18 de agosto de 2022

A Geração Napster do Rock

Hoje com a distância do tempo dá pra fazer uma análise do que foi o rock na virada dos 1990 para os 2000. O rock da geração Napster! Nesse período, principalmente, entre 1997 e 2003 muitos grupos legais surgiram (com algumas exceções mais antigas como The Hives e Spoon).

Você pode até sentir falta de outros nomes, mas aqui vou me ater ao que eu escutei, gostei e baixei. Se algum nome aqui remeter a outro que não esteja presente, ótimo, e ele faz parte com certeza desse balaio, mas eu certamente não o escutava (como The Libertines e White Stripes).

Pra todo mundo do universo musical esse período foi marcado pelo surgimento dos programas de troca de arquivo. Eu mesmo fiquei maluco porque queria tudo que eu nunca tive junto com tudo quanto era novidade. Fiquei maluco atrás de grupos punks que eu não tinha os discos, queria baixar todos os artistas de Soul Music, procurar todas as músicas que eu escutava e não conhecia o artista e ainda ia atrás de todas as novidades. Eu achei muita coisa boa! 

Em 2000 eu tinha acabado de sair da MTV pra ir trabalhar em um site adolescente que tinha no mundo todo (tantofaz.net). Eu era editor de música e, assim como na MTV, as gravadoras me enviavam todos os lançamentos semanalmente.

Era uma transição da internet discada para a internet a cabo, então baixar esses discos e músicas não era rápido e organizado. Baixava-se as músicas e assim você criava a pastinha do grupo / disco e organizava os arquivos um a um. Como era literalmente uma troca de arquivos, havia uma regra natural e velada de você deixar seus arquivos abertos e disponíveis. Então quando você baixava algo, baixava com o título / nome que outra pessoa tinha feito. Por exemplo: eu colocava “In Bloon” do Nirvana e vinha uma penca de arquivos dessa música de todos os tipos, tamanhos, qualidades e nomes.

Daí você procurava na lista os que você queria e, de preferência, sempre do mesmo “fornecedor”. Se sua internet era boa, você conseguia baixar mais de um arquivo junto. Havia também o torrent, mas eu não o usava. Só um pouco depois do Soulseek que surgiu formas de baixar discos inteiros de uma só vez.

Eu abria o Allmusic Guide pra procurar os discos e artistas que eu queria. Eu ia na aba “artistas relacionados” e achava outros nomes, artistas antigos e novos. Dessa forma encontrei muita coisa legal (e muita coisa ruim também). 

Eu comprei o ‘Is This it’ do Strokes na loja e com certeza esse foi um dos últimos CDs que comprei na vida - talvez até tenha sido o último. 

The Zutons, The Coral, The Detroit Cobras, Mates of State, Art Brut, Spoon, Interpol foram alguns dos grupos que achei nessa primeira leva de novos nomes. Mates of State eu pirei e passei a acompanhar a carreira. Era muita coisa nova pra digerir ao mesmo tempo e eu tinha um Ipod de 2g pra isso. Não lembro ao certo o quanto cabia de músicas e discos nele, mas sei que cabia muito mais do que eu tive de discos e CDs na minha vida toda hahaha. Nele tinha Sly and Family Stone, Serge Gainsbourg, Dead Kennedys, Neil Young, XTC e Adoniran Barbosa. Era uma salada de urgências! Eu queria ter tudo e escutar tudo ao mesmo tempo.

Pesquisar músicas, baixá-las, organizá-las e colocá-las no Ipod era como o que a gente fazia nos anos 70 e 80 quando gravávamos os discos: escolhíamos as fitas, os discos, as músicas, escrevíamos os nomes na capinha numerando-as e guardando na ordem certa. 

Napster e Soulseek eram os novos brinquedos para os amantes de música. Junto com tudo isso surgiu a mania de comprar CDs virgens pra colocar os arquivos neles. 

Na busca de nomes novos eu baixava os grupos sem saber muito sobre eles e escutava-os. Se eu não gostasse, então eu simplesmente jogava fora. Nesse modo divertido e aleatório eu encontrei Clap Your Hands Say Yeah, Spoon, Radio 4, Dogs Die in a Hot Cars, Art Brut, The Magic Numbers e outros.

Muitos desses grupos não existem mais. Alguns lançaram um, dois ou três discos e puf, sumiram. Outros foram mais resistentes, mas nenhum deles teve a mesma significância que outros grupos de décadas anteriores. Apesar desses grupos terem bons discos, eles já não tinham muita novidade pra mostrar quanto a sonoridade, salvo uma ou outra exceção - como o Mates of State.

The Thrills, The Magic Numbers e The Detroit Cobras têm algo de country e folk que remete não só a Neil Young, mas também a Edie Brickell & The New Bohemians e Cowboy Junkies; o Interpol tinha algo de Joy Division e Bauhaus; o Radio 4 algo de PIL; Mars Volta o King Crimson; Bloc Party o Gang of Four. Todas elas, de alguma forma, te levam a sonoridades já exploradas, mas isso não tira a força que alguns discos desta turma têm. Inclusive digo numa boa que alguns desses discos são clássicos.

‘So Much For The City’ do The Thrills, o 1º do Magic Numbers, 'Mink Rat or Rabbit' do Detroit Cobras, ‘Silent Alarm’ do Bloc Party, ‘Veni Vidi Vicious’ do The Hives, ‘Turn on The Bright Lights’ do Interpol, ‘Girls Can Tell’ do Spoon, ‘Bang Bang Rock’n’Roll’ do Art Brut, ‘Who Killed… The Zutons do Zutons, ‘Deloused in The Comatorium’ do Mars Volta, ‘Bring it Back’ do Mates of State e, claro, ‘Is This It’ do Strokes. Esses são alguns dos ótimos discos dessa geração.

Se comparar com o que estava acontecendo aqui no Brasil, dá até vergonha porque as citações não vão além de Charlie Brown Jr., Los Hermanos, CPM22 e Pitty. Mas não farei essa comparação porque vai dar pena. A culpa não é desses quatro artistas, mas o último sopro do rock feito por pessoas que, antes de tudo, amavam o rock, foi a geração 90. 

Agora, os motivos pelos quais essa geração de grupos não formou uma cena e/ou não teve uma longa carreira, daí são outros quinhentos. Fato é que, apesar de boa parte desses grupos (os gringos!) não terem uma discografia longa e robusta, deixaram um ou dois discos atemporais que soam, até hoje, como um sopro de rejuvenescimento ao bom e velho rock