27 de março de 2013

Em abril...


Como todo mês, em abril há fatos curiosos. Não sei se é coincidência, estratégia, ou sei lá o quê, mas o Pato Fú lançou quatro discos neste mês: Rotomusic de Liquidificapum (1º), Gol de Quem? (2º), Televisão de Cachorro (4º) e Ruído Rosa (6º).

Foi em abril de 1957 que Betinho e Seu Conjunto lançou “Enrolando o Rock”, primeiro rock brasileiro gravado com guitarra elétrica. Foi usada uma Fender Stratocaster. 

Dois Ronnies tiveram lançamentos marcantes: o Cord lançou compacto com o clássico “Rua Augusta” (“Brotinho Difícil” no lado B); o Von lançou Máquina Voadora, um clássico do rock psicodélico brasileiro. Não, Ronnie Von nunca tomou drogas. Fazia rock psicodélico 100% consciente.

Aconteceu em abril, em 1982, o lançamento da ultra mega plus golden coletânea Grito Suburbano. São essenciais em minha vida Grito Suburbano, SUB e O Começo do Fim do Mundo. GS foi a primeira coletânea punk brasileira. Feita na raça. Fábio alugou um estúdio e teve 12 horas para fazer tudo. Obviamente ficou ruim porque os técnicos de som não entenderam nada. Mas Grito Suburbano é lindo e é o primeiro registro de pérolas como “Subúrbio Geral”, “Pânico em SP” e “Eu Não Sei”. Pra continuar no underground de SP, Ultraje a Rigor celebrou seu contrato com a WEA após um show no Lira Paulistana, e no mesmo ano saiu o compacto com “Inútil” e “Mim Quer Tocar”.

Andreas Kisser entrou para o Sepultura e mudou-se de BH para SP.

A banda Metrô lançou, em abril de 1985, o primeiro disco e, em abril de 1988, fez o último show da carreira.

Vários discos clássicos comemoram lançamentos: o primeiro do Raimundos, Usuário (Planet Hemp), Ideologia (Cazuza) e É Ferro na Boneca, clássico primeiro disco do Os Novos Baianos. Tem também E Agora Pra Dançar?, segundo disco do Gueto, que considero um clássico e já escrevi aqui sobre ele. Maravilhoso! Exatamente um ano depois de Barão Vermelho lançar Declare Guerra, Cazuza descobriu ser portador do vírus HIV. Tem mais uma penca de outros lançamentos importantes, mas esses já dão um baita peso ao mês. Ah! Curiosidade do disco do Barão, entre as músicas gravadas há "Boomerang Blues", de Renato Russo.

Quase perto uma da outra, 11 anos separam a estreia ao vivo de Rita Lee solo e a estreia da Gang 90 & Absurdettes. O show de Rita Lee, patrocinado pela Rhodia, se chamava ‘Nhô-Look’. Dois meses depois do show da Gang 90, ela lançou o primeiro compacto e fez sucesso com “Perdidos na Selva”. Os dois shows aconteceram em SP.

Alguns aniversariantes: Roberto Carlos, Maurício Barros (Barão Vermelho) e Leoni (ex-Kid Abelha) no mesmo dia, Léo Jaime, Paulo Xisto (Sepultura), Chorão, Sérgio Sampaio, Alvin Lee, Supla, Cazuza, Netinho (Os Incríveis), Gustavo Mullen (Camisa de Vênus), Boka (RDP), Gerson Conrad (Secos e Molhados).

Tem a triste morte do cantor Antônio Marcos, pai da atriz Paloma Duarte, que morreu de cirrose hepática devido ao consumo de álcool. Ele fez sucesso na jovem guarda e lançou 13 discos.

Há casos de polícia que envolvem Roberto Carlos, Lobão e Paulo Ricardo. No auge da jovem guarda RC foi acusado de atirar contra cinco rapazes que tentaram lhe agredir. O juiz o absolveu depois de aceitar o pedido de legítima defesa. Nesse período volta e meia tanto Roberto Carlos, quanto Erasmo Carlos e outros grupos da jovem guarda se envolviam em confusões das mais diversas, por conta de rapazes ciumentos, polícia e juízes que odiavam rock, pais que não aceitavam cabelos compridos. O carro de Erasmo chegou a ser atingido por tiros em uma estrada quando voltava do interior para São Paulo capital. Brigas e discussões aconteciam toda hora. Houve até um período em SP que o rock foi proibido em festas, bailes, rádios e televisão.

Lobão e Paulo Ricardo foram julgados juntos por porte de drogas, mas em ocorrências diferentes. A coincidência é que os dois foram pegos no Aeroporto do Galeão, no RJ. Paulo Ricardo, que era o bonitão e galã, foi absolvido por “bons serviços culturais prestados à nação”; Lobão, que era feio e contestador, pegou um ano de prisão e cumpriu três meses. Todos ficaram se perguntando se Lobão, por acaso, também não prestava bons serviços culturais à nação?!? Ao meu ver, prestava até infinitamente melhor que Paulo Ricardo.

Em abril se completa 30 anos da 1ª edição do festival Abril Pro Rock. Infelizmente ele não é o mesmo. Foi responsável pela divulgação do mangue beat, e por ele passaram todas as importantes bandas dos anos 1990. O festival, naturalmente, cresceu e deixou de ser alternativo.

Foi em abril que a revista Veja pisou na bola feio, quando a matéria de capa teve a chamada “Cazuza – Uma vítima da aids agoniza em praça pública”. Gerou muita indignação e a resposta de Cazuza para a revista está aqui no Sete Doses de Cachaça (creio que ainda na lista dos mais lidos bem ao lado).

Pra fechar mais curiosidades: nos anos 1960 a editora Formar lançou um livro de Roberto Carlos chamado Roberto Carlos em Prosa e Verso. Foi o maior contrato editorial assinado até então no Brasil.

Outra coisa que praticamente ninguém sabe é que a banda Os Ronaldos, quando se separou de Lobão, tentou continuar a carreira e chegou a lançar um single com as músicas “Stay Cat Gomalina” e “I Love You”. Dois bons rocks. Mas não aconteceu nada. Não sei o que houve, só sei que nem chegou a tocar em rádio.

15 de março de 2013

Ingressos e Crachás: 5 – Shows e Shows



Ramones no Olympia que não gostei. Fui com Gastão. Entrevistamos a banda na MTV à tarde e tenho uma camiseta autografada por todos (Johnny, Joey, Marky e CJ). 10 de maio de 1994. Foi quando levei Joey ao banheiro hahaha.
Eu, como velho fã, depois que Dee Dee saiu, perdi um pouco a empolgação no Ramones. Não tenho Loco Live e não gosto do Mondo Bizarro (duas, talvez três músicas).
Tinha lançado Acid Eaters, que também não gostei nem um pouco.
Show sem empolgação. Claro que emocionante ver Ramones, mas sem muito tesão da banda. Vi 6 shows do Ramones (de 8 que fez em SP). Não era mais o Ramones. Não tinha mais o espírito da banda lá. Joey já doente esquecia todas as letras. Havia mais tesão no Palace e Dama Xoc. Jogo fora todos os discos lançados depois de Halfway to Sanity.


Fugazi em Piracicaba. Era 3ª feira. Como eu tinha casa lá, fui com Daniel Pompeu e Marcelinho. A ideia era ver o show e dormir lá. Todos trabalhavam na MTV. Terminado o Teleguiado acho que às 20h30 (era ao vivo), já entramos no carro e pegamos estrada. Paramos em um posto no caminho para colocar gasolina e comer algo. A distância entre São Paulo e Piracicaba é de 160 quilômetros, o que dá por volta de 1h30 de viagem. Chegamos e fomos direto para Blue Galeria. Infelizmente não chegamos a tempo de ver o show do Killing Chainsaw (isso doeu). Mas logo que chegamos o Fugazi entrou no palco. Devia ser 22h30. O lugar era pequeno e não cabia mais que 200 pessoas, palco pequeno e baixo. Não sou um profundo conhecedor de Fugazi, mas posso dizer que foi um grande show. Tinha gente lá que estava acompanhando a banda no Brasil e dizia que o show de Pira tinha sido o melhor. Tocaram vários clássicos e interagiram bastante com o pessoal. Show pequeno, mais intimista. Fugazi tocou músicas que não costumavam entrar no repertório dos shows. O show terminou 00h30 e resolvemos voltar para São Paulo direto em vez de dormir na minha casa. Chegamos pouco depois das duas e fui dormir 03h30.


Show do Luni. No início de 1990 tive a sorte de reencontrar uma amiga de infância, paixão platônica que consegui namorar. E foi com ela que assisti e esse show do Luni. Ganhei os ingressos e fomos. Luni fazia parte da cena underground paulistana da segunda metade dos 1980 e tinha conseguido um certo sucesso em 1988 quando teve sua música na abertura da novela Que Rei Sou Eu? Nessa época Marisa Orth era mais música do que atriz. O show foi muito legal e começou no hall de entrada para o Teatro com, se não me engano, flauta e violão. Começaram a tocar no hall, as portas se abriram e outros integrantes da banda ajudavam as pessoas a se sentar. Tinha alguém da banda já no palco. Aos poucos todos foram indo para o palco nas suas posições, colocando seus instrumentos e fizeram um belo show.


Show do Zé Ramalho. Teatro Tuca. 18-08-1996. Eu morava em frente ao Tuca e não podia perder a oportunidade de assistir Zé Ramalho. Apesar de roqueiro convicto também gosto muito de MPB (mas não de bossa nova). Assisti Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Rita Lee, Tim Maia, Marisa Monte, Lenine e outros velhos e novíssimos nomes do gênero.
Esse show de Zé Ramalho atrasou 30 minutos porque na hora prevista ainda tinha gente chegando no Tuca. Show lotado. Ele tocou o repertório clássico e suas baladas incríveis. Botou o teatro inteiro para dançar. Ninguém ficou sentado. Muitos fãs de Raul Seixas também gostam muito de ZR e tinha vários deles lá. Inclusive, pra mim, a imagem que fica é a de um maluco com camiseta do Raul que ficou quase todo o show em pé e com os braços erguidos para cima. Maluco beleza. Durante o show as pessoas ficaram em seus lugares, mesmo que dançando, mas no bis foi todo mundo para frente do palco e rolou muito frevo. Foi muito bom.


Show do Capital Inicial no Olympia. 01-09-2000 (6ª feira). Tive o privilégio de ser um dos primeiros a saber da volta de Dinho ao Capital, no final de 1997. Em 1998 lançou Atrás dos Olhos e nessa época a banda não tinha ideia de quando tocaria em SP. Queria primeiro fazer todo o interior que pudesse para só depois chegar as capitais. Em SP o primeiro show da banda depois da volta aconteceu no antigo Palace e foi um enorme sucesso. Estavam todos muito felizes no camarim. Tocar em SP era o termômetro e só confirmou o sucesso que já estava sendo no interior.
Esse show do Olympia foi da turnê do Acústico, mas com parte do show elétrico. Fui com amigos e ficamos em uma mesa no mezanino de frente para o palco. Lugar que dava visão total do palco, porém bastante apertado. O Olympia estava abarrotado e o público feminino era muito maior, pelo menos na área onde eu estava. A gritaria era tanta que eu mal aconseguia ouvir o show. Sério. Me senti na beatlemania em 1964 quando falavam que não dava para escutar o show do Beatles de tanta gritaria. No Olympia era igual, já que eu estava longe do palco.


Show do Lou Reed. Dia 10-09-1996. 3ª feira. Choveu em SP durante todos os dias 9, 10 e 11. Palace. Pra mim o Palace é disparado o melhor lugar para assistir shows. O primeiro que vi lá foi o do Ramones em 31 de janeiro de 1987. O show do Lou Reed eu nem ia, mas ganhei ingresso e fui. Não me recordo de detalhes, mas lembro que o show foi competente, puta banda, som ótimo, luz legal. Foi um show de grandes sucessos. Tiros certos onde o melhor fica para o bis. O show durou duas horas e meia. Começou 21h30 a acabou meia noite. Fiquei de frente para o palco em um lugar ótimo. Apesar de todos os ingressos terem sido vendidos, nessa noite não havia mesas, por isso sobrou espaço no lugar. Showzaço que quase perdi. “Sweet Jane”, “Vicious”, “Walk on the Wild Side”, “Satellite of Love”, “Dirty Boulevard” e outros grandes clássicos foram tocados.


Show do Kid Abelha, Camisa de Venus e Barão Vermelho. SESC Pompéia. 22-01-1997 (4ª feira). Esse quase mini festival de rock brasileiro foi muito legal. Mais uma vez saí correndo da MTV (o Teleguiado era ao vivo e terminava 20h ou 20h30) e fui para o SESC, que por sorte ficava (e ainda fica) ao lado da MTV e da minha casa. Era uma semana especial que em cada dia era um gênero de música. Nesse dia era rock. Camisa de Vênus tocou primeiro e, apesar de ter feito um show chato, pude ficar babando em Luis Carlini (guitarra) tocando junto com Franklin Paolillo (bateria). Foquei nos dois e esqueci da banda. Sensacional. Alias era bandaça com Calazans no teclado, e os originais Nova, Robério e Gustavo. Ficaram tocando rocks dos anos 1950 e isso encheu. Ao final do show Marcelo Nova falou “fizemos a nossa parte” (em tocar rock n roll). Senti como uma alfinetada no Kid Abelha. Porém o show do Kid foi arrebatador. O melhor da noite. Foi um show de sucessos, mas tocados com muita vontade. Já havia visto shows do Kid Abelha (desde 1984) e esse foi o mais rock n roll, com pegada mesmo. Baterista descendo a mão.
No show do Camisa o público ficou sentado no lugar, mas no Kid Abelha todo mundo colou no palco e continuou assim no show do Barão Vermelho, que também foi outro showzaço. Tanto o Kid quando o Barão gostaram de tocar em formação de ensaio, formando um círculo no palco e isso deixou os shows mais intimistas, com os músicos mais a vontade. Todo mundo saiu de lá com sorrisão na cara. Pena que o jornalismo da MTV não foi cobrir.


Peter Perfeito. Festival Cult 22 (SESC). Março 1995. Peter Perfeito era banda irmã. No início, em 1984, até tentei entrar na banda, mas Babú cortou minha onda na hora rsrs. Vi muito shows do Peter, incluindo o primeiro. Esse Peter Perfeito dos anos 1990 era diferente do Peter dos 1980. Era funk rock, uma mistura de  Cypress Hill, RHCP e Rage Against the Machine. Bom demais. Esse foi o único show que vi dessa formação do disco Funk Rock Nervoso. Foi quando conheci Marquinhos, que hoje toca no Raimundos. Toca muito!
De 1995 até 2000 fui muito para Brasília. Ainda em 1995 vi também o Festial Super Demo que também aconteceu no SESC da 913 Sul. Fui de busão com o Las Ticas Tienen Fuego, banda dos meus camaradas que foi escalada para o festival que também teve Acabou La Tequila, Os Cabeloduro e não lembro de mais nenhuma... Os Cabeloduro fechou o festival e o show arrebentou.
Teve outro igualmente no SESC (e dá-lhe SESC nos anos 1990) com Zamaster e Detrito Federal. Tinha outra banda mod, mas não lembro o nome e nem sei qual era o evento ou se era apenas um show. Aconteceu em 14-03-1998 e, na verdade, o Detrito Federal nessa época se chamava A Mãe do Milton. Nas duas últimas músicas do Detrito, Cascão chamou a galera para o palco e virou zona. Arrebentou corda da guitarra de Babú e sumiram dois microfones (devidamente descontados do cachê). Detrito tinha Babú guitarra, Débora bateria, Cascão vocal e Delegado baixo. Foi apenas uma participação especial com 4 músicas, mas foi muito intenso. Ótima balada.

9 de março de 2013

Chorão e Solidão (O Pior Grito)

Solidão é uma coisa muito difícil. É preciso muito equilíbrio para não ser vítima dessa interiorização que corrói a mente e o coração. Não nego, também sou vítima de solidão e não sou o único. Em alguns pontos sei muito bem o que Chorão estava passando. Cada um tem seu jeito de lidar com as dificuldades. Eu rezo e penso positivo o quanto posso. Nesses dois últimos anos escrevi diversos textos sobre estar só, mas nunca tive coragem de postá-los. É uma coisa muito pessoal. Tão pessoal que é difícil falar até para a família ou o(a) melhor amigo(a). A solidão te deixa fragilizado, consome suas forças.

Apesar de não ser fã do Charlie Brown Jr. e nem de Chorão, fiquei tocado com a morte dele. Foi um grito e um pedido desesperado de ajuda. Porém um grito sem som, um grito interno. O pior grito.

Conheci Chorão no início de carreira dele. Não era seu amigo, apenas nos víamos em alguns bastidores, e tínhamos muitos amigos em comum. Não me lembro de qual programa ele foi participar, mas sei que num dia normal, ao final do Teleguiado – que terminava as 20h30 de 2ª a 6ª, subi ao departamento de produção para pegar minhas coisas para ir embora, lugar completamente vazio (como sempre era naquela hora), com apenas Chorão sentado sozinho em uma cadeira do departamento aguardando a gravação. Estávamos perto e trocamos uma ideia. Logo percebi que era um cara de poucos amigos, mau humorado. Se envolveu com cocaína. Perdi muitos amigos para essa bosta. Lixão.

Hoje lendo uma reportagem com Rodolfo (ex-Raimundos) no G1, lembrei da última vez que esbarrei com Chorão. Foi exatamente no festival em BH ao qual Rodolfo se refere na reportagem. Eu estava lá junto com a minha grande amiga Carol Telles, pois estávamos fazendo o making of da gravação do 2º disco do Rodox. No meio da gravação rolou esse show e fomos lá. O clima estava ótimo e acho que o show seria fechado pelo Capital Inicial. Era em um ginásio. Não sei se no material bruto (essa captação nunca foi editada) há imagens de Chorão no camarim do Rodox, mas lembro de ter feito algumas poucas imagens do show do CBJr.

Não existe fórmula certa para enfrentar a solidão. Ela faz grandes estragos e o importante é não esconder de si mesmo essa situação. Assuma e enfrente com coragem.

Eu sozinho, enfrento com o peito aberto. Dói. Um fim como o de Chorão é triste, toca o coração, mesmo não sendo um cara que eu admirava. Eu, como espírita, torço para que ele se recupere logo.

PS: As fotos que ilustram o post são toscas, porque são minhas, feitas durante a passagem de som para o programa Musicaos (TV Cultura) com Charlie Brown Jr. e Raimundos em 28-11-2000.


5 de março de 2013

Jogando Lembranças Nas Linhas III (SP 1987-1989)


Em 1987, estava eu em SP, completamente perdido, sem saber o que tinha depois da próxima esquina. E foi na capital paulista que descobri Led Zeppelin, Os Mutantes, Arnaldo Baptista, Metallica, Black Sabbath, Paco de Lucía, Beatles, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Rita Lee & Tutti Frutti, Phil Collins e maconha. Da lata. Passei o réveillon de 1987-88 em Camburi, uma das praias do litoral norte de São Paulo que foram “atingidas” pelas latas. Comprava direto da própria. Nesse verão éramos seis pessoas dividindo uma casinha no meio do mato (Camburi era só mato) e a trilha sonora era praticamente Que País é Este? da Legião Urbana (todo mundo cantando “Faroeste Caboclo” de cabo a rabo), e Caetano Veloso 1987 (que fecha com “Fera Ferida”).

Foi em 1987 que assisti com minha irmã Mila, no Belas Artes, o filme Barfly, que conta uma pequena parte da vida de Charles Bukowski. Lembro que saímos do cinema, atravessamos a Consolação, tomamos algumas cervejas em frente ao Belas Artes, onde havia uma cafeteria e o Bar Riviera. De lá fomos pra casa, onde continuei bebendo e só fui parar quando estava muito mal. Bebi sozinho. Barfly te dá vontade de beber! Que porre!

Dessa época também lembro bem de ter ido ver, com uma galera, o filme Down By Law, com Tom Waits, John Lurie e Roberto Benigni.

Foi em SP que descobri Bukowski, e outra coisa que até hoje faz parte de minha vida: Calvin & Haroldo. Foi em um apê de amigas de Piracicaba que eu li Calvin pela primeira vez. Esse apê era uma espécie de QG dessa turma de Pira. Íamos em bando para Piracicaba passar os finais de semana.

Nesse período também tinha muita coisa boa em quadrinhos. Em 1987 saiu aqui no Brasil, de Frank Miller, Batman – O Cavaleiro das Trevas; e Alan Moore lançou Watchmen. Ave cruiiiizzz, era só coisa fina. Wolverine era para poucos. Gastava uma grana preta! Watchmen era mensal e quando saia eu lia em 10 minutos, e passava o resto do mês relendo até sair o próximo capítulo. Eram 8, ou seja, 8 meses para ter Watchmen completo. Angeli, Glauco e Laerte estavam no auge da criatividade. Geraldão, Piratas do Tietê, Bob Cuspe e Rê Bordosa eram o resumo dessa SP em reta final dos 1980.

Led Zeppelin e Beatles eram duas bandas que eu conhecia pouco porque eu só escutava punk rock. Nem lembro como passei a gostar delas, só sei que assim que gostei, logo comprei todos os discos das duas. Porém Beatles gostava mesmo de Rubber Soul pra frente. Amo Revolver. Era intenso. Escutava tudo ao mesmo tempo agora: Arnaldo Baptista, Rita Lee & Tutti Frutti, Beatles, Led Zeppelin, Metallica (Master of Puppets principalmente), Syd Barret e o Pink Floyd de sua época.

Não me lembro de tudo o que tinha em SP para fazer, mas quando cheguei em 1987 ainda ia ao Madame Satã e Rose Bom Bom (lembro de uma apresentação doida e muito boa do Bocato no Madame). Tinha o Teatro Mambembe, com seus memoráveis shows; o Espaço Off, que era um pequeno teatro onde também havia shows e pequenas peças (era uma arena minúscula que deveria caber 50 pessoas, talvez 60 pessoas); o Aeroanta era novidade absoluta e foi inaugurado em fevereiro; tinha o Anny 44 que ficava no Jardins; o Ritz, também no Jardins, que era bastante frequentado pelos descolados da época, principalmente aos domingos. Lembro-me de ter ido (e foi uma roubada para voltar) ao Ácido Plástico, uma casa noturna que era em uma antiga igreja e ficava ao lado do Carandiru. Foi uma de minhas primeiras saídas em SP. Nem conhecia a cidade e fui lá de metrô assistir a um show. Na hora de ir embora nem sabia que direção tomar.

Na Consolação com a Paulista ficava o Belas Artes e o Bar Riviera. Junto deles havia um boteco, uma cafeteria (grande), um bilhar na sobreloja. Era um local bastante movimentado, e fazia parte do circuito noturno. Você podia chegar ali às 20h ou as 4h que havia gente, cerveja e café. Um pouco mais adiante, na Av. Dr. Arnaldo ficava (e ainda ficam) o Toninho & Freitas e o Burdog, duas lanchonetes 24 horas com sanduíches maravilhosos. Parada obrigatória antes de ir para casa. Ah! e tinha o Cais, lá embaixo na Consolação, bem na Praça Roosevelt. Ele passou por fases: teve a de black music, a alternativa e, por fim, a gótica. Rolava música ao vivo e muitas bandas tocaram lá.

Não posso dizer com exatidão, mas até 1993 o Jardins ainda era o bairro da balada. Tudo girava em torno da Rua Augusta, onde ficam as Alamedas, as lojas chiques, os prédios ricos, em resumo, a parte nobre. À noite aquilo ali ficava um inferno, com trânsito, gente, bares, casas noturnas, restaurantes. A própria Augusta ficava parada, as duas vias, da Paulista até a Estados Unidos. Hoje é o contrário, a balada acontece no outro lado da Augusta (ela é cortada pela Av. Paulista), o lado centro, mais conhecido como Baixa Augusta. Ali era (e é) o lado podre, só com puteiros, botecos, inferninhos, barra pesada mesmo. Isso não quer dizer que pessoas de bem não morem lá.

Eu, junto com amigos de SP e Piracicaba, costumávamos ir para a Vila Madalena quando o Jardins estava abarrotado. Íamos para lá porque era (ERA!) tranquilo, poucos e bons bares, sem trânsito, e uma boa energia. Lugar de sobra para estacionar o carro. Na Vila tinha muito hippie e estudante universitário. Ia ao Empanadas e outros botecos ali por perto.

Aí, depois, foram surgindo outras casas e bares. Dama Xoc, Nation, Columbia, New York e Sampa. Tirando Dama Xoc, o resto todo no Jardins. O Columbia foi a primeira casa especializada em música eletrônica, essa mais underground na época, que tocava nas primeiras raves. Lá a casa abria só no meio da madrugada e ia até 12h de domingo. Era algo assim. Ecstasy era novidade.

Em dezembro de 1987 foi inaugurado o Projeto SP da Barra Funda onde aconteceu muito show internacional. Vivia lá, mesmo que não fosse entrar no show, acabava passando pelo Projeto para ver se encontrava alguém, ou para tomar uma cerveja no boteco ao lado. Lá vi tanto show que nem sei listar. O show de inauguração foi com uma banda formada por Andy Summers, Stewart Copeland e o baixista Stanley Clarke. Não fui. Estava em Piracicaba. O show foi um fracasso. Antes disso, ao longo do ano, rolaram shows marcantes: Ramones, Cure, Echo and The Bunnymen, Big Audio Dynamite e PIL. Sting também veio e fez um show absurdamente chato. Capital Inicial abriu. A marofa Da Lata estava por toda parte. Fui embora antes do show acabar.

Logo no início 1988, em janeiro, aconteceu a 1ª edição paga e internacional do saudoso festival Hollywood Rock. O ano seguiu forte com Aeroanta bombando, cada vez mais shows no Projeto SP, e a cena praticamente igual. Não lembro bem, mas havia a rádio 89 e a 97, as duas especializadas em rock. Elas eram importantíssimas para as grandes, médias e pequenas, principalmente a 89.

1989 foi um grande ano. Cheio de novidades. Ramones voltou para três ótimos shows no Dama Xoc; Metallica fez o histórico show no ginásio do Ibirapuera; chegou aos cinemas o Batman de Tim Burton, com Jack Nicholson e Michael Keaton, que fui assistir no Cine Gazeta. Quando a sala abriu foi aquela correria de gente para pegar o melhor lugar. Parecia dia de liquidação e portão de show que abre e todo mundo sai correndo. Foi uma grande expectativa.

Quatro grandes discos foram lançados em 1989 (para meu gosto): Desintegration (The Cure), New York (Lou Reed), Doolittle (Pixies) e The Stone Roses. Esses dois últimos tive a sorte de ouvir logo que saíram, pois minha irmã tinha acabado de voltar de Londres com eles na mão. De Pixies só conhecia algumas coisas do Surfer Rosa e Stone Roses era novidade absoluta. Lembro também de ir à loja de discos comprar o Desintegration. Estava voltando a escutar Cure, depois da ressaca por conta de todo o sucesso tardio que a banda fez no Brasil em 1986-87. Passada a euforia, quando ninguém mais falava da banda, ela vai e lança uma obra prima. É o 10º disco lançado no 10º ano de carreira profissional. O próprio Robert Smith disse que esse disco é um dos três que resumem a sonoridade do Cure.

A cena musical paulistana underground de 1987-1989: Gueto, Nau, Ness, Musak, Abraão e Os Lincolns, Fábrica Fagus, 365, Gang 90, Luni, Lagoa 66, Violeta de Outono, Skowa e A Máfia, Patife Band, Golpe de Estado, Nouvelle Cuisine, Akira S & As Garotas que Erraram, Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, Não Religião e tantas outras que não lembro. O Aeroanta era o palco principal dessa cena, inclusive nesse período não havia muitos lugares para tocar, digo, casas noturnas. Além do Aero tinha o Mambembe, o Off e o Projeto SP que também recebiam essas bandas.

Depois veio a década de 1990, a qual relatei em uma série que fiz aqui no blog...