26 de setembro de 2010

Série O Resgate da Memória: 16 - São Paulo 1983

Revista Roll – ano 1 nº 3 (nov/1983)
(como sempre, ao transcrever o texto mantive sua originalidade, incluindo aí os erros. É engraçada a forma como esse está escrito, os termos e as gírias... Apenas adicionei a imagem da nota de mil cruzeiros, já que há o preço das entradas)



Endereço Certo (SP Rock)
Rock em São Paulo? Carros ruidosos nos viadutos. Rock em São Paulo? Telefones nos escritórios, caixas regostradoras, sim, rock em São Paulo.



No liquidificador São Paulo diariamente se formam, se apresentam, se desmancham centenas de grupos de rock. Pompéia – polpa do rock heavy. Vila Mariana – berço do rock: de Mutantes a Ira. Vila Madalena – rock de quintal. Rua Augusta – Jovem Guarda. Boys. Lojas de disco. Periferia. Ratos do porão e gritos na multidão. No liquidificador São Paulo diariamente se reformam centenas de milhares de grupos de rock, rumba, mambo, reggae, samba, brega, xaxado, punk, be bop...

Em Sampa tudo corre rápido. As casas dançantes abrem para durar pouco. Quando fecha outra se abre. Faz parte da tradição: Efêmeras, mas intensas. Assim foi a “Paulicéia Desvairada” – uma das primeiras casas de rock no modelo das que hoje fazem sucesso por aqui. Uma discoteca onde não se tocava apenas discoteque, com monitores de vídeo, pista dançante com jogos de luzes e shows ao vivo constantemente. Lá era gravado o programa “Mocidade Independente” (quem se lembra?) – programa de jovens para jovens. Claro que durou pouco – como os velhos iam deixar? Mas São Paulo continuou. Veio o Hong-Kong: Uma boite new wave que se tornou moda, durando pouco mais de um ano (82). Em seu palco pisaram muitos grupos de rock que estão por aí.

Garotas do Centro
Atualmente se você quer dançar e/ou assistir ao vivo um dos novos ou velhos grupos de rock paulista há alguns canais:

Por exemplo, o Napalm. Um dos mais quentes e, sem dúvida, o mais barato (1.800,00* a entrada). No centro do coração de Sampa (Rua Marquês de Itú, 392 – esquina com a Amaral Gurgel), o Napalm tem um ambiente underground, com posters punks, guerras e grupo sde rock nas paredes, entre monitores de vídeo que mostram as últimas novidades do som lá de fora. O Napalm tem uma freqüência mista de radialistas, artistas plásticos, punks, roqueiros, travestis, e outros amantes da noite que colorem suas paredes negras. As pessoas geralmente produzem um visual sobre cara e corpo, pra ir lá curtir. Lá se pode tomar algo servido pela cantora Wilma Nascimento (ex-backing de Gil e Melodia, atual Garota do Centro) e assistir bons shows de rock com Ira, Ultraje a Rigor, Titãs, Garotas do Centro, Voluntários da Pátria, Agentss, Mercenárias, KGB. Todos pisaram no palco do Napalm e tocaram para uma casa cheia e animada, apesar de escassa divulgação. “Os jornais boicotam a nossa casa”, diz Caligari, discotecário do pedaço e ex-integrante d’Os Inocentes. Boatos: O Napalm está pra fechar. Não deixem!

Titãs
Subindo para os Jardins, passamos pela boite Verdim Verdim (R. da Consolação, 2854), onde o rock pousa algumas vezes. Ali, cercado pela decoração de veludo verde, o palco atira um som em cima da platéia não tão constante e nem tão freak, mas que curte os bons shows de rock que ali se apresentam, como Titãs, Banda Performática, Sossega Leão, entre outros. No andar de baixo, bar e duas máquinas de flipper. O preço sobe para três barões*. Seguimos.

Na Rua Augusta o rock acontece nas calçadas. Ao som dos rádios dos carros ligados a todo vapor, as pessoas dançam, se flertam e passeiam entre motos rápidas e ônibus lerdos. Aos sábados de manhã, na esquina com a Tietê (no coreto da Jeaneration), temos chance de ouvir o “Ondas Tropicais”, um serviço de auto falantes musicais ambulantes organizado pela discotecária Sônia Abreu, e que leva novidades roquísticas para as ruas. Na Augusta ficamos uns 20 minutos presos no trânsito até chegar a Rua Haddock Lobo. Viramos à direita. Na esquina com a Bela Cintra saímos da poluição dos carros para entrar na fumaça de outra moderna casa dançante – o Rose Bom Bom.

Mercenárias
O Rose também oferece vários atrativos como monitores de vídeo, flippers, shows ao vivo, luzes de neon e freqüência bastante constante (média de 500 pessoas por noite). O preço é mais alto: cinco mil e meio para os homens, e quatro mil e meio para mulheres. Pegamos o cartão.

Entramos numa sala semi lotada com mesas e um balcão de bebidas, onde as pessoas conversam animadamente sob o som alto. No fim do bar, um grande visor de vidro (tipo estúdio de gravação) mostra a pista de dança no andar de baixo, sobre a qual a maioria se acotovela exultante no embalo dos shows ao vivo (no palco em frente) ou fitas com o que há de mais recente na new-wave internacional.

Há mais ou menos dois meses abriu uma nova casa do gênero: o Clash. Talvez com o maior e mais bem iluminado espaço para se dançar, o Clash começou com força total, levando já ao seu palco o Ultraje à Rigor, Voluntários da Pátria e outros grupos. Fica na Faria Lima, onde era antes a boite gay Colorido. Longa vida ao Clash!

Mil cruzeiros (um barão)
Entendidos, travaestis, amantes da noite e outros bichos ostentam seus rebolados no Village Station, no Bixiga (R. Rui Barbosa, 354), onde os shows contam com a produção de grandes festas, com ambientação especial, cenários, luzes, etc. Além da sala de espetáculos, há uma discoteque atrás, onde o som de fitas rola direto, e uma sala de vídeo e paquera.

Essas casas dançantes, além de oferecer aos roqueiros uma viagem garantida, são para os conjuntos uma nova opção de trabalho. Foi através desse circuito que se lançaram muitos dos grupos do novo rock paulista que rola por aí.

Além das casas dançantes há alguns locais de intensa atuação na conjuntura roquística. Não são espaços exclusivamente de rock, mas de rock também (e como!). Um deles é o Lira Paulistana, teatro e produtora independente que está completando 10 anos de vida. O Lira é talvez o local mais acessível para a produção de shows dos grupos que estão se lançando, pois o aluguel é barato e o Lira tem aparelhagem de som própria, além de um esquema de divulgação muito bem montado. Além disso o Lira é a primeira produtora independente do país, tendo produzido discos como os de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e outros. As vezes o Lira produz grandes shows ao ar livre, na praça Benedito Calixto, que fica em frente ao teatro (Rua Teodoro Sampaio, 1091).

Outro local é o Carbono 14, no Bixiga (R. 13 de maio, 363). Espaço múltiplo, com vídeos, filmes, flippers, discoteca, sala de exposição e sala de shows, no Carbono rolam sempre bons shows de rock.

E há ainda o SESC Pompéia: uma grande fábrica de artes, que teve a coragem de realizar em seus páteos, o primeiro, turbulento e talvez único Festival Punk de SP. O Sesc produz também eventos como Noites New-Wave, ou noitadas de heavy metal e hardcore, como a que aconteceu não faz muito tempo como Brylho, Titãs, Capital Inicial, etc. Lá também é gravado o programa Fábrica do Som (TV Cultura) – ao vivo às terças-feiras e indo ao ar nos sábados – que dá espaço aos grupos independentes. Tardes de sábado nos Sesc são embaladas pelas Ondas Tropicais de Sônia Abreu. E lá sempre há múltiplas atrações. Fica na Rua Clélia, 93.
Rock em São Paulo? Se ligue.



Napalm
No coração da paulicéia, Rua Marques de Itú, 392.
Preço: um barão e oitocentos. Abre depois das 22h.


Verdim Verdim
Na direção dos Jardins, Rua da Consolação, 2854.
Preço: três mil. Também depois das 22h.


Rose Bom Bom
Na esquina com Bela Cintra
Preço: cinco mil (homens) e 4 e meio (mulheres), com direito a café da manhã.


Village Station
No Bixiga, Rua Rui Barbosa, 354.
Preço em torno de 3 mil. Abre por volta das 22h.


Clash
A mais nova da noite, fica na Faria Lima. Abrea às 22h e o preço é 4 mil.


Lira Paulistana
Shows às 21h e à ½ noite, no teatro da Teodoro Sampaio, 1091, Pinheiros, preços até um pau e meio.


Carbono 14
Também no Bixiga, Rua 13 de maio, 363. Abre cedo, preços em torno de 3 mil.


SESC Pompéia
Programação dia e noite, menos às segundas. Preço varia até 2 barões.


*Nota: 1.800,00 cruzeiros
**Nota: 3 mil cruzeiros

22 de setembro de 2010

Ídolos de Barro e Ídolos de Aço

Lembro da vinda do Guns N’Roses, quando tocou em São Paulo, em dezembro de 1992. Axl tinha então 31 anos de idade, 8 anos de carreira e 5 álbuns lançados.

Lembro da vinda de Paul McCartney em 1993, quando ele veio a São Paulo. Sir McCartney tinha então 51 anos de idade, 36 anos de carreira e aproximadamente 41 álbuns lançados.

Depois dessa vinda do Guns N’ Roses ao Brasil, a banda que já passava por momentos conturbados, entrou em declínio, virou banda fantasma e de lá pra cá lançou apenas 3 álbuns.

Desde a vinda de Paul McCartney ao Brasil, ele já lançou mais 13 álbuns, entre eles Run Devil Run e Memory Almost Full.

Essa vinda de Guns N’ Roses a São Paulo ficou marcada pela cena de Axl Rose que, num acesso de piti, jogou uma cadeira em cima de jornalistas que estavam no saguão do hotel Maksoud de Plaza. Não há motivo que justificasse sua atitude. Era o poser fazendo poser.

Quando Paul McCartney veio ao Brasil para shows em São Paulo e Curitiba, chegou de um vôo vindo da Austrália. Se não me engano uma viagem Austrália-Brasil passa de 20 horas. Não bastasse essa viagem cansativa, o grande ex-baixista do Beatles desceu do avião e, quebrando o protocolo e andando a pé, foi até a grade do aeroporto que separava a rua da pista de pouso (uma boa caminhada), para dar uma rápida entrevista a Cris Couto, que estava lá pela MTV, e também para dar autógrafos aos poucos fãs que lá estavam aguardando sua chegada. Ninguém esperava essa atitude dele. Foi de arrepiar.

Qual deles ainda é relevante?

Ídolos de barro e ídolos de aço.


17 de setembro de 2010

Série Coisa Fina 3: Doc Punk SP 1983

Desde pivete, em Brasília, eu já era fã do punk rock e hardcore que eram feitos em São Paulo. A admiração não era só minha, era de todos. No show de lançamento do primeiro disco da Legião em São Paulo, Renato Russo dedicou “O Senhor da Guerra” para Redson do Cólera. Hoje Clemente é guitarrista e vocalista da Plebe Rude.

Um dos primeiros registros que escutei foi a coletânea Grito Suburbano, além do incrível e maravilhoso ‘Violência e Sobrevivência’ do Lixomania.

Também escutava muito o ‘Miséria e Fome’ do Inocentes; as coletâneas SUB e O Começo do Fim do Mundo; ‘Botas, Fuzis e Capacetes’ do Olho Seco; ‘Tente Mudar o Amanhã’ do Cólera.

Toda essa primeira leva de discos e compactos das bandas punks paulistanas rodava em Brasília e quando eu vinha de lá para São Paulo para passar as festivas de final de ano, sempre tinha pedidos para comprar. Eram pedidos de camisetas, discos, bottons e outros acessórios. Eu ia para a Rua Augusta e lá passava por duas lojas: a Punk Rock, que ficava no fundo de uma galeria de pequenas lojas; e também ia na Stoned, onde eu comprava a maioria das minhas camisetas (que eu me lembre era o único lugar que tinham estampas coloridas). As telas feitas pela Stoned marcaram tanto que até hoje há lojas na Galeria do Rock que usam o mesmo desenho.

Lembro também de uma vez quando eu estava lá na Punk Rock, num sábado, procurando discos (pedidos) e João Gordo veio falar comigo, me convidar para participar de uma gravação para a TV Bandeirantes que ia fazer imagens dos punks subindo a Augusta. Por timidez não fui.

Até hoje essa leva de discos punks paulistanos estão no meu tocador de mp3, e além da amizade que tenho com algumas das principais figuras dessa geração, a minha admiração continua. Tenho inclusive uma linda edição japonesa do 'Violência e Sobrevivência', um inestimável presente que Miro (baterista) me deu.

Sem querer achei esse doc no You Tube e apesar de alguns problemas no áudio, dá pra ver numa boa. É diversão garantida. Tem Clemente dando uma de ator, João Gordo começando a carreira no RDP, Mingau com cara de moleque, e tem imagem da Punk Rock, com direito ao Fábio no balcão e tudo. Inclusive praticamente todas as camisetas que aparecem no vídeo eu também tinha: Exploited, Discharge, Sex Pistols, Riistetyt. Todas elas ou eram da Punk Rock ou da Stoned.
Esse registro é histórico!




Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4


Parte 5

15 de setembro de 2010

Espiritismo

Agora está na moda falar de espiritismo. Depois que três filmes espíritas feitos entre 2008 e 2010 levaram mais de 4,5 milhões de pessoas para os cinemas, a mídia percebeu um filé para vender revistas, jornais e buscar audiência em rádios e televisão (inclusive a Globo conseguiu bons índices com a novela das seis que acabou no dia 10. Não vi, mas foi muito elogiada).


Algumas coisas que li, vi e ouvi me incomodaram, mas não quero me ater em detalhes. Até porque é preciso levar em conta que 98% de tudo que saiu a partir do sucesso desses filmes foi feito por profissionais que nitidamente não conhecem a doutrina espírita. Normal. Ok. Mas o que não pode é transformar ignorância em piada. Aí já vira informação errada. E é isso que incomoda.


Tem gente que falou que é ruim morrer porque a vida continua igual, outras duvidaram do caráter do filho de Chico Xavier, outros tiraram sarro do aerobus que aparece no filme Nosso Lar, gente falando em fantasma, fazendo piada do umbral, enfim, um show de horror. Essas pessoas acabam passando vergonha.


Vale alguns esclarecimentos sem muito aprofundamento porque quem quiser saber mais vai atrás. Eu mesmo participei de grupos de estudo e fiz cursos. No espiritismo não há pregação e ninguém o obriga a nada. O livre arbítrio é respeitado. E quanto mais conhecimento se tem, mais responsabilidade também terá. É como na vida: se você faz uma coisa e sabe que é errada, as conseqüências podem ser mais pesadas. São leis naturais.


A doutrina espírita não é uma religião. Não há hierarquia e não há dogmas – alguns poucos como abrir e fechar as reuniões com orações e coisas assim. Há sim, claro, nos centros, um organograma para administrá-lo. Nada mais. Não existe um líder rodeado de pompas, com avião próprio, cadeia de rádios e televisão, sistema de arrecadação de dízimo, ou prestação de contas a uma central, uma matriz. Ninguém é tratado como um Deus. Não há nada disso. Os centros se conhecem, mas cada um trabalha por conta. 99% dos trabalhadores dos centros (médiuns, passistas, esclarecedores, presidentes, coordenadores, palestrantes) são voluntários. Geralmente paga-se o vigia, a faxineira, o ajudante, esses serviços gerais. Os demais nada ganham.

O plano espiritual é muito complexo. Não basta morrer para ver Deus, Elvis Presley e todos os seus amigos e parentes já mortos. Há a evolução moral de cada espírito e ela irá determinar a camada a qual você fará parte. Um assassino ou corrupto evidentemente não estará junto de Gandhi ou Madre Tereza de Calcutá. Um suicida também não estará junto de quem morreu de morte natural.


O plano retratado em Nosso Lar é próximo ao plano material, e sua principal função é ajudar aos espíritos de uma camada ainda baixa, e por isso ainda há água, comida e um formato bastante parecido com o nosso. É difícil se desprender rapidamente de coisas como beber água, comer e até mesmo ter ainda uma aparência física. Aos poucos o espírito recém desencarnado vai se livrando desses costumes e de outras vontades.


Também no filme, das mãos dos trabalhadores espirituais que ajudavam na recuperação de desencarnados recentes sai uma luz verde, mas isso é apenas uma forma visual que o diretor encontrou para mostrar os fluídos do passe.


O assunto é delicado, exige muita leitura, muito estudo. A dupla André Luiz / Chico Xavier deixou uma série de livros que retratam de forma simples essa relação entre o plano material e espiritual. É leitura que prende mesmo o descrente. Outros livros incríveis que também costumam ser lidos vorazmente em poucos dias são os da dupla Emmanuel / Chico Xavier. Títulos como ‘Há Dois Mil Anos’, ’50 Anos Depois’ e ‘Paulo e Estevão’ é trama da melhor qualidade, com amor, traição, morte, suspense e tudo também retratado de forma simples, leitura agradável e que deixa você curioso querendo saber o desfecho dos acontecimentos. São histórias reais que trazem lições de vida.


Há os romances e os livros de estudo. A obra de Alan Kardec é obrigatória para quem quiser conhecer a base de tudo, principalmente ‘O Livro dos Espíritos’, um livro de perguntas (dos encarnados) e respostas (dos espíritos), o primeiro da codificação.


Tudo isso é uma pincelada rápida e, como falei, sem profundidade. Se deixar vai longe. Minha intenção é apenas esclarecer alguns erros publicados por aí.

 PS1: O 1º filme assumidamente espírita foi o ‘Joelma 23º Andar’, de 1979, com Beth Goulart como protagonista.

PS2: Há sites espíritas que disponibilizam para download toda a obra de Kardec, entre outros clássicos espíritas.

11 de setembro de 2010

A Infantilização do Rock

De três a quatro anos pra cá observo que o segmento de entretenimento para um público infanto-juvenil / pré-adolescente resolveu apostar no rock. Não sei bem dizer o motivo pelo qual o rock foi o escolhido, fato é que deu certo.

Acredito que Avril Lavigne e as bandinhas do chamado poppy punk (sem comentários) e emo ajudaram a criar essa onda do rock feito para um público infanto-juvenil, no máximo pré-adolescente (nesse momento em que escrevo, também assisto ao filme Camp Rock 2 com Sofia, minha filha de 9 anos).

Fato é que o que trouxe o rock definitivamente para essa faixa etária foi o sucesso de High School Musical, um telefilme do Disney Channel com um enredo praticamente igual ao de Grease. Atrás dele veio Hannah Montana/Miley Cyrus, Demi Lovato, The Jonas Brothers, Selena Gomez, Emily Osment, Mitchel Musso, Justin Bieber e ainda tem Drake Bell, Emma Roberts e carreiras solos de alguns atores do HSM.

Os canais a cabo Nickelodeon e Disney que têm todo um universo de celebridades e programas como Drake & Josh, Zoey 101, I-Carly, Hannah Montana, Os Feiticeiros de Waverly Place, The Jonas, Sunny entre Estrelas, acabam ditando modas (todos esses nomes e mais outros são freqüentes em revistas como Capricho, Todateen, Yesteen!....).

95% das trilhas desses seriados, telefilmes e filmes são compostas por rock e pop de primeira qualidade, principalmente na trilogia HSM e em Camp Rock 1 e 2. Tem coisas no primeiro álbum de Demi Lovato (a estrela de Camp Rock) que são pesadas, mais até que Fresno, NXZero, Avril Lavigne e até mesmo Joan Jett. São músicas com riffs de guitarra e distorções, com roupagem pop, tremenda qualidade, tudo perfeito, do jeito que americano sabe fazer.

Seguindo essa linha aqui no Brasil algumas bandas acabaram atraindo esse público. Falo de NXZero, Fresno, Glória, Strike, Cine, Restart, Hori, Replace, Hevo 84 e tantas outras iguais ou parecidas. De um jeito ou de outro, querendo ou não, o que essas bandas fazem é basicamente esse mesmo rock/pop feito pelo elenco do Disney Channel. Seu público era de 16 anos, passou para 12 anos e agora já chegou nos 9 anos. Prova disso é a edição 2010 do ‘Meus Prêmios Nick’ que será apresentado por Di Ferrero e Lucas Silveira. O Nickelodeon pega principalmente esse público de 8 a 12 anos.

Pasteurizado ou não, com músicas compostas por produtores ou compradas de compositores profissionais, não importa, fato é que elas são boas e caem muito bem na trilha sonora dos filmes e seriados. Inclusive adoro todos esses seriados da Nick e Disney que assisto com Sofia. São muito divertidos e a maioria dessas músicas não me incomoda quando Sofia está no quarto dela escutando som alto. Como diz um amigo meu: “É melhor do que escutar Xuxa ou Britney Spears”. Sem dúvida. Mas essa qualidade é em relação aos gringos, porque os nacionais são de doer (Sofia só gosta de Restart).

Não dá pra levar essas bandas a sério. O problema é que ELAS se levam a sério. Isso me lembra muito que aconteceu como Menudo e RPM, que fizeram sucesso com esse público pré-adolescente e quando ele cresceu virou as costas para seus ídolos como quem diz: “não sou mais criança para ouvir isso”.

Também acredito que pelas composições serem fracas, com uma estrutura formatada, letras sem muita profundidade e vocabulário pobríssimo, tudo isso ajuda a atrair crianças.

Não quero parecer agressivo, mas fico irritado quando vejo essas bandas reivindicando um lugar ao lado de nomes como Raul Seixas, Novos Baianos, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Nação Zumbi, Skank e, de uma forma as vezes velada, cobram isso da imprensa. Se elas quiserem de fato ter respeito e vida longa, vão ter que começar a escutar música, conhecer boas influencias musicais, escolher melhor seus produtores, parar de dar entrevistas bobas para essas revistas “teens”, e também parar de se vestir de acordo com a moda. Se isso não acontecer, não adianta reclamar de que não é levado à sério, porque não será mesmo.

Não acho ruim a infantilização do rock. Azar das nacionais que atrairam esse público e agora terão que virar gente grande, ou ficarão pra trás.

Bem, Camp Rock 2 é bom, mas o primeiro é bem melhor.....

3 de setembro de 2010

Série Anos 1990 SP: 6 – No Olho do Furacão (1)

Logo que cheguei a São Paulo, em 1987, passei a trabalhar com publicidade. Comecei como assistente de produção em produtoras de filmes publicitários. Também trabalhei como assistente de fotógrafo. E tocava com Johnny Monster, tivemos três projetos juntos, até que em 1992 ele foi convidado para entrar no Rip Monsters. Aí eu conheci Gastão e Nego Lima (Renato Lima), e passamos a trabalhar juntos para a banda. Lima trabalhava como produtor na MTV e em 1993 ele me chamou para ajudá-lo na produção da Casa da Praia, primeiro projeto de verão da MTV Brasil.

Entrei na emissora em setembro de 1993, pouco antes de ela completar 3 anos. Nem fui à festa. Era um trabalho free lancer que terminaria no final de janeiro, quando eu voltaria para a publicidade ou fotografia. Mas a Astrid, que nesse período além de VJ era gerente do departamento de produção, tinha gostado do meu trabalho e me manteve lá. Já em março de 1994 eu estava cobrindo férias de todo o pessoal do departamento, o que me fez dirigir todos os programas de grade, porque quando um diretor chegava de férias, outro saía e assim fui de programa em programa, até que em outubro fui contratado. Outra pessoa muito querida que deu força para minha contratação foi a Cuca Lazarotto.
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Estávamos lá no departamento trabalhando tranquilamente, quando alguém do departamento de jornalismo entrou falando para todos que Kurt Cobain havia morrido. Ninguém acreditou. Ninguém sabia como. Tudo parou. E se fosse verdade? Todos pararam mesmo! Ainda não tinha programa ao vivo na MTV. Não havia meio de comunicação mais rápido que o telefone. Uma das pessoas do jornalismo ligou para a MTV em Nova Iorque e lembro de uma roda imensa de pessoas em volta do telefone.

Assim que houve a confirmação da morte, foi correria geral. Os redatores pegaram livros, revistas e todo o arquivo sobre Nirvana e Kurt Cobain. Hoje não sei, mas antigamente o dep. de produção mantinha um arquivo riquíssimo de matérias e reportagens, de jornais, revistas importadas como Rolling Stone, Kerrang!, Uncut, Melody Maker, New Musical Express e tantas outras (espero que ele ainda esteja lá, porque nele tinha material que a Internet jamais terá). Além, é claro, das revistas nacionais de Veja e Época à Contigo e Capricho.

Era um senhor arquivo muito bem organizado pela querida Carla Albuquerque. Tudo era separado por pastas. Então se você ia escrever algo sobre o Nirvana, era só pegar a pasta da banda e ver as últimas matérias que saíram. Também tinham os livros, biografias e publicações especiais que compunham o arquivo. Assim, se você quisesse um texto biográfico, teria que fazer de próprio punho. Em tempos sem Internet, as novidades não tinham tanta velocidade, por isso tinham um prazo de validade maior.

No momento da notícia Gastão estava na MTV, então todos correram para gravar um segmento com ele apenas dando a notícia no clássico texto: “Entro excepcionalmente para informar que Kurt Cobain morreu... estamos aqui trabalhando e a qualquer momento...”. Não sei dizer se a MTV Brasil foi a primeira a dar a notícia, mas pode ter sido.

Dep. de Produção e o arquivo ao fundo
Lembro que era por volta das três da tarde e em cinco minutos escreveram um texto, entraram em estúdio, gravaram, pegaram a fita e a levaram direto para o departamento de exibição. A colocaram no VT e foi para o ar. Na hora todos festejaram, claro que não a morte, mas por todo o trabalho e a tensão entre o boato e a confirmação da morte. Foi um alívio fazer algo tão importante, de forma rápida e correta.

A grande maioria das pessoas que trabalhavam na produção e jornalismo gostava de Nirvana. Todos passaram a trabalhar em textos e programas especiais. Kiko Ribeiro, que na época trabalhava no departamento de promo – onde eram feitas as vinhetas de programação, aberturas de programas – disse que estavam todos em reunião quando a ex-chefe Cali Cohen entrou na sala chorando para dar a notícia. No mesmo dia o departamento preparou uma vinheta em homenagem ao Kurt, que ficou passando ao longo da programação.

O impacto da morte do grande astro grunge foi sendo digerido aos poucos. Quando conseguimos parar para conversar e filosofar a respeito do acontecido, todos perceberam a importância daquele momento, todo mundo viu que era o fim de uma cena.

Estar na MTV dos anos 1990 era estar no olho do furação, não pela calmaria, mas sim por ser o centro de tudo o que acontecia em sua volta.