Estava eu fazendo pesquisa de alguma coisa e vi essa matéria
da Folha de SP de 1975, onde fala da crise no rock brasileiro. O texto deixa
clara a esperança de ele ganhar o mainstream, porém sabemos que a década de
1970 foi de um rock marginal, por ser malvisto pela sociedade. Mesmo assim bandas
eram vistas em programas de TV, tocando ao vivo ou fazendo playback, e muitos
shows eram realizados. Os militares proibiam certos festivais, mas eles
aconteciam em teatros e outras casas fechadas. Não tocou nas rádios, não participou
de trilhas de novelas e não despertou suficiente interesse nem do público jovem
e nem das gravadoras. De fato rock progressivo não foi feito para tocar em
novela ou em rádio e raras foram as bandas de 1970 que conseguiram gravar disco.
Por falar em crise, olhando para os últimos 10 anos (para
ser bonzinho) dá pra ver que o rock brasileiro entrou num buraco que acredito
não ter fim. Não sou pessimista, mas realista. Vejo shows de bandas pequenas,
leio a respeito, procuro os artistas que os especialistas
indicam, mas não ouço nada que dê alguma esperança de mudança.
O problema atual não são as gravadoras. Não dá mais para se
esconder atrás dessa desculpa. O problema é que as bandas e os artistas solos
atuais, salvo duas ou três exceções, são ruins de doer. Não tem conhecimento
musical e nem conteúdo para escrever algo ao menos razoável. Já disse isso em
todos os textos da série Mais do Mesmo.
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Folha de São Paulo,
Caderno Ilustrada, Página 24, 19-maio-1975
Rock – Novo Impulso
Para o Rock Brasileiro
Por Carlos A. Gouvêa
O rock tupiniquim parece ter acordado, depois de dois meses
de inércia total, desde a proibição do festival “Hallellujah” pela Secretaria
de Segurança Pública. Se não fossem alguns promotores, nosso rock estaria
enterrado, pois se fossemos esperar pela iniciativa dos músicos de rock
brasileiros tudo estaria acabado.
Quatro shows estão programados entre 29 de maio a 1º de
junho, no auditório da Fundação Getúlio Vargas, onde se apresentarão 17 dos
melhores conjuntos de rock, fazendo um intercâmbio de artistas do eixo Rio-São
Paulo.
Além dos grupos de rock, a Trinka Promoções, firma
encarregada dos shows, apresentará nesses quatro dias, a partir das 19 horas,
exposições de fotografias, pinturas, cinema e artes plásticas em geral. Os
filmes curta-metragem que serão exibidos antes e após os concertos são de Salo
Felzen e as fotos de Richard Kohout, Júlio César, Thomas Endoza e Roberto Amitrano.
Na parte de artes plásticas...
A intenção dos organizadores é fazer uma feira onde as
pessoas possam ter contato com todas as variações apresentadas pelo mundo da
arte. Mas, o ponto que realmente nos interessa é o ressurgimento do nosso rock,
para pararmos de consumir apenas música importada.
Esse movimento, chamado “Banana Progressiva”, marca a volta
de um dos mais importantes grupos de rock da Argentina – Burmah – agora radicado
no Brasil e cantando diversas composições em português, de sua própria autoria.
O Burmah, lançado na Primeira Semana de Rock’n’Roll por Lady
Jane, revelou-se um dos melhores grupos da América do Sul. Liderado pelo contrabaixista
brasileiro Norton Lagoa, o Burmah apresenta-se com Eduardo na guitarra-solo,
Piojo na bateria e Javier nos teclados.
Depois de sua última apresentação no Brasil... No dia 25, o
Burmah estará se apresentando juntamente com o grupo Opus, no Clube Atlético
Juventus, e no dia 30 de maio estará no teatro da Fundação Getúlio Vargas, ao
lado do excelente grupo carioca Vímana, do Montanhas e de Edson Machado e a
Rapaziada.
Na abertura da programação, no dia 29, estará se apresentado
o Som Nosso de Cada Dia, com nova formação, tendo em suas fileiras o bom
guitarrista Egídio Conde, que fazia parte do grupo Moto Perpétuo. Com o Som
Nosso, no mesmo dia, estão programados os grupos do Rio de Janeiro Veludo e
Quarto Crescente, além do Bandolim, de São Paulo.
No dia 31 de maio, Erasmo Carlos e a Cia. Paulista de Rock
deverão sacudir o teto da FGV com seu autêntico rock-raiz. A seguir subirão ao
palco Manito, ex-Som Nosso, com seu novo grupo, o Bolha do Rio de Janeiro e o
grupo Biscoito Celeste. No encerramento, dia 1º de junho, estão escalados
Hermeto Pascoal, Barca do Sol (Rio de Janeiro), Jazco e Terreno Baldio.
Com essa programação, o rock brasileiro deverá tomar o
impulso necessário para confirmação das previsões de André Midani, presidente
da Phillips Phonogram e de muitas pessoas, de que 1975 será o ano do rock. Os
problemas enfrentados pela Trinka, quando fez promoção semelhante no Teatro
Aquarius, mas com conjuntos em expressão popular, lhe deve ter dado boa experiência
para não cair nos mesmos erros. Lamentavelmente, dois nomes do rock tupiniquim
estarão ausentes: Eduardo Araújo e Próspero, com seu excelente grupo Joelho de
Porco.
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