18 de novembro de 2018

Punk Rock

Comecei a escutar punk rock em 1980 com uma fita da minha irmã mais velha Mila. Nessa fita tinha Sex Pistols, Ramones, Siouxsie and the Banshees e Generation X.

Entrei neste universo conhecendo e escutando o punk rock clássico dos anos 70 tanto o americano, quanto o inglês: Clash, Jam, Damned, Television, Talking Heads, Buzzcocks, Stranglers...

Fui abençoado por estar em Brasília no lugar e no tempo certos. Quanto a isso, tive bons professores. Como na Turma também havia filhos de diplomatas de lugares diferentes, acabávamos tendo acesso a bandas da Europa, pré-punks, punks e pós-punks incomuns até para quem morava em São Paulo – a outra meca do punk rock no Brasil. Fred Banana Combo, Ian Dury, Ruts, XTC, bandas da antiga Iugoslávia, e até Gang of Four, X e Dr. Feelgood eram coisas obscuras mesmo no underground daqui. Eram muitas bandas boas e, apesar de todas pesadas, eram bem diferentes.

Mas em 1979-80 o punk rock já tinha mudado. Toda aquela geração que começou a tocar em 1975-76 já havia crescido (menos o Ramones!).

Sex Pistols não existia mais; Clash e Jam haviam mudado as influencias; Talking Heads já estava no 4º disco; Siouxsie and The Banshees mais gótico e pós-punk, e até o Ramones estava tentando algo “novo” com ‘End of the Century’.

Inicio dos anos 1980 as novidades eram outras. Tinha Dead Kennedys, Devo, PIL, Gang of Four, B-52’s, a cena ska 2 Tone, Police, a cena gótica com Joy Division, Cure e Bauhaus e toda aquela geração muito bem documentada no maravilhoso Urgh! A Music War.

Era uma novidade atrás da outra, até mesmo coisas cafonas como a cena new wave estereotipada com teclados, roupas coloridas, gel com glitter, o new romantic, etc tocavam nas rádios e danceterias.

Nessa época o punk rock foi pro fundo do poço, e lá ficou esquecido. Brincadeira! Mas deixou de ser novidade e voltou para o underground. Teve um período na minha vida, principalmente entre 1983 e 1985, que escutei muito hardcore. Acredite, eu tinha um rádio gravador no criado mudo e colocava coletânea de bandas hardcore para dormir!

A cena hardcore, digo no mundo, teve seu auge entre 1982 e 1985 e eu gravava tudo que caia na minha mão. Esse material era mais difícil de se encontrar porque não era todo mundo que gostava (mesmo entre punks), além de ser tudo independente. Então o que eu tinha dessa cena 95% era em fita cassete.

Gostava de coisas clássicas como Dead Kennedys, Exploited e GBH, mas depois apareceu Rattus, Riistetyt, Discharge, Anti-Pasti e mais um monte de outras podreiras da Europa, da Finlândia. Mesmo mergulhado no hardcore, não largava o punk rock.

Até a abertura de mercado e chegada do CD, digo início dos anos 1990, era comum você ter acesso a material do início dos anos 1980 e vê-lo como novidade. Um exemplo é o ‘It’s Alive’ do Ramones, que sempre tive em fita – cópia da cópia – desde 82-83, mas só fui pegar e ver o disco na mão em 90-91 quando eu já morava em São Paulo. Ficava horas escutando-o e admirando as fotos, lendo ficha técnica. Era como se fosse lançamento!

Mas o punk rock nos anos 80, salvo exceções, ficou ruim. Principalmente porque não gosto do tal punk rock da Califórnia que surgiu nessa virada de década 70-80 com Black Flag, Bad Religion, Social Distortion... Dessa cena gosto de Circle Jerks, The Germs e algumas coisas de Minor Threat e Adolecents.

Como o hardcore é um estilo ultra mega limitado, preferi (e isso até hoje) ficar com as bandas de raiz.

Nesse miolo dos 80 o Ramones conseguiu dar um chacoalão na carreira quando lançou 'Animal Boy' e 'Halfway to Sanity', e descobriu a América do Sul. Colocou hardcore e outros elementos do punk rock nesses discos e conseguiu dar um folego pra cena (apesar de na Europa e EUA a banda estar caída nesse período).

Pra mim, uma das melhores bandas de punk rock dos 80 é o Husker Du, que sempre escutei muito, assim como Dead Kennedys. No caso do Husker Du fui conseguir escutar coisas “antigas porém novas” só nos anos 90, apesar da Warner ter lançado dois discos aqui. No caso do Dead Kennedys, como era uma das mais queridas de Brasília, sempre tínhamos a mão os lançamentos. Eu tinha inclusive os primeiros compactos com as primeiras gravações de “Nazi Punks Fuck Off”, “Police Truck”, “California Uber Alles”...

Mas em 1987, chegando a São Paulo, meus ouvidos e olhos se voltaram para outras zilhares de coisas fora do punk rock, que estava chato e sem a menor expressão.

Uma das únicas coisas que me chamaram a atenção na virada dos anos 80 para os 90 foi o Pixies, que conheci em 1989 quando escutei Doolittle e Surfer Rosa (esse foi Miranda quem me apresentou). Aquele som esquisito lembrava muito o bom pós-punk do final dos 70, e foi uma luz no marasmo daquele período (em relação ao punk rock).

Nos anos 1990 quando eu já estava na MTV estourou uma nova geração de bandas punks americanas... da Califórnia. Tive acesso fácil a todas elas, até porque eu dirigia o Fúria, programa que tocava os grupos dessa cena.

Offspring, Green Day, No Fun at All, Biohazard, Pennywise, Rancid, o auge do Bad Religion... afê Maria! Na MTV assistia aos clipes, escutava os CDs, mas não conseguia gostar. Tudo igual, tudo um horror. Tem grupos inclusive com duas guitarras, mas é um som de radinho de pilha  e péssimas composições. Não digo todos eles, há exceções, mas é difícil.

Entrevistávamos esses grupos quando vinham pra cá, eu ia aos shows porque ganhava ingressos pra tudo, mas achava (e acho) tosco. Não entendia ver todo mundo pulando como louco no palco e aquele sonzin chifrin. Exceção: Nunca gostei de Fugazi, mas o show que rolou em Piracicaba foi de respeito. Histórico!

Meus grupos punks preferidos dos anos 90 são Nirvana, At the Drive-In e The Presidents of The Unites States of America! O Presidents não conhecia direito, mas tive que assistir e editar dois shows do grupo e fiquei de queixo caído! Pesado! Trio com guitarra de 3 cordas e baixo com 2 cordas, e era mais pesado que todos esses nomes que citei acima. Apesar da postura brincalhona, ótimo punk rock.

O Nirvana, dentro daquela cena grunge de jornalista pós moderno, era o melhor grupo de todos aqueles que estouraram (mas acrescento Mudhoney e Melvins – que ficaram na marginal desse sucesso). É punk rock clássico nos três discos de estúdio.

At the Drive-In conheci por acaso escutando o ‘In Cassino Out’. Pirei, mas só fui conseguir ter a discografia no início dos anos 2000 com o Napster e SoulSeek. ‘Vaya’ pra mim é algo de ourto mundo!

Depois disso acabou. Gosto de The Hives, que também é um ótimo punk rock clássico, mas aí já é um caso isolado.

Joe Strummer com The Mescaleros também lançou ótimos discos, os melhores pós-Clash. Há muita coisa que lembra a fase mais experimental do Sandinista e Combat Rock. Gosto muito!

E também mais recentemente, Jello Biafra trouxe um pouco daquele velho espírito do punk rock do Dead Kennedys com os discos que lançou com sua recente banda The Guantanamo School of Medicine.

Sigo contas no Instagram que postam vídeos de grupos novos, mas é tudo muito ruim. Tudo igual, mesmos riffs, mesma forma de cantar, mesmo refrão, mesmas tatuagens, mesmos instrumentos, mesmos piercings, mesma postura.... Nem dá pra levar a sério.

Punk rock sempre vai existir, mas será eternamente a mesma coisa. Digo mais: não só não dá mais pra levar a sério como se tornou caricatura. Pleno 2018 e aqueles caras de moicano vermelho, com casaco de couro preto cheio de tachinhas... já deu, né?!





5 comentários:

Ernesto Ribeiro disse...
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1980 — Jello Biafra é um gênio á frente dos Dead Kennedys, que faz piada de todos os políticos desonestos, principalmente os da esquerda do Partido Democrata, como o prefeito de San Francisco, o governador da Califórnia e o presidente dos EUA, a quem ele tratava como papagaios.

2020 — Jello Biafra é uma piada, falando mais asneiras do que um burro é capaz de relinchar, execrado por seus próprios ex-colegas dos Dead Kennedys, acusado de ser "totalmente desonesto" ao roubar os créditos das canções da banda e se tornou uma caricatura de si mesmo, virando um papagaio do que há de pior na extrema-esquerda do Partido Democrata.