27 de dezembro de 2020

O Lado Esnobe na MTV

Os egos na MTV sempre foram aflorados. Apesar de ninguém lá ser genial, não faltava gente que se considerava a última bolacha do pacote. Eu observava essas coisas e ficava com pena da pessoa. Sabe esse lance da pessoa que se acha “a descolada”, mas não mostra ao que veio? Pois então...

A coisa toda só piorou quando, em 1994, a geração dessa década começou a se destacar e a lançar discos - tem gente que acha que ser amigo de artista lhe dá algum poder especial.

Daí um pessoal que trabalhava lá começou a ser amigo de artistas e, se o ego já era algo chato de aguentar antes disso, imagine depois!!! Mas essa coisa de se achar especial só porque conhece artista, não era e nunca foi algo apenas do universo musical, de TV e rádio, etc.

Na vida normal acontece a mesma coisa. Lembro em Brasília, depois que Plebe, Legião e Capital estouraram, muita gente que nunca teve nada a ver com a Turma da Colina se aproximou e eram justamente essas pessoas interesseiras que, uma vez próximas dos músicos, pronto, empinavam o nariz.

Eu que conhecia aquele povo todo desde moleque observava aquilo e essas pessoas mal sabiam que, na verdade, eram motivo de piada. Sabe quando a falsidade fica escrita na testa?

Enfim, iniciei esse texto com essa introdução para poder contextualizar o ambiente o qual quero dizer aqui.

Então quando entrei na MTV levei comigo, óbvio, toda minha história pessoal. Costumo brincar dizendo que tenho dois carimbos de caipira (com muito orgulho!): nasci em Piracicaba, interior de São Paulo; e cresci em Brasília, interior de Goiás.

Entrei na MTV já conhecendo os bastidores da música, desde pequeno convivendo no ambiente de ensaios, shows, gravação de demos, composições, etc. Os grupos de Brasília, desde 1983, já apareciam nas principais publicações da época como a Som Três, a Roll e a Bizz. Sempre que possível eles também participavam de programas de TV, o que era mais difícil já que eram de BsB. Mas, por exemplo, Capital Inicial participou do Fábrica do Som ainda em 1983, quando foi pra SP fazer show.

Depois surgiram outros programas jovens, principalmente na Globo e na Manchete, e o pessoal sempre participava deles: Clip Clip, Perdidos na Noite, os musicais do Fantástico (Paralamas desde 1983), e tantos outros programas da TV Manchete.

Quando cheguei à MTV meus amigos já estavam no 4º, 5º discos lançados na carreira. Quando cheguei lá já tinha minha história como músico e nem almejava mais a carreira na música. Minha história com o Rock de Brasília já existia assim como fato de eu ser o motivo da existência do Raimundos, mesmo que naquela época o Raimundos ainda não era conhecido.

Além de minha história com Brasília, eu também tinha uma história SP, porque frequentava estúdios, também tinha amigos músicos, ia em passagens de som, entrava em shows de graça, ia em festas de gravadoras, assistia a ensaios e gravações de disco...Na segunda metade dos 80 houve uma cena underground / alternativa / independente forte em SP que tocava no Aeroanta, Teatro Mambembe, Espaço Off, Broadway, Sesc, Projeto SP e outros lugares mais antigos que ainda existiam como Madame Satã e Rose Bom Bom.

Vi Raul Seixas na cadeira de rodas chegando ao estúdio Vice-Versa pra acabar de colocar as vozes no disco A Panela do Diabo; certa vez sai do Aeroanta aos papos com Caetano Veloso; frequentava camarins, rádios e TVs, e todos os estúdios profissionais; vi Titãs brigando aos berros durante ensaio para gravação do disco Jesus Não Tem Dentes...

Nunca usei essas coisas pra me gabar ou me achar especial, até porque seria ridículo. 

Então eu via aquelas pessoas na MTV se achando As Bacanas Descoladas e internamente dava risada. Achava tudo aquilo ridículo. Como eu não fazia parte de panelinha alguma, então cagava e andava para a pose que essas pessoas faziam.

Estava feliz da vida em poder trabalhar com duas coisas que eu amava: música e televisão, então minhas urgências eram outras, e não ficar fazendo pose.

Não quero aqui parecer arrogante com essas colocações, pelamordedeus, longe disso. Não sou especial e nunca me senti como tal, mas quero apenas dizer da certa “experiência” que eu já tinha com os bastidores do universo fonográfico apesar dos meus poucos 23 anos.

Tinha gente lá que morria de inveja quando chegava algum artista amigo meu e perguntava por mim, obrigando alguém a ligar pra minha mesa pra dizer “fulano está aqui e quer te ver". Eu não sabia desse negócio da inveja, mas um dia me disseram que isso acontecia.

Esse pessoal da MTV que falo chegava até a forçar certa amizade com artistas e que nem sempre surgia espontaneamente...  não sei explicar bem, mas fato é que não era algo 100% espontâneo.

Mesmo tendo crescido no universo do movimento punk, eu sempre ouvi e gostei de música caipira e música brasileira em geral. Nunca abri mão da boa música brasileira.

Por causa de meu pai eu escutava Alvarenga & Ranchinho, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin, Renato Teixeira, entre outros artistas da música caipira (que não é sertaneja!!!). Além disso, também toda aquela geração da MPB que se firmou nos anos 70. Por causa de Brasília também escutei desde cedo Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Milton e Clube da Esquina e mais um monte de coisas de raiz, bem brasileiras, de cultura local. Coisas que, por exemplo, nos anos 90 Chico Science e Mestre Ambrósio fizeram o favor de mostrar. Brasília era e é uma mistura de culturas e tudo isso sempre fez parte da vida de quem morou / mora na capital.

Quando o mercado de CD explodiu nos anos 90, eu comecei a comprar tudo que eu tinha em vinil e também a procurar coisas novas que até então eu não tinha muito acesso, digo de música brasileira. Nesse período as gravadoras resgataram muitos discos clássicos de seus arquivos e os relançaram em edições especiais, coletâneas, etc.

Isso foi uma maravilha! Assim eu saiu a caixa do Luiz Gonzaga comprei a minha.

A Vanguarda Paulista é outra cena que sempre gostei muito e que também nada tinha a ver com MTV, e tudo que saia em CD eu comprava, até porque nunca tive vinil de nenhum desses artistas, apenas fitas cassetes.

Passei a levar esses CDs para a MTV para colocar de música de fundo nos programas que eu fazia como Na Chapa e Teleguiado.

Tinha gente que tirava sarro da minha cara quando me via com um CD do Jackson do Pandeiro, quando eu colocava um CD do Almir Sater e coisas assim.

Em todos os departamentos da MTV havia aparelho de som. Eu escutava tudo o que recebia – e recebíamos sacolas e mais sacolas das gravadoras – até porque além de ser meu trabalho, eu ouvia de curiosidade, mesmo sendo Vinny ou Alexandre Pires. Era absolutamente normal também tirarem sarro da minha cara por eu escutar tudo, e não só o que não era rock descolado.

Certa vez estava eu no departamento escutando O Descobrimento do Brasil, que era o mais recente da Legião, e passou uma pessoa e fez uma piada com a situação (não lembro o que foi dito) mas eu, também na brincadeira, prontamente retruquei dizendo para a pessoa que não era eu que um dia tive pôster do Cinderalla, Skid Row e Bon Jovi no quarto. Como a pessoa era dessas que queriam ser descoladas e escutavam Beastie Boys e Beck, então ela ficou sem graça e, sem jeito, veio até mim pedir baixinho para que eu não falasse mais aquilo. Eu dei risada, disse pra ela ficar tranquila e que eu não tinha esse passado vergonhoso. Mais tarde eu disse a ela: muito grupo que você escuta hoje, eu escutava há 10 anos no minimo. Mais uma vez ela ficou pequena.

Isso era chato, ter que aguentar esse pessoal que se achava descolado só por estar na MTV. Coisa mais boba.

A mesma coisa acontecia quando me viam ler a Contigo. Tiravam sarro, pela revista ter esse perfil de fofoca de novela, mas na verdade era a principal revista sobre TV. Era onde se falava algo de bastidores, uma entrevista com Denis Carvalho aqui, Jorge Fernando ali... E ninguém se tocava disso, até eu dizer essas coisas sobre a Contigo. Aí faziam cara de bunda. Até tinham outras revistas de TV que chegavam na MTV, mas a de maior peso sempre foi a Contigo. Era uma época que não havia computador ou celular

E tinha gente lá que levava a sério essa coisa de ser amigo de artista. Tem gente que usa isso pra ficar em evidência nos bastidores. Faz parte da política, se ser descolado, de marcar território em alguma panelinha e assim conseguir trabalhos.

Cada um faz o que quer. Eu não tinha e não tenho nada a ver com isso. Só não aceitava a arrogância desse pessoal que queria parecer o que não era e ainda se achar no direito de tirar sarro do que não era "descolado".

Esse troço de fazer pose, ao mesmo tempo em que é ridículo, também é triste, por isso, o meu sentimento era de pena dessas pessoas.

1 de dezembro de 2020

O Rock Brasileiro em dezembro...

Já escrevi textos sobre os principais acontecimentos de vários meses. Alguns não escrevi, e agora pretendo preencher os que ainda faltam. Dezembro é um deles...

Para o mercado de entretenimento dezembro é sempre um bom mês, já que há o Natal e as vendas de tudo em geral aumentam, e isso não é diferente para o mercado fonográfico.

Dezembro é mês de boas energias por ser férias escolares, ter férias coletivas, festas de Natal e réveillon, viagens para praia, clima de missão cumprida, etc. Então lançamentos, shows, eventos são sempre bem vindos!

A chegada do verão que é a estação das tendências, é também ponto inicial para novos projetos. É quando muitas áreas fazem o balanço do ano, no caso da música, por exemplo, sempre há listas dos melhores, dos destaques, essas coisas.

Tem muita gente que acha que essa coisa de listas e premiações só foi acontecer nos anos 1990 com o Video Music Brasil da MTV, mas essas listas/comemorações/premiações já existem desde a década de 1960. A Jovem Guarda teve muita força, ganhou espaço nas mídias da época e elas faziam seus especiais, sejam em listas de revistas e jornais, seja nas rádios ou em programas de TV. Nos 80 havia a votação da Bizz, mas não conta muito já que era manipulada...

Os anos 1970 foram bastante ricos nesses eventos e também em shows.  Durante alguns anos no miolo dessa década acontecia em SP a Semana do Rock’n’Roll com shows e depois o TroféuRock que era a premiação do melhor do ano. Raul Seixas, O Terço, Joelho de Porco, Secos e Molhados, Som Nosso de Cada Dia e tantos outros se apresentaram e/ou ganharam prêmios.

Ao contrário do que muita gente pensa, o rock brasileiro dos anos 1970 foi bastante ativo com lançamentos festivais e shows. Muitos desses shows aconteciam em teatros já que não havia lugares específicos para rock.

Para se ter uma ideia em 1974 foram gravados cerca de 20 discos de grupos brasileiros, aconteceu algo em torno de 300 shows e mais de um milhão de cópias vendidas de discos de rock brasileiro.

Foi em dezembro de 1972 que o Secos e Molhados com a formação clássica estreou. Outra grande estreia que aconteceu no mesmo ano foi a do grupo de Recife Tamarineira Village que, dois anos depois se tornou o cultuado Ave Sangria. Fato de suma importância para o Rock Psicodélico do Recife e do Brasil! Foi também em dezembro que o Ave Sangria fez o lendário show ‘Perfumes Y Baratchos’.

Essa coisa de eventos especiais está na raiz da história do rock brasileiro. Foi em dezembro de 1956 que aconteceram dois grandes fatos para sua história. O 1º foi a realização do 2º Grande Concerto Brasileiro de Jazz que aconteceu no RJ e pela 1ª vez um grupo, no caso o Grupo Farroupilha, tocou temas de rock.

O outro foi a estreia nos cinemas do filme ‘Ao Balanço das Horas’, o famoso ‘Rock Around The Clock’. Foi por causa desse filme que em outubro de 1955 foi gravado o 1º rock no Brasil, e era a música tema do filme aqui no Brasil interpretada pela cantora de boleros Nora Ney.

O impacto na vida dos jovens foi tão grande que em São Paulo o então prefeito Jânio Quadros proibiu a exibição do filme. O rock é um fenômeno também por ter esse poder de incomodar mesmo não fazendo parte do mainstream.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, Agostinho do Santos gravou “Até Logo, Jacaré”, regravação ultra bem sucedida de “See You Later, Alligator”, lançada em janeiro de 1957. Ou seja, logo em seu 1º anos de vida, o rock brasileiro já invadiu o verão como nova tendência. Depois disso ele nunca mais parou!

Sérgio Murilo, Beat Boys e outros artistas da 1ª geração do rock brasileiro tiveram lançamentos em dezembro. Assim como artistas da Jovem Guarda como Renato e Seus Blue Caps, Sérgio Reis, Roberto Carlos e outros tantos.

Lembrando que aqui não falo de todos os lançamentos!

Mas mesmo assim dezembro foi mês de lançamento de músicas como “Brotinho de Biquini”, “Coração de Papel”, “Meu Bem Não me Quer”, “Negro Gato”, “Eu Te Darei o Céu Meu Bem”.

Lançar hits no verão é até tradição. Nos anos 80 houve uma chuva torrencial deles. Um dos mais significativos foi “Uma Noite e Meia” da Marina Lima. Mas assim com,o no início de toda essa história, muitos hits do rock 80 começaram a tocar em dezembro e janeiro.

Blitz, Legião, Lobão, Ultraje, Paralamas, Hanoi Hanoi, Brylho, Cazuza, Barão... a lista de artistas que colocaram hits chiclete as rádios vai longe!

“Pro Dia Nascer Feliz”, “Será”, “Faroeste Caboclo”, “Egotrip”, “Inútil”, “Rock Europeu”, “Somos Quem Podemos Ser”... Tem um monte delas. Essas citadas foram lançadas em dezembro, mas há muitas outras que foram lançadas em discos durante o ano, mas que estouraram no verão.

Desses lançamentos vale destaque para “Pro Dia Nascer Feliz” do Barão Vermelho. Soltar no mercado esse compacto foi um belo tiro da gravadora já que o Brasil vivia o clima da abertura política e também estava completamente envolvido pelo clima do Rock in Rio. Outras duas músicas que chegaram ao Rock in Rio absolutamente estouradas foram “Óculos” do Paralamas, e “Inútil” do Ultraje. Inclusive Paralamas tocou ‘Inútil” no Rock in Rio e citou o Ultraje. Apesar de Roger Moreira estar no palco assistindo ao show, ele não foi chamado para participar.

Também não citei mais músicas do Legião pra não parecer que estou “enchendo linguiça”, já que a maioria dos discos do grupo foram lançados no fim de ano.

‘Que País é Este?’, ‘V’, ‘O Descobrimento do Brasil’, ‘Músicas para Acampamentos’ foram discos lançados propositalmente pensando nas compras de Natal, mas praticamente todos os discos – tirando o 1º - chegaram às lojas no 2º semestre.

Seguindo esse exemplo, dos anos 1990, o Skank lançou os dois primeiros discos também em dezembro. Ainda dessa geração o 1º do O Rappa também saiu no mês do Natal.

Em dezembro também há datas de nascimento e morte de artistas.

Foram quatro os falecimentos: Em 1983 Claudio Killer, tecladista do João Penca, morreu em um trágico acidente doméstico por causa do gás aberto; em 1989 o compositor e hitmaker Joe Euthanázia morreu em um acidente de carro (Entre outras, “Tudo Pode Mudar” e “Mintchura” são dele); em 2001, a mais impactante delas que foi a de Cássia Eller que, apesar de já ter então 10 anos de carreira profissional, estava em plena ascensão com os lançamentos do ‘Acústico” e do ‘Com Você...’. A mais recente aconteceu em 2018 que foi a morte do guitarrista Guto Barros que tocou na Blitz e no Lobão e Os Ronaldos.

Foram tristes perdas e todas pegaram público, amigos e familiares de surpresa.

Entre os nascimentos destaco o aniversário da inigualável Rita Lee, a eterna ‘Princesa do Rock’ (já que Celly Campello é a Rainha). Bem na virada do ano comemoramos também essa ótima data!

E não é por ser 31 de dezembro o último dia do ano que as coisas não acontecem!

Houve shows de estreia de artistas nos anos 70, e também houve com artistas que estouraram nos anos 90.

Digo estouraram nos anos 1990 porque o Raimundos, que surgiu nos anos 1980 e fez seu 1º show no réveillon 1987/88 na casa do Gabriel Thomaz, só foi fazer sucesso na década seguinte.

Agora, provavelmente a data mais curiosa de todas, até por ter acontecido em 31 de dezembro, é essa: depois de uma discussão com o grupo, André Jung saiu do Titãs, com quem gravou o 1º disco. Poucas semanas depois ele entrou para o Ira!

Essa foi a saga do rock brasileiro em dezembro, e que venha um ano novo cheio de amor e saúde pra todo mundo!

22 de novembro de 2020

Esquerda Preconceituosa e Segregadora

Você já percebeu que pessoas de esquerda são ranzinzas e mal humoradas? Dificilmente gente maldosa dá um sorriso... Eis aqui algumas das razões disso acontecer...

O comunismo é uma ideologia do mal. É um regime do mal. É o que mostra sua história de crueldade, autoritarismo e intolerância. Comunistas odeiam, mas é sempre bom lembrar que ele, o fascismo e o nazismo são primos. Eles podem ter objetivos diferentes, inimigos diferentes, mas as maldades são iguais. Nos três o ditador está acima de tudo.

Natural que quem compactua com essa história de crueldades gosta também dessa violência. 

O que essa massa de manobra não percebe é que também compactua com preconceitos de todos os tipos, e isso já começa dentro dessas células que se dizem adeptas aos ideais de esquerda. O preconceito está no nariz de todas essas pessoas, mas elas são cegas e ignorantes.

Me pergunto como uma pessoa que grita por igualdade, pode achar normal se dividir, por exemplo, em LGBTQIA+....

Se somos todos iguais, então porque tanta divisão? Pouco me importa se você é gay. Menos me importa ainda quais são suas preferências e seus sentimentos dentro desse universo. Não faz diferença pra mim se você é gay, trans, binário, se tem seio falso, se tirou o pênis ou colocou um, se gosta de travesti, se quer ter barba.

Da mesma forma que não interessa a ninguém o que uma pessoa heterossexual faz com sua escolha: se transa com mulher baixa, alta, ruiva, morena, preta, branca ou amarela, de saia ou calça; musculosa, magra ou gorda. Se põe calcinha pra transar, se anda sem cueca ou se gosta de celulite e estrias.

Esse discurso de criança que começa a entrar na adolescência de que o mundo não é justo, que todos tem direitos iguais, etc. Isso todo mundo sabe, não é privilégio de quem se diz de esquerda. Pelo contrário! A esquerda não quer a igualdade. Ela quer que você pense isso, mas ela quer ter massa de manobra, e atualmente sabemos que o que não falta é gente que gosta de ser massa de manobra.

Quando você não tem leitura e estudo, é difícil andar de forma independente. Uma pessoa ignorante se escora na primeira que fale o que ela quer escutar, sendo mentira ou não (sendo ignorante isso pouco importa).

Essa gente da esquerda gosta de tirar sarro de costumes ditos conservadores. Na verdade, pra mim, todas essas denominações criadas por essas ideologias bestas são tão idiotas quanto esse negócio de ideologia. Não consigo entender esse troço de querer dividir o ser humano e colocá-lo em estantes diferentes.

Bem, nessa esquerda incoerente tem quem fale mal da família. Coisa mais besta. Daí você vê no mundo todo pessoas gays formando famílias tendo filhos de forma alternativa, seja com inseminação artificial, adoção, entre outras formas. Fazendo planos para o futuro, levando os filhos pra escola, planejando férias, comprando presentes de Natal e datas especiais, passando fins de semana com amigos e crianças juntas, fim de ano e vivendo como uma família heterossexual.

Quer coisa mais legal que isso!?! Eu mesmo tenho amigos e fiz um programa em que mostrava gente do universo LGBT levando essa vida familiar que tanta gente de esquerda abomina ao dizer de forma pejorativa não gostar dessa “gente de bem”.

E o que é ser ”gente de bem” senão querer levar uma vida comum, com seu emprego, pagando o imposto e fazendo planos futuros. Os pais cuidando dos filhos, os parentes cuidando dos parentes, os amigos cuidando dos amigos e todos desejando saúde, amor e harmonia. Qual é o mal de querer isso na vida?

Ao tirar sarro de “gente de bem”, a esquerda quer dizer o quê? Que bonito é ser marginal? Que bonito é mandar família, filhos e amigos à merda e foda-se tudo?

Coisa mais idiota. Fato é que sendo massa de manobra, essas pessoas não pensam na hora de falar essas besteiras.

Conheço gente de todos os tipos, não só com orientação sexual diferentes, mas punks, católicos, gente alternativa toda tatuada e furada com intervenção corporal, evangélicos, pobres, ricos, gente humilde, gente arrogante, homem, mulher... E todo mundo lutando para ter uma vida simples, cuidar dos filhos, reunir os amigos e família, ter seus empregos, objetivos de vida, etc.

Qual o mal em ser assim!?

Se a pessoa de esquerda reclama disso, então como ela vê a vida? 

Para a esquerda, tudo o que sai de seu controle é coisa ruim. Eu tenho dois amigos egocêntricos que são iguais à esquerda: ou você faz parte da minha bolha ou não quero saber de você!

Para os pseudos socialistas é assim: ou você pensa igual a mim e se torna um robô igual a mim, ou você é um idiota que não se importa com os problemas do mundo.

E esse discurso de adolescente descobrindo que o mundo é cruel é um saco. Haja paciência para lidar com essas crianças que gostam ainda de brincar de comunistas X regime militar.

E esse é outro ponto que já até falei aqui recentemente: o quanto essa gente besta que se diz de esquerda é atrasada. Esse pessoal parou nos anos 70.

A história mostra que comunismo é comunismo e democracia é democracia. Como água e azeite, não se misturam. Assim como são distintos socialismo e liberdade.

Então vemos pessoas comunistas dizendo que lutam pela democracia. Como assim?

Para os partidos brasileiros de esquerda a Venezuela é democracia e Chavez + Maduro são líderes exemplares, e um xenófobo assassino e homofóbico como Che Guevara é herói.

Gritam viva a democracia, mas não param de reclamar que saíram do Poder. Não aceitam de forma alguma que há outra pessoa no Poder que pensa diferente.

Como alguém pode compactuar com tanta bobagem?

Gente de esquerda olha pra você, que não engole as bobagens ditas por essa ideologia furada, e te vê como inimigo mortal. Não sabe conviver com diferenças, pelo contrário, faz questão de te colocar em divisórias dentro de estantes distintas.

O mundo comemorou a queda da "Cortina de Ferro" da URSS e do Muro de Berlim na Alemanha, e hoje essa gente comunista quer levantar esses muros e outros tantos muros novamente.

Recentemente discuti com uma pessoa que se indignou com um comentário meu. Quis me dar lição de moral e dizer que eu não poderia dizer o que disse. A pessoa sequer notou que estava me censurando e impondo uma forma de pensar. Quando mostrei à pessoa a forma como ela estava agindo, o tempo fechou, ficou brava.  É aquela velha máxima sobre a esquerda que, ao perceber que está perdendo a partida de xadrex, chuta o tabuleiro, bagunça as peças e diz que há complô.

Para a esquerda não basta ser ser humano, tem que ter seu rótulo: branco, preto, amarelo, vermelho, pobre, rico, índio, aborígene, lésbica, transexual, binário, bissexual, chefe, empregado, opressor, repressor, vítima, fascista, racista, genocida, etc.

O muro, o preconceito, a necessidade de deixar clara diferenças entre humanos (e que pouco importam), o estímulo a violência e a intolerância, o gosto pela censura e pelo controle total: essa é a esquerda, o socialismo, o comunismo ou seja lá como queira chamar esse troço do mal que matou e ainda mata milhares de pessoas inocentes.

A essa altura dos acontecimentos, já chegamos a um ponto que, quem se diz de esquerda é porque tem total consciência da maldade e do preconceito que molda esse regime do demônio, ou seja, assina embaixo de toda história autoritária e assassina dessa ideologia.

Inclusive bloqueei das minhas contas pessoas que não tiveram pudor em me dizer que são defensoras dos fuzilamentos de Che Guevara e das atrocidades que aconteciam nos Gulogs da URSS. Não posso ter amizade com gente assim, como me nego a ter amizade com nazistas, fascistas (de verdade), integrantes de torcidas organizadas e tantas outras organizações violentas e autoritárias.

Dessa gente ruim, mal humorada e de energia negativa quero só distância!!!


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18 de agosto de 2020

A Música em 2020

Já publiquei vários textos sobre a cena musical dos últimos anos, mas a tecnologia muda tudo da noite para o dia.

Quem já leu alguns deles, sabe que em alguns falo das mesmas coisas até por ser inevitável, mas fato é que sou um pessimista quanto a esse assunto.

Aqui no Sete Doses já decretei a morte do rock e a morte da música autoral, e pedras me jogaram! Tudo bem, discussão saudável e divertida.

Em resumo, tudo no rock já foi feito, tudo na MBP foi feito, tudo no popular brega foi feito e nada mais causa impacto como causava antigamente. Por força da mídia ainda tivemos dois movimentos: o grunge e o britpop. Antes deles o Poser e Madchester na virada de 1980 pra 1990.

Porém esses últimos movimentos (não dá pra chamar de “cena”) já não eram mais uma novidade, mas sim um apanhado de tudo o que já tinha sido feito até então. Posso citar a música psicodélica, o punk rock, o hard rock e alguns outros subgêneros que eram referências pra essas gerações. Você ouve Nirvana, Soundgarden ou Black Crowes e tem a impressão de já ter ouvido aquilo em algum lugar.

Quando eu digo que a música autoral morreu, quero dizer que ela nunca mais terá a força que um dia já teve. Não é mais relevante.  Nada mais vai surpreender e, principalmente, o público hoje está interessado em muitas outras coisas. De 2010-15 pra cá muita coisa mudou e a pandemia deixou aparente o que todo mundo já via.

Tivemos os 78 rotações dos gramofones, os discos de vinil a partir de 1948, depois o CD, a música digital que necessitava de um aparelho só pra ela, e hoje a digital que você acessa de qualquer aparelho que tenha internet.

Já brinquei aqui dizendo que um dia a música estará nas partículas de ar e começo a pensar que isso será possível...

A qualidade dos artistas, seja qual for o gênero, está cada vez pior. Em minha opinião, estamos no nível ‘mais do mesmo’ desde o final dos anos 1990. Digo isso pra ser legal, mas se for realista e cruel, então digo que o ‘mais do mesmo’ acontece desde o início dos 1990.

Com tantas redes sociais a música se tornou apenas mais uma distração entre outras tantas distrações. Em cada uma dessas redes sociais há uma infinidade de possibilidades de diversão em vídeo, áudio, montagens, ilustrações, memes e outros.

São vários universos: Instagram, Facebook, Twitter, YouTube e plataformas de vídeo on demand. Fica difícil pra música competir com todas essas ferramentas e conseguir ter a relevância que um dia teve.

Hoje a ferramenta do jovem pra expressar sua opinião são essas redes e não mais a música. Esse protagonismo ela perdeu faz tempo.

Fora isso, a música sempre foi fortemente ligada a fatores sociais de comportamento. Você pode pensar no blues, no jazz dos tempos dos cabarets, o período dos standards e do jazz big band, na soul music e no rock’n’roll dos 1940 e 50, nos rocks psicodélico e progressivo, o punk rock, gótico, metal, etc.

Aqui no Brasil, além de absorver todos esses períodos, ainda nesse sentido social, também teve o samba do morro, a bossa nova, jovem guarda, a psicodelia dos anos 1970, a geração da abertura e do Rock in Rio e a geração da década de 90, do Real.

Sinceramente depois da geração 90 nunca mais houve algo marcante na parte social que pudesse fazer explodir uma nova onda como todas essas que citei. A música em todos esses exemplos era a consequência de tudo o que acontecia e, por isso, era protagonista junto com a mudança de comportamento que cada um desses períodos gerou.

Depois da internet e de todas as ferramentas tecnológicas que surgem em cada vez mais curtíssimos espaços de tempo, o jovem mudou. Seus interesses mudaram e se diluíram. Não há mais tempo para ler um livro, não há mais tempo para depender da grade de programação da televisão, não há mais tempo para se escutar um disco inteiro. Aqui ainda digo ‘disco’, pela força do costume, porque hoje nem sei como me referir às músicas lançadas de forma digital.

A mudança também aconteceu com os artistas. Há quem ainda lance um ‘álbum de músicas digitais’ com 12 a 15 composições, mas isso está mudando. Tem artistas que lançam aos poucos, de 3 em 3 ou de 5 em 5 músicas.

Vivemos atualmente um momento conturbado. Não só no Brasil, mas no mundo. Não digo apenas pela Covid-19, mas pelas brigas ideológicas. Daí você pensa: momento bom para escrever canções, mas músicas de protesto têm aos montes, mais uma não fará diferença, mesmo que for escrita pelo Bob Dylan.

Jello Biafra, ex-Dead Kennedys, lançou alguns discos recentemente, eu gosto muito, mas não causam mais o impacto que um dia já causaram.

Hoje grupos, artistas solos, músicas e lançamentos continuam surgindo. Tem de tudo aos montes. Pare pra pensar quantas músicas você conhece e que já ouviu. Nem dá pra fazer essa conta! Agora imagine hoje o quanto de coisas novas surgem e que você nem fica sabendo. Deve ser, no mínimo, o triplo do que você já ouviu.

E de tudo o que é lançado hoje, o que é relevante? O que fez a diferença? Quem mudou as estruturas? Quem trouxe novidades e novos ares? Ninguém! Nada mais se destaca! É muito de tudo do mais do mesmo!

As coisas mudaram, não dá pra querer forçar à barra! O que acontecia no universo musical até os anos 1990 ficou lá, não vai mais acontecer!

Hoje o jovem quer gravar seu vídeo, fazer seu site, suas contas digitais e abastecê-las com conteúdo autoral. Tem quem fale de política, tem quem fale de maquiagem, de saúde, de pintura, economia, pedagogia, música, há quem fique apenas dançando em frente à câmera.

O jovem escuta funk, pagode, tecnobrega, mistura tudo, não está preocupado com estilos, muito menos com bom conteúdo. Como eu disse, ele não se expressa pela música, apenas se diverte com ela no baile, no pancadão, na festa.

Pro lado do rock, da cena alternativa e underground acontece a mesma coisa. É tudo igual, com letras pobres, composições que não dizem ao que vieram.

A postura no palco é a mesma, o jeito de segurar o instrumento, as roupas, as tatuagens, a postura. Todos são iguais.

Isso é reflexo desses tempos do jovem sem foco, que tem toda informação do mundo em seu colo, mas não a aproveita. Também não se interessa mais em se engajar e que mal conhece a história do Brasil, mesmo a recente.

A música é vítima disso e pior, o jovem não quer saber dos artistas do passado. A história vai se apagando junto com os grandes clássicos e as influências que fazem a diferença deixam de existir.

Do jeito que a vida se encaminha logo ninguém saberá quem foi Tim Maia, Raul Seixas, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos.

Da mesma forma como hoje não se conhece Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Jackson do Pandeiro, Francisco Alves e até mesmo Carmem Miranda.

É duro, mas é verdade.

29 de julho de 2020

Série O Resgate da Memória: 53 - Barão Vermelho (Revista Roll)


Foi no fim de julho de 1985 que Cazuza anunciou sua saída do Barão Vermelho. Foi um bafafá já que na época o Barão estava voando baixo, em plena ascensão, com belas apresentações no RiR, com diversos hits, agenda cheia e tals. De repente, não mais que de repente, Cazuza resolveu sair e com ele levou o repertório que o Barão iria gravar (e certamente faria mais sucesso ainda). Baque total pro grupo, pra mídia e pros fãs. (esse contexto me faz lembrar, de certa forma, a saída de Rodolfo do Raimundos).

Pra lembrar essa data, posto aqui a 1ª entrevista do Barão Vermelho pós-Cazuza, ao menos para uma revista especializada. Poucos meses depois surgiu a Bizz, mas até então a Roll era a principal revista brasileira de música do segmento rock/pop. Nessa entrevista o grupo fala sobre os planos para o 1º disco pós-Cazuza.

Nesse mesmo número, de janeiro de 1986, a Roll fez a jogada de também publicar uma matéria com Cazuza sobre o disco 'Exagerado'. Prometo postá-la logo mais!

PS1: Curiosidade - não achei foto nenhuma do Barão Vermelho pós-Cazuza nos anos 80, nem nos 90. Procurei no Google e no Pingerest. Nada!
PS2:No final do texto há links para 4 publicações referente ao Barão e Cazuza.






E Agora Barão?
(Revista Roll, janeiro 1986)

O Barão Vermelho está firme e forte e preparando o primeiro LP depois da saída de Cazuza. Contrariando as expectativas pessimistas, Frejat, Maurício, Dé e Guto deram a volta por cima e revelam aqui os seus planos. Moa Peracini esteve com eles no estúdio e traz novidades.

ROLL – O novo LP do Barão Vermelho era, antes da saída do Cazuza, esperado com ansiedade. Agora, então, a expectativa aumentou em torno da nova situação. O que vocês tem pra adiantar sobre este quarto disco?
FREJAT – Estamos neste momento no ensaio, passando as músicas, pois tem muita coisa que decidimos no estúdio, quando começamos a tocar. Se acontece alguma coisa especial na hora em que estamos tocando, então gravamos. Nós estamos ensaiando mais músicas do que pretendemos colocar no disco, estamos ensaiando umas quinze músicas e estamos na dúvida se fazemos um disco com dez ou doze faixas. Inclusive o disco já tem título, chama-se “Declare Guerra”. Esse disco tem uma variedade de autores porque, com a saída do Cazuza, nós começamos a transar a responsabilidade de compor...
MAURÍCIO – Começamos a abrir espaço para letristas...
FREJAT – É, o Guto começou a escrever algumas coisas, outros amigos nossos começaram a escrever, além de pedirmos trabalhos pra algumas pessoas. Por exemplo, temos músicas do Maurício com Humberto Effe, do grupo Verso, e com o Pequinho (Nós na Garganta). Tem músicas minhas com o Guto, com o Orlando Antunes, com o Antônio Cícero. A única música que não tem nenhuma participação de nenhum de nós é um blues intitulado “Bumerangue Blues”, de autoria de Renato Russo...
GUTO – Todas as outras tem participação de um ou outro componente fazendo algo.

ROLL – Vocês acham que, com a saída de Cazuza e a inclusão de novos compositores, muda a linguagem musical do grupo?
FREJAT – A linguagem musical não, eu acho que o que mais muda é a parte das letras. Menos pela temática, mais pela forma de dizer; porque antes tínhamos um poeta dentro da banda com o qual nós fazíamos músicas em cima de poesias...

ROLL – Estruturados em cima do trabalho dele?
FREJAT – É, de repente agora nós fazemos uma coisa que é uma letra de música. Então nós nos questionamos: eu quero dizer isso, então como é que vou fazer? E não ir fazendo uma poesia que por acaso vai virar música. Realmente são estilos diferentes, tem até o trabalho do Cícero, que é um poeta, mas não chega a diferenciar a linguagem da coisa em relação ao trabalho do Cazuza, você entende?
MAURÍCIO – Mas a temática mesmo se mantém...
FREJAT – Se mantém, é lógico. Músicas românticas, de amor, do dia-a-dia, do cotidiano das grandes cidades; cosias que nós vivemos realmente, porque nós não podemos dizer coisas que realmente não pintam. Ainda agora eu estive lendo as letras todas e percebi que a coisa está um pouco reflexiva, tem muitas vezes que falamos sobre o fato de estar vivo, de observar o mundo e refletir mais do que falar ou descrever uma situação...

ROLL – Uma visão mais existencialista, então?
FREJAT – Exatamente. Mas sem entrar naquela coisa esotérica. Mantendo o pé no chão, aquela coisa urbana, terra-a-terra mesmo
.
ROLL – Eu notei que o som de vocês para este novo disco está tendendo para um rock bem básico. Faz parte da evolução do grupo ou é uma espécie de retomada em busca de uma nova linguagem musical?
FREJAT – Não é bem isso. Esse disco tem coisas funks, tem rock mesmo, até blues acústico. Porque nós sempre gostamos de fazer um rock que tenha bastante influência negra. Então quando nós fazemos rock, é uma coisa que vem do fundo do blues, que é a raiz da coisa, tem o rock e tem o lado funk que é o outro caminho que a música negra tomou. E que também agrada a gente, apesar de nós sermos funkeiros brabos, funciona como um bom tempero e tem o mesmo objetivo, pois tem que ter essa coisa do dancing, você tem que sentir a música...
GUTO – E nesse disco isso está mais nítido...
FREJAT – Por mais que você escute a letra, por mais genial que ela seja ou qualquer coisa nesse sentido, você sempre fica a fim de dançar...
MAURÍCIO – Nesse disco o material está bem variado, mesmo os dois funks que tem no disco estão bem diferentes, não é aquela coisa que você ouve e diz que um está parecido com o outro.
FREJAT – Também as músicas foram feitas em épocas diferentes; alguma há muito tempo, outras há pouco, umas agora mesmo. Então tem uma diferença nítida, pois quando se faz várias músicas de uma vez só, tem aquela coisa de fase, uma certa época dentro daquilo que se está fazendo.

ROLL – Isso proporciona uma diversificação muito grande, não?
FREJAT – É, dá uma diversificação muito boa. Estávamos pretendendo gravar o quarto disco do Barão há seis meses atrás. Então tem coisas que são daquela época, dde um mês atrás, da semana passada, de hoje, inclusive. Vamos entrar no estúdio daqui a uma semana e pegamos essa música hoje. Quer dizer, o trabalho está saindo bem solto, isso reflete também o disco; acho que ele está relax, não tem o compromisso de provar que é ótimo com o sem o Cazuza.
MAURÍCIO – Inclusive nós continuamos fazendo o trabalho sem as concessões que se faz, buscando compensações do tipo “Tudo bem, se ele saiu nós vamos fazer músicas que peguem o público, de forma que eles não vão sentir a sua saída”. Não é isso, nós queremos fazer o nosso trabalho. Se o público demorar a se acostumar com essa cara nova do Barão, nessa nova fase, tudo bem, estamos dispostos a recomeçar, apesar de o público ter correspondido em muito essa expectativa.

ROLL – De repente essa saída do Cazuza proporcionou a descoberta do potencial de todos, porque o grupo estava muito estruturado em cima do trabalho dele, não?
GUTO – É, tiramos outras do baralho, que é enorme.
MAURÍCIO – Abriu um espaço muito grande. Inclusive foi uma surpresa pra muita gente, que via o Barão de uma forma que não era bem aquilo. Eles cobravam: “Vocês não cantam, vocês não isso, vocês não aquilo”. Nós sempre fizemos backing nos shows. Agora eu também canto, o Guto escreve, etc... Agora eles expressam surpresa.
FREJAT – Houve cobrança não só do público como de nós mesmos...
MAURÍCIO – A posição do Barão sempre foi de fazer o som e o Cazuza cantar, tinha aquele lance dele ser o showman, e de certa forma ficamos acomodados em cima disso.

ROLL – Vocês foram de certa maneira um grupo pioneiro de sucesso neste ressurgimento do rock no Brasil, como uma linguagem própria, junto com o Kid Abelha, Os Paralamas do Sucesso...
FREJAT – Na verdade somos mais pioneiros, do que pioneiros do sucesso, porque o Barão realmente pintou assim na primeira leva. Quando ele começou a tocar, o Kid Abelha e Os Paralamas ainda não tinham assinado com gravadora. Havia a Blitz, o Barão, o Herva Doce e o Rádio Táxi. Eram os quatro grupos que ascendiam. Eles foram realmente os quatro primeiros. Mas a Blitz fez sucesso bem antes, dois anos antes dde nós. O Rádio Táxi e o Herva Doce também. Mas de repente, a partir do momento que estouramos, nós mantivemos uma continuidade, nós sempre tivemos bem. Nunca no auge, mas sempre com um sucesso no ar e uma constância de trabalho...

ROLL – Nesse processo todo, vocês nunca sofreram pressões da gravadora pra darem uma guinadinha pro lado comercial, pro pop?
GUTO – Todas as músicas que gravamos até hoje fomos nós quatro que arranjamos sem interferências.
FREJAT – Pressão de gravadora realmente existe, mas por acaso nós nunca a sofremos. De repente outras pessoas sofreram.

ROLL – Ultimamente o rock está, não voltando às origens, mas antes de tudo continuando uma linha evolutiva que foi abortada. Pelo menos aqui no Brasil ele passou por uma crise gravíssima, quase totalmente varrido do ar. A invasão-imposição de discotecas arrasou com qualquer expressão tupiniquim dentro do rock, mas ele ressurgiu bem e até mais forte. No entanto os puristas da MPB estão fazendo pressões no sentido de proteger o patrimônio musical do país contra a “invasão” do rock. Como funciona isso pra vocês?
MAURÍCIO – Pois é, até hoje nós ficamos discutindo com os caras dizendo: “Nós somos brasileiros, estamos cantando em português. O que está faltando?!
 O que está pegando, será que vamos ter que tocar cavaquinho?” O Dé até vai tocar nesse próximo disco (risos), vai ter bandolim, vai ter bumbo.
FREJAT – Na verdade foram as gravadoras que fizeram maior pressão contra o rock, elas só gravavam Música Popular Brasileira e quando ouviam rock diziam – “Mas isso é música americana”, quando não é verdade. Se você está cantando em português, está transmitindo tua mensagem na língua do país em que vive, falando sobre nossa realidade, porque não é música brasileira? Tem muita gente que considera música brasileira certos estilos, por exemplo, uma balada super country, onde o autor fala do matinho que ele nunca morou, já que ele mora numa grande cidade.





20 de junho de 2020

Jogando Lembranças nas Linhas 1 (Brasília 1970-80)

1979: Renato, eu e Marcelo.
No chão André (meu primo) e Igor.
Lembro-me de 1982, quando eu voltava do colégio em um dia normal. Descia do ônibus na L2 norte, na altura da 402/403 – eu morava na 203. Subindo pela comercial da 403 um cara com uma sacola me parou. Ele estava com uma nota de 100 cruzeiros, aquela que tem o desenho da Praça dos Três Poderes, e me mostrando o desenho me perguntou se eu sabia como ele poderia chegar até lá. Falei que estava perto e indiquei o ônibus.

Foi aí que o doido começou a alucinar. Me mostrou a cédula e disse que no ano 2000 tudo aquilo, apontando para o desenho da Praça dos Três Poderes, iria explodir e que cada tijolo que caísse no chão seria uma pessoa morta. Que o Brasil iria inundar e só sobraria o Plano Piloto, que se tornaria uma ilha!

Desde cedo sou imã de gente maluca!

Minha Brasília era uma Brasília ainda inocente e inacabada. Uma Brasília de pouca violência, de ar familiar. Fui embora da capital em 1987, antes mesmo da chegada do McDonald’s, mas já era uma cidade cheia de faróis/semáforos e com uma população maior do que a imaginada para a época.

1978: A minha frente o bloco D e atrás
o bloco A.
Em 1987, na W3, não funcionava mais aqueles avisos eletrônicos indicando a velocidade ideal para passar por todos os faróis abertos. Pra quem não conhece Brasília, as avenidas  W3 (Sul e Norte), são retas e planas com extensão de 12km com muitos cruzamentos. E foi na W3 Sul que assisti, em 1976, a passagem do carro de bombeiros com o corpo de Juscelino Kubitschek, eu estava no ombro de meu pai e comendo um picolé Chicabom.

Nos jornais de Brasília do início dos anos 70, não havia página policial, se algum fato ruim acontecia, saia uma notinha em algum canto. A violência era quase zero. Você parava o carro na comercial para ir à padaria e nem sequer tirava a chave da ignição. Até mesmo ir ao supermercado não necessitava trancar o carro e fechar os vidros – Brasília é muito quente e lá carro no sol vira forno industrial!

A 111 Sul foi palco da minha infância nos anos 1970, costumávamos fazer jogo de futebol entre Superquadras e eles eram tensos. Meu negócio era o gol ou a zaga. Sempre fui bom goleiro. Os rolés de camelinho (como chamamos as bicicletas) se dividiam entre o futebol de botão, o futebol, jogo de Bete (Taco), as brincadeiras de pique e outras tantas atividades na rua. Em fim de semana eu só colocava o pé em casa para comer e dormir. Aliás, as portas dos apartamentos e casas estavam sempre abertas, ninguém passava chave.

1979: Brincando na 111 Sul. Eu,
meus primos e Marcelo.
Inclusive as plumadas (como chamam as entradas para pegar os elevadores), ficavam abertas e não havia interfones. Só aos poucos começaram as ser trancadas com chave, assim o porteiro fazia o anúncio pelo interfone, saia da cabine e ia abrir a porta pra você. E houve um tempo que nem o interfone do porteiro tinha.

Aí depois evoluiu para os interfones instalados nas plumadas, que foram uma enorme fonte de diversão pra mim, pro Igor, pro Marcelo e Renato. Nós quatro tocávamos o terror na 11. Interfone era coisa do futuro, coisa de americano em filme de ficção. Todos aqueles botões pedindo para serem apertados! Fazíamos um circuito de blocos (como são chamados os prédios das superquadras) apertando todos os botões possíveis!

Era muita bicicleta. Eu tinha uma chamada Caloi 5 branca, mas sem marcha, com guidom reto e pneu largo. A bichinha me acompanhou dos anos 70 até meados dos anos 80.

Na 203 Norte, já no início da minha adolescência pra onde mudamos em 1982, a bicicleta também servia para ir visitar as namoradas à tarde, ir à ensaios dos grupos, ao clube (éramos sócios do Iate Clube) ou à casa dos amigos que moravam no Lago pra usar a piscina. Também algumas vezes para sair à noite. A 203 fica perto da rodoviária, na perda de caronas eu ia a pé até lá e pegava o busão pra onde fosse o ponto de partida da noite.

Food's por volta de 1980:
Lugar da infância e de muitos shows.
Outra forma de conseguir uma carona era ir a o Rádio Center para ver quem estava ensaiando e de lá era direto pro balaco (depois, com o Filhos de Mengele, isso ficou mais fácil). O ponto final, na alta madrugada ou já pela manhã era o Giraffa’s. Eram três escolhas: o do Lago Sul, da 211 Sul ou 106 Norte. Também havia a opção do café da manhã no Aeroporto, que rea o único lugar que tinha alguma coisa 24 horas.

Também acontecia bastante de voltar pra casa a pé, bem como se fala em “Música Urbana”, gravada pelo Capital. Teve um período entre os 12 e 14 anos que eu ia dormir na casa de amigos e íamos pra rua, ver shows, tentar entrar em festas (mesmo pirralhos). Eu tinha que, inclusive, ver se minhas irmãs não estavam, porque não podiam me ver. Mas de qualquer forma, sempre tinha alguém da Turma que falava que tinha me visto.

Voltava do balaco para a casa dos amigos caminhando de madrugada e procurando toco de cigarro no chão hahaha. Como disse a preocupação com violência era pouca.

Bom lembrar que até 1985 era a Brasília do Regime Militar!


Inclusive durante um período em 1984 Brasília ficou em Estado de Sítio. Não podia haver uma mesa de bar com 4 pessoas ou mais que seria prisão. Tinha blitz na cidade toda – e Brasília nem é grande. Acredite se quiser, até espetos de churrasco eram apreendidos! Em BsB era normal famílias irem para as quebradas, para as cachoeiras, chácaras pra fazer churrasco, nadar e passar o domingo, daí você saía do Plano Piloto, no início da estrada já havia uma blitz, e lá a PM apreendia o que bem quisesse.

1979: Subindo na cúpula do Congresso.
Hoje proibidíssimo!
Até pelo menos metade dos 80 era como cidade do interior: todo mundo conhecia todo mundo. Cada turma tinha seus lugares próprios, mas havia lugares em comum. Os hippies, os playboys e os punks. E também todo mundo estudava com todo mundo, nas mesmas escolas, nas mesmas salas.

Fui muito ao Cine Drive-In, lá assisti “Os Embalos de Sábado a Noite”, “Tubarão”, “Grease” e todos grandes blockbusters dos anos 70. Eu era criança, mas entrava em todos os filmes. Ia a família inteira, e assistíamos os filmes dentro do carro e comendo sanduiches e milk shake. Era divertido pra cacete!

Brasília proporcionou algo bem legal: é gente de todos os cantos do Brasil e do mundo. Eu comia tutu de feijão na casa de um, macarrão na casa de outro, carne de sol, carneiro, vatapá, lasanha, chimarrão, tudo. Nos fins de semana dos anos 1970, além do clube e dos churrascos na casa dos amigos nos Lagos Sul e Norte, era comum meu pai (agrônomo) se juntar com outros amigos do trabalho – as mulheres, os filhos, era uma só família – e todos irem de caravana para as quebradas, atrás das cachoeiras ao redor de Brasília. Eram verdadeiras descobertas, lugares praticamente virgens. Esses fins de semana eram intensos, deliciosos e longos, muito longos.

1980: Eu segurando a caixa com
meu time de botão.
Tem algumas coisas que me fazem, até hoje, sentir a angústia do fim do domingo que era anuncio da segunda-feira e da escola. Ruim. Os sinais do fim da diversão eram Os Trapalhões, o Fantástico e os Gols do Fantástico. Inclusive o Fantástico era outra coisa, muito melhor, dentro de sua proposta inicial que o próprio nome diz. Eram reportagens sobre discos voadores e ETs, tinha muita ciência, mistérios, lendas. O Hélio Costa sempre fechava o programa com algo surreal, que virava assunto no dia seguinte.

Domingo também era dia de Roller Center, pista de patins que ficava no Gilberto Salomão, ao lado do supermercado Casas da Banha. O Roller era em um pequeno prédio circular, então era duas pistas em círculo: uma interna e coberta que só podia andar quem já tinha experiência e a pista externa, que eram maior e ficava os pebas rsrs. Eu, de vez em quando, ia com meu skate e nem sempre deixavam eu usá-lo. Roller Center bombava nos domingos a tarde.

Não lembro bem dos canais TV dessa época, mas tinha ao menos Globo, Tupi e TV Nacional (a educadora local que retransmitia alguns programas da TV Cultura). A transmissão dessas emissoras terminava meia noite e só voltava 6 da manhã. Em fim de semana ia até no máximo às 2h.

Eu assistia a todos os desenhos do Hanna-Barbera; Ultraman, Ultraseven e Spectreman; A Feiticeira, Jennie é um Gênio, Batman, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo, Jonny Quest, Thunderbirds.

1982: Minha irmã Fernanda  e eu
pós Copa do Mundo já na 203 Norte.
O futebol transmitido era do sinal carioca, acredito que até hoje, então havia muito mais torcedores de times cariocas do que de outras cidades e estados. Minha família é Palmeirense, mas só via o Palmeiras durante os Gols do Fantástico ou quando jogava com algum time carioca. Então adotei o Flamengo. Meu time de botão era o Palmeiras, mas tinha jogador de todos os times. Como não torcer por Falcão e Batista, Reinaldo e Éder, Casagrande e Sócrates, Zenon e Careca no Guarani, Carlos e Oscar na Ponte Preta; Roberto Dinamite e todos os goleiros! O grande ídolo era Leão, mas gostava muito do João Leite do Atlético Mineiro e também do Raul que jogou no Cruzeiro e Flamengo. Também era muito fã do Cantareli do Flamengo.

Nos anos 80 tinha Sala Especial. Tinham os filmes frustrantes em que as garotas só apareciam de calcinha e sutiã, mas tinham outros que surpreendiam com nudez frontal, mesmo que por poucos segundos!

Tinha um fator preocupante para o fim de semana: os postos de gasolina fechavam às 20h, e se minha memória não me trair, teve período que chegou a ficar fechado o fim de semana todo! Por isso que há histórias engraçadas de roubar gasolina de outros carros no meio da balada.

Brasília não tinha nada pra fazer, nenhum lugar pra ir depois das 22h/23h, mas não deixávamos de nos divertir e chegar em casa com o sol nascendo.

1985: 1ª sessão de fotos do Filhos de Mengele
Como disse, o início da minha adolescência foi marcado pelas fugas que fazia de minhas próprias irmãs que não me deixavam sair com o pessoal da Turma da Colina. Na mobilização das Diretas Já em frente ao Congresso, no dia da votação da emenda Dante de Oliveira, lá estava eu escondido – como poderia deixar de ir!

Também me lembro de um dia ter saído do trabalho, isso já em 1986 – quando eu era office boy em uma agência de comunicação e eventos que ficava no Edifício Venâncio 2000 – que fui embora a pé por causa da baderna que a população fazia na rodoviária por causa de um protesto contra o Sarney e seus planos furados. Foi um quebra-quebra generalizado. Vitrines de lojas sendo destruídas, carro de polícia para todos os lados, carros e ônibus pegando fogo, gente com pau e pedra na mão, polícia jogando gás. O bicho pegando e Sarney em uma missa na Catedral.

Parei na parte de cima da Rodoviária de frente para o Congresso, um corre-corre, lá embaixo uma zona e, de repente, a polícia joga fumaça no chão (não me lembro se era gás), e foi a hora que saí correndo pra casa sem mais pausas. Morava perto. Já dentro do apê, da sacada, cheguei até tirar fotos da fumaça subindo perto da rodoviária, mas perdi essas fotos...

1987: Aos 17 já com o pé em SP.
Camiseta comprada no show do Palace.
Uma das tantas coisas que fazíamos nessa Brasília que não tinha o que fazer, era ficar andando de carro sem rumo, fumando um e escutando as fitas em que gravávamos discos importados inteiros e montávamos coletâneas.

Teve o dia do jogo do Brasil contra a França na Copa de 1986 que não assisti. Essa Copa foi horrível, como a de 90. Era julho, meu primo e uma amiga de minha irmã Mila estavam em Brasília e fomos dar um rolé pela cidade. Lembro-me da gente em cima da cúpula do Congresso olhando em direção à Torre de TV, tudo vazio, nada de carros, silêncio...

Eu poderia ficar aqui muito mais lembrando tantas aventuras, porque histórias não faltam. Era muito gostosa a Brasília vazia dos anos 1970 e bastante intensa a dos anos 1980.

Pode parecer estranho, mas numa cidade que não tinha nada pra fazer, o difícil era ficar sem ter o que fazer.

Continuarei jogando lembranças nas linhas...

PS: Não poderia deixar de registrar a Fófi, a Bibabô,a Tube e o Cacareco.