17 de outubro de 2011

Ramones (e Eu)


Eu sou mais um que teve a vida mudada depois de ter ouvido Ramones. Ouvi pela 1ª vez em 1980, com 10 anos. Era exatamente “Rock’n’Roll High School” e “Do You Remember Rock’n’Roll Radio?”, “Chinese Rocks”, “Let’s Go” e “Danny Says”. Era uma fita cassete da Mila, minha irmã mais velha (que tinha 13 na época). Nela também tinha Sex Pistols e Siouxsie and the Banshees. Engraçado que, como sobrou espaço na fita que não era virgem, ficou um resto de Pink Floyd que era o que estava gravado antes (bastante significativo, não? Adeus PF!).

Mesmo sendo moleque, me chamou atenção. Meus pais gostavam de rock, não pauleira, mas um bom soft rock, Beatles e sucessos da era hippie e disco. Coisas assim. Então quando escutei aquele rockão, claro que me chamou a atenção. Sempre que podia escutava aquela fita e outras que foram aparecendo.

Mas Ramones é Ramones. Tive a sorte de ter alguns de seus discos perto do lançamento ou na sequência. Em 1982 comprei ‘End of the Century’ e ‘Pleasant Dreams’ que eram, inacreditavelmente, edições nacionais. O primeiro comprei numa lojinha em Brasília, que ficava na comercial da 111 Sul, quadra onde morava. Foi nos fundos dessa loja que rolou um show do Aborto Elétrico.

‘Too Tough to Die’, ‘Animal Boy’ e ‘Halfway to Sanity’ foram três discos que tive a sorte de tê-los na sequência de seus lançamentos. Os dois primeiros no mesmo mês em que saíram e ‘Halfway’ um dia depois (!!!).

Nos tempos de fita cassete se media a importância da banda pela qualidade da fita com a qual você gravava os discos. Da discografia da banda (em vinil) tenho de ‘Leave Home’ até ‘Brain Drain’. Todos os amigos e amigas me davam fitas ou iam em casa gravar. Uns gravavam discos específicos, outros faziam coletâneas. A maioria das vezes as fitas que se gravava Ramones eram das melhores, tipo TDK importada.

Mesmo clichê, é sempre bom lembrar que, sem internet, não tínhamos muitas notícias frescas, principalmente do Ramones e punk rock em geral (até o heavy metal tinha suas revistas). Então, notícias frescas do Ramones nem pensar...

Nos anos 1990, quando já estava na MTV, como todo fã, fiquei chocado com as notícias que chegavam sobre o clima interno na banda. Tive a honra de conhecer a banda por causa do Fúria Metal. Junto com Gastão fiz três entrevistas com ela. Tenho uma camiseta com o autógrafo de todos eles que peguei em 1994.

Acabei de ler Hey Ho Let’s Go – A História dos Ramones de Everett True, e o livro me mostrou que eu não era o único a pensar tudo o que pensava sobre a banda e de como toda a revelação me chocou, mas sem derrubar o mito, claro!

As roupas que eram uniformes, o fato de Johnny não falar com Joey, Joey doente, enfim. Assim como outros fãs também sempre desconfiei a respeito da gravação de algumas guitarras nos discos do Ramones que não foram feitas por Johnny... fato depois comprovado...

Rara foto com Johnny rindo
Não gosto de praticamente nada do que foi feito após ‘Halfway to Sanity’. Há apenas alguns poucos bons momentos. Quando ‘Halfway” saiu, eu já morava em São Paulo, e lembro de ter ido ao shopping onde minha amiga (muito querida Cris Rio Branco) trabalhava. Ela tinha chegado de Nova York no dia anterior e disse que havia comprado o disco indo para o aeroporto, e que eu havia me dado bem porque tinha chegado nas lojas nesse mesmo dia que ela foi embora. Lembro que ela me disse ter visto a loja de disco cheia de pôsteres do Ramones e que não entendia como eu ainda gostava da banda. Falou também que durante o tempo que ficou em NY (acho que um mês) houve alguns shows do Ramones, mas tudo em lugares bem pequenos. Disse que a banda estava por baixo. O pior é que estava mesmo! Mas nunca pra mim.

‘Halfway to Sanity’ é um clássico. Ótimas composições, letras e produção. Disco pesado, e que considero o que tem uma das melhores baterias da discografia. Ritchie Ramone estava muito iluminado nesse disco. É realmente incrível!

De todos os shows que a banda fez aqui só não vi o segundo de domingo, em 1987, e o último, em 1996. Eu vi Dee Dee em ação por duas vezes, e ele descia a porrada no baixo.

Não lembro se já escrevi aqui, mas uma vez tive a grande honra, na MTV, de levar Joey Ramone até o banheiro, onde ele quis ir antes de uma entrevista. Como não tinha ninguém do A&R naquele momento, coube a mim levá-lo. Com meu inglês macarrônico disse a ele que teríamos que subir um lance de escada, e ele resmungou de uma forma engraçada, mas foi na boa. Indiquei a direção e abri a porta do banheiro. Ele entrou já tirando um pente do bolso e se abaixando para se olhar no espelho – ele era muito alto. Tudo isso foi rápido porque a porta logo se fechou e eu, claro, o esperei ao lado de fora.

Na última passagem da banda aqui (no Olympia), eu e Gastão fomos até lá entrevistar Joey durante a passagem de som - sim, durante toda a carreira era a própria banda que passava o som, salvo raras exceções. Lá percebi que de fato o clima não era bom. Senti na pele os boatos que ouvia. Eles estavam em camarins separados. O que era pra ser 10 minutos, acabou sendo uns 20 e poucos. Entrevista curta, mas muito boa. Agradecemos e Joey, muito simpático (sempre, todos eles), entrou no camarim. Juntamos o equipamento e na hora que estávamos saindo, a banda subiu ao palco para passar o som. O clima não estava bom! Inclusive tenho (péssimas e escuras) fotos dessa entrevista e da passagem de som. Joey e Johnny tocavam um de costas para o outro. Comentei com Gastão minha tristeza em presenciar aquilo e a minha decisão de não ir ao show por conta disso tudo. Não fui mesmo. Foi difícil pensar que o Ramones estava ali ao meu lado tocando e eu não estava. Não fui!

Nos tempos de walkman adorava escutar o 1º Ramones e o Leave Home, pois a mixagem que foi feita nesses discos, não sei porque cargas d’água, permitia escutá-lo sem vocal. Lembro também de um dia em 1985, voltando pra casa já de madrugada a pé junto com Danilo, após um ensaio do Filhos de Mengele no Rádio Center, de comentarmos como seria bom ver um show do Ramones. Naquele tempo isso era um sonho impossível, mas pouco mais de um ano estava eu no Palace vendo Joey, Dee Dee, Johnny e Ritchie ao vivo. O tempo inteiro me lembrava dessa conversa com Danilo.

Tive muita sorte de conhecer a banda, sorte de ver Dee Dee em ação e de poder fazer pauta para entrevistá-la. Tudo incrível! Pra mim, o melhor disco da banda é disparado o 'It’s Alive', por ser o resumo da primeira e melhor fase do Ramones (os três primeiros discos). Dos anos 1980 gosto demais de 'Too Tough to Die' e 'Halfway to Sanity'.

Ramones era uma gangue e eu fazia parte dessa gangue.

Ramones é a maior banda entre todas que já existiram no universo, e assim será pra sempre!

Menos é mais!

PS: É incrível o fato dos principais integrantes da banda - Joey, Dee Dee e Johnny - terem morrido em um intervalo de 3 anos e 5 meses. Eles realmente nasceram para a missão Ramones. Terminada, aproveitaram um pouquinho e foram embora.

7 comentários:

adelino disse...

A verdadeira alma do punk rock!Nunca nenhuam banda se aproximou da batida dos Ramones.Foram os punk mais originais que já pisaram neste planeta,por isso foram embora cedo.

Anônimo disse...

Paulo, você falou uma coisa interessante, no fim desse ótimo texto, sobre o fato de Joey, Dee Dee e Johnny terem morrido, um seguido do outro, em questão de poco tempo. Em 2001 se foi Joey, em 2002 Dee Dee,e 2 anos depois Johnny. Você pode achar bobagens, essa coisa de Karma, ou de missão, mas eu já cheguei a conclusão, de que os três, antes de reencarnarem como Ramones, alguém do plano superior, lhes disse que tinham uma missão importante a cumprir aqui na Terra. Eu acredito no espiritismo, e acho que Joey e Johnny, já deviam ser rivais em outra encarnação. Só pode ter uma explicação espiritual, o fato dos dois se odiarem, desde o primeiro dia de banda, isso lá em 1974. E piorou mais ainda, depois que Johnny roubou a namorada do Joey. Bom, me desculpe dessas bobagens que eu escrevi, mas de qualquer forma, parabéns pelo texto!!

Anônimo disse...

Em relação ao fato, de algumas guitarras não terem sido gravadas pelo Johnny, o fato é que ele não sabia fazer solos de guitarra, nem simples e muito menos complicados. Em Subterranean Jungle, Animal Boy o guitarrista solo é Walter Lure, ex Johnny Thunders and the heartbreakers. No Halfway To Sanity, tenho quase certeza, que é o próprio produtor do álbum Daniel Rey. Agora em Road To Ruin, parece que era Dee Dee quem fez os solos de Its a long way back to Germany, e Dont com close. Confirma Paulo???

Morte aos indies disse...

Marchetti, o Johnny sempre odiou o Joey, muito embora ele fosse amigo do irmão dele o Mickey Leigh, que era o roadie da banda no começo. Johnny achava Joey muito hippie demais, e ele sendo um conservador de direita, aquilo para ele era o fim da picada. Ele mesmo reconhece no documentário da banda, End Of the Century, que Joey não fazia o seu tipo de vocal para a banda. Exato, e foi Tommy, o primeiro batera, quem sugeriu que Joey entrasse para a banda. Sinceramente, como guitarrista base, ele foi ótimo, agora como ser humano, um monstro!!!!

Paulo Marchetti disse...

Opa! Sim, sou espírita e acredito muito que os três (Joey, Dee Dee e Johnny) vieram em uma tarefa que, pelo jeito, foi bem sucedida.
Daniel Rey, de quem alguns Ramones e amigos não gostavam, gravou diversas guitarras nos discos que produziu.
Por mais que sejam explícitos os problemas do Ramones em três grandes livros, eu jamais irei abandonar a banda. Mais do que essa biografia que citei no texto, os livros de Dee Dee, de Johnny e de Joey (escrito pelo seu irmão Mickey), são absolutamente esclarecedores. Viva o Ramones!

Anônimo disse...

Uma pena os caras nunca terem tocado I'm Not Jesus nenhuma vez. Mas também é até compreensível, essa música é com certeza a mais diferente de toda a carreira da banda e o som era completamente sombrio. Eles tocaram ao vivo algumas vezes Ignorance is Bliss que é um ótimo hardcore e do Joey Ramone mas também foi só. Eat That Rat outro hardcorzão foi tocada acho que só duas ou três vezes em 86 na época do lançamento do Animal Boy.

Anônimo disse...

Sim! Mas as músicas são eternas!