3 de abril de 2009

Série O Resgate da Memória: 6 - Planet Hemp



Dia 1º de abril ‘Usário’, primeiro disco do Planet Hemp foi lançado e agora em 2009 esse lançamento completou 14 anos. Legal que um ano e um dia antes foi lançado o 1º Raimundos. Dois clássicos absolutos dos 1990. Sem eles a história seria outra.

Lembro de dois ótimos shows do Planet Hemp: um no festival Juntatribo, que por razões óbvias não me lembro de detalhes e outro, arrebatador, aconteceu no Aeroanta, abrindo o show de lançamento do Raimundos.


Lembro de nós (eu e Raimundos) no camarim, em meio a neblina, na parte dos fundos, tentando descobrir sobre aqueles cariocas esquisitos sentados quietos no camarim. Até oferecemos para eles que timidamente recusaram (quem diria, não?). A gente lá conversando e imaginando o som da banda. E chegamos a conclusão de que poderia ser uma banda de metal (???). Sei que na hora do show todo mundo ficou de boca aberta. Um sonzão porrêta e diferente de tudo que havia em SP. Lembro que corri para a UM (Unidade Móvel) da MTV, que estava lá para gravar o Raimundos e pedi para que gravassem ao menos alguns minutos daquele show porque poderia valer a pena tê-lo nos arquivos.

Bem, eis aí minha pequena homenagem a esse disco tão importante. Trata-se de uma entrevista feita pela Folha de São Paulo bem na época do lançamento.


O grupo Planet Hemp lança seu primeiro disco e aquece a questão da descriminalização da maconha
20/03/95

Folha da São Paulo
Autor: ANTONINA LEMOS
Editoria: FOLHATEEN Página: 6-5


Se você ouvir o grito "Legalize Já" tocando no rádio não se espante. Essa é a música-chave do disco "Usuário", da banda de rap carioca Planet Hemp.Como já deu para perceber, eles são a favor da legalização da maconha. Mas o trabalho dos caras é mais que isso. Eles misturam letras cantadas em ritmo de rap com guitarras pesadas e batuques de samba.A Folha conversou com Marcelo D2 e Bnegão (vocalistas), Bacalhau (bateria), Rafael (guitarra) e Formiga (baixo) sobre rap, drogas e o disco, que vai ser lançado em abril pela Sony.

Folha — Por que vocês falam tanto em legalização da maconha?
Marcelo — Nós falamos da nossa realidade, do que a gente faz. Mas isso é uma opinião nossa. Não queremos ser cabeça de movimento nenhum de legalização. A gente quer que legalize, mas a gente não carrega bandeira nenhuma.

Folha — Mas qual é a opinião de vocês sobre o assunto?
Marcelo — No Rio de Janeiro morrem no mínimo seis pessoas por dia por causa do tráfico. Isso tem que acabar. O governo tem que tomar conta, vender por um preço barato e fazer campanha como faz com o cigarro. Álcool faz muito mais mal que maconha, só que a indústria do álcool dá muita grana. O que não é certo é um jovem que fuma maconha levar dura da polícia.

Folha — Vocês já tiveram contato com a indústria do tráfico no Rio?
Marcelo — Eu morei até os 14 anos no morro do Andaraí e quando era criança cheguei a fazer "pequenos trabalhos" para os traficantes. Só que mudei para o asfalto e saí dessa. Quase todos os meus camaradas da época morreram. O único que não morreu está preso.

Folha — Falando um pouco de som. O Planet é um grupo de rap?
Rafael — Não, é uma banda de rock.
Marcelo — Na verdade são duas bandas. Uma é de rock e outra é de rap. Só que a gente juntou e deu nisso.

Folha — O pessoal do rap aceitou bem essa mistura?
Marcelo — Não, eles achavam que a gente estava deturpando o movimento. Achavam um absurdo uma banda misturar rap com guitarra e bateria. Quem apoiou foi o pessoal do rock.

Folha — Deve ter sido difícil para a banda sobreviver após a morte do Skunk (vocalista da banda que morreu em junho do ano passado de Aids)...
Bnegão — A gente nem gosta de falar nisso. Ele era quase meu irmão. A banda quase acabou na época. A gente não conseguia pensar em nada.
Marcelo — Não dá para falar nisso sem ter vontade de chorar. Esse disco é em homenagem a ele. O Skunk era nosso amigo, era um cara cheio de vida. É bom deixar isso claro: ele morreu porque transou sem camisinha. Que sirva de lição. Gente, não transe sem camisinha!

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