6 de maio de 2011

Ingressos e Crachás: 2 - Chico Science e Nação Zumbi no Tom Brasil


Esta segunda postagem da série Ingressos e Crachás homenageia também o disco Afrociberdelia, um dos grandes clássicos dos anos 1990. Mais uma vez o Sete Doses de Cachaça sai na frente e cutuca: será que algum veículo de comunicação irá lembrar desse fato tão importante para a cultura pop brasileira? Se esquecem de Cazuza, Raul Seixas e outros grandes nomes e discos, então não será difícil ver passar em branco os 15 anos do segundo lançamento de Chico Science e Nação Zumbi. Aqui, além de meu pequeno relato, publico também uma mini entrevista de Chico realizada pela Folha de São Paulo na época do lançamento, dentro de uma boa reportagem assinada por Pedro Alexandre Sanches.
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Afrociberdelia, segundo disco de Chico Science e Nação Zumbi, foi lançado na segunda quinzena de maio de 1996. Período em que computadores e internet ainda não faziam parte da nossa rotina, e até mesmo o CD ainda não era unanimidade em todas as casas. Ah! E nada de celular.

Lembro que foi um disco bastante esperado e muito bem recebido pela crítica e público. Como diz o próprio site oficial da banda "(um disco) menos furioso, mais groovy e psicodélico, tem uma produção mais detalhista”. Apesar de ter 20 faixas, é um disco cheio de clássicos e com uma bela surpresa, pelo menos pra mim, que é a regravação de “Criança de Domingo” de Fellini (gravada originalmente em 1989).
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Vi alguns shows de Chico Science e Nação Zumbi em São Paulo e Rio de Janeiro. O primeiro deles foi o do lançamento de Da Lama ao Caos. Lugar cheio, praticamente ninguém sabia o que iria ouvir, porque CSNZ ao vivo ninguém em SP ainda conhecia. A minha curiosidade era ouvir os tambores com a guitarra distorcida. Foi um grande impacto. A produção do 1º disco não soube traduzir em estúdio a força da sonoridade banda.

Conheci CSNZ nos corredores da MTV, não sou amigo de nenhum integrante, mas nos vimos muito durante os anos 1990. No lançamento de Afrociberdelia, não consigo lembrar se era um show fechado ou não, mas nessa primeira apresentação no Tom Brasil, numa quinta-feira, só vi jornalistas: gente da própria MTV, da Folha, do Estadão, da Bizz, da 89FM, ou seja, não estava nada cheio. Como todos se conheciam, o ambiente ficou intimista.

Esse show, devido a esse ambiente, acabou se tornando favorável à banda. A platéia toda ficou perto do palco, mas sem apertação. O clima parecia um ensaio aberto, com todo mundo descontraído, bebendo, coisa e tal... tranquilamente. A cada fim de música uma festa, e como a banda conhecia parte da platéia, então rolava uma interação legal entre palco e público.

Acho que na época o Tom Brasil tinha acabado de abrir, lembro que para chegar lá entrei numa rua ainda sem asfalto. Vaga lembrança.

Também acho que foi a primeira vez que vi Chico Science vestido com a roupa psicodélica do maracatu. Perto do palco, lembro bem do forte impacto de Chico dançando com o figurino.

Sem dúvida foi o melhor show que vi de Chico Science e Nação Zumbi.
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Folha de São Paulo - 22/05/1996
Chico Science Busca Maracatu Psicodélico
Banda que lançou o movimento Mangue Beat chega ao segundo disco, “Afrociberdelia”

Por Pedro Alexandre Sanches

A geração Mangue Beat chega a segunda rodada. Chico Science e Nação Zumbi lançam “Afrociberdelia”, e Mundo Livre S/A publicou na semana passada “Guentando a Óia”.
Dão sequência assim ao movimento que começou em Recife (PE) e trazido a público em 1994, data de estréia das duas bandas em disco.
O conceito continua o mesmo: fusão de ritmos populares do Nordeste ao universalismo do pop e do rock, fusão antropofágica da miséria do mangue à sofisticação tecnológica das antenas parabólicas.
“Afrociberdelia” tem as participações de Gilberto Gil, Marcelo D2 (do Planet Hemp) e Fred Zero Quatro (do Mundo Livre).
Leia a seguir trechos da entrevista de Chico Science à Folha.

Folha – “Afrociberdelia” é uma continuação do movimento Mangue Beat ou vai para outra direção?
Science – O movimento Mangue Beat sempre será. Foi um marco, o pontapé inicial, e é o que a gente continua trabalhando. O núcleo que formamos com o Mundo Livre S/A ficou meio arquivado, corremos cada qual para seu lado, partimos para as missões.

Folha – Quais as semelhanças entre o Mangue Beat e o movimento tropicalista em 1968?
Science – Acho que é a atitude, de lançar seu próprio satélite, buscar a raiz, segurar os braços da cultura quando ela está afundando.

Folha – Este disco é mais raivoso que o primeiro, não é?
Science – Acho que porque o som agora saiu. A afrociberdelia é o mote; o afro da África, a cibernética da tecnologia, do acesso que o pobre pode ter à ela, e a psicodelia das nossas cores.

Folha – O computador está sempre presente no seu cotidiano?
Science – Não faz muito parte do meu cotidiano. Já naveguei uma vez pela internet. Entrei, fucei, olhei... Estamos em breve abrindo nossa home Page. Falamos dessas coisas mais pela necessidade de que elas estejam no nosso dia-a-dia. Nós também temos direito de acesso à tecnologia. Isso não é facilitado pela incapacidade política do Brasil.

Folha – O maracatu foi o ritmo eleito dessa vez?
Science – O maracatu é o berço do samba, é samba também. Nós temos o samba então vamos trabalhar com ele. Afrociberdelia é a atitude de mostrar o maracatu, o som do Brasil, de uma forma mais moderna, mais inteligente, que consiga ecoar em outros cantos pelo mundo, para que o samba seja real e não virtual.

PS: Tentei postar aqui reportagem na revista Showbizz de 1996 e da Veja, porém não obtive sucesso. Deixo então a dica para ler a reportagem na Veja, através de seu acervo digital, edição 1448, 12/06/1996, página 122 (no local de busca é só preencher com Afrociberdelia e clicar em "no acervo"). http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx




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