1 de julho de 2014

São Paulo 1987-88

(Este texto é um complemento do Jogando Lembranças nas Linhas III)

Já faz um tempinho que venho escutando algumas coisas de São Paulo, do biênio 1987-88. Entre elas Gueto e Gang 90. Aí deu vontade de escrever novamente sobre esse período, que foi muito bom, com muitas histórias boas.

Quando cheguei a São Paulo morei por um tempo na casa de minha avó. Na mesma rua morava minha prima Denise, de Piracicaba, na época casada com Paulo Checoli, o Binga, músico fera também de Pira, maestro, arranjador e compositor de primeira.

Quando não estava no apê das amigas na Av. Angélica, eu estava na casa de Denise e Binga. Ficava muito lá, até porque passei a trabalhar com Binga, como roadie e também compondo e cantando jingles e músicas autorais. Inclusive cheguei a gravar no histórico estúdio Eldorado que ficava no centro. Tecladista, ele também tinha um piano em casa, toca violão que é uma beleza e ainda tinha um pequeno estúdio no quarto do fundo.

Logo após minha chegada fui fazer um estágio em uma agência de publicidade, mas em um ou dois meses fui trabalhar de assistente de produção de objetos na produtora 5’6 Produções, umas das mais requisitadas na época. Grande escola! Lembro que em um desses dois anos a 5'6 produziu o musical Emoções Baratas, que era encenado onde ficava o antigo Rádio Clube (na Av. Pedroso de Moraes) . Eram ótimos músicos e dançarinos. Parte deles da cena underground paulistana.

Nesse período Binga, de músico contratado, se tornou membro da banda Anjo Caído, que fazia rock romântico. A banda tinha lançado disco pela Continental, tocava nas rádios e, por isso, havia períodos de muitos shows. Muitas baladas. E assim fui conhecendo algumas pessoas da cena musical de SP desse período. Por conta disso, passei um tempo saindo com Tonhão e Ronaldo, quando os dois tocavam no Inocentes (nessa época a banda estava preparando o Adeus Carne).

(a grande coincidência dessa história do Anjo Caído, é que esse era o nome de uma banda de metal de Brasília, com Fejão, Parente, Bulhões, que por causa do Anjo Caído paulistano teve que mudar o nome para Fallen Angel)

Fui algumas vezes à casa do Skowa e (Carlos Eduardo) Miranda, que moravam juntos em Pinheiros, em uma rua atrás do Aeroanta. Nessa casa, Miranda me apresentou ao Pixies (Surfer Rosa) e me mostrou o Sanguinho Novo antes de ser lançado (coletânea tributo ao Arnaldo Baptista).

Nesse período tinha montes de grupos surgindo: Luni, Skowa e a Máfia, Fábrica Fagus, Lagoa 66, Nau, 365, Gueto, Gang 90 (reformulada), Patife Band e outras. Uma nova cena que infelizmente não vingou.

Na TV Cultura tinha um programa musical chamado Boca Livre, que era gravado em um teatro no centro (não lembro o nome), eu fui em várias gravações e sempre ficava nos bastidores. Lá conheci uma porção de gente, inclusive Redson, no dia em que Cólera tocou lá. Aconselho você ir ao You Tube e procurar por "programa boca livre". Vai ser diversão na certa. Lá estão todas as bandas paulistanas desse período, conhecidas ou não, e muitas outras.

Havia um clima bacana. Os integrantes dessas bandas se conheciam, e elas faziam shows juntas e todo mundo se encontrava, e ainda tinham as Black Nights no Aeroanta (se não me engano isso foi invenção do Haroldo Tzirulnik!), que era o momento em que essa amizade aparecia também no palco, com integrantes de todas essas bandas tocando juntos, sucessos da soul music. Essa noite black se tornou um clássico e toda semana lotava.

Dessa época, tenho gravações de um show especial de aniversário de 10 anos da Baratos Afins que rolou no Projeto SP, com trocentas bandas, todas as que participaram das coletâneas Não São Paulo, e outras. Eu fui nesse show, mas não sei como essas gravações foram parar na minha mão. Nesses dias de show a festa já começava na passagem de som. Se não me engano um show com várias dessas bandas também aconteceu no Aeroanta.

Tinham outros lugares onde vi bons shows: o Teatro Mambembe, Centro Cultural, Latitude 3001 (restaurante / casa noturna em formato de navio que ficava na avenida 23 de maio), Rose Bom Bom, Madame Satã (me lembro de um show bem louco do Bocato que vi lá, logo quando cheguei em SP).

Só pra situar, alguns lançamentos musicais internacionais de 1987: Prince com o clássico Sign ‘O’ the Times (o auge de sua carreira); Michel Jackson, o ultra aguardado Bad; Guns’n’Roses Appetite for Destruction; Anthrax Among the Living. E tinha a grande novidade: Terence Trent Darby.

Depois do Rock in Rio o Brasil passou a receber mais shows internacionais e nesse biênio teve Ramones, The Cure, Echo and the Bunnymen, Big Audio Dynamite, PIL, Sting, Iggy Pop, New Order. Só shows históricos. Me divertia pacas!

Essa nova geração de bandas brasileiras que apareceu pós Plano Cruzado podia não ter força comercial, mas isso não significa que não eram boas bandas. Os shows eram divertidos. Só que vivíamos uma ressaca do Plano Cruzado, e o país estava se afundando em uma enorme crise econômica.

Não foi só em São Paulo que houve fracasso comercial. Isso aconteceu com bandas e artistas do Rio, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Brasília. Muitas gravaram e não aconteceram. 

Nessa época as bandas de Brasília eram frequentes em SP: Escola de Escândalo, Arte no Escuro, Detrito Federal, Finis Africae, Capital Inicial, Plebe Rude e Legião Urbana. Tirando o Capital, que até hoje mora em SP, o resto, quando estava na cidade, era festa! Boas noitadas!

Ah! E tinha o Sushiban, que ficava na rua Teodoro Sampaio. Era uma mistura de bar com restaurante japonês, e muitas vezes servia de pontapé inicial para as aventuras noturnas.

Fiquei muito triste por ter saído de Brasília, mas com a intensidade dos acontecimentos nesse biênio mal respirei. Pra mim, esses dois anos foram importantes. Como já disse aqui, tive sorte de ter vivido intensamente os anos 80 e 90. Estando sempre no lugar certo, na hora certa.

Ótimas lembranças!!! São Paulo era outra. Muito mais divertida. Muito mais legal.




Áudio razoável


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