27 de abril de 2018

A Vida Pós The Clash


O fim do Clash foi um grande baque pros fãs e pro universo do rock. Apesar disso, o fato não foi uma surpresa pra ninguém já que as coisas não iam bem desde as gravações de 'Combat Rock', quando tudo foi piorando a ponto de Joe Strummer sumir por 3 semanas dias antes do início de uma turnê... o encontraram passeando em Paris.

Depois da saída de Topper Headon e Mick Jones, o Clash foi reformulado e ainda lançou Cut the Crap, mas faço parte dos fãs que não consideram esse disco como sendo um disco do Clash. É muito ruim, e não tem nada a ver com a banda. A única música que se salva é “This is England”, o resto nem precisa se dar ao trabalho de escutar. Ao vivo até era bom, mas já não tinha nada a ver.

Assim todo mundo foi cuidar da vida. Mick Jones foi o primeiro ex-Clash a lançar um trabalho: o Big Audio Dynamite que tem altos e baixos. Considero os primeiros discos ruins, só se salvando algumas faixas. Incluo aí o ‘Nº 10, Upping St.’ Que foi produzido por Joe Strummer e tem 7 músicas com ele e Mick Jones assinando juntos. Desse disco saíram 3 ótimas músicas de trabalho -  uma delas “V.Thirteen” a mais Clash de todas as músicas pós Clash – mas mesmo assim é um disco irregular. Ah, ainda tem a “Sightsee M.C!” que também acho legal. Mesmo assim, com a principal dupla de compositores do Clash junta novamente, o disco não chega perto do que era a ex banda.

Até a morte precoce de Joe Strummer em 2002, havia uma expectativa ainda maior do que a de ouvir alguma sonoridade da banda vinda dos ex-integrantes: a da volta da banda ou mesmo uma reunião. Nada disso aconteceu. Conversas sobre uma turnê comemorativa estavam começando quando Strummer morreu mas, apesar de todas essas participações conjuntas em vários projetos, nunca mais desde 1982 Joe Strummer, Mick Jones, Paul Simonon e Topper Headon subiram juntos em um palco pra tocar.

A discografia do BAD é extensa. São 7 discos entre 1985 e 1995. Altos e baixos. Tem 3 deles que acho legais: 'Tighten Up Vol. 88' (1988), 'Higher Power' (1994) e 'F-Punk' (1995).

O som do Big Audio Dynamite não supre a necessidade que o fã de Clash tem de escutar mais Clash depois do Clash, se é que você me entende!!?

Isso aconteceu, não com o BAD, mas muitos anos depois.

Naquele primeiro momento nada do que foi lançado pelos seus ex-integrantes ficou a altura do que foi o Clash. Qualquer lançamento gerava enorme expectativa. O mais corajoso em querer mostrar trabalho foi Mick Jones, e ele foi bastante produtivo porque nesses 7 discos do BAD foram registradas pouco mais de 80 músicas. Deu a cara à tapa. Fez coisas bem ruins, mas tem coisas bem legais também.

Gosto desses 3 discos que citei porque eles são os menos enjoativos. O BAD fez experimentos legais, mas muita coisa é repetitiva, mesma fórmula, mesma estrutura, o jeito de cantar e interpretar, a bateria eletrônica, os efeitos. Vejo o BAD como Mick Jones querendo brincar de ser adolescente novamente (não tenho a menor paciência para as longas introduções de muitas das músicas do BAD, viagens progressivas eletrônicas desnecessárias). E esses três discos são mais banda tocando do que máquina pré-programada. São composições mais maduras. Esses discos são bons exatamente por serem discos que mostram essa fórmula BAD desgastada, obrigando Mick Jones a explorar (e resgatar) outras sonoridades.

Os dois últimos lançamentos são inclusive os mais maduros e mais rock da discografia. 'Higher Power' foi um fracasso de vendas e ficou longe das paradas, mas é um baita discão; e 'F-Punk' é até mais rock, e o que mais se aproxima do Clash, tem várias músicas legais. A última desse último disco é uma pesada versão de “Sufferagette City” do Bowie que vale a pena ouvir.

Resumindo o Big Audio Dynamite: fique com os dois últimos discos e com o resto pode-se fazer uma bela coletânea de umas 12 músicas.

Com relação a Paul Simonon e Topper Headon, os dois foram os que menos produziram pós Clash. Headon teve sérios problemas com heroína, tanto em relação ao consumo quanto a tráfico, ficou preso, entrou em reabilitação  e entre altos e baixos continua aí. Ele lançou apenas um disco solo, o 'Waking Up', de 1986. É um ótimo disco de rock-jazz gravado por uma super banda de primeira, e vale a pena pra quem gosta de jazz, mas certamente fica bem longe do que é o som do Clash. Não que os fãs da banda esperassem de Topper algum lançamento com sonoridade da ex banda, mas há a expectativa, e ele mandou bem fazendo algo diferente do Clash e mais próximo de sua raiz. Topper Headon é um baita baterista (que toca outros instrumentos), de ultra bom gosto, e sempre gostou de jazz, tocou em banda de rock progressivo (que chegou abrir shows do Supertramp), até entrar pro Clash. É dele o ultra hit “Rock the Casbah”. Mas fora 'Waking Up' não fez mais nada.

Paul Simonon também resolveu ficar quieto após o fim do Clash. Pra mim, ele fez o certo. Só saiu da toca em 1991 quando lançou o único disco do Havana 3AM. Banda ruim, disco ruim. Faz uma mistura de reggae, surf music e rockabilly, mas que não deu certo. O vocal é ruim e as composições também. Pelo que me lembre uma única música se salva. Rockzinho fraco, cheio de clichês que acabou não dando certo... natural. 

Depois, em 2007, fez parte do projeto The Good, The Bad & The Queen que também não empolgou ninguém. Também participou dos discos 'Plastic Beach' e 'The Fall' do Gorillaz e dos shows desses discos (Mick Jones também). Paul é fundamental para a sonoridade do Clash porque foi ele que trouxe a influencia de reggae, dub, ska que acabou sendo uma das marcas da banda.

Por fim tem Joe Strummer que propositalmente o deixei por último. Logo após Clash ele lançou dois trabalhos: a trilha sonora de Walker (1987) e 'Earthquake Weather' (1989). A trilha sonora que não conta, e Earthquake são ultra irregulares. No disco de 89 até tem uma ou outra que pode se salvar, mas não foram trabalhos significativos. Daí ele se retirou, e ficou na dele. Passou praticamente os anos 90 tocando por aí com outros artistas, fazendo participações e até fez shows com The Pogues tanto como banda de apoio, como também sendo membro da banda.

Daí juntou uma rapaziada de bom gosto e formou o Joe Strummer & The Mescaleros. Ótima decisão. Sentiu que era hora certa e finalmente resolveu lançar material de qualidade. Joe Strummer tem uma história incrível, e já no início dos anos 70, com o The 101’ers no período Pub Rock, era um compositor de bom gosto. Os 10 anos que ficou quieto sem lançar nada foram ótimos pra ele, porque depois veio material de primeira, suficiente para satisfazer velhos fãs do Clash.

Infelizmente sua morte precoce pegou todo mundo de surpresa, e bem no momento em que ele estava em plena fase criativa. Por sorte conseguiu deixar 3 discos com os Mescaleros: 'Rock Art and X Ray Style' (1999), 'Global a Go Go' (2001) e 'Streetcore' (2003). Os trabalhos foram evoluindo, um disco melhor que o outro, a ponto de dizer tranquilamente que 'Streetcore' é o grande clássico pós Clash. Mas 'Global a Go Go' também é fodástico a ponto de te deixar escutar numa boa uma música de quase 18 minutos.

Esses três trabalhos tem muito a ver com o Clash experimental, o Clash do 'Sandinista!' e do 'Combat Rock' (disco de cabeceira que amo). O seu bom e velho estilo na guitarra e na voz estão lá. Perceptível que Joe Strummer está mais a vontade do que nos primeiros trabalhos. E todas as influencias dessa fase experimental do Clash estão nesses discos, mas com nova roupagem.

Os timbres, efeitos sonoros, os violões, piano e teclados, percussão e outros instrumentos diferentes, os jovens de bom gosto dos Mescaleros, tudo isso deixou o som rico e próximo ao Clash dos anos 80. É o amadurecimento natural que há muito era esperado pelos fãs. É o que o Sting, por exemplo, não conseguiu fazer pós-Police.

Você escuta 'Rock Art...', 'Global a Go Go' e 'Streetcore' e percebe um Joe Strummer a vontade, fazendo algo atual, fresco, porém com todas as características e influencias dos tempos de Clash. Eu ponho esses três discos pra tocar na sequência, são 38 músicas, e escuto na boa. Seja pra sair, pra comer, pra escrever, pra tomar banho, pra se trocar, pra passar o tédio... Joe Strummer & The Mescaleros é foda! É o Clash amadurecido.

O último, 'Streetcore', lançado em 2003, após a morte de Joe, estava sendo gravado por ele, mas na época ele ainda não tinha ideia final do disco. Não sei se todas, mas boa parte das vozes são guias que ficaram. A banda e amigos terminaram o disco, incluindo aí o fabuloso Rick Rubin. Sem dúvida é a obra prima de Joe Strummer. É a obra prima pós Clash.










2 comentários:

Ernesto Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ernesto Ribeiro disse...

Mick Jones é o sujeito com a maior cara de débil-mental da História do Rock & Roll (junto com a concorrência desleal de Ringo Starr e dos irmãos Sergio Dias e Arnaldo Baptista) mas foi no BAD que ele justificou a cara de cu e o nome da banda. O tecno-babaca trocou 7 anos no The Clash ("A Última Banda que Importava") por 35 anos (e contando) de uma dinamite enfiada no cu com o pavio aceso. Com todas as faixas esmerdeadas de gravações de diálogos de filmes, com nojinho de fazer "apenas" música. Com todos os integrantes do grupo uniformizados em macacões brancos e bonés de abas retas exibindo as 3 letras garrafais do nome da banda em tamanho mega-brega. Disparado, o maior OTÁRIO e o pior BUNDÃO da História da Música Pop.