17 de maio de 2018

Festival Alternativo Serve Pra Quê?

Como desdobramento do texto anterior (link no fim palavra "bolha"), faço esse tema e pergunto: festival alternativo serve pra quê? Pra mim isso é uma grande bobagem, e interessa apenas a quem ganha com isso: quem organiza, quem aluga a aparelhagem de som e luz, o local do evento, quem faz o bar... É um negócio que até gira uma grana e gera empregos temporários diretos e indiretos. Ok.

Mas fazer um festival alternativo deveria também comtemplar as grandes estrelas que são os artistas. No entanto, o que sobra à eles? Um cachêzinho meia boca e em certos casos nem isso.

É nítido que róla uma panela dos organizadores desses festivais, cada um em sua região. Há interesses por trás, muita política, etc. Exatamente igual ao que acontece nas grandes gravadoras, nos rádios, TVs, festivais mainstream (como o RiR). No fim, os bastidores são podres iguais, cada um dentro do seu universo.

O que adianta um festival alternativo colocar 50 bandas pra tocar? O que ele quer com isso? Qual o objetivo? Não consigo entender. Se os organizadores quisessem de fato ajudar aos artistas, o modelo de negócio seria outro.

Nos anos 90, 3 festivais cumpriram seu papel. Juntatribo, Superdemo e Abril Pro Rock praticamente apresentaram o que viria a ser a nova cena daquele período: Skank, O Rappa, Planet Hemp, Pato Fu, Raimundos, Chico Sciense & Nação Zumbi, mundo livre s/a, Acabou La Tequila... e outras bandas poderiam ter se dado bem caso não cantassem em inglês.

É sempre bom lembrar que o contexto era outro. Até por isso sou contra esses festivais de hoje terem zilhares de bandas tocando. Hoje, em tempos onde há quantidade sem qualidade, seria bem melhor concentrar a atenção em poucos e bons artistas. Assim, acredito, seria bem mais fácil o festival cumprir ao menos parte de seu papel.

É só pensar: quantos festivais alternativos há no Brasil hoje? Grosso modo ao menos uns cinco, e isso já há anos! Pois bem, pensemos nos últimos 10 anos desses festivais. Quantos artistas passaram por esses palcos? E quantos deles chegaram ao grande público ou ao menos conseguiram certo destaque na cena alternativa a ponto de conseguir viver de sua música? Nos últimos 20 anos alguma cena surgiu ou se destacou com a ajuda desses festivais?

Dos pouquíssimos nomes que se destacaram nesses últimos anos, nenhum surgiu de festivais.

Agora, se a ideia é apenas montar palco e botar gente pra tocar lá e divertir todo mundo, então ok. Mas até onde sei esse tipo de festival é não só pra se divertir, mas pra dar espaço a novos nomes, ajudar na divulgação do trabalho e chamar a atenção da mídia. Porém, não vejo a grande mídia cobrindo esses festivais. E nem adianta falar pra mim que isso é culpa da própria mídia! Não. A iniciativa e interesse da cobertura deve partir principalmente da organização. Trabalhei anos na MTV e em outras produções que envolvem música, e sei que quando há esforço, há bons frutos. 

Pra quem organiza, é trabalhoso, eu sei. E pode ser divertido pra quem participa (e bem cansativo também), todos se encontram, trocam ideia, divulgam o material, vendem merchandising e tals, e pronto. Acabou. 

Ok. Os artistas saem com contatos novos, armam shows em outras cidades, mas fica nisso, dentro de uma bolha. Pra mim, a organização tem a obrigação de ligar para as rádios, tvs, jornais, sites. E não só isso, mas também entrar em contato com gravadoras e selos maiores pra falar sobre algumas bandas que podem se destacar. Usar seus contatos. Levar esses profissionais até lá. Criar um bom material de divulgação e enviar para as principais mídias. Há como fazer tudo isso.

A organização desses festivais alternativos tem que fazer algo menor, com menos nomes, pra se ter mais controle da qualidade, da organização e da logística. É preciso trabalhar melhor o pré e o pós. Com menos nomes e todos se ajudando é capaz até de surgir uma nova cena.

Aí sim é fazer a diferença! Aí sim é chutar a porta de saída do gueto!

Resumindo: festivais alternativos existem para ajudar a divulgar novos nomes e a criar uma cena. Mas eles, há tempos, não fazem isso. Então....

PS: Até o Rock in Rio 1985 fez seu papel nesse contexto que escrevo. Veja o que aconteceu com o rock brasileiro depois dele!

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