21 de julho de 2015

Especial Discos Históricos: 7 - Legião Urbana Dois (1986)



O disco Dois da Legião foi cercado de segredos, nada proposital, mas ninguém sabia o que viria. Uns falavam em gravação do velho repertório (o que aconteceu no 3º disco) e outros falavam em algo completamente diferente, tipo Legião Urbana romântica.

Nem em Brasília se sabia o que estava sendo feito. Lembro de boatos de que fariam novos arranjos para algumas músicas velhas. E de fato "Fábrica" ficou irreconhecível, assim como "Tempo Perdido", que era "1977".

O Dois colocou a Legião definitivamente no mainstream e transformou o Renato Russo letrista em referência, até mesmo para grande artistas.

Desde janeiro não postava nada desse Especial e, por coincidência, a última vez tinha sido sobre o 1º da Legião. Escolhi o Dois para a nova postagem porque agora na segunda quinzena de julho de 2015 ele completa 29 anos e merece a homenagem.

O legal é que as reportagens de Roll e Bizz trazem algumas curiosidades a respeito do disco e os bastidores. Além disso há a curiosidade na forma de se referir a banda. Ainda em 1986 jornalistas escreviam com o artigo masculino "o Legião Urbana".

No final ainda há link para o texto de Dado Villa-Lobos a respeito do Dois. Texto que pedi a ele para matéria que fiz à revista Rolling Stone nº 2.

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Revista Roll – Ano 3 – Nº 34 – julho 1986

Legião Urbana: De Mudança
Por Cadu Gomes

Renato Russo, voz; Dado Villa-Lobos, guitarra; Renato Rocha (o popular Negrete), baixo; Marcelo Bonfá, bateria. Eles formam a Legião Urnada, banda brasiliense que dispensa maiores apresentações, e conversam com a ROLL a seguir, numa entrevista que, por alguma razão obscura, eles relutam bastante em conceder.

O primeiro LP, que leva o nome do conjunto, fala melhor por si: o som contundente e cheio de adrenalina do quarteto alastrou-se do planalto aos dials e toca-discos de diversas cidades do país. Entretanto, este primeiro álbum serve apenas de contraponto quando comparado ao recém lançado LEGIÃO URBANA II. Enganaram-se os que esperavam desse disco uma espécie de prolongamento da sonoridade proposta por músicas como “Será” ou “Geração Coca-Cola”. Ao se rodar o LP, o que se ouve é muito mais leve. Uma massa harmônica muito bem trabalhada usa e abusa de teclados e instrumentos acústicos, proporcionando um clima bem mais folk a este novo trabalho. 

Renato Russo dá as seguintes explicações para esta mudança: “Isso tudo é uma coisa que já existe na banda desde o tempo do primeiro disco, mas nós não usamos nele primeiro porque a gente não sabia tocar direito, a segunda porque haviam outras coisas que a gente queria falar, e acho que se a gente misturasse ia embolar o meio de campo. Se a gente estivesse lançando nosso primeiro trabalho agora, nós o teríamos feito da mesma maneira. Antes de você fazer “Acrilic On Canvas” tem que ter feito “Ainda é Cedo”; antes de você fazer “Plantas Debaixo do Aquário”, tem que ter feito “Teorema”. Acho que é mais ou menos por aí. Acho também que o país mudou, e agora a gente pode dizer certas coisas de uma maneira diferente. 

Quando você tem uma porta fechada na sua frente você tem mesmo que dar muita porrada pra fazer com que ela ceda. Seria muita fácil a gente fazer um segundo disco com um som mais porrada, o terceiro provavelmente vai ser, porque material não falta, e a gravadora até queria uma coisa assim. Mas acontece que muitas bandas estão lançando discos fortes, tanto em termos de letras quanto em termos de sonoridade, o que acabaria diluindo um trabalho que já seria naturalmente diluído, por ser repetição de uma fórmula já utilizada pela banda no primeiro disco. Então achamos que seria mais bacana experimentar coisas como blues e outros tipos de músicas como “Acrilic On Canvas” ou “Andrea Doria”, que foi o Bonfá que fez. 

A gente está tentando se expressar de formas diferentes”. Segundo Renato, o aprimoramento técnico dos membros da banda também influenciou bastante a forma como o som foi trabalhado: - “Tá todo mundo tocando muito melhor. Eu não sei se isso fica claro, mas cada música tem sua própria textura. Claro que o disco está todo muito parecido, mas cada música tem sua própria textura instrumental. O fato da gente agora saber mexer no estúdio também influiu muito”. Renato Rocha, o Negrete, arremata: “Nesse disco a gente teve chance de fazer uma pré-produção. A gente teve um contato anterior com Mayrton (NR: Mayrton Bahia, produtor de disco), e já na mixagem, a gente sabia exatamente como tudo poderia ser encaminhado.

A gente teve acesso também a várias máquinas, como Lynn Druns pra fazer guia em algumas coisas, e diversos tipos de teclados. Tivemos um tempo maior para familiarizar com o estúdio, pra levar fitas pra casa e analisar... foi bem mais fácil que o primeiro”.

Como todos sabem, o Legião Urbana tem um repertório extenso o bastante para gravação de vários álbuns. Assim, deu-se preferência, ao selecionar-se as músicas para o disco ao material mais recente, fruto de jams no estúdio durante a pré-produção. Todas as músicas do álbum são provenientes desta fase do trabalho, à exceção de “Eduardo e Mônica”, “Tempo Perdido” e “Música Urbana”, do antigo repertório, que mesmo assim, sofreram um pequeno re-tratamento.”Central do Brasil” é também um tema antigo retrabalhado no estúdio.

“Quem é de Brasília tem muita raiva?” Este rótulo de revolta atribuído por muitos às bandas brasilienses, não agrada muito ao grupo. Renato explica o porquê, fazendo uma breve revisitinha aos “velhos tempos”: “Eu acho que o país mudou. Eu não preciso mais ter raiva, eu estou conseguindo trabalhar. Nós tínhamos raiva porque às vezes pintava show pra fazer no Circo Voador e a gente ficava sem saber se ia poder sair da cidade. Você não podia estudar porque iam te dar porrada, as coisas não rolavam. Todos achavam que a “Folha de São Paulo” falava tudo, que o “Jornal do Brasil” falava tudo, isso já na época da abertura, mas eles não falavam porra nenhuma, o que rolou em Brasília lá pelo final de 83 pouca gente sabe; quase houve um outro golpe de estado na época que estava naquele negócio de Maluf-Tancredo. A gente tinha raiva disso, de você não poder fazer as coisas, de não poder trabalhar. Agora pelo menos pode-se tentar...” 

Aproveito o papo sobre “mudança” para perguntar-lhes sobre a Nova Censura, que continua à toda. Renato responde que “esta é uma polêmica boba, que nem esse negócio de Rock x MPB. Acho que existem coisas bem mais importantes a serem discutidas, como educação e alimentação; hoje em dia, você pode muito bem falar as coisas sem ser censurado e todo mundo vai ouvir e vai entender. Digamos que eu seja um pai com um filho de quatro, cinco anos de idade, adepto de uma filosofia x que não admitisse ouvir palavras ou assistir cenas de sexo... Não em cinema, que é outro papo, acho que cinema tinha que liberar geral, mas r´dio e tv é outra coisa, está dentro de sua casa, você não tem controle (NR:  - Uai, pensei que fosse só desligar o botãozinho, sô...). Eu acho que a censura aí teria até uma certa explicação...”

O grande problema é exatamente QUEM decide o QUE é censurável ou não. Seria muito mais democrático e civilizado que as próprias pessoas tomassem a iniciativa de desligar os aparelhos ou mudar de canal ou de estação quando se sentissem constrangidas dentro de sua “filosofia” x, y ou z? Não deixa de ser contraditório este ponto de vista quando é o próprio Renato Russo que afirma na fita promocional, com depoimento da banda, que “acredita no direito que as pessoas tem de se expressar”. O que não é o bastante, caso o direito de se veicular livremente esta expressão não esteja devidamente assegurado.

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Revista Bizz – Nº 13 – agosto 1986

Legião Urbana de Volta a Arena
Por Tom Leão

Seu disco de estreia foi eleito, disparado, o melhor de 85 pelos críticos desta revista. Tom Leão encontra a banda e esmiúça o sucessor, entre papos sobre desenhos animados.

Não sou apreciador de futebol, mas, no momento em que teclo este texto, o Brasil está sendo eliminado da Copa pela França e, assim, o papo que estava marcado com toda a Legião Urbana na casa do guitarrista Dado Villa-Lobos (ele e Fernanda, sua esposa e empresária da banda, acolheram os prafrentex durante os jogos em seu apartamento na Gávea) está cancelado. Acabei tendo que conversar com a turma nos intervalos da gravação do clip da primeira faixa do álbum Legião Urbana Dois, “Tempo perdido”, nos estúdios RGB, em São Cristóvão, subúrbio carioca.

Quase dez da noite e são dados os últimos retoques na iluminação para o começo dos trabalhos. No camarim, entre mordidas na maçã, eles vão falando sobre o novo disco. A princípio havia a possibilidade de um álbum duplo que atenderia pelo pomposo nome de Mitologia e Intuição. Seria duplo porque incluiria músicas muito antigas e que,  agora, dificilmente sairão da gaveta. Entre elas está a épica “Faroeste Caboclo”, que dura mais de 10 minutos e só foi apresentada em poucos shows. Agora, nem pensar. Haveria também uma nova versão de “O Senhor da Guerra”, criada para um especial infantil da Rede Globo no ano passado, mas com um pique mais pesado. 

Outras que ficaram de fora foram “Tédio” e “Conexão Amazônica”. Dado explica que a gravadora considerou economicamente inviável o álbum duplo. Nenhum artista brasileiro de rock ainda apostou neste tipo de projeto. O material que compõe Legião Urbana Dois começou a ser criado em dezembro de 1985, durante a pré-produção das bases. Em janeiro foram feitas as primeiras gravações, o Carnaval forçou uma parada (pois coincidiu com as férias coletivas da gravadora) e em março o trabalho já estava praticamente concluído. Abril foi gasto com as mixagens. Ao contrário da estreia do Legião, este álbum chega às lojas e às rádios precedido de imensa expectativa. Quando foi lançado o primeiro disco, a gravadora achava bom atingir cinco mil cópias de vendagem. Renato Russo, o vocalista, apostou em 50 mil. No final já foi ultrapassada a marca das 80 mil unidades e falta bem pouco para se agarrar o Disco de Ouro.

Sobre as músicas que fariam parte de Mitologia e Intuição, Renato Russo quer arrematar que ficou chateado com a exclusão sumária de “Grande Inverno da Rússia” (assinada por um dos co-autores de “Ainda é Cedo”, Ico Ouro-Preto) e da então proposta faixa-título, uma vinheta composta pelo baterista Marcelo Bonfá. Eram muito boas, explica Renato, mas só tinham sentido naquele projeto.

Mas mesmo no novo disco também ficou de fora uma música que o Legião já vem apresentando em show há mais de dois anos. É “Juízo Final”, do carioca Nelson Cavaquinho, recentemente falecido: uma letra que bem poderia ter sido escrita pelo igualmente “ido” Ian Curtis (do extinto Joy Division) e que nos shows ganha uma roupagem bem New Order (a continuação do Joy). Esta faixa fecharia o lado B, mas sua inclusão comprometeria a qualidade do som do disco, pois exigiria um estreitamento dos sulcos. Em compensação, o cassete virá com uma faixa extra (hábito que começa a ficar comum aqui pelo Brasil): “Química”, tornada nacionalmente conhecida pelos Paralamas do Sucesso. Ela aparece, agora, numa versão ao vivo, feita para o programa Clip Clip.

A banda conta que trabalhar neste disco foi muito melhor que na primeira vez, embora a fissura da estreia tenha sido maior. Com todos os integrantes morando no Rio, não há mais a tensão de correr. Nem a saudade de voltar pra casa, que resultou na criação de “Por Enquanto”, a única música do primeiro álbum que o Legião não apresenta em shows (ela apenas aparece em fita, como uma espécie de “coda”, ao final de cada apresentação). Mas Renato avisa que, na próxima temporada, “Por Enquanto” será incluída no repertório, por outro swing. Trazido de Brasília, o Legião está vivendo como todos os cariocas.

Bonfá se dedica cada vez mais ao body-board e, graças ao esporte, adquiriu um invejável bronzeado. “É demais”, explica ele, “me dá uma energia maior pra enfrentar a bateria. Às vezes vou parar em Guaratiba (bem mais longe que a Prainha, ponto da Barra da Tijuca onde costuma ir assim que o sol aparece).” O esporte afastou Bonfá da vida noturna nos “baixos”. Contudo, ninguém desta banda é muito chegado à noite. Renato mora na distante Ilha do Governadore prefere ler, ouvir música e ver filmes. Dado leva uma vida bem caseira ao lado de Fernanda. Gosta mesmo é de apostar nos páreos do Jóquei Clube e descobrir restaurantes exóticos. O baixista Renato Rocha (Negrete) vê desenhos animadosna TV, gosta de cross e está pensando seriamente em comprar uma asa delta para começar a voar com sua namorada. 

Talvez aí se encontre a explicação do novo enfoque das músicas do Legião, conforme observa Renato Russo: “O segundo disco não está tão dirigido a coisas externas: Estado, política. Esse é superinterior, mais o lado emocional das pessoas. Se bem que tem coisas sociais, como “Metrópole”, e muita coisa sobre sexo, como o “Daniel na Cova dos Leões” (que já existia antes do começo das gravações). Mas não são músicas românticas no sentido banal da palavra, e sim sobre o prisma mais da amizade que da paixão. Tem “Eduardo e Mônica”, que trata do lado da vida do casal, mas em si não é uma coisa romântica.”

Há, também, “Música Urbana II”, uma canção acústica bem ao estilo dylanesco. É parente de “Música Urbana I” gravada pelo Capital Inicial e parte do repertório do Aborto Elétrico, o embrião do punk brasiliense. Não se pensou em fazer algo na linha de “Geração Coca-Cola II”, pois sabem que os verdadeiros fãs do Legião reconhecerão a banda neste disco. A mudança de som que se pode vir a contestar é fruto lógico da evolução da banda, mais afiada após inúmeros shows.

Antes do término de nossa conversa – e do reinício das gravações do clip – embrenhamos por uma divagação sobre desenhos animados. Só Dado ficou de fora. Os desenhos favoritos de Renato são “Jonny Quest” e “Os Impossíveis”. Para Negrete, os bons eram “Dick Tracy” e “Janjão, Coração de Leão”. Bonfá fica com “Corrida Maluca” e “Roger Ramjet”. Fecho com eles citando “Os Herculóides” e “Space Ghost”. De “Batman” – o filme – todos gostam.

Antes de partir para a frente da câmera, Renato faz questão de dizer que é fã de Sérgio Britto, dos Titãs, “pelo modo como ele interpreta as músicas”. Dado aproveita para eleger Redson, do Cólera, a figura mais carismática do rock. Renato concorda: “Acho o Redson supersincero”. Opinião apoiada por todos, que reclama de uma urgente volta do Legião aos palcos. Afinal, o último show – e um dos melhores – foi em abril, na Unicamp, junto com a apresentação da peça “Feliz Ano Velho”, escrita por um fanzão do grupo, Marcelo Rubens Paiva. Para todos foi emocionante e hitórico, pois reuniu mais de seis mil pessoas, provavelmente um público recorde para qualquer peça nacional.

Fim de papo. Naldo, o road-manager, arrasta a banda para fora do camarim. Renato está sem óculos, uma decisão ditada mais pela praticidade que pela vaidade (“eu pulo muito e suo bastante”). E se movimentar bastante é o que ele faz quando o clip volta a ser rodado. O cenário é composto apenas por uma tela de televisão, onde vão sendo projetadas imagens de alguns veteranos do rock em sua mais tenra juventude – Brian Wilson (dos Beach Boys), Jimi Hendrix (irreconhecível de militar), Bob Marley (de smoking), Bob Dylan (imberbe), Mick Jagger (penteado “reco”), John Lennon (em Hamburgo). A câmera movimenta-se em círculos, suave e sinuosa, como a própria música. Ecoa no cimento do estúdio o refrão da música: “Somos tão jovens”. E Renato sem aviso, dá uma de suas mais vibrante performances. Rodopia, dança, sacode o pesado pedestal do microfone e destrói, assim, todo o piso.

O diretor grita: “Parou, descanso para a banda”. Renato Russo está suando em profusão. E está sorrindo.

Leia texto de Dado Villa-Lobos sobre o disco Dois

Compre aqui o livro O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília



1 de julho de 2015

Aos Motoristas, Motociclistas e Ciclistas


É festa na geral! A ciclovia da Av. Paulista, em São Paulo, foi inaugurada! Todo mundo feliz! Ciclistas tendo orgasmos! U-hu!

Mas pergunto: onde está o pedestre nessa história toda?

Não gosto de ciclistas, de motoristas e motociclistas. Tenho meus motivos e vou dizê-los. Você que é ciclista, e montes de amigos meus são, antes de ter raiva de mim, me jurar de morte e me chamar de ignorante, leia o que tenho a dizer, e prometa que depois não irá se esconder na velha máxima “não se pode generalizar”.

A começar do princípio, que são dois: 1) não tenho carro, moto e nem bicicleta; 2) todo mundo no mundo é pedestre (incluindo motoristas, motoqueiros e ciclistas).

Tudo farinha do mesmo saco: Ciclistas, motociclistas e motoristas. Todos são egoístas, se sentem deus dentro de seu universo-veículo, não respeitam leis de trânsito, não respeitam leis naturais (respeito é uma delas), andam em cima da calçada, atravessam o farol vermelho, não respeitam pedestres, desafiam carros/ônibus/caminhões, andam na contramão, entre outras idiotices. Só pensam em si. Todos exigem, exigem, exigem, mas não dão nada em troca.

O ciclista ainda consegue se fazer de coitado, e também é omisso quanto as leis. "Ah, eu não sou moto e não sou carro, não poluo, então estou acima das leis e do bem e do mal". Porém não é bem assim. Ciclista não é santo e ser ciclista não faz de você um anjo.

Eu que sou pedestre sei bem do que falo. Perdi as contas dos sustos que tomei andando na calçada, com bicicletas vindo de trás, do nada, e passando rentes ao corpo. Perdi as contas de ver quantas bicicletas atravessam faróis vermelhos, e sequer respeitam o tempo dos pedestres.

Que tal, antes de exigirmos ciclovias, exigirmos calçadas em condições normais, padronizadas e preparadas para o transito de nós pedestres cidadãos, normais ou especiais. Uma calçada descente significa inclusão social. Com as calçadas de São Paulo, impossível até mesmo de um jovem cheio de saúde circular. São buracos, concretos rachados, degraus e pisos irregulares, postes, árvores, calhas irregulares, entradas de garagens irregulares, desnivelamento, raízes de árvores... Os problemas vão longe.

Daí não se vê cadeirantes nas ruas, não se vê deficientes visuais, não se vê gente da terceira idade que precisa sair de casa para caminhar um pouco, tomar um sol, a caminhada da mãe com o filho no carrinho fica limitada, dificulta a já comprometida ida de senhoras e seus carrinhos na feira. Daí vejo motoqueiros exigindo seus direitos, ciclistas fazendo festa com as ciclovias inauguradas, carros querendo mais espaço... e o pedestre foda-se. Complicado.

Há comunidades que pedem há mais de 15 anos, a construção de passarelas para atravessar avenidas ou rodovias movimentadas. MAIS DE 15 ANOS E NADA!!!! E enquanto nada é feito, moradores dessas comunidades vão se tornando estatística de morte. Isso porque o cidadão só quer atravessar a rua com segurança.

Diz pra mim: o egoísmo e a maldade não imperam nesse planeta que há tempos está um verdadeiro cocô?!?

Em 2014 a média de mortes de pedestres por dia foi de 43. De janeiro a junho de 2014 foram 8 mil pedestres mortos.

Olha esses dados que tirei do site Instituto Avante Brasil
“Das 5394 mortes no trânsito registradas em todo o Estado de São Paulo, em 2011, 39% eram referentes a pedestres, 32% eram motociclistas, 23% passageiros de veículos automobilísticos e 6% ciclistas (286 mortes).”

Das listas de categoria no transito, a que mais sofre com acidentes e mortes é a do pedestre.

Olha isso: entre 2006 e 2011 foram 242.167 mortes de pedestres (mesmo com a queda nos números anuais). Automóvel foram 147.740 mortes, moto 113.880 e ciclista 25.430.

Diante desses números pergunto: quem de fato merece atenção no espaço urbano?

Mesmo sendo de resposta óbvia, faço a pergunta: qual é o meio de locomoção mais antigo?

Sim, nós pedestres também erramos, há quem se distraia com o smartphone atravessando a rua ou desafia carros e motos em alta velocidade em avenidas ou rodovias tentando atravessar de forma displicente.

Nós pedestres somos os mais fracos, os mais lentos, os mais acuados e desrespeitados. É o forte covardemente batendo no mais fraco.

Que tal se parte desse espaço destinado às ciclovias e vias para automotores fosse transformado em calçadas padronizadas para pessoas especiais?

Que tal se fizermos manifestações pedindo calçadas padronizadas?! Dê uma olhada nas fotos que ilustram essa postagem...

E se ciclistas e motociclistas se mobilizassem para pedir espaço justo para o pedestre? Que tal o slogan “Por menos obstáculos e buracos!” (por obstáculos leia-se também motos e bicicletas estacionadas nas calçadas).

O pedestre precisa pensar e olhar por todos. Motoristas, motociclistas e ciclistas pensam em si.

Na inauguração da ciclovia da Av. Paulista uma conhecida ciclista disse “quanto sangue teve que ser derramado nessa avenida pra essa conquista, meu? Muita emoção!” Eu pergunto: E quanto sangue de pedestres continuará sendo derramado por falta de respeito?

Eu ando a pé todos os dias. Ando de ônibus, de trem, de metrô. Vejo desrespeito com o pedestre todos os dias. O pedestre é ignorado, é chutado e literalmente espremido por todos esses veículos privados.

A minha sugestão é: tirar uma faixa de automóvel de todas as vias em que há, no mínimo, faixa dupla para mesma mão. Vamos diminuir o espaço para os automotores. Outra sugestão óbvia é a liberação de estacionamentos verticais, seguida da proibição absoluta de se estacionar carros, motos e até mesmo bicicletas na rua.

Claro, todo esse espaço ganho será 100% destinado aos pedestres. Danem-se os carros, as motos e as bicicletas. Já que todos os egoístas agora têm seu espaço, chegou a vez do pedestre pensar em si hahaha.

 Tirem os carros das ruas e eduquem os motociclistas e ciclistas!!!

E motorista de caminhão, motorista de carro, motorista de jamanta, motorista de trator, motoqueiro, piloto de avião, pescador, ciclista, e qualquer um que possa ter qualquer outro tipo de veículo, não se esqueça jamais: somos todos pedestres.

OBS: Nessa última foto, o trânsito do dia a dia da Av. 23 de Maio. São 10 faixas ao todo. Ou seja, aproximadamente 40 metros de largura de espaço público destinados aos veículos automotores. Observe no pedaço de calçada ao lado esquerdo da foto: árvores plantadas no meio.