14 de junho de 2015

Cazuza e o Lançamento de Exagerado

alguém resolveu que agora é hora de comemorar os 30 anos da música “Exagerado”, de Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni, só porque foi lançada em 1985. Não é bem assim. Vamos aos fatos...

Se já é ultra difícil ver o Brasil valorizar a própria cultura de uma forma geral e com tantos artistas estupendos, imagine então valorizar a cultura pop brasileira!?! Há uma comodidade e preguiça generalizada quanto a isso.

Por um lado é legal ver alguém se preocupar em se lembrar de acontecimentos que marcaram o rock brasileiro, mas por outro, isso poderia ser feito da maneira certa e, principalmente, de coração, e não por interesse comercial. Daí já se perde um tanto da graça na comemoração. (se é pra fazer, melhor fazer direito).

Cazuza não foi bem um super ídolo fora do Barão Vermelho. Sua carreira era irregular, os discos não tinham grandes vendagens. Sim, gravou grandes hits; sim, era fera na escrita e na interpretação, mas, infelizmente, a sua importância cresceu para o público só depois que assumiu ser portador do vírus HIV. A Globo se aproveitou do momento, pôs música na novela, fez show, etc. A Veja fez aquela coisa horrorosa, e o que acabou pautando esses veículos não foi o artista, mas sim o vírus que ele carregava. Uma pena, uma droga. (imagine se naquela época o mercado de fofoca fosse como hoje!!!).

Prova de que Cazuza foi pouco prestigiado, é o fato de seus discos terem diversos hits que vieram à tona apenas depois de lançado o ao vivo O Tempo Não Pára, no início de 1989, quando sua imagem já era amplamente explorada pela mídia sensacionalista. Um bom exemplo é “Codinome Beija Flor”, que estourou em 1989, mas que foi lançada em 1985, exatamente no Exagerado (que também tem “Mal Nenhum”).

Foi em fevereiro de 1989 que Cazuza assumiu publicamente estar infectado com o HIV, mas desde antes dele lançar o 3º disco Ideologia, ainda no 1º semestre de 1988, os boatos e especulações estavam fortes, consequência de um monte de coisas, como seu visual, o porte físico e algumas citações em letras, principalmente, no próprio Ideologia (“meu prazer agora é risco de vida”). Por conta do tratamento, a partir de 1987, seu cabelo mudou, Cazuza emagreceu, e isso começou a gerar buchicho.

Bem, mas vamos ao que interessa que é o lançamento de Exagerado...

Então falou-se em alguma reunião de executivos que em 2015 se completam 30 anos de Exagerado, primeiro sucesso solo de Cazuza. Mas ninguém foi atrás da data real, mesmo com tantos arquivos digitais a disposição?!?!?!!?!?! Haja preguiça!!!!

Agora em junho de 2015 soltaram essa campanha e comemoração da música, porém ainda em junho de 1985 Cazuza era vocalista do Barão Vermelho. Ele saiu da banda em julho, mais precisamente na segunda quinzena de julho. Então como pode se comemorar algo que ainda não aconteceu? Não quero parecer chato, mas por acaso você comemora seu aniversário seis meses antes dele acontecer?

E outra, essa comemoração é uma coisa isolada, não feita por vários veículos de comunicação. Alguns foram na onda e acabaram produzindo algo, mas é uma coisa isolada, infelizmente. Legal seria se fosse uma coisa coletiva, pra valer. E se vai comemorar a música, porque não comemorar logo o disco todo?

O certo é comemorar o lançamento de Exagerado em novembro. E se assim fosse feito, daria para aproveitar outros fatos também importantes da carreira de Cazuza como, por exemplo, a realização do primeiro show solo dele, em janeiro de 1986. Uma data perto da outra. 

Mais uma vez lembro que dá pena ver uma data dessas ser lembrada por motivo comercial. Que fique claro que não há problema em ter interesse comercial em um fato desses, mas esses acontecimentos importantes não devem ser lembrados SÓ por causa do interesse comercial.

Sou dono da única pesquisa que aborda as datas do rock brasileiro, e sei muito bem o quanto há de história, conteúdo e fatos incríveis a serem explorados...