24 de março de 2020

Grunge

Esses dias estava dando uma olhada nas postagens do blog e percebi que nunca havia escrito sobre Grunge. Nunca gostei desse termo. Nunca entendi essa cena!

Eu estava na MTV durante o auge do grunge, e até relatei aqui o dia da morte de Kurt Cobain. E falar nele, me lembro de um programa especial do Nirvana que fiz em que Krist Novoselic dizia que o papo de grunge era coisa de jornalista, que em Seattle não havia nada disso; que a relação entre os grupos era ‘cada um por si’. Havia sim amizade entre um ou outro grupo, mas não havia uma grande união, não havia uma cena.

Quem construiu isso foram os jornalistas, com pautas tontas do tipo ‘como se vestir como um grunge’. Era algo vergonhoso, mas que a geração daquela época comprou. Um horror!

Era tudo muito forçado. Pra começar nem todos os grupos eram de Seattle, apesar de ter vários deles. O Nirvana mesmo era de Washington. Nem havia uma unidade sonora entre todos eles. Cada grupo atirava pra um lado e como desculpa, jornalista pontuou isso como característica, coisa que sempre me fez rir...

Eu saia pra rua – como relatei na série Anos 90 – e via aquele monte de gente vestida com blusas de flanelas, cabelos cumpridos, casaco jeans desgastado... aquele clichezão, manja!? Nós aqui em um país tropical, mas com roupa de Seattle, um lugar úmido que chove o tempo todo!

Há dois fatos positivos relacionados ao grunge: 1) conseguiu fazer com que os jovens passassem a assumir que gostavam tanto de punk, quanto de heavy, quanto new wave, quanto progressivo, quanto alternativo, rockabilly... foi quando acabou de vez a briga boba que havia entre essas tribos. A partir dali tudo bem gostar de King Crimson, Ramones e Duran Duran. 2) Foi graças ao grunge que o então já ultrapassado metal farofa foi pro saco de vez. O metal laquê já estava indo pro ralo, quando o jornalismo criou o grunge. E venhamos e convenhamos: apesar dos pesares, antes grunge do que metal laquê!

Havia também a Madchester, e que também já estava sem força por volta de 1992/93.

Não gosto de 98% dos grupos ditos grunge. Gosto de Nirvana, Melvins, Mudhoney e do projeto Monkeywrench. O resto não acrescenta nada pra história, é cópia da cópia. O Nirvana mesmo tinha suas influências bem explícitas, mas isso era algo proposital, e era disparado o grupo de maior personalidade dessa pseudo cena.

Tinham grupos da mesma época do grunge, que tocavam nos mesmos festivais, nos mesmos programas de TV e rádio, saiam nas mesmas revistas, mas não eram tidos como grunge. Posso citar o Dinosaur Jr. como exemplo. Achava isso estranho, apesar de estar dentro da MTV.

Então o grunge foi uma coisa muito mal inventada. Teve Seattle como “sede”, a Sub Pop como a gravadora símbolo, mas nada disso justificaria uma cena. Cena foi o que aconteceu com a turma de Nova Iorque, Londres, o punk de SP, a Turma da Colina, Manchester na virada dos 70-80 e na virada dos 80-90. Aí sim nesses lugares surgiram cenas verdadeiras com os grupos pensando juntos, faziam shows juntos, selos juntos, festas, baladas; dividiam equipamento, acessórios, roupas, as mesmas influencias... Era uma turma só.

Na MTV o grunge era prato cheio. Clipes e notícias dos grupos estavam sempre em pauta. E, além de Nirvana, os grupos queridinhos da emissora musical eram Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Soundgarden, Temple of The Dog, L7 e Alice in Chains.

Pra mim, todos esses grupos são bem ruins! Um pior que o outro, mas estavam no lugar certo e na hora certa, então... A coisa toda era tão fraca que tudo girava em torno do Nirvana, porque tudo que o grupo fazia virava parâmetro. Digo “fraca” porque pra uma cena depender de um só nome, é porque ela de fato não existe.

E isso ficou muito bem comprovado com a morte de Kurt Cobain, que sempre sentiu (no mal sentido) o peso de carregar essa cena nos ombros, mesmo não querendo. Com ele morreu o grunge e sobreviveu quem realmente tinha algo que ia além de toda a mentira grunge. Esse foi o caso do Pearl Jam (gosto do ‘Binatural’). Outros tantos grupos conforme foram perdendo a força (que era falsa), acabaram.

Aqui no Brasil ficou muito claro o que aconteceu: os grupos que estavam cagando e andando para o grunge e fazendo sua história, se deram bem. Falo de Planet Hemp, Skank, Raimundos, Pato Fu, O Rappa, Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s/a. Grupos que estavam fazendo o seu lance independente de moda, cantando em português, concentrados em suas influencias raiz e não em modismos, se deram bem. Isso eu vi de perto.

Os grupos que não só cantavam em inglês, mas que tinham vergonha e se recusavam veementemente a cantar em português, insistindo em fazer um som grunge 100% americanizado, também foram se perdendo. Muitos deles até mudaram o nome e fizeram repertório em português, mas aí já era algo bastante ridículo. Dava pena ver esse desespero de fama a qualquer custo.

O que eu falo aqui não é viagem da minha cabeça. É só você colocar todos esses ditos grupos grunges na sua frente e perceber que nada tinha a ver com nada. Inclusive nessa cena tinha o lance de um não ir com a cara do outro.

Pelas fotos, principalmente oficiais, você vê que esses 98% de grupos ruins herdaram do ‘metal laquê’ a pose, e as longas madeixas. Os grunges, inclusive os brasileiros, adoravam cabelos longos e bem tratados!

Desculpe, não resisti! Inclusive muitos dos meus amigos que eram cabeludos naquela época, hoje são carecas. E eu continuo com o meu cabelo... sempre na máquina nº 2, mas com cabelo!

Bem, e hoje com o distanciamento do tempo, dá pra se ver mais claramente que tudo aquilo era uma farsa. Vê-se esse reflexo até mesmo quando se pergunta para grupos novos sobre suas influencias, são poucos os que passam pelo grunge.

No Brasil a mesma coisa, até porque os grupos que estouraram nos anos 90 e que citei acima, já estavam tocando há anos quando aconteceu o auge do grunge entre 1992-94. As influencias deles todos eram outras.

Você não vê nenhum grupo com influencia nítida do grunge. Não vê qualquer artista que possa dizer “se não fosse o grunge ele não existiria”, exatamente pelo fato do grunge não ter algo que marque seu som. Você pode falar do cabelo, da roupa, da década, mas não da música.

Eu entendo o grunge apenas como uma referência para o rock que estava no auge entre 1992-94. Mais nada.

Depois vou falar do pré-grunge.