24 de dezembro de 2010

A Última Flor**

Este é o último post do Sete Doses em 2010. Entro em férias agora e volto a postar textos novos a partir da segunda semana de janeiro-11.
Torçamos para que o amor seja sentimento dominante em 2011!!!


Como todo mundo sabe a 12ª Guerra Mundial trouxe um novo colapso não só na civilização humana, mas em todos os seres vivos do planeta terra.

Mais uma vez o homem mostrou que sua capacidade de evolução é limitada. Mostrou que ainda é vaidoso e que isso não o deixa aprender com o erro. O ego e a vaidade imperam. Quanto mais gente, mais individuais ficamos. Afinal porque o homem insiste em usar a violência? Quem disse que ele é melhor que seu semelhante?

Casas, prédios, ruas, quarteirões, bairros, cidades, estados, países e continentes, tudo mais uma vez fora devastado pela ganância dos homens, que lutam por nada. Os senhores da guerra não pegam em armas. Soldados mal sabem por que lutam contra seu irmão.

Os empresários sem dinheiro com suas fábricas destruídas deixaram de produzir. O homem voltou a ser um selvagem. Não existia mais traços de sua arquitetura, obras de arte viraram pó, livros e documentos queimados. De máquinas a material de higiene, nada sobrou.

A vergonha foi tanta que o homem passou a se sentir inferior ao mais ínfimo dos animais. Cachorros, gatos e todos os bichos de estimação abandonaram seus donos pela falta de confiança, falta de ânimo, falta de tudo.

Tudo ficou em ruínas e o homem sem uma morada certa caminhava pela natureza morta, pois as árvores, a grama, as flores e plantas também sucumbiram à guerra do homem. Tudo era cinza, triste. O homem perdeu a vontade de cantar, de sorrir e festejar. As cores também haviam sumido. Não havia motivo para se alegrar.

Anos se passaram e os poucos seres humanos que restaram na terra continuaram prostrados, sem razão para ter fé e acreditar em um novo futuro. Muitas das conquistas do ser humano foram esquecidas, e mesmo os velhos generais já não lembravam das últimas decisões de guerra. Anos se passaram e as crianças de antes se tornaram jovens sem ânimo. O amor fora banido da terra.

A vergonha e o desânimo foram resultado do egoísmo do homem, que sempre luta por dinheiro, por poder, por colocação social, por bens materiais e se esquece de que a vida é mais que isso, muito mais. O homem esquece que o amor é mais importante que tudo. Pior, o homem não sabe mais o que é o amor.

Amor é doação, compreensão. Amor é saber dividir, olhar para o próximo. Amor é saber que não está só. Amor é saber ceder, dividir. Amor é ficar feliz em ver o próximo feliz. É saber perdoar e não perder a razão. Amor é não julgar e saber que estamos no mesmo barco. Afinal somos todos imperfeitos.

Os seres da terra não tinham mais nada, para eles só restava esperar o fim. Mas eis que uma jovem, em sua caminhada sem fim, encontrou uma flor – ela nunca tinha visto uma flor. Era a última flor que havia na terra, ainda estava viva, mas fraca. A jovem correu para avisar a todos sobre seu achado, mas ninguém lhe dava atenção, ninguém acreditava nela e tinha gente que nem se lembrava de como era uma flor. Finalmente um jovem parou para lhe ouvir e os dois foram ver o grande achado!

Animados com a flor de poucas pétalas, passaram a cuidar dela com muito carinho e a cada dia ela retomava sua força. O amarelo de suas pétalas que estava quase preto e manchado voltou a brilhar em seu tom natural. A força que a flor readquiriu fez com que uma abelha a procurasse, assim como colibris.

Não demorou muito e surgiram mais duas flores, depois mais quatro, e mais oito até o campo inteiro estar florido. As florestas voltaram a ter vida e a jovem que havia achado a última flor agora procurava cuidar de sua aparência. As crianças, os jovens, os adultos e os animais voltaram a sorrir em meio à natureza revivida. A beleza cuidada reacendeu o amor, e os jovens voltaram a namorar. Tiveram seus filhos que foram crescendo em um mundo melhor. Os animais voltaram alegres para seus donos que logo reaprenderam a construir um abrigo com as próprias mãos e usando pedra sobre pedra.

Ao construírem os abrigos, logo estavam fazendo casas, vilas, aldeias e até cidades. A música voltou a ser cantada e as pedras rabiscadas com pinturas positivas. Os poetas voltaram a escrever, os alfaiates voltaram a costurar, e todos voltaram a comer pão.

As cidades foram crescendo, viraram estado, depois viraram país. As famílias se separaram e foram morar em regiões diferentes. Territórios foram delimitados e os grandes líderes refizeram seus exércitos com soldados, sargentos, capitães, coronéis e generais.

Em um piscar de olhos os novos líderes com seus novos exércitos entraram em guerra. Destruição total. Tudo o que havia sido construído agora não existia mais.

A destruição foi tão completa que mais uma vez não sobrou nada sobre a terra. A não ser um homem, uma mulher e uma flor.


Que a paz, o amor e a compreensão reinem em 2011!!!
Saúde a você, seus familiares e amigos!

 


** Este texto é 100% inspirado no maravilhoso livro ‘A Última Flor: Uma parábola em imagens’, de James Thurber, com tradução de Carlos Eduardo Novaes, 1979, editora Expressão e Cultura. The Last Flower: A Parable In Picture. 1939 é o ano de lançamento original.

Livro que me fez, aos 9 anos, ver o mundo de outra forma.




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