15 de setembro de 2013

Adorava Gravar Discos

Depois de 3 anos sem ele, consegui meu exemplar de 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer. Minha brincadeira é abri-lo para procurar discos para baixar. Às vezes abro em determinados períodos, por exemplo, gosto de discos lançados entre 1979 e 1982, punk, pós-punk e new wave. Gosto de lançamentos de 1989 a 1991, da cena Madchester, Stone Roses e o início de misturas de rap com jazz, tipo Soul II Soul, Brand New Heavies, A Tribe Called Quest, coisas de que nem sou muito fã – algumas músicas, mas que também marcou nesse período.

Resgatei meus poucos vinis que restaram depois de tanta andança na vida. Sobraram os fieis rsrs. Aí bateu uma saudade de momento que me fez lembrar os bons e velhos anos 80 em Brasília. Meu pai adorava equipamento de som, então tínhamos duas pick ups, um mixer/equalizador, dois toca fitas. Não à toa o pessoal ia à minha casa passar a tarde gravando discos e fitas, já que era raro alguém ter dois toca fitas.

Nem todos os discos que saiam lá fora, eram lançados no Brasil. Era a gravadora que decidia se deveria ou não lançar edições nacionais de discos lançados na Europa e Estados Unidos. Discos importados só eram possíveis quando alguém viajava pra fora, o que também não era muito comum. Por tudo isso, o acesso a discos importados, portanto raros, era quase impossível, então a gravação de fita para fita, a cópia da cópia, era comum e fundamental.

Fitas eram caras, as mais baratas eram nacionais do tipo Basf, que quebravam um galho, mas ainda assim tinham um preço salgado. Não dava pra chegar à loja e pedir cinco fitas de uma vez, e nem comprar uma por semana. As importadas (TDK, Sony, etc) eram muito caras. As importadas que eu tinha eu só gravava discos importados.

Eu pegava ônibus, assim como outros amigos, só pra ir à casa de alguém ver e pegar em um disco importado de uma banda do coração. It’s Alive do Ramones foi uma delas, assim como discos do XTC, Talking Heads, Cure, Jam, PIL, Bauhaus, Joy Division e mais um monte. Ainda hoje há muitos discos de vinil de muita banda que amo, discos que escuto assiduamente, que nunca vi o vinil. Conseguia tudo fazendo cópia de outras fitas.

Por outro lado eu tinha os recém lançados La Folie do Stranglers, Combat Rock do Clash e Plastic Surgery Disasters do Dead Kennedys, entre outras coisas também ótimas. Isso me dava aval para negociar gravações de discos que eu não tinha ou mesmo de fitas. Como a minha casa sempre tinha gente, eu fazia os amigos levarem seus discos até lá para eu poder gravar.

Havia a preocupação em não deixar o lado da fita acabar cortando a música seja no início, no meio ou no fim dela. Na base do olhômetro dava pra saber quando uma música caberia inteira ou não antes do fim da fita.

O tempo da maioria dos vinis varia entre 34 e 40 minutos, e sempre sobrava fita para gravar algo extra, em torno de 2 a 6 músicas. Então enquanto um disco era gravado, procuravam-se outras músicas para gravar na sobra. Era um maravilhoso ritual, porque ao mesmo tempo em que você gravava algo, você ficava olhando o disco, lendo o encarte, conversando sobre música. Éramos obrigados a olhar para o selo central do disco, para poder saber o lado e também procurar músicas, e ali mesmo muitas vezes há o nome dos autores das músicas, o que é um conhecimento a mais. Lia ficha técnica e até o nome do engenheiro de som se sabia hahaha. Até o tempo do intervalo de uma música para outra era sabido. E por isso era muito irritante comprar um disco que não vinha encarte, não tinha letras e nem ficha técnica. Quando isso acontecia eu xingava todas as gerações dos donos de gravadoras.

Parar a fita para trocar o lado do disco, limpar a agulha, correr a fita virgem antes de usá-la, limpar o disco, escrever o nome das músicas na capinha das fitas. Geralmente fita virgem era usada para gravar um disco importantíssimo. Virava bagunça quando alguém resolvia gravar uma coletânea. Aproveitava os discos lá de casa, trazia outros e a cada música ia se trocando os discos e intercalando a gravação entre as duas pick ups, como se tivesse discotecando. A sala ficava uma bagunça com tanto disco fora da capa. Caneta e papel para anotar as músicas. As coletâneas eram importantes, podiam te transformar em uma pessoa cool. Era uma disputa velada pra ver quem gravava as coletâneas mais legais – e elas acabavam gerando várias cópias.

Como tinha equalizador em casa, dava pra eliminar os espaços entre as músicas emendando-as, assim nas festas, quando se botava uma fita dessas, não havia respiro. Também era normal escutar essas coletâneas para dar os rolés de carro por Brasília.

O movimento em casa era constante, conheci muita banda graças a esse período que durou de 1982 a 1987. Anos intensos. Ainda tenho muitas fitas com coletâneas e outras gravações. Hoje pode até haver pick ups, equipamento legal, pessoas comprando discos, lançamentos especiais e tals, mas nunca mais será como era antes, até porque gravar discos não faz mais sentido. Sou privilegiado porque vivi isso. Fica na memória. É bom assim.

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