28 de fevereiro de 2012

Série O Resgate da Memória: 27 - Entrevista com João Gordo (2000)

Conheci João Gordo em 1983, na Punk Rock, quando a loja era na Rua Augusta. Estava lá comprando camisetas e bottons, já que em Brasília não tinha nada disso (só o que nós mesmos fazíamos), quando Gordo colou em mim perguntando se eu queria aparecer na TV Bandeirantes, pois nesse dia ela estava fazendo uma reportagem sobre o movimento punk e queria filmar os punks subindo a Augusta. Tímido eu fui, mas fiquei bem atrás de todo o pessoal.

Em 1986 o RDP foi fazer seu primeiro show em Brasília, e foi demais! Inclusive desmaiei nesse show por ter sido prensado entre o público e o palco por causa da brincadeira de pogo que fazíamos na frente dele. Susto rápido, mas perdi o fim do show.

Em 1987 me mudei para SP e nas noitadas comecei a encontrar Gordo direto e assim ficamos amigos, até porque já tínhamos muitos amigos em comum.

Em 1996 ele foi parar na MTV e lá estreitamos um pouco mais a amizade. Não lembro se foi em 1999 ou 2000 que João teve o piripaque que o levou para a UTI. Um susto para todo mundo! Pouco antes eu tinha emprestado a ele o filme Quadrophenia, e lembro bem quando ele voltou a trabalhar e me disse que precisava me devolver o filme. Eu, na hora disse: "Velho, você tá louco? Quase bateu as botas e quer me devolver o filme? É seu! Fica de presente!", e assim foi.

Nesse mesmo ano eu saí da MTV e fui trabalhar em um site como Editor de Música. Como no início eu não tinha uma equipe, era eu mesmo que fazia tudo. Um dia liguei para o Gordo e pedi uma entrevista. Isso foi 3 ou 4 meses depois que ele voltou pra casa, bem quando o RDP estava lançando o EP Guerra Civil Canibal. Ele ainda estava tomando remédios, de licença médica e mais tranquilão.

João Gordo é um grande sujeito e sempre foi, mesmo em seus tempos porra louca, nos 1980 e 1990. Então fica aqui no Sete Doses de Cachaça registrada mais essa entrevista que fiz.

PS: Pode não parecer, mas entrevistar amigos é bem mais difícil...



Paulo Marchetti - Como você está?
Gordo - Vida nova, né?

Paulo Marchetti - O que você aprendeu com esse susto?
Gordo - Que cigarro é uma porcaria, uma bosta. (risos)

Paulo Marchetti - Mas a culpa foi só do cigarro?
Gordo - Não, foi uma vida desregrada. As pessoas pensam que meu coração é de criança, minha pressão é de neném e meu colesterol é de baby. Eu tenho uma diabétes fudida e um problema no pulmão, que foi consequência de vinte anos de tabagismo descontrolado.
Devido a um porre que eu tomei em Parati, há uns cinco anos atrás, levei uma queda que me quebrou duas costelas e eu as deixei quebradas e uma delas ficou torta, com uma ponta no pulmão e essa ponta furou meu pulmão. Deixei esse problema, fui engordando, fui ficando louco ...


Paulo Marchetti - Você precisava ter tido um problema de saúde pra se ligar?
Gordo - Precisava. Aí eu senti que eu estava errado do modo como vivia. Eu comecei a pirar de vez, meu fim de ano foi muito doido. Cheguei a pesar 210 quilos e já nem conseguia mais dormir e fumava quase 50 cigarros por dia. Comendo e bebendo muito refrigerante só de litro. Só comia porcaria, muito doce, cada vez mais. Na semana que eu tive o “piripaque”, eu tinha certeza de que iria morrer.

Paulo Marchetti - De alguma forma, esse problema de saúde atrapalhou o disco novo?
Gordo - A gente fez um mini LP, né? Eu fiquei doente e faltou gravar dois vocais que só fui gravar agora.

Paulo Marchetti - E deu pra cantar legal?
Gordo - Deu. Mudou muito. Minha vida mudou pra caralho. Olha, só o fato de parar de fumar já mudou tudo. Nunca tive um pulmão tão limpo como agora. Minha voz mudou, meu fôlego. O timbre da minha voz ficou mais grave e até tive um pouco de dificuldade de cantar como cantava, porque estranhei minha garganta limpa.

Paulo Marchetti - Você acha que o pessoal irá sentir essa diferença?
Gordo - Não sei. Eu senti diferença porque as letras deram uma mudada. Inclusive nesse disco tem uma letra “pré piripaque” e uma “pós piripaque”. A letra “pré piripaque” se chama “Toma Trouxa” e é a história que eu estou na balada, bem louco, e conheço uma mina e eu ofereço droga pra ela, começo a pega-la, mas ela só queria minha droga. Eu dei a droga e ela sumiu. No final, a moral da história é: a mina é uma piranha ou eu que sou um suicida?
A outra letra se chama “Obesidade Mórbida Constitucional” que fala de tudo isso que rolou comigo e no final tem um discurso onde eu falo todas as normas técnicas do que eu tive, que eu li no meu relatório médico. “Obesidade Mórbida Constitucional/Regada por tabagismo pesado/ Ingestão de líquidos e alimentos desregradamente...” é uma história. Esse mini LP se chama “Guerra Civil Canibal” e tem 7 músicas.

Paulo Marchetti - Qual a intenção desse mini LP?
Gordo - Apenas lança-lo. No momento estamos lançando 3 discos: esse mini LP, a coletânea “Só Crássicos” que sairá pela RDZ e, pela Alternative Tentacles, sairá o “Sistemados Pelo Crucifa” que é a regravação e revisitação do “Crucificados Pelo Sistema”. Vai ser bem legal.

Paulo Marchetti - E como você está pra fazer shows e sair em turnê?
Gordo - Tô ótimo. A única coisa que está foda é a história da minha costela, que vou ter que operar. Eu sinto ela me cutucando, parece que tem um dedo no meu pulmão. Quando fico de pé por muito tempo, ela começa a me incomodar. Também parei com tudo, com doideira, com cigarro, bebida alcoólica, só como comida saudável. Agora estou me cuidando...

Paulo Marchetti - Você está aguentando essa nova vida?
Gordo - Porra, tem que aguentar, mas estou numa boa. O cigarro que eu pensava que ia ser foda de largar, está sendo na boa. Acho que o susto valeu.

Paulo Marchetti - A intenção é emagrecer mais ou manter o peso que você está?
Gordo - Tenho que emagrecer mais. Agora eu tenho médico, coisa que nunca tive e ele fica no meu pé. Tenho ido, três vezes por semana, à uma Psicóloga. Tenho um monte de nó na minha cabeça e ela me ajuda.

Paulo Marchetti - O Ratos dá dinheiro?
Gordo - Não! É dinheiro a longo prazo. Todo mundo nos rouba, as gravadoras não nos pagam, quando pagam é demorado. A RoadRunner não paga, a Paradoxx não paga. Inclusive eu irei processar a Paradoxx.

Paulo Marchetti - Qual o disco do RDP que mais vendeu?
Gordo - Eu não sei. Não temos um controle sobre isso, cada disco é de uma gravadora diferente.

Paulo Marchetti - O Ratos nunca foi para os Estados Unidos...
Gordo - Só pra mixar. O lance de fazer turnê nos EUA é que precisamos de um apoio grande de alguma gravadora. Os EUA tem muita cidade e é tudo longe, então toda vez que o Boka tenta armar alguma coisa lá, as pessoas falam que a gente vai perder dinheiro e perder o que nós não temos é foda.
Agora na Europa a gente consegue fazer turnê por que? Porque a Espanha e Portugal pagam tudo. Principalmente Portugal, que a gente pode cobrar 4 ou 5 mil dólares por show, pois vão umas 3 mil pessoas nos assistir. Então essa grana já paga, por exemplo: eu tenho uma grana e pago minha passagem e a do Jão, aí ele fica me devendo o dinheiro da passagem e o dinheiro que ele recebe em Portugal, vai pra mim. O Boka e o Fralda compram pelo cartão de crédito e tem todo o esquema. Na Espanha também ganhamos bem. Na Itália vai gente pra caralho nos shows, mas não ganhamos porque é sempre shows em Squat e você tem que dividir o dinheiro com quem precisa e acabamos ganhando menos de mil dólares. Mas é assim, se você faz 50 shows, ganha 700 aqui, 500 ali, tirando o gasto com comida, transporte... com droga não temos mais gasto, porque agora todo mundo é careta (risos), acaba sobrando uns 2 mil pra cada um.

Paulo Marchetti - Vocês foram roubados na última turnê européia...
Gordo - A gente foi assaltado na Itália, perto de Udine, indo pra Eslovênia. Paramos num restaurante e deixamos as bolsas no carro, porque foi uma parada de 5 minutos. Voltamos e vimos que tinham levado duas bolsas, uma do Pedrão e outra do Boka. Lá tinham os passaportes deles e, uma delas, tinha 2.500 dólares e CDs do Pedrão. Estávamos no meio da turnê e isso nos desestruturou, mas demos risada.

Paulo Marchetti - Porque o RDP nunca é convidado para tocar nos festivais brasileiros?
Gordo - Por que o festival geralmente é uma panela. Então o empresário que está trazendo as bandas, tem suas bandas brasileiras, aí ele põe as bandas dele pra tocar.

Paulo Marchetti - Você não fica chateado com isso?
Gordo - Já me acostumei. Mas pra compensar isso, tocamos em festivais fora daqui. No último festival que tocamos em Portugal, havia 35 mil pessoas e tocamos com o Therapy e The Cure.

Paulo Marchetti - O Ratos toca em rádios européias?
Gordo - Toca. Lá eles dão um puta valor pra gente. Eles dão valor para a língua brasileira e outra, o Ratos de Porão é uma banda velha, clássica. Tipo assim, essa molecada daqui, esses Punks daqui, eles metem a boca em nós, falam que somos traidores, burgueses capitalistas. Só que, na Europa, nós temos fama de banda clássica, banda grande. O que eu acho dos Varukers, do Chaos UK, eles acham a mesma coisa de nós e eu tive a prova disso, quando fomos tocar na Inglaterra, os caras pagam o maior pau pra nós. Eu sou ídolos dos caras e eles são meus ídolos. Foi muito louco ter contato com esses caras.

Paulo Marchetti - E uma biografia do Ratos, quando vai sair?
Gordo - Talvez se eu tivesse morrido agora, iria sair um monte de coisas.

Paulo Marchetti - Você já pensou em gravar um disco solo?
Gordo - Sempre penso nisso, mas não sei o que fazer ainda.

Paulo Marchetti - O Ratos nunca fez um show com essas bandas antigas, depois do reconhecimento. Tipo Ratos e Inocentes.
Gordo - Eu gosto do Clemente, do Ronaldo. Mas se tem algum traidor do movimento, esse traidor é o Clemente (muitos risos). O Inocentes tentou virar Rock comercial e eles tem uns discos bem ruins. Tipo aquele que foi produzido pelo Frejat, onde os caras cantam que nem Barão Vermelho. Eu chorei, mas respeito o Inocentes pela importância que teve na minha época.

Paulo Marchetti - Tem algum produtor brasileiro que você gostaria de trabalhar?
Gordo - Não. Aqui ninguém tem a manha...

Paulo Marchetti - Quem produziu esse novo mini LP?
Gordo - Nós mesmos.

Paulo Marchetti - E quando começam os shows?
Gordo - Tem um show marcado para o dia 29 de abril, em Curitiba. Por enquanto é só esse.

Paulo Marchetti - Como está na MTV?
Gordo - Segundo os chefes de lá, só vai ter programa daqui a um mês. Eles estão resolvendo se vai ser um programa diário ou semanal. Se for diário, terá meia hora de duração. Se for semanal, terá uma hora.

Paulo Marchetti - Como vai ser esse programa?
Gordo - Parecido com o do Jô Soares. Terá uma banda de Punk Rock fixa que, talvez, seja o Forgoten Boys. Acho que terão dois convidados por programa: uma pessoa desconhecida, tipo travesti, coveiro, prostituta, que faremos uma matéria de rua sobre ela e depois a entrevistamos. Depois terá uma pessoa conhecida, um artista ou banda. Se forem tocar, vai ser playback. Faço questão de seja playback! O meu programa vai continuar a apoiar o underground, vou ter um aparelho de som na minha mesa pra mostrar umas podreiras pra galera.

Paulo Marchetti - Você está satisfeito na MTV?
Gordo - Eu gosto muito de trabalhar lá. Só acho que me falta um pouco mais de assessoria. Parece que o pessoal não me dá tanto valor e eu tô ligado que o meu programa dá audiência, mas eles não me falam. Eu tô ligado nisso porque, lá no Gugu, eles medem o ibope de todos os programas, então o cara que trabalha com ele, começou a querer levar todos os artistas da Promoart (empresa do Gugu Liberato) no meu programa. Por que? Porque no meu horário é o programa que dá mais audiência. Os caras do Gugu falaram isso pra mim e lá dentro da MTV ninguém me fala. Acho que é pra eu não ficar pedindo aumento.

Paulo Marchetti - Você já se relacionou com alguma fã?
Gordo - Já. Mas sem namorar. Só pra transar.

Paulo Marchetti - Você não é muito de namorar, né?
Gordo - É difícil eu achar alguma mina que se submeta a tal gordão, é bem difícil. Mas eu sempre encontro umas loucas por aí. É foda, porque você tem que descolar alguém que te tire do buraco e não que vá pro buraco junto com você. Nesse momento estou procurando alguém que seja caretinha...

Paulo Marchetti - Você acha que assusta a mulherada?
Gordo - Assusto. Não adianta ser o fodão da TV. Não adianta ser remédio, tem que ser gelol (risos), entendeu?

Paulo Marchetti - Você já transou com duas ao mesmo tempo?
Gordo - Já. Mas tinha um problema: quando eu usava muita droga, geralmente não rolava. Hoje em dia isso mudou, só pelo fato de ter parado de fumar cigarro... tá escrito lá no maço que o cigarro brocha e é verdade!

Paulo Marchetti - E bandas como Paralamas, Barão ...
Gordo - Eu acho tudo chato. Eu respeito Paralamas porque o Herbert deu uma guitarra pro Ratos e são bons músicos. Respeito o Ira! também. Detesto Titãs! Odeio o Titãs!

Paulo Marchetti - Porque? Por causa das releituras que fizeram?
Gordo - O meu ódio começou quando eles lançaram aquele disco Grunge (Titanomaquia). Antes desse disco eu até suportava. Eu não tinha bronca. Gostava muito dos discos “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes” e “Oblesq Blón”. Esses discos são muito bons, inteligentes. A melhor música deles é “Nome aos Bois”. Mas, de repente, os caras começaram a tocar Roberto Carlos!

Paulo Marchetti – E o Max Cavalera (ex-Sepultura), como foi sua briga com ele?
Gordo - O Vovô é um coitado. Ele deve sofrer muito.

Paulo Marchetti - O que gerou essa briga?
Gordo - Foi porque eu gravei “Reza” com o Sepultura e ele achou que a letra tinha sido pra ele, só porque ele fica lá rezando pras coisas dele. Enfiaram na cabeça dele que eu sou traidor e que fiquei do lado do Sepultura. Na verdade, no começo dessa história, eu não fiquei do lado de ninguém, mas se for ver direito, eu fiquei do lado do Sepultura sim. Eu conheço bem os caras e acho que o Max tá errado. O que a mulher dele fez tá errado.
(Nota: Essa briga/discussão aconteceu na MTV pouco antes de eu entrevistar o Soufly para o Fúria, e eu vi tudo acontecer na minha frente. Quem estava no estúdio não acreditou na postura infantil de Max)

Paulo Marchetti - Você nunca mais o viu?
Gordo - Nunca mais. Ele mandou uns recados dizendo que andou rezando pra mim. Ficou sabendo da minha saúde e rezou pra mim. Eu dispenso suas rezas e macumbas.

Paulo Marchetti - Você acha que um dia ele volta pro Sepultura?
Gordo - Olha, tem umas histórias aí de que ofereceram 1 milhão de dólares para eles voltarem e eles não aceitaram. Acho que, pelo que Max fez, chegar e tocar com ele sem dar um murro na cara dele, não rola. Ele foi muito filho da puta, cuzão demais. Ele enfiou uma amizade de anos no cú. A última vez que ele esteve na MTV, eu fui lá, na maior inocência, falar com ele e ele virou a cara. Fiquei até doente! O Rapadura estava com ele e também teve uma atitude infantil.

Paulo Marchetti - Quando rolou a amizade com o Sepultura?
Gordo - Foi no show do Venon, em 86, em Belo Horizonte.

Paulo Marchetti - Você tinha ido pra lá pra ver o show?
Gordo - Eu tinha ido pra lá com uma amiga minha, pra tentar descolar uns shows pro Ratos. A gente nunca tinha tocado em Minas e quando cheguei lá, li O Estado de Minas e tinha uma entrevista com o Max, onde ele falava que a melhor banda do Brasil era o Ratos de Porão. Aí eu pensei: se eles acham minha banda a melhor do Brasil, vão ter que me descolar um Backstage pro show do Venon (o show de abertura foi do Sepultura). A partir daí eu fiquei amigo dos caras e passei a frequentar a casa deles e somos amigos até hoje.

Paulo Marchetti - Vocês já fizeram alguma turnê juntos?
Gordo - Nunca rolou. Teve uma época que eu até pedi, mas depois larguei mão. Porque não era interessante pra eles. Eles começaram a crescer demais e não tínhamos apoio da gravadora.

Paulo Marchetti - Você ainda tem treta com alguma tribo?
Gordo - Os Skinheads. Se eles me pegarem na rua, me mandam pra UTI. Mas tem que ser mais de três.

Paulo Marchetti - Se a eleição pra presidente fosse agora, você teria candidato?
Gordo - Eu não voto. Nem vou na zona eleitoral. Antigamente eu ia pra anular, mas nem isso eu tenho feito. Esse país é muito ridículo, não perco mais meu tempo. Já sei que as coisas nunca irão mudar mesmo...

Paulo Marchetti - O Ratos já pensou em morar fora do país?
Gordo - Não dá porque os caras tem família aqui.

Paulo Marchetti - Então agora o João Gordo é um cara careta?
Gordo - Não.

16 de fevereiro de 2012

Série O Resgate da Memória: 26 - Os Mutantes na Veja (1968, 1969)


No próximo dia 24 de fevereiro o 2º disco d'Os Mutantes, simplesmente chamado de Mutantes, completará 43 anos (1969). Antecipando uma semana, trago todas as novidades desse lançamento... jeje.

Clássico absoluto do rock brasileiro!

Aqui transcrevi as duas primeiras reportagens da banda na revista Veja: a primeira de outubro de 1968, quando a revista tinha apenas 2 meses; a segunda de fevereiro de 1969, que fala exatamente do segundo disco. De quebra ainda tem uma pequena resenha escrita pelo maestro Júlio Medaglia.

Infelizmente não consegui pegar as páginas das reportagens, tendo que me limitar apenas as respectivas capas.

Curiosidade: Rita Lee no início de sua carreira profissional tocou com Tony Campello (ela tinha a banda vocal Teenage Singers com mais três amigas). Em 24 de fevereiro também comemora-se o nascimento de Tony Campello (1936).

PS: Em 24/02/1975 Led Zeppelin lançou Physical Graffiti. Em 24/02/1979 The Police lançou a música "Roxanne". Em 24/02/1984 Léo Jaime lançou o clássico Phodas C.





A música dos Mutantes no Festival

Revista Veja – Edição 4 – 2 de outubro de 1968 (Pág 66)

Eles levaram ao palco do Maracanãzinho, dentro de sua canção, “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso

Os componentes do conjunto Os Mutantes, de São Paulo, foram apanhados de surprêsa pelos aplausos que receberam no Maracanãzinho, Rio, ao apresentarem sua música “Caminhante Noturno” na semifinal brasileira. Êles estavam tão certos de serem vaiados – a exemplo de Caetano Veloso no TUCA –, que já tinham uma resposta preparada: na hora em que a cantora Rita ligou um pequeno gravador na bôca do microfone, a voz que saiu foi a de Caetano Veloso no seu desabafo ante a vaia, e que terminava com a frase “É proibido proibir”.

Sentar nas teclas do piano ou colocar uma barra de ferro nas cordas das guitarras, tudo vale para Os Mutantes, desde que produzam um nôvo som: “Queremos dizer tudo em nossa música, no tema e no som: os ruídos, as vozes, o canto de um pássaro. Novos temas estão em volta do mundo em nós: um dia de sol, um sorriso, muito amor nas pessoas, bancas de jornais, gente”.

Uma família musical – Arnaldo, vinte anos, e Sérgio, dezessete, são irmãos. Faziam parte de um conjunto que só tocava “rock” e “twist” (hoje consideram essa fase de iniciação um lixo), até o dia em que conheceram Rita Lee Jones, dezoito anos, filha de americanos, que integrava por sua vez um conjunto de meninas que cantavam músicas folclóricas americanas. Os dois irmãos convidaram Rita a formar um nôvo conjunto – Os Mutantes (os que mudam, os que transformam). São todos muito versáteis: Rita toca flauta, harpa, guizos, castanhola, cítara e instrumentos de percussão; Arnaldo além de pianista, organista e violoncelista, é um ágil guitarrista; Sérgio estuda quatorze horas por dia a guitarra, o violão e a harmonica-de-bôca. Há também outros instrumentos estranhos, inventados pelo irmão mais velho, Cláudio, especialista em eletrônica: uma espécie de “cello” elétrico, um baixo elétrico com três registros diferentes, e uma guitarra cuja freqüência é alterada sem amplificador, no próprio instrumento. Todo êsse arsenal sonoro é completado pela voz do pai dos rapazes, César Dias Batista, tenor do Coral Paulistano, e pela mãe, uma exímia pianista.

Samba africano, futebol inglês – “No canhão vê folhas / Sêcas, de jornal / Pisa o silêncio, caminhante noturno / Foge do amor que a noite lhe deve / Sem corar, sem falar, nem sonhar”. Em letra e música, Os Mutantes (que só assinam coletivamente suas canções), são tidos como uma versão brasileira dos Beatles. Isso lhes tem criados problemas com a “linha dura” do samba, que os acusa de estrangeirismo. Os Mutantes respondem: “Nossa música não é menos brasileira por gostarmos do que se faz nos Estados Unidos, na Inglaterra. Afinal, o samba é africano, o futebol é inglês e o violão veio de Portugal, como veio também a viola das canções caipiras, dos violeiros e dos repentistas do Nordeste”.




Mutantes, as novidades do segundo LP

Revista Veja – Edição 25 – 26 de fevereiro de 1969 (Pág 61)

Em apenas uma semana, os 3 jovens fizeram um nôvo disco que é para a sua gravadora um futuro sucesso de vendagem. Segundo a crítica, é um avanço musical.


Os Mutantes mudaram? Desde seu primeiro LP, lançado em julho do ano passado, até o segundo, colocado a venda essa semana, os dois rapazes (Arnaldo e Sérgio) e a môça (Rita) mudaram muito, e para melhor, segundo a crítica. “Enquanto os Beatles lançam um álbum bem comportado, de rock açucarado, com lindos efeitos de cordas e cravos, três jovens brasileiros, com a média de vinte anos de idade, surgem com um nôvo LP e conseguem, através do humor e da total desmistificação, ampliar efetivamente os limites da música.” É a opinião do maestro Julio Medaglia, músico de vanguarda para quem as barreiras entre o “erudito” e o “popular” já caíram há muito tempo. Carlos Gonçalves, chefe de divulgação da gravadora Phillips, está apostando no disco, e garante mesmo que “será o campeão de vendagem, o nosso carro-chefe para depois do carnaval.” O primeiro álbum dos Mutantes vendeu 20 000 discos e a gravadora espera uma vendagem mínima de 50 000 para o segundo LP.

Beatles brasileiros? – O nôvo LP dos Mutantes, mais que o primeiro, é uma criação do próprio grupo: apenas quatro faixas contaram com a participação de orquestra. A participação do maestro Rogério Duprat – com quem Os Mutantes colaboraram em seu primeiro disco e no LP “Tropicália” – está bastante reduzida. Em compensação os três técnicos de som trabalharam mais do que nunca atrás de efeitos inéditos. Na faixa “Fuga Nº 2” o acorde final bate um recorde – dura dois segundos mais que o acorde com que termina “A Day in the Life”, dos Beatles. O primeiro LP levou um mês e meio de gravação; o segundo foi feito em uma semana e meia, às vésperas da viagem do conjunto para à Europa, para apresentar-se no MIDEM, em Cannes. Sempre comparados aos Beatles – o “Nice Martin”, diário de maior circulação no sul da França, os chamou de Beatles brasileiros –, Os Mutantes usam acordes dos ingleses na faixa “Rita Lee” (“Ob La Di Ob La Da”) e pistons em acordes repetidos em outras faixas, lambrando o clima de “Penny Lane”.

Caminho novo – Para “o mutante que não aparece”, Cláudio Dias Baptista, 23 anos – é engenheiro eletrônico responsável pelos sons novos dos Mutantes –, “a influencia dos Beatles existe, mas é pequena: o resto é pesquisa nova num caminho que os Beatles abandonaram”. “Dom Quixote” cita música clássica num vocal bem trabalhado e termina com acordes da “Disparada” e a buzina do Chacrinha, Johnny Dandurand – americano que morou no Brasil e cantou ao lado de Caetano Veloso – compôs para eles um número dramático e misterioso, “Dia 36”, cantado dentro do canal de som de um órgão, envolvido pelo som forte de guitarras elétricas. “2001” é o confronto entre instrumentos eletrônicos e a velha viola caipira. Em quase tôdas as músicas, letras bem humoradas, lirismo crítico, colaboração de Tom Zé com versos irônicos, como na faixa “Qualquer Bobagem”: “Escute esta canção / Ou qualquer bobagem / Ouça o coração / Que mais? Sei lá”.


Os Mutantes – Volume II (Pág. 65)

“Uma boa maneira de se fazer revolução é subverter a linguagem”. Depois de pronunciar frases “heróicas” desse tipo, os Beatles lançaram um LP, ainda mais clássico e “musical”, enquanto Os Mutantes, levando tudo na base do humor e da gozação, lançam sua bomba criativa e desmistificadora, mais eficiente na destruição dos conceitos tradicionais do som musical. Os mais belos e engenhosos textos e melodias, são tão musicais, quanto falatórios, beijos, papos, risos, a buzina do Chacrinha e sons espaciais, “dó de peito” de ópera e um recitativo musical gaguejado. O rádio de pilha e a eletrônica, a vaia e o som açucarado da harpa, tachinhas nos martelos do piano, deformações de pronúncia e sons onomatopaicos, vale tudo no rico arsenal musical do conjunto. Um aula de profissionalismo, humor e inteligência que coloca Os Mutantes na vanguarda da música brasileira atual. Destaque para: “Dia 36”, “Qualquer Bobagem”, “2001” e “Caminhante Noturno”.
Julio Medaglia





9 de fevereiro de 2012

Reflexões Sobre a Vida

Desde que me conheço por gente me faço as mesmas perguntas que todos fazem: de onde vim? Pra onde vou? Qual o sentido da vida? Custava-me acreditar que era do nada para o nada. Sempre duvidei disso. Céu e inferno.

Nasci em uma família católica, fui batizado, estudei em colégio de padre, fiz primeira comunhão, mas nada me fez acreditar em tudo aquilo. Tudo era muito mal explicado. Cresci cheio de dúvidas e perguntas... e raiva porque ninguém sabia respondê-las.

Ainda há muita gente que não acredita em Deus, ou que exista algum criador. Mas tudo foi criado. Tudo! Como a vida surgiu do nada? Isso também nem o ateu explica. Que nada é esse que dali surge uma vida? Como se pode ver a estrutura dos seres vivos, uma máquina perfeita, ver a natureza, e dizer que isso veio do nada? Que nada é esse que cria coisas absurdamente perfeitas?

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25 anos moro em São Paulo, cidade que não para, que respira trabalho. Cidade grande que engole quem vacila. Aqui todo é alguém, todo mundo se acha importante, todo mundo é descolado e cheio de contatos. Aqui só querem saber o que você é e o que tem a oferecer.

Em SP, quando cheguei, não conhecia ninguém, nem mesmo a cidade. Me estranhava a primeira pergunta de alguém ser: o que você faz? Afinal, vinha de uma Brasília provinciana, onde todos ajudavam a todos e ninguém queria saber o que você tinha de material a oferecer. Bastava ser boa gente. Com o tempo fui percebendo as reais intenções das pessoas. Ver todos aqueles executivos na Av. Paulista ou Faria Lima, me faz lembrar do papel que Christian Bale fez no filme Psicopata Americano. O melhor terno, o melhor carro, o melhor celular, o melhor sapato e até o melhor cartão de visita... e o porta cartão, claro.

Dei SP como exemplo porque é onde senti na pele logo de cara essa enorme importância que dão ao status e aos bens materiais. Mas não é só em SP que isso acontece.

O que quero mesmo dizer é que todo mundo fica olhando para cima e vendo o que gostaria de ter e esquece de olhar pra baixo para ver o quanto já tem. Um bom exemplo do que falo é Steve Jobs que tudo tinha, mas nada pode fazer diante de sua doença. Há muitos outros multi milionários que também sofreram o mesmo. O que adianta ter tudo e querer tudo? Antes de reclamar por não ter o lap top da moda, olhe para baixo e veja quem nem o almoço tem para comer ou sequer possui 35 reais para comprar o remédio que vai salvar a vida do filho pequeno.

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Desde que me conheço por gente, mesmo antes de saber o que significa religião, eu já sabia de alguma forma que depois da morte ainda tinha alguma coisa a mais, sei lá o quê.

Sempre me intrigou o medo que as pessoas têm da morte, apesar de haver crença na vida após a morte desde os primórdios do ser humano, com oferendas e tudo mais.

Para os amigos costumo fazer uma analogia com bar, onde você chega, conversa, ri muito, chama o garçom, consome, se diverte, e na hora de ir embora tem que pagar a conta. Temos a nossa vida, nossas relações, as ações e depois morremos. E é quando morremos que a conta vem, e ela é paga conforme seus atos em vida. Esse julgamento de suas ações acontece de fato e quem analisa seus atos e dá a sentença é você e só você. Pode crer nisso. Você verá um filme de sua vida com as passagens mais significativas e diante delas você dirá se é culpado ou não do que assistiu, e ainda dirá o que vai fazer para consertar os próprios erros.

Nós mesmos traçamos planos e metas para nossa vida antes de nascer, e assim assumimos um compromisso. No final avaliamos o que foi feito e sentenciamos nosso futuro de acordo com foi realizado.

Talvez, por isso, lá no fundo de nosso subconsciente, o medo da morte é o medo de enfrentar a verdade de seus atos em vida, já que o plano espiritual sabe dos menores de seus segredos, absolutamente nada se esconde dele.

Faça o bem sem ver a quem!

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Dias atrás encontrei uma amiga (não quero nominar) que está grávida de sete meses do segundo filho, e ela me contou a história de como ficou sabendo:

Um dia ela acordou e sua filha de 3 anos logo disse, apontado para a barriga: “mamãe, o meu irmão já está aí dentro”. A mãe foi na farmácia, fez o teste de gravidez, e de fato estava grávida.

Sua filha só falava do irmão, e a mãe explicou que só depois de alguns meses é que daria pra saber se seria menino ou menina. E a filha disse: “mãe, papai do céu falou que não dá mais pra mudar”.

Dito e feito, ela espera um menino.