30 de janeiro de 2020

O Punk Distorcido

O punk surgiu como forma de expressão artística dentro do rock. Todo mundo sabe da história que resumindo é Ramones quebrando os paradigmas do chato do rock progressivo com músicas curtas e nada de solos. Isso começou em 1974 e foi sendo moldado até o próprio Ramones lançar o 1º disco em 1976. A palavra punk surgiu naturalmente a partir de um fanzine que reportava a nova cena nova-iorquina. Ou seja, tudo arte, tudo diversão.

Não havia a conotação política, só incorporada depois por outros grupos.

Corta pra Londres na 1ª metade da década de 1970 porque é importante deixar aqui citada a cena pub rock, muito importante para o punk inglês.

Em Nova York, na cena punk que frequentava CBGB e Max Kansas City, tudo aconteceu sem querer, com criação de fanzines e shows todos os fins de semana. Tudo girava em torno da música, de poesia e artes plásticas. Tinha Patti Smith, Television, Richard Hell, Talking Heads. Aí personalidades já conhecidas colaram na cena como Lou Reed, Andy Warhol, New York Dolls, Iggy Pop, David Bowie e que também eram influências.

A essência do punk é a simplicidade e isso ficava claro no som, nas roupas, no texto, nas colagens e pôsteres. Chegou pra provocar o rock progressivo e o comportamento daquele período. No pub rock a mesma coisa: o resgate da simplicidade e das raízes do rock.

Richard Hell apareceu com roupas rasgadas e alfinetes de fraldas emendando-as; Ramones com roupas sujas, jaquetas de couro, jeans e tênis, lembrando Marlon Brando em ‘O Selvagem’.

Daí tem a parte muito conhecida que é a ida de Ramones para Londres e a partir dali tudo mudou para os ingleses... e pro mundo. Junta-se a esse fato a história de Malcolm McLaren ter ido morar em NY, ter se tornado empresário do New York Dolls e depois em sua volta ter formado o Sex Pistols.

Na parte inglesa da cena punk os músicos incorporaram no texto seus problemas sociais, e também incorporaram a postura e a atitude irônica do pub rock (e do próprio inglês) que também usava roupas sujas e visual desleixado. Os dois principais grupos dessa cena, Sex Pistols e Clash, cada um ao seu modo, trouxeram novidades ao discurso. Pistols resolveu provocar os costumes e tradições inglesas; e Clash partiu para causas, digamos, mais humanistas.

Pouco depois veio as 2ª e 3ª gerações de grupos ingleses que já falavam abertamente sobre classe trabalhadora, desigualdade, etc.

Também por causa de Malcolm McLaren e de sua namorada Vivianne Westwood, o punk inglês trouxe uma nova linguagem visual, e até mais provocativa que a americana.

A partir daí cada país que abraçava o punk, incorporava ao discurso seu contexto social. Aqui no Brasil entre os temas mais comuns dos primeiros grupos do movimento punk há músicas contra a pobreza, a desigualdade social, ditadura militar e a terceira guerra mundial (a Guerra Fria).

Aos poucos o punk deixou de ser apenas uma expressão artística pra também falar da realidade social. Em qualquer lugar do mundo os punks são geralmente assalariados e trabalham em subempregos. Isso não é uma regra, mas é comum. Porém há também muito punk de classe média, incluo aí muitos punks gringos e brasileiros muito conhecidos. A cena punk americana do início dos anos 80, digo Black Flag, The Germs, Circle Jerks e outros, eram todos de classe média.

Esse discurso fajuto que fala que o punk tem que ser pobre é ridículo e preconceituoso. É algo altamente idiota. Como disse, há muito punk gringo bem de vida (e brasileiros também, não!?). Todos esses punks que começaram o movimento tinham suas casas e suas famílias. Nem nos EUA e nem em Londres tinha punk morto de fome e vivendo na desgraça absoluta... e nem aqui no Brasil! Se assim fosse não teria como ter instrumentos, local de ensaio, equipamentos…

Também não é por ter comida e casa que você está proibido de falar sobre miséria e fome. Num exemplo esdrúxulo, não precisa ser doente para defender os doentes, certo!?

Quando os próprios punks começam a colocar regras e limites, automaticamente eles passam a exercer algo que é execrado pelo movimento: a falta de liberdade. Punk querendo impor um sistema, é isso!?

Um movimento que sofreu, e ainda hoje sofre preconceito, não pode ser preconceituoso. Conheço "punk" famosinho que deixou de falar com outros punks por eles serem gays. Tem muita falsidade por aí, cuidaaado! 

Independente do discurso, o movimento punk nunca poderá abrir mão da utopia de existir liberdade absoluta e anarquia. Falo inclusive da liberdade e anarquia artísticas, que é o que o Ramones, por exemplo, exerceu.

Nessa polarização tardia do Brasil, é lamentável ver pessoas que se dizem punks levantarem bandeiras ideológicas. Quem escolhe defender um lado não é punk, exatamente pelo fato do punk não ter lado. Como acabei de dizer, o punk quer liberdade, o punk quer um mundo livre de bandeiras, de muros e de fronteiras.

Punk não escolhe lado, punk quer o fim dos lados e das diferenças! Liberdade é igualdade! Não ter fronteiras e muros é ter liberdade e igualdade! Sou cidadão do mundo e tenho direito de ir pra onde eu quiser sem precisar pedir autorização a ninguém!

E algo até mais grave: se olhar tanto para o lado direito, quanto para o lado esquerdo, e qualquer outra via, verá que em todas elas há ditaduras totalitárias, cruéis, genocidas e preconceituosas.

Hitler, Mussolini, Lenin, Stalin, Mao Tse Tung, Fidel e Che, Hugo Chaves, Franco, Pinochet e diversos outros. Como defender monstros assim? Jamais o movimento punk poderia sequer imaginar abraçar qualquer ideologia sanguinária.

O movimento punk não é contra o sistema?!? Então! Esse sistema de escravidão da ideologia não está com nada, não me engana, porém idiotas que se acham punks abraçam essa imbecilidade imposta por uma elite que se alterna, mas nunca sai do poder.

Coincidência eu começar a escrever esse texto e surgir essa discussão na minha rede social. Como escrevi em outro lugar, a ideologia é apenas uma ferramenta que ditadores e viciados em poder usam para manipular a situação a seu favor. Idiotas são aqueles que se deixam levar por esse discurso ideológico manipulador e materialista. Esses políticos sabem que se dividir a população em pequenos grupos, é mais fácil manipulá-la.

É bom registrar aqui também que os países onde surgiram o rock e o punk são liberais, conservadores e capitalistas! Estados Unidos e Inglaterra (onde inclusive nasceu o Liberalismo). Essas expressões artísticas jamais seriam possíveis em um país comunista. JA-MA-IS! Tanto que não existem!

Daí eu fico doido em ver um monte de alienados manchando o movimento punk e levantando essas bandeiras idiotas, principalmente, a da esquerda. Você aqui defendendo o comunismo e ele matando gente igual a você. Um exemplo ao lado é a Venezuela, que prende opositores, faz a população morrer de fome... e você aqui fazendo músicas que defendem esse tipo de coisa. Bando de idiotas. 

Como defender a quem mata professores, poetas, músicos, escritores, autores, intelectuais, crianças, idosos, mulheres, gays, pessoas especiais, minorias? Como defender sistemas que impõem censura e impedem pessoas de ir e vir? Como defender a quem se diz contra a liberdade de expressão? (“vamos regulamentar os meios de comunicação!”. Quem diz isso?)

Certamente uma pessoa que defende essas coisas só pode ser doente. Punk que não é! Não mesmo!

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Posfácio

A discussão que participei sobre ideologia e punk rock foi longe e, pra mim, decepcionante.

É preciso frear de vez essa ode alienada ao cruel comunismo. Já escrevi e repito: Como alguém pode defender um sistema que matou (e ainda mata) artistas, músicos, escritores, atores, pintores, poetas? Como defender um sistema que queimou pinturas, livros e discos? Como defender um sistema que literalmente mata a população de fome? Como defender um sistema que proíbe propriedade privada? Que mantém censura e proíbe obras autorais que não tenham autorização do governo?

Em resumo: como defender um sistema que é contra a arte que você gosta e/ou faz?

Nunca existiu rock, muito menos punk rock em países comunistas. Não existia punk rock na União Soviética, na China, na Alemanha Oriental, Coréia do Norte, Cuba, Camboja  ou qualquer outro dos mais de 20 países comunas que formavam a URSS.

Até surgiram alguns poucos grupos de rock, mas se mantinham na clandestinidade, não podiam fazer show, os ensaios eram precários, e não há gravações oficiais. Imagine ter um grupo de rock em um país em que os próprios cidadãos se vigiavam e tinham prazer (e benefícios) em dedurar até mesmo pessoas da família. E esses poucos grupos que existiram, não era em cada país, mas sim um ou outro grupo somando os mais de 20 países socialistas. E certamente se fossem descobertos era prisão, tortura e morte. Ou no melhor dos cenários, trabalho forçado pro resto da vida.

Onde você acha que foi parar um dos rappers autores da música “Patria y Vida” que fala da ditadura cubana? A última notícia que tive dele, no fim de 2021, é que estava em greve de fome na prisão. Antes que você pergunte, já digo que ele foi preso, claro, por causa da música.

Por ficar no bloco ocidental da Europa, na Iugoslávia havia rock e o sistema não era tão fechado quanto os outros sistemas comunistas, até porque as pessoas podiam viajar para outros países. Dá até pra comparar, de certa forma, com o Brasil militar em que tudo era mais rígido, havia censura, porém existiam grupos como 'Secos e Molhados' e 'Dzi Croquettes', e festivais como o de Águas Claras, Saquarema e até Hollywood Rock.

E outra, mesmo se existisse grupo punk em países comunistas e sem censura (ironia), do que você acha que eles iriam reclamar? Ou seja, os jovens em países socialistas gritariam contra o que você aqui no Brasil enaltece. Veja, por exemplo, o que o idiota do Vladimir Putin já fez com o grupo feminino Pussy Riot! As meninas do grupo estão exiladas, não podem voltar para a Rússia e são procuradas pelo Governo. Sabe o que elas defendiam? Feminismo, liberdade de expressão... e eram presas a todo instante até resolverem fugir do país.

Você pode até falar de grupos punks brasileiros dos anos 80. Era outro contexto. Vivíamos em um Regime Militar e nada irritava mais os milicos do que falar em comunismo. A provocação era essa, porém muita gente com falta de conhecimento levou isso a sério e até hoje carrega essa bandeira idiota.

Dou como exemplo o Cólera do grande e saudoso Redson. Ele até podia levantar a bandeira da esquerda (nesse contexto dos milicos), mas é só ver do que ele fala: 'Tente Mudar o Amanhã', 'Pela Paz em Todo Mundo'. 'Verde, Não Devaste'. Olhando esses títulos (e outros) te pergunto: onde diabos é necessária a porra da ideologia para defender essas coisas?

Quer ser um punk de verdade? Então escute o velho punk aqui: fale de um mundo livre de manipulações.

PS: Por que diabos todos os ditadores comunistas se vestem com uniformes militares?

7 de janeiro de 2020

Em janeiro...

O mês de janeiro costumava ser um mês legal e cheio de novidades. O verão trazia vários eventos especiais pelas praias do litoral brasileiro Produtos exclusivos de verão eram lançados; muitos filmes; as músicas dos discos lançados entre novembro e dezembro bombavam nas rádios; roupas e acessórios. Enfim, era algo bastante aguardado pelos jovens, principalmente na década de 80, quando houve a abertura política, inúmeras mudanças de comportamento, e o jovem era a bola da vez no mundo, não só no Brasil.

Hoje infelizmente por conta dessa revolução tecnológica que vivemos atualmente até mesmo o verão perdeu seu brilho.

Lembro de assistir a Butch Cassidy and Sundance Kid  e a filmes do 007. Surf, tatuagem, a onda dos patins, gírias, máquinas de fliperama e até lançamento de cigarro faziam parte desse universo que parecia infinito. Os filmes lançados perto do final do ano também influenciavam no comportamento não só pelas roupas e gírias, mas as músicas e os acessórios. Por exemplo, no final dos 70 as discotecas bombavam; nos 80 eram as danceterias que bombavam; e ambas faziam suas versões para o litoral.

No início dos 80 houve a febre dos patins, muito por causa do filme Xanadu. Surgiram diversas pistas de patins e um dos hits do verão foi “De Do Do Do De Da Da Da”, do Police.

Muita data legal pra registrar aqui, e muitas evidentemente diretamente ligadas ao verão, mas vou por ordem cronológica, e já no final dos anos 50, mais precisamente em 1957, quando o rock brasileiro tinha apenas 1 ano e 3 meses, já teve lançamento de Agostinho dos Santos (“Até Logo, Jacaré” – versão de “See You Later Alligator”), Betinho e Seu Conjunto lançou regravação rock (já visando o público jovem) de “Neurastênico”, música de sua autoria bastante regravada entes dele mesmo, mas em versões fox, orquestradas como com Raul de Barros e com Os Cariocas. Essa música foi resgatada na trilha da novela ‘Estúpido Cupido’, junto com outras da 1ª geração rock.

Ainda em 1957 há um fato absolutamente importante para a história do rock brasileiro: Caubi Peixoto gravou “Rock’n’Roll em Copacabana”, primeiro rock brasileiro cantado em português, e bem ousado e pesado pra época. Caubi o gravou porque ainda não havia cantores de rock e como as gravadoras queriam apostar nesse novo gênero, então escalaram o grande galã da época.

Pra fechar os anos 50 – se vê como o rock brasileiro há história “a dar com pau” – também em janeiro, só que de 58) que o filme ‘Minha Sogra é da Polícia’ foi lançado. Nele tem o próprio Caubi Peixoto cantando “Let’s Rock” acompanhado com The Snakes, banda de Tim Maia, Roberto e Erasmo Carlos. Uma pérola que se encontra no YouTube.

Em 1961 teve lançamento de Tony Campelo e Sônia Delfino, e também o primeiro disco lançado por Roberto Carlos chamado ‘Louco Por Você’, mas 100% bossa nova.

Pouco depois surgiu a Jovem Guarda e diversos lançamentos dessa cena. The Clevers, Rento e Seus Blue Caps e The Jet Blacks tem lançamentos de verão, mas há três que merecem destaques por terem se tornado clássicos eternos: Em 1966 a dupla Leno & Lilian lançou compacto com “Pobre Menina” (daqueles hits que você lê o título cantando); em 1967 Eduardo resgatou a carreira com o clássico disco ‘O Bom’ (com “Vem Quente...”, “Goiabão” e outros hits); e também em 1967 Sérgio Reis lançoucompacto com “Coração de Papel”, um hit que se tornou tão grande que ultrapassou a classificação de qualquer gênero pra se tornar uma canção da música brasileira.

Como se vê, para o nosso rock os verões brasileiros eram plataforma de lançamento já nos anos 1950!

Dos lançamentos dos anos 70 destaco dois: Em 1970 o Módulo 1000 lançou o mega clássico ‘Não Fale com Paredes’, disco cheio de histórias e hoje super cultuado sendo procurado por colecionadores do mundo todo; o outro é o ótimo ‘Vamos Pro Mundo’ do Novos Baianos, lançado em 1975, sendo o primeiro sem Moraes Moreira, apesar dele assinar algumas composições.

Mesmo em uma década em que o rock ficou fora da grande mídia, muita coisa aconteceu. De forma independente ou não, muitos discos foram lançados, muitos shows foram realizados – tanto em teatros, quanto em ginásios – e mesmo estando fora da mídia eletrônica como televisão e rádios, havia certo espaço na mídia impressa.

Inclusive festivais foram realizados, e outros tantos cancelados pelo Regime Militar. Mas tiveram alguns que entraram pra história. Em 1975 aconteceram, por coincidência, dois grandes festivais: Hollywood Rock e Águas Claras, em Iacanga.

O Hollywood Rock aconteceu no Rio, no estádio do Botafogo, e foi organizado por Nelson Motta. Esse chegou a ir para as telas de cinema em 1976 com o super título de ‘Ritmo Alucinante’. Era só artista de ponta como Mutantes, Raul Seixas, Rita Lee, Celly Campelo, Erasmo Carlos, O Terço, O Peso, Vímana e Veludo. Mesmo que em pedaços, as apresentações estão disponíveis no YouTube. Registro maravilhoso e importantíssimo, único para grupos como Veludo, Vímana e O Peso.

O Festival de Águas Claras realizado em Iacanga, interior de São Paulo fez história e teve força pra 4 edições. Ano passado foi lançado o excelente documentário ‘O Barato de Iacanga’, agora disponível na Netflix, e vale muito a pena assistir. O que seria algo local entre amigos acabou se tornando palco para shows de Mutantes, O Terço, Moto Perpétuo, Som Nosso de Cada Dia, Walter Franco e tantos outros nomes.

Foram 4 edições: 1975, 1981, 1983 e 1984. Porém só a 1ª edição aconteceu em janeiro. Sem dúvida foi o nosso Woodstock, mesmo sem ter essa intenção. A história de ambos é até parecida, pois os dois aconteceram por acaso, sem intenção de ser o que foi, aconteceram no interior e em fazendas, movimentou multidões e mexeu com a economia da região. Além do ‘O Barato de Iacanga’ vale assistir também o filme ‘Aconteceu em Woodstock’, os dois imperdíveis.

Já que estou aqui falando de festivais de verão, vou pular um pouco a cronologia pra abrir a década de 1980 com o Rock in Rio de 1985. Inclusive ele aconteceu no dia 11 de janeiro, mesma data do Hollywood Rock 75. Aliás, no dia 11/01 há vários acontecimentos.

O Rock in Rio foi o primeiro festival internacional que aconteceu no Brasil. Abriu o ano que foi o 1º após o fim do Regime Militar, momento em que o país via novos horizontes cheios de esperança. Era o fim de uma repressão que nos colocava medo. Um amigo que foi em todos os dias do RiR, disse que no primeiro dia chegou embrulhado na bandeira do Brasil e o funcionário da catraca falou: “Me dá essa bandeira porque tu extá dexrexpeitando a pátria”. E tomou a bandeira do Rodrigo, e ele não pôde falar nada.

Mas nesse novo horizonte também estava incluída uma gigante mudança de comportamento.

Havia muito ceticismo no ar, por parte de todo mundo, mesmo pra quem havia comprado ingresso. Eram nomes importantes da música internacional que viriam pra cá e mesmo vendo todos eles chegando no aeroporto do Rio, e caminhando pelo calçadão de Copacabana, havia muita gente – inclusive eu – que só acreditaria em tudo na hora em que todos eles subissem no palco.

Pra piorar todo o ceticismo em volta desse 1º RiR, também havia a história da previsão de Nostradamus que falava, grosso modo, de muitas mortes em um grande evento. Muitas reportagens foram feitas, e muitos pais e avós pediram aos seus filhos e netos que não fossem para a cidade do rock.

É difícil dizer um momento alto do festival porque todos os shows foram históricos e todos eles tiveram momentos eternizados, como BarãoVermelho cantando “Pro Dia Nascer Feliz”, música que caiu como uma luva para o momento do país. O show do Yes, que foi o último; Iron Maiden, AC/DC, e até James Taylor fez história ali.

Abrir o festival com show do Ney Matogrosso já foi começar com o pé direito, mas o melhor show do RiR 85 foi do Os Paralamas do Sucesso, que era só o trio e seus instrumentos tocando de dia. Não havia cenário ou qualquer produção, era apenas o tesão e a vontade de botar pra fuder. Com sugestão de Caetano Veloso o trio pegou alguns coqueiros que estavam no corredor dos camarins e os colocaram no palco. Essa foi a produção, esse foi o cenário. Puta show!

Ainda no dia 11 de janeiro, além de dois grandes festivais, há a estreia de dois grandes grupos: Aborto Elétrico e Engenheiros do Hawaii. O show do Aborto aconteceu em 1980, o do Engenheiros em 1985 (rivalizaram com o RiR!).

Esse 1º show do Engenheiros existe em áudio, e no repertório tem até “Lady Laura”, de Roberto Carlos. A formação era a mesma que gravou o 1º disco, lançado em 1986.

Mas antes de lançar o ‘Longe Demais das Capitais’, o EdH participou da histórica coletânea ‘Rock Grande do Sul’, lançada janeiro junto com os grupos Replicantes, De Falla, Garotos da Rua e TNT. Engenheiros entrou com “Sopa de Letrinhas” e “Segurança”.

Quem gosta do Rock de Brasília sabe que o Aborto Elétrico foi o 1º grupo punk de Brasília e que tinha em sua formação Renato Russo e os irmãos Fê e Flávio Lemos. Fim do grupo em 1982 surgiram Legião Urbana e Capital Inicial, e cada um desses grupos aproveitou músicas do Aborto em seu repertório. O resto é história. Esse 1º show não assisti, mas vi a muitos outros que aconteciam perto de onde eu morava em BsB.

Coincidências da vida, janeiro foi o mês em que Renato Russo fez o 1º show de sua vida, mas também foi o mês que fez o último show de sua vida. Também foi o mês em que foi lançado seu primeiro disco. O último show aconteceu em Santos, no Reggae Night, e foi o encerramento da desgastante turnê do disco ‘O Descobrimento do Brasil’.


Já que falei de coincidências e curiosidades, vale então registrar que o grupo Tokyo, de Supla, começou e encerrou a carreira profissional em janeiro! O primeiro disco foi lançado em 1986 e o último show - assim como Cazuza - aconteceu em 1989. Apesar de ter algumas músicas legais, Tokyo foi nada relevante. Apesar disso o ex-tecladista Marcelo Zarvos se tornou um compositor de trilhas de filmes para Hollywood e chegou a ser até indicado ao Oscar pela trilha do filme 'Fences' (Um Limite Entre Nós), e o guitarrista BiD virou produtor e foi responsãvel pelo excelente 'Afrociberdelia' do CSNZ, entre outros trabalhos.

escrevi aqui um texto em que comparo a carreira de Renato Russo e Cazuza – alias um dos mais lidos do  blog – e aqui vai outra curiosidade  na carreira dos dois: foi em janeiro que Cazuza fez seu primeiro show solo e também foi quando ele fez seu último show da carreira.

E veja só, o mês abre com o lançamento do 1º disco daLegião Urbana. Por falar em lançamento histórico, há alguns outros tão importantes quanto. Vou aos lançamentos: o 1º compacto do RPM com “Louras Geladas” (foi quando também o saudoso amigo PA entrou para o RPM); Rádio Taxi com o compacto que tem “Garota Dourada”; Cazuza com o ao vivo ‘O Tempo Não Para’; Sepultura com ‘Arise’; Herva Doce com 'Amante Profissional'; Eduardo Dusek & João Penca com ‘Cantando no Banheiro’ (o show rolou no Circo Voador). No contexto das efemérides, a curiosidade desse trabalho conjunto é que Dusek assistiu a um show do João Penca em janeiro de 82 e convidou o grupo pra trabalhar junto, e que culminou no ‘Cantando...’.

Falar em verão é também falar em Circo Voador, principalmente se tratando de anos 80! Durante os verões muitas coisas aconteciam na lona do Circo, inclusive seu próprio surgimento que aconteceu em 15 de janeiro de 1982, ainda na Praia do Arpoador. E pouco tempo depois, já nos Arcos da Lapa, teve início o evento chamado ‘Rock Voador’, idealizado por Maria Juça e que durou até 1986. Por ele passaram todos os nomes do rock brasileiro dos 80 e de registro deixou a coletânea ‘Rock Voador’ lançada também em janeiro e que tem Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Sangue da Cidade, Celso Blues Boy, Papel de Mil, Malu Vianna e Maurício Mello & Companhia Mágica.

Dá pra notar que os acontecimentos dos 80 são infinitos!

Nos anos 90 o festival Hollywood Rock reinou nos verões dessa década até 1996, quando aconteceu a última edição com Rolling Stones, Rita Lee e Barão Vermelho, pra fechar com chave de ouro.

E de marcante mesmo nessa década são dois fatos: a criação do selo Banguela, numa parceria entre Titãs e Warner, e que praticamente resume o que foi o rock brasileiro nos 90. Não pelos lançamentos, mas pelo pioneirismo em vários sentidos. Participei bem de perto desses anos todos de Banguela, e muita coisa girava em torno dele, assim como muita coisa girava em torno da MTV. Esse miolo dos anos 1990 foram ultra mega intensos e os descrevo um pouco na ‘Série Anos 1990 SP’ (acho que são 13 publicações a partir de julho/2010).

Infelizmente fecho o texto com um triste acontecimento envolvendo o Sepultura, pois foi exatamente em janeiro que Max Cavalera anunciou sua saída do grupo.

PS: Acompanhe no instagram efemerides_do_rock_brasileiro