31 de março de 2023

A Música Hoje: Esqueça o Vinil!

 

O mercado de vinil mudou nos anos 1990 com a popularização do Compact Disc, o CD. O disco compacto ajudou a facilitar a vida: equipamento menor, ocupa menos espaço, é mais portátil do que vinil, mais fácil de manusear, entre outras coisas. Mas vinil é vinil! CD tem um som que falta grave, se perdeu o visual porque a arte da capa e encarte não é a mesma coisa...

Há os prós e contras. Eu não ligo mais pra vinil. Passou. Não tem mais função.

Até a primeira metade dos 1990 vinil era tudo! Você marcava com os amigos e se juntava pra escutar discos novos, pra gravar, ia na casa de quem tinha o melhor equipamento, gravava coletâneas, calculava o tempo das músicas nos 30 minutos de cada lado da cassete.

Você ia viajar, então gravava fitas com os discos preferidos e coletâneas só pra escutar nas férias, já que era quase impossível viajar com vinil. Nos churrascos em cachoeira, na frente do bar ou na praia, os carros ficavam estacionados e as fitas rodando no rádio toca fitas. Nas festas se levava fitas para serem tocadas (meu pai se divertia gravando coletâneas de seis horas em fitas de rolo só pra dar festas).

Tinham as cabines de som nas lojas de disco pra você poder escutar rapidamente os que queria comprar. Havia o status que você ganhava de acordo com sua coleção e os importados, que eram raridade, forçava todo mundo ir à sua casa pra gravá-los. Pegava-se ônibus pra atravessar a cidade ou lotava-se um carro só pra ir em algum lugar escutar um disco novo (e com a fitinha no bolso caso desse pra gravá-lo).

Em relação aos músicos que tinham seu trabalho, o sonho de gravar um disco era algo distante e épico. Quando isso se tornava realidade, era como comprar uma casa ou ganhar na loteria. Hoje o músico grava seu trabalho no computador, dentro de casa e também mixa, masteriza e lança nas plataformas digitais e faz a divulgação sem sair da cadeira. Se quiser vinil, é só juntar uma grana e mandar fazer. Acabou o romantismo.

As pessoas continuam comprando vinil, mas agora é só pra sentar, colocar na vitrola e apenas escutar. Hoje escutar vinil é uma atitude passiva, antes era ativa.

É preciso olhar pra frente. Deixa o vinil pra lá! Hoje nas plataformas de música digital - no meu caso o Spotify – você pode fazer uma interação parecida com o que acontecia nesses bons e velhos tempos de vinil, que é a criação e troca de playlists. Essas playlists hoje representam o que eram as fitas cassetes de antigamente. Eu mesmo faço várias playlists e deixo tudo público. Também acho ótimas playlists de pessoas que nem conheço e incorporo na minha lista.

Me amarro em sentar e criar uma coletânea. Eu encano com um artista ou um gênero e fico um bom tempo escutando e escolhendo as músicas. Certas vezes faço isso em frente ao computador porque daí eu consulto a internet, Allmusic guide, Discogs, sites oficiais, you tube e tudo isso me serve como serviam os encartes só que, óbvio, com muito mais informações. Daí passo a entender mais o contexto das músicas e dos artistas que escolho.

Outra coisa que essas plataformas nos proporcionam é a possibilidade de escutar discografias inteiras. Isso é maravilhosamente incrível! Ouvir todos os discos do Stevie Wonder, Aretha Franklin, Rolling Stones, Led Zeppelin, Gilberto Gil, Os Paralamas do Sucesso, Marvin Gaye, Ramones... Passo dias escutando uma única discografia, inclusive de artistas que pouco ou nada conheço.

Às vezes me desafio em não escutar disco ou música repetida por dias e também por dias a não escutar artistas que já conheço. O Spotify me classifica como "explorador" ao fazer o balanço anual.

Faço lista do que quero escutar, seja disco ou artista. Muitas vezes já acordo sabendo o que vou escutar indo ao trabalho e gosto de começar o dia com uma belíssima música gospel de raiz - o soul gospel - e tenho bons nomes e discos em minha lista.

Tem vezes que dá vontade de escutar música de capoeira, música caipira raiz ou mesmo explorar antigos artistas brasileiros como Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Alvarenga e Ranchinho, Francisco Alves. Se uma música vem à cabeça, a escuto na hora. Vou de Kool & The Gang para Bauhaus em dois cliques numa boa.

Em consequência do meu podcast ‘A Semamna do Rock Brasileiro’, tenho feito playlists do mês só com artistas do rock desde os anos 1950. Muito material que era raro já se acha nessas plataformas.

Descobrir novos artistas, mesmo que sejam velhos, é muito bom! Eu que amo soul music ainda hoje ouço nomes que não conhecia até ontem, muito graças à ligação que o próprio aplicativo faz entre os artistas que são similares do tipo “se você gosta disso, então escute isso”.

Esse lance de plataformas digitais de música é bem legal e divertido, muito mais divertido do que escutar vinil em pleno século 21. O vinil já foi legal, assim como o cinema mudo um dia foi legal...

Link: Adorava Gravar Discos