11 de fevereiro de 2022

Ainda Sobre Artistas Brasileiros e a Esquerda

Como diz a sabedoria humana: nada melhor do que o tempo para ajustar as coisas.

Fico cada dia mais embasbacado com a falta de conhecimento de nossos artistas. Que eles são egocêntricos e pensam pequeno, isso já é fato, agora alimentar a própria ignorância, isso é algo que nem sei qual palavra usar pra descrever tamanha imbecilidade.

Quais artistas brasileiros já fizeram turnês ou shows em países comunistas? Qual artista é realmente socialista e divide tudo o que tem e o que recebe? Lulu Santos e Caetano Veloso doam o dinheiro que recebem de direitos autorais? Compram imóveis para acomodar a quem não tem onde morar?

O que Chico Buarque faz com sua fortuna em relação a toda população necessitada que mora nesses países comunistas?

China, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela... algum artista desses da patota vermelha já foi pra esses países fazer shows gratuitos em prol desses governos?

Se há tanto amor pelo comunismo, então por que não há discos como “Chico Buarque ao Vivo em Havana”, “Zélia Duncan ao Vivo em Pyongyang” e “Detonautas Roque Clube ao Vivo em Caracas”?

Tem outra: você acha que as músicas desses artistas tocam nas rádios estatais desses países comunistas ou são censuradas!? Então....

Muitos passaram a xingar o Governo atual e o próprio Presidente, mas que em uma busca relacionada a Lei Rouanet acha-se projetos criados para receber esse dinheiro da Lei. Ficou feio.

Outros tantos tentaram puxar coro para xingar o Presidente durante os shows e passaram vergonha. Foram vaiados. Pesquisaram os arquivos e viram que esses também têm projetos na Lei Rouanet.

Lembrei de Silvio Santos e o quadro “Tudo Por Dinheiro”.

Morria de ódio em ver grandes artistas sendo beneficiados com leis que eles não precisam usar. Fernanda Montenegro não precisa de patrocínio do Banco do Brasil ou Petrobrás.

Quem precisa desse incentivo é o grupo de teatro que gasta o próprio dinheiro e “se mata” para poder fazer contação de história em orfanatos, hospitais infantis, praças e parques. E mesmo esse grupo não precisa dos milhões que grandes artistas pedem em seus projetos fajutos. Pra esse grupo bastam R$10 mil por mês.

Mais do que vergonhoso ver artistas consagrados chorando por causa dos milhões perdidos, é irritante o egoísmo. Eles todos vão deixar de ganhar esse dinheiro fácil porque agora sim a Lei e os incentivos serão ajustados para ir pra quem realmente precisa.

No novo formato da lei, nomes gigantes como Ivete Sangalo não vão se interessar, mas artistas pequenos irão se esbaldar com o que terão de benefício.

Vai se tirar muito que poucos ganhavam para muitos ganharem o suficiente para se trabalhar com dignidade.

Daí ficou feio para todos esses artistas do mainstream vir à tona a mamata que recebiam. O próprio ator Zé de Abreu – que é de extrema esquerda (rsrs) – disse ao Faustão que muitos artistas viviam do dinheiro vindo da Lei Rouanet. É evidente, já que sabemos que no Brasil teatro, música e cinema não dão dinheiro, salvo raríssimas exceções.

Mesmo na música – uma arte que atinge com mais facilidade a massa – há uma penca de artistas que dependiam da Rouanet. Eu achava que esses artistas medianos e pequenos que tem apenas uma ou duas músicas de sucesso conseguiam ao menos fazer de 5 a 10 shows por mês. Engano meu. Muitos deles - além de artistas das artes cênicas - dependiam de pingadinhos que recebiam mensalmente, e também tinham facilidade de aprovação em "projetos" que valiam R$ 1 milhão ou mais.

Realmente não deve ser fácil deixar de ganhar dinheiro fácil, mas daí a xingar um governo que finalmente faz alguma coisa para o artista humilde e principiante, é vergonhoso. É muito ego envolvido.

Também fica evidente que de esquerda eles não tem nada. Inclusive já mostraram que nem conhecimento histórico e nem político ele têm. O que eles têm é apego aos políticos que lhes dão dinheiro fácil.

Sabia que muitos artistas mamavam no Ministério da Cultura, mas não imaginava que era uma renca enorme, uma patota fechada, a famosa “máfia do dendê” como diz Lobão. Uma máfia mesmo. Digo até mais: é um clube de elite. Clube fino, que só entravam pessoas escolhidas a dedo e ultra indicadas.

Uma vergonha tamanha que certos artistas nem escuto mais suas músicas e discos. Não dá.

Não só por serem artistas que levantam a bandeira do cruel comunismo, mas pelo mau caratismo em saber que recebe dinheiro de forma errada.

Já filosofei sobre isso, mas é bom lembrar que é muito esquisito ver artistas serem a favor de um sistema político, de uma ideologia que abomina arte autoral, que abomina arte independente. Como ser a favor de algo que vai contra o que você faz? Mais prova de burrice?

Tem outra que evidencia o mau caratismo e essa burrice: tem artista que passou a carreira inteira reclamando da corrupção e da falta de compromisso dos políticos. Hoje que temos um Governo comprometido, transparente, sem corrupção e que tem feito obras de infraestrutura que ninguém fez até hoje desde Sarney, eles reclamam. Chego a perder a paciência com tamanha hipocrisia e falta de conhecimento.

O Brasil finalmente está no rumo certo, apesar de tanto inimigos zumbis dependentes do estado e da corrupção, que tentam a qualquer custo interromper esse bom caminho.

Esses artistas são a favor de políticos e partidos que votaram contra o marco do saneamento básico e a favor do fundão eleitoral de mais de R$ 5 bilhões. Não preciso dizer mais nada, né!?

Então fica a pergunta na roda: dá pra escutar um artista mau caráter, burro e hipócrita, mesmo que as músicas e os discos sejam bons?

1 de fevereiro de 2022

Fevereiro e Eu

Fevereiro é um mês estranho para o mercado de rock e pop. Bom para o samba e axé por causa da porcaria do Carnaval. Nos velhos tempos das décadas de 1970 e 1980 esse era um mês estranho também pra quem morava em Brasília. Nós adolescentes e jovens costumávamos viajar para nossos Estados de origem em dezembro com o fim das aulas e só retornávamos para a capital perto do início das aulas do ano seguinte. Como o calendário era outro, tinha vez que as aulas só voltavam em março. Janeiro era deserto e fevereiro semideserto!

Há 4 fatos ocorridos em fevereiro que dizem respeito ao rock de Brasília.

Vou logo começar com o fato triste que foi a morte do Negrete. Ele era gente boa, tinha lá seus defeitos, mas no fundo era um cara bom. Lembro de um show da Legião, logo no começo da carreira profissional, que aconteceu no Guarujá, era o Hollywood Rock, mas na 1ª versão que era gratuita na praia com artistas brasileiros. Fui atrás do palco ver os amigos, tinha parte da equipe que era de Brasília, e o Negrete me colocou pra dentro. Era janeiro de 1986. Pena essa perda prematura. Muita gente procurou culpados na época sendo que o único culpado era o próprio Negrete. Tinha bom gosto e tocava muito!

Tem o nascimento de Ronaldo Pereira, ex-baterista do Finis Africae, que nos anos 90 montou o estúdio Groove, foi empresário do Planet Hemp, produtor musical e cultural. Foi de suma importância para a cena alternativa carioca dos 90. Hoje organiza a festa Soul Brasileiro entre outros eventos. Ronaldo é chapa. Não lembro a quantos shows do Finis eu fui, mas vejo o grupo ao vivo desde os tempos de Rodrigo no vocal. O último que vi foi em 1998, em Brasília, e tenho fotos inéditas. Festas da UNB, Radicaos, Rolla Pedra, Adega, Gilbertinho, shows, festas... Brasília não tinha nada pra fazer, mas a gente fazia muita coisa!

E por falar nisso tudo, foi em fevereiro que Plebe Rude lançou o 1º disco O Concreto Já Rachou. Não sei onde assisti ao show de lançamento, mas os dois primeiros aconteceram no Rio (Circo Voador) e São Paulo (SESC Pompeia). Mas lembro de uma festa que rolou em julho de 85 em Brasília no dia em que a Plebe havia retornado do Rio. Seabra chegou na festa com sorrisão no rosto e me contou que Plebe havia assinado com a EMI. Sei que foi em julho porque eu estava de férias.

Foi no início de fevereiro que Herbert Vianna sofreu o acidente que foi fatal para sua esposa e que o deixou na condição de cadeirante. Isso foi um soco na boca do estômago de todo mundo! Foi apreensão geral. Uns dois dias depois do ocorrido um amigo que estava lá e viu tudo me contou o que aconteceu. A recuperação de Herbert é algo incrível e, como já escrevi em texto de janeiro, tem uma força de amor entre familiares e amigos que foi importante em sua recuperação. Não me lembro onde eu estava, mas foi desses fatos que te tiram a energia e a concentração.

Quatro anos antes a mesma coisa aconteceu quando recebi a notícia da morte de Chico Science. Não o conhecia, conversei com ele durante trabalhos na MTV e alguns eventos, mas não éramos amigos. Essa morte sim foi um choque geral, bem próximo do que foi com Mamonas um ano antes, em 1996. Um cara cheio de planos, reconhecido por artistas de todos os gêneros, gente boa, transitava em qualquer ambiente numa tranquila. Disco recém lançado, agenda internacional, mil planos na carreira (inclusive uma novela para internet). Ele estava em casa, de férias, e pumba! Era iluminado e ainda bem que assisti a bons shows do CSNZ.

1983 foi um ano de muitos lançamentos pioneiros do rock brasileiro da geração 80 e a mídia logo sacou que essa seria a nova onda. A Globo aproveitou bem e recheou as trilhas sonoras de suas novelas com artistas do segmento rock e pop. Um dos primeiros nomes foram Gang 90 & Absurdettes e Ritchie. As novelas tinham uma força descomunal sobre os brasileiros e nesse ano teve uma que fez um enorme sucesso: Pão Pão Beijo Beijo. Na abertura tinha Rádio Táxi, mas quem arrebentou mesmo foi Ritchie com “Menina Veneno”. O compacto é de fevereiro e a novela de março. Ele vendeu 500 mil cópias em poucos meses e mais pro meio do ano, lançou o disco Voo de Coração (a novela foi até outubro). Em 1983 Ritchie vendeu mais que Roberto Carlos. Era “Menina Veneno” em todos os lugares, foi uma overdose... e logo depois de ter rolado uma dose forte de “Você Não Soube Me Amar”. Anos intensos!

Falei de SESC Pompeia – que tanto frequento desde que me mudei para SP em 1987 – e quando falam dele até hoje me vem à cabeça o programa Fábrica do Som, da TV Cultura. Praticamente toda geração daquela época tocou neo programa. Ao mesmo tempo em que eu assistia ao Fábrica eu lia as publicações da época como Som Três, Pipoca Moderna e Roll. Foi nele que conheci Itamar Assumpção e toda vanguarda paulista. Lembro que eu ficava parado nas apresentações dele. Isso acontecia com Arrigo Barnabé também.

Décadas depois, pesquisando nos arquivos da TV Cultura para o documentário que eu fiz sobre os 50 anos da emissora, pude rever um monte de apresentações do Fábrica do Som. Bom demais! Falo de Itamar porque foi em fevereiro que ele lançou a obra prima Beleléu Leléu Eu. “Luzia”, “Fico Louco”, “Nego Dito”, “Beijo na Boca”... só clássicos! Nos tempos de MTV tive a sorte de conhecê-lo e de ter a oportunidade de conversar em uma ocasião. Vi incontáveis shows, inclusive o histórico duo ‘Itamar e Arrigo’ que fez uma série de apresentações, acho que em 1990, e eu vi duas delas. Viva Itamar!

Me parece que o protagonista desse texto é o SESC Pompeia. Foi nele que aconteceu o lançamento da clássica coletânea Não São Paulo. Tem um amigo meu que jura que eu fui nesse show, mas não lembro. Eu estava de férias em SP, na praia, e ele jura que subimos a serra para assistir um dos três dias de show. A única coisa que eu lembro é de gravar a coletânea de um programa de rádio que a tocou inteira. Daí levei a fita pra Brasília e um monte de gente quis fazer cópia.

Não São Paulo é histórica e Calanca me contou um pouco sobre os bastidores para uma matéria que escrevi sobre os clássicos de 1986. Você pode ler o depoimento dele aqui. Fazem parte Akira S & As Garotas Que Erraram, Musak, Chance e Ness, mas apenas Musak gravou disco por uma multinacional (EMI) e fez um pequeno sucesso com “Onde Estou?”, que era a música de trabalho do disco. A escuto até hoje. Tem um grupo recente, dos anos 2000, chamado Terno Rei que sua sonoridade, às vezes, me lembra esses grupos alternativos de SP.

1986 foi um ano importantíssimo para o rock brasileiro, tanto quanto 1982. Muitos clássicos, muitos lançamentos, muitos acontecimentos e muitas histórias. Já falei do Concreto Já Rachou, Não São Paulo (os dois lançados no SESC Pompeia) e também tem O Futuro é Vortex, 1º disco do grupo gaúcho Os Replicantes. Quando saiu o disco eu comprei. Daí em uma sessão de gravação na casa de um amigo, o disco sumiu e só fiquei com a capa. Só foi agora em 2021 que me contaram quem o roubou de mim, pior que era tudo amigo! Hahaha

Esse foi um ano não só de grandes clássicos, era o auge comercial do rock brasileiro e com todos os artistas de agenda cheia, voando por todo país e o que não faltam são histórias de bastidores, de gravadoras e gravações, rádios e TV, viagens, shows. Também surgiram diversos festivais bancados por rádios e marcas de cigarro, cervejas e refrigerantes. E foi em um desses festivais que aconteceu um dos grandes babados da geração 80: foi quando Paula Toller e Leoni brigaram e, como consequência, o casal se desfez e ele saiu do Kid Abelha. Gerou meses de manchetes para as revistas e jornais.

Tudo começou com a canja que rolou no show do Léo Jaime que tocou no mesmo festival. Os dois gravaram “Fórmula do Amor” e, quando Léo foi tocar a música chamou Paula e George Israel, que estavam na lateral do palco. Leoni, que é parceiro de Léo na composição, não foi porque não estava no palco... devia estar fazendo xixi ou fumando um baseado, sei lá. Esse fato deixou Leoni chateado, apesar de ninguém ser culpado.

Daí, no camarim, Paula e Leoni que já estavam de saco cheio um do outro brigaram e a Paula jogou um pandeiro na cara do Leoni. Como o camarim estava cheio, festivo, com artistas, produtores, jornalistas, etc. então todo mundo viu. Certa vez tive a oportunidade de conversar com Léo Jaime sobre esse fato e ele me contou essa história.

Pra fechar o texto e a década de 80 um fato histórico: Desde 1986-87 a mídia especulava que Cazuza tivesse contraído o vírus HIV, muito por causa de suas viagens para os Estados Unidos e a mudança visual que condizia com os efeitos colaterais do AZT.

Vou dizer uma coisa pra você que não lembra ou não viveu essa época: Cazuza apanhou demais da imprensa. Por outro lado, a Globo usou e abusou da imagem de Cazuza, por ele ser artista Som Livre, e pela condição dele que dava muito ibope. Cazuza tomou muita porrada. Foi em fevereiro de 1989 que ele finalmente assumiu estar com HIV e aids. Foi libertador, e um tapa na cara da imprensa maldosa. A famosa e cruel capa da Veja com Cazuza aconteceu dois meses após esse anúncio.

Cazuza pagou pela sua coragem e pelo seu pioneirismo. Pode até, de certa forma, ter sido forçado, mas os diversos versos sobre a morte que estão nas composições do Ideologia só reforçavam os boatos. Ao mesmo tempo em que isso foi um alívio, também trouxe um peso. O vírus HIV era um tabu, ninguém o conhecia e, até aquele momento, a aids era conhecida como uma doença que vitimava apenas pessoas gays. Não havia (e ainda não há) um remédio, mas sim um coquetel. Ao contrário do que aconteceu com a COVID-19 que muita gente (e mídia) demonizou tratamento preventivo e precoce, o coquetel anti-HIV, mesmo que não comprovado, foi amplamente usado.

Verdade seja dita: Cazuza não tinha a mesma relevância que outros nomes do rock brasileiro. Ao sair do Barão ele e o grupo, praticamente voltaram a estaca zero. Barão Vermelho era um dos grandes e despencou em um momento importante dentro desse contexto dos anos 80. Foi como estar a 50 centímetros do topo da montanha e despencar 200 metros. O resultado foi que no auge do rock brasileiro daquela década, que aconteceu no biênio 1985-86, Barão e Cazuza estavam ainda se acertando, achando um novo caminho; e isso só foi acontecer, por coincidência, em 1988 com Ideologia e Carnaval.

Não gosto muito do Burguesia, mas quando ouço Exagerado, Só Se For a Dois, Ideologia e O Tempo Não Para sempre me pergunto se mais alguém escuta esses discos?

Mesmo mimado como era, Cazuza teve que aguentar muita maldade e preconceito de 1987 até sua morte. Foi um cara forte e corajoso! Fico imaginando o céu com Cazuza, Júlio Barroso, Renato Russo... Vishi!

Fevereiro curto, mas intenso!