21 de novembro de 2013

Revista Roll

A Roll teve a sorte de surgir em um momento especial. E quando ela apareceu já não havia mais a Pipoca Moderna (antes Mistura Moderna por uns dois números). Nessa época só tinha a Somtrês, mas que era mais voltada para equipamento de som e vídeo, e que tinha ao final da revista algumas matérias de música e o Jornal do Disco com todos os lançamentos do mês: da música clássica ao rock.

Dedicada e especializada em rock / pop não tinha nada além da Roll. Surgia sim uma revista ou outra, mas que duravam dois ou três números. A Roll, posso estar enganado, foi até 1989, mas o importante da história da Roll se concentra entre 1983 e 1985. Depois a Bizz tomou o espaço. Não havia como brigar com uma revista do Grupo Abril.

No início a qualidade gráfica da Roll era ruim, assim como os textos, mas em relação ao texto era como se escrevia naquela época, ruins mesmo eram os erros de português. Mas era uma revista feita na raça, e ficava no Rio de Janeiro. Nesse tempo o RJ fervia, o Circo Voador fervia, a Fluminense estava ali ao lado, assim como todas as gravadoras.

Apesar disso a revista sempre se preocupou em falar de outros lugares além do eixo RJ-SP, que era o grosso do conteúdo. A Roll abraçou a cena de Brasília desde o primeiro número, e também a cena de SP. Era tudo novo: Titãs, Ira, Paralamas, Legião, Barão, Kid Abelha, João Penca, Camisa, Kid Abelha, Léo Jaime, Blitz, Lobão e o Ronaldos, Mercenárias, Ultraje, entre outras. Estavam todos no underground, apesar de algumas dessas bandas já terem lançado discos. Ainda faziam shows pequenos, com pouca estrutura, cachês baixos, sem equipamento de som próprio. Ralação.

A Roll deu sorte porque pegou tudo isso. Todos esses artistas nascendo e crescendo. Falava com todos, escrevia sobre todos, era uma publicação opinativa e sendo a única durante mais de um ano, era uma relação de morde e assopra. A revista ajudou todo mundo. Era importante aparecer em suas páginas, nem que fosse notinha, exatamente por ser a única e tinha alcance nacional. A Roll era a Rolling Stone, a Billboard, a MTV daquela época. Se você quisesse aparecer além de seu bairro, era preciso aparecer ali. E ela foi certeira, mostrou as coisas boas, e não poupou as ruins de críticas severas.

A medida do possível havia boas matérias sobre artistas internacionais. Uma reportagem do Police aqui, um David Bowie ali, AC/DC, Clash.

Como era a única especializada em rock, a revista sofria para poder agradar a todos. Inclusive chegou um momento que a mesma editora criou a revista Metal, para poder separar os assuntos e se dedicar melhor a cada um deles. Os headbangers não tinham nada até o surgimento da Metal. O fato de ser única gerava uma expectativa para quem comprava, porque você queria saber se tinha reportagens e novidades de suas bandas preferidas.

O negócio era muito sério para quem gostava de música. Você que está ai lendo e não viveu os anos 1980, precisa entender que tudo o que nós jovens amantes da música tínhamos de música era a Roll. Por exemplo, eu que gostava de bandas estranhas pra época como Madness e Specials vi, no máximo, duas fotos do Madness em anos de publicação. E essas fotos eram as únicas imagens que eu tinha da banda e pronto! Não era a toa que o comum era recortar as fotos da revista e fazer colagens com várias dessas fotos. Se você gostava de AC/DC iria ver uma única reportagem da banda durante um ano inteiro porque era pouco espaço pra muito artista. Saíam notas com as novidades internacionais, mas essas novidades, quando chegavam a nós através da Roll, já tinham ao menos um mês. Mesmo que atrasadas demais, essas novidades eram muito degustadas.

Foi a Roll que fez a grande cobertura da 1ª edição do Rock in Rio, em janeiro de 1985. Entrevistou todos os artistas, teve acesso aos bastidores, mostrou o passo a passo do festival desde o primeiro boato até o fim. Comentava os artistas contratados, especulava nomes, ia atrás de furos.

Estava junto com a geração do rock brasileiro dos 80 mesmo antes dela lançar os primeiros discos, cobriu a morte de Cláudio Killer, de Júlio Barroso, a saída de Cazuza do Barão Vermelho, e a de Leoni do Kid Abelha. Na Roll também esta muito bem documentada a relação do RPM com a revista. No começo eram flores, críticas elogiosas falavam de uma super banda que tocava no Madame Satã e outras casas underground de SP. Todo mundo babava na banda, mas após o grande sucesso, que tomou conta inclusive as AMs, as críticas passaram a ser negativas, a banda vista como brega.

Noticiou também as prisões de Lobão, de Arnaldo Antunes e Tony Bellotto, o fim da Blitz, fez as primeiras entrevistas da carreira de toda essa gente, falava dos shows que aconteciam nas casas noturnas de SP e RJ. Até John do Pato Fu está nas páginas da Roll ainda da época em que era guitarrista do Sexo Explícito.

A Roll é o único documento desse período do rock brasileiro. Havia os jornais, revistas semanais como Veja, mas o espaço era irrisório. Também tinham programas de TV como o Som Pop, Fábrica do Som; os programas de rádio, mas esses programas se restringiam a RJ e SP. Para mim, por exemplo, que morava em Brasília era uma benção ter a Roll nas bancas, assim como para todos de fora do eixo.

A parte internacional também era bem explorada, e na revista tinham reportagens sobre os dinossauros do rock progressivo, os nomes da atualidade, e espaço para novos nomes. Falava de Van Halen, B-52’s, U2, Yes, Smiths, Genesis, Clash, Police, Talking Heads, Cure, AC/DC, Iron Maiden, Madonna. Era tudo ao mesmo tempo agora. Mas nessa parte, claro, quase não havia entrevista, eram reportagens com as novidades que se conseguiam na época, com a história, curiosidades.

Assim como a geração 1990 agradece a MTV, apesar dos outros veículos; a geração 1980 agradece a Roll. Nos dois casos, um precisou do outro, e a sorte da Roll foi ter essa matéria prima rica, que era uma nova cena de rock no Brasil. Isso abasteceu bastante suas páginas e todo mundo saiu ganhando. Por isso que eu disse no início do texto: era uma revista de baixa qualidade, mas isso pouco importava. Hoje é artigo raro e super difícil de encontrar nos sebos. Aos poucos publicarei mais boas reportagens e curiosidades, como já venho fazendo.

15 de novembro de 2013

Série O Resgate da Memória: 33 - Capital Inicial na Revista Roll (1983)

Eis aqui a primeira grande reportagem com Capital Inicial. Ela foi publicada no número 1 da revista Roll, em outubro de 1983. Nessa época as bandas da Turma da Colina começaram a invadir o eixo RJ-SP, e a chamar a atenção do resto do país. A Roll era a principal referência musical do período entre 1983 e 1985 (como escrevi no R64), e não era fácil aparecer em suas páginas, pois era a Rolling Stone, a Billboard, a MTV daquela época, apesar de não ter a qualidade dos nomes que citei (logo postarei um texto sobre a Roll). Raridade absoluta.
PS: Como sempre faço, transcrevi o texto com todos os erros originais.





Qual o lugar mais misterioso do Brasil atualmente? Brasília é claro. Não se sabe ao certo o que está acontecendo naquela cidade. Tudo são rumores, boatos e disse me disse. Declarações e desmentidos oficiais. As pessoas somem de repente e reaparecem em Nova Iorque ou Paris, mas logo vozes e porta vozes oficiais surgem dizendo que não foi bem assim que tudo não passou de uma ilusão de ótica. Mas em meio a todos esses mistérios uma coisa é certa: em Brasília está rolando bom rock and roll.

Se na área política os altos escalões de Brasília tem mostrado uma indecisão galopante na hora de explicar o que está havendo, pelo menos na área do rock que vem sendo feito lá, as pessoas parecem saber exatamente o que querem. Talvez seja porque a maior parte dos grupos que estão atuando lá no momento tem, ou já teve uma relação bem íntima com o movimento punk. Aprendeu a dizer o que pensa sem metáforas ou eufemismos. Mas apesar de objetividade quase jornalística nas letras o público brasileiro quase não tem acesso a elas, ou melhor, não tem acesso nenhum. São metáforas, insinuações e dechavações. Clareza e objetividade nunca.

A maior parte dos brasileiros ficou conhecendo os punks que existem no país através do programa Fantástico da TV Globo. Mas os punks até hoje abominam aquela reportagem que foi ao ar num domingo a meses atrás, via satélite para milhões de brasileiros. Em meio a salada fantástica que o programa costuma apresentar, misturando números circenses com acrobacias de motociclistas malucos e feitos milagrosos de curandeiros paranormais, os punks acabaram por serem mostrados também como uma aberração social. “Um horror” teriam dito as mamães e papais sentados na frente da televisão. “Uma palhaçada” teriam dito seus filhos. Daí por diante todos passaram a saber como é um punk, mas muitos poucos sabem mais além do que o tipo de cabelos e roupas que eles usam. As lojas e butiques abriram as portas para a moda punk mas as rádios e canais de televisão continuaram fechadas para a música que eles tocam.

O que muita gente ignora no entanto, é que por volta de 1978 quando a maioria dos brasileiros sequer tinha ouvido a palavra punk, já existiam vários deles aqui no Brasil, mais precisamente em Brasília. Uma cidade que não se parece em nada com Londres ou Nova Iorque e onde os jovens não precisam temer uma guerra nuclear, pois segundo as várias seitas místicas estabelecidas por lá, a região será a única, que escapará do holocausto final. 


Os primeiros punks foram surgindo por lá como uma reação a disco music que então dominava o país. Eram os dancin days e todos seguiam os passos de John Travolta ao som dos Bee Gees. Segundo Dinho, o vocalista do grupo Capital inicial, um dos existentes em Brasília, naquela época eles estavam mais sintonizados com o que estava acontecendo em Londres, do que com o que era veiculado pelo eixo Rio – São Paulo. Influenciados por Sex Pistols, The Clash, The Damned, começaram a fazer suas primeiras apresentações em qualquer lugar onde houvesse tomada para ligar as guitarras: bares, lanchonetes ou o campus da Universidade de Brasília.

Hoje, todo mundo sabe o que é punk, Gilberto Gil inclusive, que naquela época cantava Realce, diz agora que é punk da periferia. Enquanto isso, Dinho e seus companheiros de Capital inicial não estão mais interessados em dizer “sou punk”. De lá pra cá, eles, que foram um dos precursores do movimento no Brasil, amadureceram e abandonaram os radicalismos seja na maneira de se vestir ou de fazer música. Loro, o guitarrista do grupo é bem claro quanto a isso: “Os jornalistas têm mania de perguntar se nós somos punks. Isso não interessa. O que interessa é a música que fazemos hoje”.

6 de novembro de 2013

O Diário da Turma 1976-1986 – 2ª Edição





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24/04/2018
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Foi uma delícia fazer O Diário da Turma. Eu precisava de algo que me ajudasse no combate a minha síndrome do pânico e foi assim que a ideia do livro surgiu.

Só que era algo que eu não pensava em publicar. Não a princípio. Queria mesmo era uma terapia ocupacional pra fazer fora do trabalho (na época eu estava na MTV). Assim, nas minhas horas vagas, além de nadar (adoro piscinas), eu comecei a fazer o livro. Isso foi em 1997, quando fiz a pré-produção da minha viagem de férias para o Rio e Brasília. No início de 98 coloquei em prática o projeto. Quando acabei tudo, 3 anos depois, vi que tinha um livro publicável em mãos. Daí sim fui atrás da editora, sem desespero. O livro estava 100% pronto. Tinha até já feito a árvore genealógica das bandas em diversas cartolinas coladas que ficava na parede de casa e também o desenho do Plano Piloto com os locais abordados no livro. Também já sabia como queria a diagramação, as referências e as imagens em mãos. Estava tudo já “mastigado” pra quem quisesse publicar.

O tempo que fiquei em Brasília por conta do livro, ficava pra lá e pra cá de ônibus ou bicicleta. Como eram minhas férias, fiz tudo tranquilo e calmo. Tudo ao meu tempo. Colocava mochila nas costas com gravador e câmera fotográfica e ia encontrar com os amigos.

Ia à casa de alguém e já aproveitava a piscina, marcava algo no fim de semana e já rolava um churrasco, muitas conversas aconteceram em bares e depois já virava balada. Foi tudo muito bom.

Fiz tudo do meu jeito, como eu queria que fosse. Transcrevi pouco mais de 100 horas de conversas. Ou seja, fiquei meses em um trabalho de paciência. Já havia feito muitas transcrições na vida, mas dessa vez foi um grande aprendizado, até por se tratar de um livro. A adaptação da língua falada para a escrita é delicada, pois pode se perder o sentido de uma frase ou parágrafo inteiro por conta de um terno mal colocado. Juntar as falas e transformá-las em uma grande conversa sem alterar o texto foi outro desafio.

Durante a montagem do texto, na divisão de assuntos, naturalmente foram surgindo os capítulos. Tinha os que eu sabia e queria que tivessem, e outros foram aparecendo. Nas conversas que tive eu não levava pauta. A conversa simplesmente fluía, claro que manipulada por mim, mas eu sabia o que podia tirar de cada pessoa com quem conversei. Pra se ter uma ideia, acredite, eu nem tinha pensado em fazer um capítulo para Renato Russo e nem para Fejão, mas rolou. Meu foco eram as aventuras, o coletivo, a Turma.

Outro desafio foi colocar meu texto sem interferir na história. Em primeiro lugar não quis colocar depoimentos meus, que teriam uma curiosidade ou outra, mas não iriam alterar nada na história (nem mesmo no capítulo do Raimundos – no caso da 1ª edição). As introduções para os capítulos foram necessárias, mas escrevi apenas o essencial.

O livro é da Turma, não meu. Esse é o meu pensamento, então porque ficar colocando meu texto?!? Ego é para os fracos, o diário é da Turma!!!

Minha grande preocupação era deixar o livro atemporal, montar um documento musical, mas que também fosse o retrato fiel de um período ímpar de Brasília e dos jovens da cidade.

Não fiz o livro pensando no agora. Fiz o livro pensando nas pessoas que irão lê-lo daqui a 500 anos.

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Nessa nova edição lançada pelo selo Pedra na Mão, da editora Briquet de Lemos, há pouca alteração no texto. Tem novos depoimentos de Dinho, Fê e Flávio Lemos no capítulo do Aborto Elétrico. Além do texto de Dinho na contra capa, agora há texto de André Mueller (Plebe Rude). As legendas das fotos foram escritas por Philippe Seabra (Plebe Rude).

Há também duas reportagens de arquivo, as duas publicadas em 1983. Uma do Jornal do Brasil que fala sobre “a nova Turma de Brasília e suas bandas” e outra do Correio Braziliense que é a primeira entrevista de Renato Russo.



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