24 de dezembro de 2010

A Última Flor**

Este é o último post do Sete Doses em 2010. Entro em férias agora e volto a postar textos novos a partir da segunda semana de janeiro-11.
Torçamos para que o amor seja sentimento dominante em 2011!!!


Como todo mundo sabe a 12ª Guerra Mundial trouxe um novo colapso não só na civilização humana, mas em todos os seres vivos do planeta terra.

Mais uma vez o homem mostrou que sua capacidade de evolução é limitada. Mostrou que ainda é vaidoso e que isso não o deixa aprender com o erro. O ego e a vaidade imperam. Quanto mais gente, mais individuais ficamos. Afinal porque o homem insiste em usar a violência? Quem disse que ele é melhor que seu semelhante?

Casas, prédios, ruas, quarteirões, bairros, cidades, estados, países e continentes, tudo mais uma vez fora devastado pela ganância dos homens, que lutam por nada. Os senhores da guerra não pegam em armas. Soldados mal sabem por que lutam contra seu irmão.

Os empresários sem dinheiro com suas fábricas destruídas deixaram de produzir. O homem voltou a ser um selvagem. Não existia mais traços de sua arquitetura, obras de arte viraram pó, livros e documentos queimados. De máquinas a material de higiene, nada sobrou.

A vergonha foi tanta que o homem passou a se sentir inferior ao mais ínfimo dos animais. Cachorros, gatos e todos os bichos de estimação abandonaram seus donos pela falta de confiança, falta de ânimo, falta de tudo.

Tudo ficou em ruínas e o homem sem uma morada certa caminhava pela natureza morta, pois as árvores, a grama, as flores e plantas também sucumbiram à guerra do homem. Tudo era cinza, triste. O homem perdeu a vontade de cantar, de sorrir e festejar. As cores também haviam sumido. Não havia motivo para se alegrar.

Anos se passaram e os poucos seres humanos que restaram na terra continuaram prostrados, sem razão para ter fé e acreditar em um novo futuro. Muitas das conquistas do ser humano foram esquecidas, e mesmo os velhos generais já não lembravam das últimas decisões de guerra. Anos se passaram e as crianças de antes se tornaram jovens sem ânimo. O amor fora banido da terra.

A vergonha e o desânimo foram resultado do egoísmo do homem, que sempre luta por dinheiro, por poder, por colocação social, por bens materiais e se esquece de que a vida é mais que isso, muito mais. O homem esquece que o amor é mais importante que tudo. Pior, o homem não sabe mais o que é o amor.

Amor é doação, compreensão. Amor é saber dividir, olhar para o próximo. Amor é saber que não está só. Amor é saber ceder, dividir. Amor é ficar feliz em ver o próximo feliz. É saber perdoar e não perder a razão. Amor é não julgar e saber que estamos no mesmo barco. Afinal somos todos imperfeitos.

Os seres da terra não tinham mais nada, para eles só restava esperar o fim. Mas eis que uma jovem, em sua caminhada sem fim, encontrou uma flor – ela nunca tinha visto uma flor. Era a última flor que havia na terra, ainda estava viva, mas fraca. A jovem correu para avisar a todos sobre seu achado, mas ninguém lhe dava atenção, ninguém acreditava nela e tinha gente que nem se lembrava de como era uma flor. Finalmente um jovem parou para lhe ouvir e os dois foram ver o grande achado!

Animados com a flor de poucas pétalas, passaram a cuidar dela com muito carinho e a cada dia ela retomava sua força. O amarelo de suas pétalas que estava quase preto e manchado voltou a brilhar em seu tom natural. A força que a flor readquiriu fez com que uma abelha a procurasse, assim como colibris.

Não demorou muito e surgiram mais duas flores, depois mais quatro, e mais oito até o campo inteiro estar florido. As florestas voltaram a ter vida e a jovem que havia achado a última flor agora procurava cuidar de sua aparência. As crianças, os jovens, os adultos e os animais voltaram a sorrir em meio à natureza revivida. A beleza cuidada reacendeu o amor, e os jovens voltaram a namorar. Tiveram seus filhos que foram crescendo em um mundo melhor. Os animais voltaram alegres para seus donos que logo reaprenderam a construir um abrigo com as próprias mãos e usando pedra sobre pedra.

Ao construírem os abrigos, logo estavam fazendo casas, vilas, aldeias e até cidades. A música voltou a ser cantada e as pedras rabiscadas com pinturas positivas. Os poetas voltaram a escrever, os alfaiates voltaram a costurar, e todos voltaram a comer pão.

As cidades foram crescendo, viraram estado, depois viraram país. As famílias se separaram e foram morar em regiões diferentes. Territórios foram delimitados e os grandes líderes refizeram seus exércitos com soldados, sargentos, capitães, coronéis e generais.

Em um piscar de olhos os novos líderes com seus novos exércitos entraram em guerra. Destruição total. Tudo o que havia sido construído agora não existia mais.

A destruição foi tão completa que mais uma vez não sobrou nada sobre a terra. A não ser um homem, uma mulher e uma flor.


Que a paz, o amor e a compreensão reinem em 2011!!!
Saúde a você, seus familiares e amigos!

 


** Este texto é 100% inspirado no maravilhoso livro ‘A Última Flor: Uma parábola em imagens’, de James Thurber, com tradução de Carlos Eduardo Novaes, 1979, editora Expressão e Cultura. The Last Flower: A Parable In Picture. 1939 é o ano de lançamento original.

Livro que me fez, aos 9 anos, ver o mundo de outra forma.




23 de dezembro de 2010

17 de dezembro de 2010

Série Anos 1990 SP: 10 - Um Rolé Pela Noite

Aeroanta
A São Paulo dos anos 1990 já tinha um trânsito bastante chato, mas não se compara a hoje. Já falei em algum texto dessa série que ainda era possível você sair de casa e dar uma volta tranqüila pela cidade, pelos principais points.

Logo que cheguei na cidade, em 1987, lembro que a rua Henrique Schaumann era reduto de muitos bares, boates, restaurantes e lá frequentei muito um lugar chamado Rouge. Tocava Smiths, Cure, Stray Cats... a certa hora dava pra se divertir na pista. Havia um boteco quase em frente, na esquina a com Teodoro Sampaio, era o lugar onde tomava-se muito rabo de galo.

Nesse tempo, além do Rouge, ainda havia o Madame Satã, Rose Bom Bom, Any 44. E para shows ainda havia o Espaço Off, o Teatro Mambembe e o Latitude 3001. No meu primeiro fim de semana como morador de SP lembro que fui assistir a um show no Ácido Plástico, que ficava ao lado do Carandiru, e era uma antiga igreja que se tornou casa noturna.

Mas com a chegada do Aeroanta, também em 1987, precisamente em fevereiro, o circuito foi mudando...

Lá pelas 23h passava-se pelo Aeroanta e também rapidamente pelo Dama Xoc para ver qual show teria e, mesmo com o boteco ao lado, ali no Dama não era o lugar certo para se tomar uma cerva, a não ser que você fosse entrar pra ver alguma apresentação. Os botecos que ficavam ao lado e em frente ao Aeroanta já eram diferentes, porque lá dava para parar o carro, tomar uma, ver o movimento e também encontrar gente com mais facilidade. A rua em frente ao Aeroanta te possibilitava passar de carro devagar e até mesmo fazer uma rápida fila dupla para falar com alguém. Principalmente nos dias de mais movimento.

Rua onde ficava o New York e o Sampa
Entre 1991 e 1993 ocorreu uma expansão de bares e casas noturnas na Vila Madalena. Na virada da década, entre 1988-90, tinha o Sushiban que ficava na Rua Teodoro Sampaio e muita gente ia lá no início da noite. Nesse mesmo período tiveram os bares New York e Sampa que ficavam em uma minúscula rua de apenas um quarteirão no Jardins, paralela a Rua Estados Unidos.

Inclusive onde exatamente ficava o New York, hoje é o Hotel Fasano (o nome da pequena rua hoje é Rua Vitorio Fasano). Me disseram que Chico Buarque, quando criança, costumava jogar bola nessa rua.

Entre 1989 e 1993 eles reinaram ali. A rua ficava entupida de gente e carros mal conseguiam andar (via estreita de mão única). O ápice de lá foi quando a polícia fechou os dois lados da rua e deu baculejo em todo mundo. Um por um. Garotos e garotas. Nesse dia, por sorte, eu não estava.

Aliás, costumava ir lá no início, quando ninguém conhecia, o Sampa ainda nem existia e o New York era um bar vazio (uma casa antiga de andar térreo) e íamos em, no máximo, seis pessoas pra beber e fumar maconha. No NY dava pra fumar um baseado tranqüilo, mesmo sendo no miolo do Jardins, era só pegar uma mesa nos fundos da casa, no pequeno quintal onde havia uma árvore central e umas quatro mesas. A um quarteirão dali, mais atrás, na Estados Unidos,  tinha o Columbia, mas os frequentadores eram outros. Durante muito tempo o New York e Sampa eram bares frequentados por roqueiros que depois agregou skatistas e surfistas e, mais no final, até os playboys. O Columbia era pra quem gostava de música eletrônica (era início de uma nova cena, primeiras raves, ecstasy...). No começo do New York e Sampa, eles eram tranqüilos, depois o movimento aumentou, muita gente na rua, barulho, cheiro de xixi e maconha... tudo isso passou a incomodar os moradores.

Empanadas Bar durante o dia
Na Vila Madalena eu costumava ir ao Empanadas e em um boteco que ficava ao lado dele. Um na Rua Wizard e outro na Wizard esquina com Mourato Coelho. Poucos anos depois, principalmente na segunda metade da década, já era outra história, com a Vila lotada de gente na rua e pencas de bares surgindo a cada milésimo de segundo.

Também por volta de 1992 surgiu o The Jungle do meu amigo Cello, bar que ficava na Rua Virgílio de Carvalho Pinto, ao lado do cemitério. Lá era maravilhoso e eu era assíduo. Muitas noites começavam e terminavam no Jungle. Cello tocou guitarra na banda Las Ticas Tienen Fuego.

Quando não havia algum bom show ou uma boa festa no Aeroanta, ficava no Jungle noite adentro, mesmo que jogado no balcão, tipo Rê Bordosa. Este primeiro Jungle tinha um clima mais intimista, era em uma casa pequena, poucas mesas, ótimo balcão (onde eu jogava intermináveis partidas de gamão) e bons amigos. Lá chegou a ter alguns shows acústicos. Depois Cello abriu o Jungle em outro endereço, mais no miolo da Vila Madalena (não lembro a rua), que apesar de sempre lotado, já não tinha o mesmo clima do primeiro, e pouco frequentei esse segundo.

Também havia o Superbacana, bar que ficava na Rua Girassol esquina com uma dessas ruas pequenas que cortam um quarteirão no meio. Lá também havia uma mesa de bilhar, mas o barato era pegar a bebida e ficar na rua, em frente ao bar.

Der Temple
O Der Temple era outra casa noturna que eu freqüentava bastante, até por morar muito perto na época. Ele ficava na Rua Augusta já no centro, bem perto da Igreja da Consolação, no quarteirão em frente ao parque Augusta, bem próximo a Praça Roosevelt. Um pouco mais abaixo do quarteirão tinha um boteco com uma mesa vagabunda de bilhar e ficávamos ali bebendo e jogando até mais ou menos 1h da manhã e aí sim entrávamos no Der Temple. O palco era pequeno, mas os shows sempre muito bons. Além dos shows e do ambiente, a pista que ficava no fundo era muito boa. Tocava de Ramones e Stooges a Nirvana e Happy Mondays. Tive várias câimbras nessa pista. Kurt Cobain, quando veio tocar no Hollywood Rock, foi ao Der Temple.

O Cais foi outro lugar que teve três momentos. Era uma casa noturna que ficava na Praça Roosevelt. O lugar era grande, tinha três andares, e lembro que bem no final dos 1980 era uma casa Black, tocava muito funk e soul music. Depois mudou para uma coisa mais alternativa e, por fim, virou algo bem ao estilo gótico (se não me engano chamava-se Holish). Tudo era preto: chão, paredes e teto. A pista era ótima para quem gostava do gênero. Tinha um bom palco e ambientes diferentes. Também tinham algumas máquinas de fliperama. O Cais, assim como o Der Temple e o Aeroanta, era um lugar que também dava pra ir, se encostar no balcão do boteco ao lado e encontrar algumas pessoas antes de entrar. Mas a Roosevelt era bem diferente de hoje. Era abandonada, escura e não dava pra frequentá-la. No quarteirão havia apenas o Cais e dois botecos. Hoje, 2022, há vários bares e teatros, e os fins de semana na Roosevelt ficam cheios.

Nem sempre dava para entrar direto no primeiro lugar que se ia, só se fosse uma coisa certa já marcada. Caso contrário, era preciso pegar informações de como estava o ambiente, se tinha muita gente dentro, se estava bom, se valeria a pena pagar entrada + consumação, era arriscado gastar dinheiro, entrar e o lugar estar ruim.

Fachada do Espaço Retrô*
O Espaço Retrô, que ficava no Largo de Santa Cecília, era outro bom lugar para ir assistir show e aproveitar a pista. Não era um lugar que eu costumava ficar após os shows. Retrô, Der Temple e Cais ficavam próximos. O Retrô tinha um quê de Madame Satã, talvez por também ser em uma casa velha e ter um espaço descoberto dentro dela.

Garage era o único lugar que não tinha um boteco por perto. Então quando se ia lá já se sabia que era para entrar direto e, após os shows, a casa se esvaziava em quarenta minutos, no máximo.

Além de tudo isso, havia o movimento em frente ao Belas Artes, na Consolação, ao lado de onde havia o Bar Riviera (hoje reaberto, mas completamente mudado). Ali tinha, além do próprio Riviera, um bar lanchonete mil utilidades onde você podia tomar um café, comer um pão de queijo, ou tomar uma cerveja, ou comer um beirute. Ao lado dele tinha um boteco clássico e na sobreloja acima, um bilhar 24 horas, onde frequentei muito. Em final de noite, entre 4h e 6h, você encontrava muita gente por lá.

Os rolés noturnos eram nesse circuito, mas sem ter um horário certo para cada um. Isso dependia do evento, do que iria acontecer. Na dúvida dava-se uma primeira passada pelo Aeroanta e depois no New York. Escolhia se ia ao Der Temple para dançar ou ver algum show, ou se iria entrar na festa do Aeroanta com o show ‘X’, enfim, os rumos iam sendo tomados e, por diversas vezes, passava-se a noite indo de boteco em boteco. Entre bares e casas de show com botecos colados, as pessoas iam se vendo, se encontrando. Muitas vezes as pessoas que você encontrava no boteco do Aeroanta a meia noite, você encontrava novamente no boteco do Cais às 2h ou na pista do Der Temple às 3h. Na noite seguinte todos se reencontravam em um show como Okotô no Aeroanta ou Pin Ups no Der Temple.

* A foto da fachada do Retrô eu retirei do blog de meu camarada Rodrigo Carneiro http://euelaocoeoaffairredivivo.blogspot.com/

11 de dezembro de 2010

Pub Rock

Dr. Feelgood
Segundo a Associação de Pubs da Inglaterra, atualmente são 54 mil no Reino Unido, onde 15 milhões de pessoas bebem ao menos uma vez por semana, emprega diretamente 600 mil pessoas e gasta em torno de 70 mil libras por ano com sua manutenção. Se fossemos comparar com o Brasil seria o nosso boteco. O pub é o boteco inglês.

O pub rock é simples. Nasceu com esse propósito. A postura, a energia e o modo como se vestiam, tudo isso acabou por influenciar o punk rock. É uma cena inglesa que nasceu e fincou bandeira em Londres. Seus shows eram intensos e todos usavam roupas normais do dia-a-dia, mesmo amassadas e sujas.

Inclusive antes do punk rock dizer, em 1976, que estava cansado do rock progressivo, o pub rock não gostava desse rock rebuscado e longo já em 1972.

Kilburn & The High Roads
Essa cena exclusiva inglesa surgiu com a intenção de recuperar as verdadeiras raízes do rock, esquecidas pelo progressivo. E assim foi-se buscar principalmente o blues, a country music e o rock’n’roll dos anos 1950. Seu ápice foi entre 1972 e 1975. Ou seja, é uma cena inglesa com sonoridade muito próxima a americana, por conta de suas influências.

A denominação pub rock vem dos shows que só aconteciam em pubs, claro. Fazia parte esse clima mais intimista que os pubs proporcionavam aos shows que eram regados a cerveja e whisky. Isso também contribuiu para resgatar entre os jovens ingleses daquela época o orgulho da tradição dos pubs. O pub rock também levou mais movimento para o pubs do interior. Com o surgimento de mais bandas, um circuito entre eles foi criado. Grande parte das bandas e dos principais pubs ficava em Londres e nesse período do auge da cena, se fosse fazer uma lista só com as principais bandas, daria ao menos uns 10 nomes.

The 101ers
Em termos de sonoridade, não há no pub rock um padrão. Tudo girava em torno dos gêneros que já citei. Uma banda podia ser muito mais blues e outra muito mais country, mas eram unidas pelas raízes e pelo pub. Algumas das bandas soam rockabilly, bem ao estilo Jerry Lee Lewis e Chuck Berry; outras são puramente folk, outras chegavam a compor soft rock. Cada uma com sua particularidade. Ou as bandas tinham uma pegada mais blues e folk, como o que rolava em San Francisco e em outros centros hippies, ou era mais rock'n'roll como Dr. Feelgood, Ian Dury, Nick Lowe, Elvis Costello, Graham Parker e The 101'ers.

Chilli Willi & The Red Hot Peppers
Dave Edmunds, Eddie & The Hot Rods e The 101'ers (ex-banda de Joe Strummer do Clash) eram mais puxados para o rockabilly; o Chilli Willi & The Red Hot Peppers e Eggs Over Easy são mais country (Chilli Willi parece aquelas bandas do velho oeste americano que tocavam em Saloon); o Duke Deluxe e o Dr. Feelgood já são mais blues elétrico e nervoso. Tem os artistas solos como Elvis Costello, Ian Gomm, Ernie Graham (folk hippie), Graham Parker (Costello e Parker têm sonoridades bem próximas) e o já citado Dave Edmunds, todos eles mais influenciados pelo rock, incluindo aí os Sixties (Who, Kinks, Beatles, Stones, Small Faces). Há as bandas mais calmas e diferentes como Ace, Brinsley Schwarz (ex-banda de Nick Lowe), Help Yourself, Kursaal Flyers e Kilburn & The High Roads (ex-banda de Ian Dury). Essa última já tinha outras influências como o jazz, o ska/reggae, a disco, e foi uma das pioneiras desse circuito. Essas outras ditas calmas tinham mais violão e baladas folk blues, folk country e soft rock.

Foto promocional da Stiff Records
Todos os jovens ingleses que estavam começando a tocar em meados dos anos 1970 beberam na fonte do pub rock, pouco na sonoridade e muito na postura. Até mesmo o então novo ska da cena two tone nesse ponto fortemente influenciado pelo pub rock. Madness e The Specials são dois exemplos.
Ducks Deluxe

O maior nome entre elas era Dr. Feelgood, também minha preferida juntamente com Ian Dury. Em segundo lugar vem Nick Lowe. Também gosto de Graham Parker, Ace e Help Yourself, mas não chegam aos pés de Dr. Feelgood, Ian Dury e Nick Lowe. Inclusive o Dr. Feelgood com o guitarrista Wilko Johnson e o vocalista Lee Brilleaux (morreu de câncer em 07 de abril de 1994, dias após a morte de Kurt Cobain), foram figuras fundamentais para que a sonoridade do Dr. Feelgood se tornasse a marca registrada do pub rock. O som da guitarra de Wilko faz discípulos até hoje. Todos queriam Wilko, que também tocou com Ian Dury. E foi Lee Brilleaux que deu o capital inicial (400 libras) para a criação da importantíssima Stiff Records, primeira a registrar toda essa cena.

Eddie & The Hot Rods
Depois do auge, em 1975, muitas bandas se desfizeram. Ian Dury seguiu uma maravilhosa carreira solo misturando reggae, rock e disco; Joe Strummer formou o Clash e os artistas solos continuaram tocando e gravando, sendo o mais conhecido no Brasil Elvis Costello. Muitas dessas bandas deixaram registrados apenas um disco.

O único sucesso gerado pelo pub rock que chegou às paradas foi “How Long” do Ace, um soft rock de primeira. Mas apesar do grande sucesso entre os jovens do Reino Unido, o pub rock não deixou hits nas paradas, não fez grandes vendagens (dizem que juntando tudo não chega a 500 mil cópias vendidas), não escreveu sua história junto a um grande público, mas deixou sua marca para sempre.















6 de dezembro de 2010

Série Anos 1990 SP: 9 – 1994 O Ano da Mudança

Então a cena roqueira brasileira entrou nos anos 1990 com cara, jeito e postura de rock americano. Não havia outra maneira, pelo menos era o que se pensava em SP. Ou sua banda cantava em inglês ou estava fora da moda. Até tinha uma ou outra que se arriscava no português, mas era peixe fora d’água, vista com certo desdém.

Mas fora de SP, apesar de também ter as bandas americanas, não havia esse preconceito todo com a língua portuguesa. Esse preconceito era exclusivo de São Paulo. Em Brasília já havia uma cena com Raimundos, Little Quail e Maskavo Roots; em Belo Horizonte o Skank e Pato Fú; no Recife com Chico Science e Fred 04. Ao contrário do Juntatribo, o Abril Pro Rock e o Superdemo tinham mais bandas que cantavam em português.

Entre 1990 e 1993 as bandas americanas e as bandas covers dominaram o cenário, mas a partir daí a coisa começou a mudar. Acredito que muito por causa da chegada do Plano Real. A estabilidade na economia trouxe ânimo nas gravadoras para novas contratações. O rock voltou às boas vendas, e um exemplo disso é o próprio mercado com MTV; as rádios 89, 97 e Brasil 2000; as revistas Showbizz e Rock Brigade. A partir de 1994, com novo governo e a certeza de moeda estável, os festivais ganharam mais força (Hollywood Rock, Monsters of Rock, Free Jazz, BHRIF e outros).

Em 1993 já se falava em Skank, O Rappa, Planet Hemp, Pato Fú, Raimundos, Little Quail, Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s/a. Bandas compostas por uma rapaziada que já estava na ativa durante os anos 1980 e que desde sempre compuseram em português.

Além dessa parceria Banguela-Warner, houve também a criação, por parte da então Sony Music, do selo Chaos-Superdemo. E foi dessas duas iniciativas que surgiu uma nova cena do rock brasileiro cantado em português, e que teve a importante ajuda da MTV com todas as suas criações de incentivo.

Em 1994 o ano já abriu com a assinatura de parceria entre o selo Banguela e a gravadora Warner. O primeiro lançamento dessa parceria foi o Raimundos e aconteceu em abril, mesmo mês em que Chico Science & Nação Zumbi fez show de lançamento do ‘Da Lama ao Caos’ em São Paulo (gravado pela MTV). Em agosto veio o 'Gol de Quem?', segundo do Pato Fú. Dois meses depois, em outubro, foi a vez de ‘Calango’ do Skank e de ‘Samba Esquema Noise’ do mundo livre s/a, e em dezembro o primeiro do O Rappa. Ainda em 1994, no show de lançamento do Raimundos no Aeroanta (também gravado pela MTV), o Planet Hemp fez o show de abertura deixando todo mundo de queixo caído. Foram seis lançamentos que fizeram de 1994 um ano marcante.

Daí ao final de 1994 caiu de vez à postura americana que havia invadido a cena brasileira. O forrócore do Raimundos, o maracatu de peso do CSNZ, o dancehall abrasileirado do Skank e as esquisitices do Pato Fú e as músicas de protesto do O Rappa acabaram fazendo sucesso e incentivando outras bandas e outras contratações.

Muitas das bandas que cantavam em inglês, ou logo acabaram ou tentaram compor em português e depois acabaram. Fato é que nenhuma fez grande sucesso.

Em SP o circuito continuava o mesmo: Aeroanta, Der Temple, Dama Xoc, Garage e aos poucos surgiram outras como o Urbano no centro, Empório Cultural na Vila Madalena, o Brittania. Outras bandas também surgiram em São Paulo como Las Ticas Tienen Fuego e Los Sea Dux. O PUS e o Viper passaram a compor em português. Todo mundo continuava a se encontrar nos bares, botecos e shows da cidade, mas agora o clima tinha mudado. Todo mundo queria buscar uma chance nas gravadoras e, principalmente, na MTV. Todo mundo queria fazer clipe, porém era caro. Mas para muita banda a MTV passou a ser vista como porta de entrada para alguma gravadora. Essa mudança, pelo menos pra mim, só veio a confirmar o que um monte de gente que se dizia amante de música na verdade queria: apenas fama e massagear o ego. A música era mero detalhe.

Digo isso porque lá dentro da MTV era latente o desespero de algumas pessoas pelo sucesso, por querer aparecer. Chegava a ser triste ver as bandas americanas perdidas sem saber o que fazer no meio daquela nova cena brasileira e, pior, sem o menor jeito para compor em outra língua.

Dentro dessa cena underground paulistana 95% dos músicos iam de acordo com a onda. Faltava personalidade. Em 1993 tinha grunge que se dizia fã de Mudhoney, mas que em 1991 amava Bon Jovi. Esse mesmo cara, em 1997, passou a dizer que a música não seria nada se não fosse Jackson do Pandeiro, artista que menosprezava no auge do grunge. Eram pessoas que dançavam conforme a música.

Então o cara que tocava com sua banda grunge no Der Temple em 1993, cinco anos depois estava batalhando espaço com sua banda de frevocore ou de sambacore. E hoje provavelmente deve estar montando uma banda de happy rock. Não há problema em descobrir novos sons e mudar de gosto. O problema é depois ficar escondendo que gostava de Bon Jovi e de passar a gostar de Jackson do Pandeiro como se nunca tivesse falado mal de sua música. O problema é o desespero em fazer qualquer coisa para ter sucesso (???).

Lembro de assistir a edição do Superdemo em Brasília, em 1995, e em sua escalação tinha apenas uma banda de metal que cantava em inglês o resto todo cantava em português. Em São Paulo teve uma edição fracassada do festival que também só tinham bandas que cantavam em português: Acabou La Tequila, Cambio Negro e Rip Monsters (que já não cantava em inglês).

A cada ano que passava a MTV ganhava mais força e respeito. Em seus primeiros anos, por causa da crise e da desconfiança, ela chegou a produzir videoclipes para algumas bandas com a intenção de incentivar produções desse tipo. Acho que foi em 1994 que a MTV, também como incentivo ao mercado, inventou o Banda Sim, grupo de artistas novos que assumidamente tiveram uma força da emissora. Não lembro quais eram, mas Pato Fú, Planet Hemp, Maskavo Roots e O Rappa estavam entre elas. Isso foi legal, surtiu efeito. E pra chutar o balde de uma vez, em 1995 foi criado o Video Music Brasil.

Tudo isso deu tão certo que o mercado de videoclipes não só cresceu como também encareceu. Para as principais produtoras independentes (que trabalhavam basicamente com publicidade) o clipe se tornou uma vitrine, tendo tratamento de super produção. “Segue o Seco” de Marisa Monte é um bom exemplo.

Já a partir de 1995 ninguém mais lembrava dos negros anos de 1990 a 1993. Parecia outra década. O rock brasileiro ganhou uma nova força, e até virou mania buscar sonoridades brasileiras para misturar com rock (olha a falta de personalidade!). Pra completar essa mudança de cenário, lá fora o grunge morreu e o britpop começava a invadir o universo pop.

PS: Nota-se que esse complexo de banda americana que dominou a cena paulistana fez com que nessa retomada do rock brasileiro não houvesse nenhuma banda de São Paulo entre os novos nomes que surgiram nas gravadoras em 1993-95, apesar da MTV e das grandes gravadoras estarem de olho...









3 de dezembro de 2010

Brasileiro Rico, Fino e Europeu

(Uma homenagem a reprise da novela Vale Tudo, a mais atual de todas as novelas que valem a pena ver de novo)

Tem gente que enche o peito quando fala que já viajou pelo mundo: Praga, Madri, Paris, Amsterdã, Berlim, Barcelona, Londres, Tóquio, Nova York, Sidney. Tem aquelas pessoas que enchem ainda mais o peito quando dizem ter morado em uma dessas cidades, tendo a oportunidade de conhecer melhor os costumes de outros lugares.

Quem esteve lá fala da maravilha do primeiro mundo, da educação, da forma como os europeus pensam, como agem. Voltam para o Brasil tratando o país com desdém. Os comentários sobre tudo sempre vem acompanhados de “porque em Nova York....”, “porque em Londres...”, “porque na Europa....”.

Gostaria muito que o Brasil fosse um país de ruas mais limpas, de pessoas educadas, mas essa não é nossa realidade. Ainda vivemos em tempos arcaicos onde a corte real nega conhecimento ao povo para que ele não conteste suas decisões.

Aqui estou falando das pessoas privilegiadas, que conhecem bem outras culturas; que se não são ricas, ao menos moram em bons bairros, estudaram em colégios particulares, fizeram cursos complementares, tem carros de boa marca, passam um Natal cheio de presentes, enfim...

O incrível é que essas pessoas que se gabam de conhecer o primeiro mundo e seus costumes, são as primeiras a se mostrar sem educação. Na verdade sem educação não, são pessoas de mau caráter mesmo, porque educação elas tiveram, e de boa qualidade (pasmem!), pois passaram a vida estudando em escola e universidade particulares.

É só prestar a atenção para ver qual é o carro que para em cima da faixa de pedestre, ver quem fala ao telefone enquanto dirige, quem costuma levar vantagem na base do “você sabe com quem está falando?”, basta olhar o chão das calçadas dos bairros nobres cheios de coco de cachorro e/ou saquinhos com coco. Sim! O brasileiro rico, fino e europeu leva seu cachorro para passear e quando não pega seu coco, pega mas deixa o saquinho jogado na rua (!?!?!). Educação fina. Sempre imagino a casa dessas pessoas cheirando a bosta e com o couro do sofá melado.


Fino também é o motorista ver que há um monte de gente querendo atravessar uma esquina e sequer para o carro para deixá-las atravassar, mesmo tendo uma faixa de pedestres enorme. O brasileiro rico, fino e europeu faz de tudo para não pegar fila, até mesmo furá-la na cara dura vale. Fazer fila dupla de carros (em escolas particulares!), dirigir alcoolizado, pagar suborno para conseguir vantagens das mais diversas (quem tem dinheiro para pagar suborno, pobre trabalhador?). 

O brasileiro rico, fino e europeu tem essa educação exemplar. É só lembrarmos o que aconteceu com o filho da atriz Cissa Guimarães: se quem tivesse morrido não fosse filho de famoso, o pai do culpado teria pago a polícia numa boa e nada teria acontecido.

Brasileiro gosta de opinar sobre tudo, mesmo não tendo conhecimento de nada. Brasileiro não estuda, não lê, tem preguiça de conhecimento e ainda quer opinar sobre tudo! Até mesmo sobre os problemas mundiais.

O mundo está cagando e andando para o Brasil, o país não tem nada de bom a oferecer para o Planeta. Não ajuda em nada, pelo contrário, destrói a rica natureza e biodiversidade que tem.

Brasileiro é arrogante, principalmente o brasileiro rico, fino e europeu. Mora em um país subdesenvolvido, de 3º mundo (ainda com doenças que já foram erradicadas em vários países desde 17896 a.C.), e ainda assim gosta de pensar que está no 1º mundo. Reclama de tudo, mas na hora de fazer a sua parte, tira o cú da reta, porque a culpa é sempre dos outros.

O brasileiro rico, fino e europeu é o que há de mais egoísta na nossa sociedade. O brasileiro rico, fino e europeu é o que elogia os europeus e suas regras, mas que no dia-a-dia vive quebrando regras.