiras + 4 bancos + falta de concorrência nos combustíveis e em outros tantos serviços básicos...

Olha, no meu entender, pra defender isso tudo há três hipóteses: 1) A pessoa é absolutamente ignorante em política; 2) A pessoa é mau caráter mesmo; 3) A pessoa, de alguma forma, se beneficiava dessa roubalheira.

Corrupção é a forma mais cruel e silenciosa de se assassinar dezenas, centenas, milhares de pessoas. Falo de crianças, pessoas doentes, mães grávidas, idosos... Quantos não morreram pela corrupção do governo petista? Foram milhares de mortes, mas a perversa crueldade da corrupção está aí: não dá pra mensurar quantas vidas foram ceifadas pelos trilhões roubados.

Você pode me dizer, por exemplo, que muitos alunos do ensino público ingressaram na Universidade em uma parte desse governo petista. E eu te digo que se não fosse a roubalheira, no mínimo, 4x mais alunos teriam este benefício.

E como se pode defender algo assim? A meu ver, só tendo muita maldade no coração. O “rouba, mas faz” é uma coisa horrorosa! E aquele aperto de mãos entre Lula e Maluf diz muito sobre isso.

Chamar a quem não pensa como você de torturador, fascista, racista, reacionário, nazista, etc é absolutamente infantil e mostra a evidente intolerância por parte de quem fala que luta contra intolerância, né!?

Pensar ao contrário de você não me torna um vilão, um bandido, e não quer dizer que sou a favor da desigualdade social. De novo: é deveras infantil pensar dessa forma, e vai bem de acordo com quem pouco conhece do assunto.

Lembro-me da alegria e da sensação coletiva de leveza e liberdade quando os militares deixaram o Poder. O sonho da população de ver o Brasil se tornar grande e livre era o que pautava aquele momento.

E mesmo com essa sensação de liberdade aqui no país e um tsunami de mudanças acontecendo, o mundo ainda vivia a tensão da Guerra Fria. O mundo sabia que a qualquer momento poderia ser lançada uma bomba nuclear, que iria liquidar com a humanidade. Essa ameaça era real. Bem real.

E uma das coisas que deixava essa tensão no ar era a falta de informação sobre os países comunistas. O que se fazia lá dentro? O que acontecia por lá? As informações eram poucas e confusas, tanto que várias gerações cresceram (inclusive a minha) ouvindo dizer que comunistas comiam criancinhas... e só hoje, graças a tantas fontes de informação e pesquisa, entendi que são as VÍTIMAS do comunismo que comiam criancinhas já mortas pela fome... exatamente pra não morrerem de fome.

Bem, fato é que em 1989 aconteceu o que o mundo ocidental esperava há muito: o comunismo começou a ruir com a queda do Muro de Berlim. Logo em seguida veio o fim da URSS... da Cortina de Ferro.

Aquele alívio que sentimos regionalmente com o fim do Regime Militar, se tornou mundial com a queda definitiva desses principais Muros Comunistas. Era o fim de um sistema cruel, fechado, autoritário e assassino...

O mundo comemorou!

O Brasil, país atrasado de 3º mundo que nunca incentivou a leitura e nunca levou a educação a sério, de uma hora pra outra resolveu se assumir de esquerda. Pior! Um grupo comunista da América do Sul luta ainda hoje (pasmem) para que a esquerda domine os países do nosso continente. Mesmo com a Venezuela em ruínas...

A troco do quê pessoas aqui no Brasil tem a coragem de levantar a bandeira comunista? O que pretendem com isso, uma vez que todas as experiências nesse sentido fracassaram e mataram milhões de pessoas?

Por que tamanha crueldade no coração a ponto de levantar essa bandeira maligna? Por que desejar um sistema fracassado, que estava nitidamente levando o Brasil ao colapso social e econômico?

Qual o motivo de querer tanta maldade? E porque estender essa maldade para pessoas que não compactuam com a ideias da esquerda?

Não sei se só eu tenho essa percepção, mas toda essa gente que se diz de esquerda (e que se lambuza deliciosamente no capitalismo) se fecha numa bolha, se tranca em um gueto.

Vejo assim: socialistas na bolha e o resto dos seres humanos livres, vivendo normalmente, na luta do dia-a-dia, fazendo suas coisas e levando uma vida de liberdade, interagindo, trabalhando, saindo pra se divertir...

E todos que ficam dentro dessa bolha ficam falando e repetindo que Lula é preso político, é homem do povo, que tirou 30 milhões da pobreza, que fora da esquerda não há solução, que viva Marx, que viva Che, que o mundo está errado, que todo mundo é reacionário, opressor, blá blá blá. É tão chato e tão bobo!

Entre dois idiotas escolhi o idiota que se cercou de gente competente, que falou de mudanças urgentes, que antes de ser eleito deixou clara a direção de seu governo e até divulgou parte de seu ministério; em detrimento do outro idiota que faz parte de uma quadrilha corrupta (portanto assassina), que falava na volta da censura, na soltura de presos (incluindo estupradores e assassinos), no aparelhamento do STF, e que sequer tinha um ministério formado já que dizia que só depois de conversar com os outros partidos iria formá-lo.

Ou seja, entre alguém que falava sobre um novo caminho e outro que falava em piorar o que já estava ruim, não tive muito o que pensar na hora da escolha.

E você percebe a falta de conhecimento político dessas pessoas que têm coragem de se assumir de esquerda, vendo suas atitudes de preconceito como se afastar de você, te bloquear, fingir que não te vê pra não ter que te cumprimentar.

Você conversa com essa gente tendo que medir as palavras, porque percebe que uma palavra mal compreendida pode virar alguma fobia, porque o barato delas é inventar fobias. Se você disser que está usando um “sapato preto” é o suficiente pra você ser chamado de racista! Piada, mas é quase isso.

Daí você começa ver que esse povo comunista, de esquerda, socialista, é de fato mal humorado porque essa é a essência de quem levanta essa bandeira cruel. E sendo um sistema cruel, óbvio que seus seguidores serão cruéis, fechados, mal humorados, desconfiados e nitidamente intolerantes com a liberdade.

Por fim, pra mim, os que se dizem comunistas, na verdade, sofrem uma inveja gigante de quem não levanta essa bandeira ou que não levanta bandeira alguma. Porque a vida mostra isso: pessoas sem personalidade sentem inveja de quem é independente.

A vontade de escrever este texto veio depois dos dois últimos shows que vi no Sesc Pompéia: Cólera e Siba. O ex-Mestre Ambrósio, resolveu falar umas besteiras no palco dizendo que Lula deveria estar na Presidência.... bem, ao cidadão Siba peço que entenda melhor seu país antes de falar asneiras que podem te diminuir como artista. Cuidado!

Entre o público dos shows, tinham velhos amigos, camaradas e conhecidos. De todos que vi e que sabem que não compactuo com a esquerda, apenas um veio conversar comigo, jogar conversa fora durante uma cerveja... e conversamos sobre Itamar Assumpção, veja só!

Um outro “velho amigo” me cumprimentou de cara feia e, apesar de estar na mesma cerveja, preferiu sair da roda. Dá pra perceber o quão é feia essa atitude preconceituosa? Vi duas pessoas que compraram meu livro, e que em outras ocasiões me pediram dedicatória e até fizeram selfie, mas que me ignoraram por completo. Uma coisa louca! Pessoas reclamam de figuras como Bolsonaro pelas suas atitudes preconceituosas, mas que agem da mesma forma que o atual presidente! Quanta ignorância! Hahaha

E eu continuo aqui de fora sem saber se choro ou se dou risada... Não excluo ninguém, não bloqueio ninguém e não ignoro ninguém.

Afinal, como eu, você também acha que esse pessoal da esquerda vive ou não em uma bolha mal humorada e de energia pesada?

Hey você de esquerda! Pare de tratar mal as pessoas que não pensam como você. Por favor, leve sua atitude autoritária pra puta que pariu e me deixe em paz com minha liberdade! Caso ela te incomode, tenho algumas sugestões de países nos quais você poderá visitar... quem sabe farão você mudar de ideia rapidinho.

Sem bandeiras!
Sem muros!
Viva o respeito!
Viva o amor!
Viva a liberdade!

Liberdade é respeito! Respeito é amor!


PS: Todas as imagens que ilustram este texto são do dia da queda do Muro de Berlim na esperança de que “pessoas de esquerda” se lembrem do quanto é ruim não ter liberdade, de ter a família separada e ver amigos e parentes sumirem, serem torturados e mortos considerados desaparecidos.... e do quanto é vergonhoso, além de grave desrespeito com as vítimas do comunismo afirmar uma coisa dessas.







9 de outubro de 2019

Raimundos 1994 - Por Canisso



Fuçando nas pastas reencontrei este texto que eu nem me lembrava. Pelo que entendi Canisso, a meu pedido, o escreveu para comemorar os 15 anos de lançamento do 1º do Raimundos pr’eu publicar no blog Rock Brasília Desde 1964, o qual era colaborador. Pelas contas isso foi em 2009.

Nesse início de Banguela eu estava bastante presente, mas não só eu. Além de todos os grupos contratados, tinha um monte de gente amiga que aparecia no Be Bop. Era um lugar que servia de “esquenta” pras festas, shows, baladas...

Em 1994 corria meu primeiro ano na MTV e ela ficava perto do Be Bop. Como os horários lá eram flexíveis, e nessa época acontecia tudo ao mesmo tempo agora, eu vivia no Banguela. Tanto que nem consigo lembrar se eu estava lá na gravação desse ou daquele disco, porque na verdade cada vez que se ia lá, era uma gravação diferente acontecendo.

Algo que me marcou muito foi o fato de ter sido lá a última vez que vi e interagi com Fejão como nos velhos tempos de Brasília. Não sei se era o 1º ou o 2º do Little Quail quando Miranda e Gabriel juntaram sei lá quantas zilhões de pessoas pra fazer o maior backing vocal da galáxia, e Fejão estava lá (se não me falha memória Parente, Bulhões e Helder também estavam lá - Dungeon). Eu peguei a câmera caseira de Gabriel, subi em em uma escada dessas de obra e filmei tudo. Fumamos alguns baseados, falamos um monte de besteiras, demos boas risadas e depois não lembro de ter visto Fejão novamente... (talvez quando Dungeon foi ao Fúria... mas era outro clima).

Bem, o que posso dizer da gravação desse primeiro disco do Raimundos é sobre a energia que a envolvia, e que lembrava muito a mesma que havia em Brasília quando Paralamas, Legião, Capital e Plebe gravaram nos anos 80. Era um novo horizonte se abrindo.

Mas o mais legal era que tudo era novidade. Ficar hospedado em hotel, não pagar alimentação, ter uma estrutura profissional dando apoio, ir a festas e shows, conhecer gente importante do meio artístico... Era tudo vantagem, e necessário aproveitar ao máximo.

Sempre lembro de um fato curioso em relação ao Raimundos ser o primeiro lançamento do selo Banguela criado pelo Titãs. Bobinho, mas curioso: Em 1986 o Titãs foi tocar em Brasília, era a turnê do 'Cabeça Dinossauro'. Eu e Digão estávamos juntos, e mesmo sendo menor, ele estava de carro. Terminado o show resolvemos passar no Gilbertinho (que era o point que frequentávamos). Chegando lá ficamos surpresos em ver que estava tudo fechado. A única coisa que estava lá era o tio do cachorro quente, então resolvemos comer um. Descemos do carro e pra nossa surpresa lá estavam Branco Mello e Charles Gavin. Ficamos lá comendo e conversando com eles, que queriam dar um rolé pela cidade. Não lembro o que aconteceu (talvez Digão lembre), mas acredito que tenham ido embora para o hotel... e quase 8 anos depois acontece esse "reencontro" de Digão com Branco e Charles...

Nessa época também houve uma das primeiras viagens profissionais do grupo, e foi para o Rio de Janeiro pra participar do Top 20. Eu estava lá pela MTV e lembro de termos nos esbaldado no hotel já que a produção (do Raimundos e da MTV) disse pra não ter preocupação com os gastos. Comemos bem. Muito bem. Teve também o Juntatribo, mas essa balada não lembro... por que será?

1994 foi um ano bastante intenso, daqueles que não vão acabar nunca...

E lá se vão 25 anos....

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Canisso no Porão do Rock 2000. Foto minha.

“Pois é, e a gente dá uma piscada e lá se vão 15 anos... nós quatro chegamos de Brasília de ônibus e nos hospedamos no Arthur's hotel, um hotelzinho meia bomba que ficava em pinheiros, que diziam as más línguas já ter sido um hospital e tinha fama de mal-assombrado... iríamos gravar no Be-Bop, que acabou se transformando na sede do Banguela, duas mesas e uma linha de telefone gentilmente emprestados pelo Marcelo e pela Ana, donos do estúdio...

Lá entre caixas e caixas de pizza pra viagem e no meio da névoa espessa de cigarros feitos á mão foi traduzido pra uma gravação decente toda a tosqueira e espontaneidade de um som visceral e urgente, resultado da união de influências e vivências de quatro malucos de Brasília que de certa forma conseguiram juntar no seu som elementos pesados e ao mesmo tempo populares, música pra headbanger e porteiro de prédio, forró e hardcore...

Encontramos no Be-Bop uma estrutura fenomenal, um quartel-general com  todo o apoio dos Titãs, sócios do Miranda na empreitada de fazer um selo pra dar lugar às novas tendências que já começavam a pipocar... gravamos com instrumentos emprestados, virando madrugadas sem sentir, e a coisa foi ganhando vida própria, até hoje não canso de ouvir e me surpreender... 

Com o disco pronto começaram os shows, e aí pintou o desafio de transportar aquela sonoridade obtida arduamente no estúdio pras apresentações ao vivo, e isso foi norteando o trabalho desde então, com humildade pra aprender nas oportunidades que tivemos de tocar com bandas mais experientes, e investindo em equipo e instrumentos... mas no começo foi pauleira, viajamos muito de ônibus de linha e van, empilhados junto com os cases e disputando espaço com os caminhoneiros nas churrascarias de beira de estrada...mas bastava uma horinha de show com a mulekada começando a conhecer e cantar junto nossas músicas pra dar uma sensação estranha, um misto de orgulho e dever cumprido...

Existia um clima de solidariedade, de pessoas em diferentes posições dentro da cena que se formava com um mesmo espírito de "fazer acontecer", de dar sua contribuição ao "movimento" espírito esse muito bem traduzido pelo Miranda na definição perfeita: BRODAGEM!!!

Eram jornalistas, radialistas, bandas, produtores, empresários... o barulho feito por essa corrente que queria dar voz a uma nova forma de fazer música pesada BRASILEIRA, começou a incomodar a mesmice reinante, e sem abaixar a crista pra nada que viesse de fora e tocando de igual pra igual com os "medalhões" a parada vinha como um caminhão sem freio numa ladeira, atropelando tudo no seu caminho, e começou a invadir os salões chiques com seu sotaque de peão, lavando a alma com orgulho de ser brasileiro e cantando em português chulo...”