Em 1987, estava eu em SP, completamente perdido, sem saber o
que tinha depois da próxima esquina. E foi na capital paulista que descobri Led
Zeppelin, Os Mutantes, Arnaldo Baptista, Metallica, Black Sabbath, Paco de Lucía,
Beatles, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Rita Lee & Tutti Frutti, Phil
Collins e maconha. Da lata. Passei o réveillon de 1987-88 em Camburi, uma das
praias do litoral norte de São Paulo que foram “atingidas” pelas latas.
Comprava direto da própria. Nesse verão éramos seis pessoas dividindo uma
casinha no meio do mato (Camburi era só mato) e a trilha sonora era
praticamente Que País é Este? da Legião Urbana (todo mundo cantando “Faroeste
Caboclo” de cabo a rabo), e Caetano Veloso 1987 (que fecha com “Fera Ferida”).
Foi em 1987 que assisti com minha irmã Mila, no Belas Artes,
o filme Barfly, que conta uma pequena parte da vida de Charles Bukowski. Lembro
que saímos do cinema, atravessamos a Consolação, tomamos algumas cervejas em
frente ao Belas Artes, onde havia uma cafeteria e o Bar Riviera. De lá fomos
pra casa, onde continuei bebendo e só fui parar quando estava muito mal. Bebi
sozinho. Barfly te dá vontade de beber! Que porre!
Dessa época também lembro bem de ter ido ver, com uma
galera, o filme Down By Law, com Tom Waits, John Lurie e Roberto Benigni.
Foi em SP que descobri Bukowski, e outra
coisa que até hoje faz parte de minha vida: Calvin & Haroldo. Foi em um apê
de amigas de Piracicaba que eu li Calvin pela primeira vez. Esse apê era uma espécie
de QG dessa turma de Pira. Íamos em bando para Piracicaba passar os finais de
semana.
Nesse período também tinha muita coisa boa em quadrinhos. Em 1987 saiu
aqui no Brasil, de Frank Miller, Batman – O Cavaleiro das Trevas; e Alan Moore
lançou Watchmen. Ave cruiiiizzz, era só coisa fina. Wolverine era para poucos. Gastava
uma grana preta! Watchmen era mensal e quando saia eu lia em 10 minutos, e
passava o resto do mês relendo até sair o próximo capítulo. Eram 8, ou seja, 8
meses para ter Watchmen completo. Angeli, Glauco e Laerte estavam no auge da
criatividade. Geraldão, Piratas do Tietê, Bob Cuspe e Rê Bordosa eram o resumo
dessa SP em reta final dos 1980.
Led Zeppelin e Beatles eram duas bandas que eu conhecia
pouco porque eu só escutava punk rock. Nem lembro como passei a gostar delas,
só sei que assim que gostei, logo comprei todos os discos das duas.
Porém Beatles gostava mesmo de Rubber Soul pra frente. Amo Revolver. Era
intenso. Escutava tudo ao mesmo tempo agora: Arnaldo Baptista, Rita Lee &
Tutti Frutti, Beatles, Led Zeppelin, Metallica (Master of Puppets
principalmente), Syd Barret e o Pink Floyd de sua época.
Não me lembro de tudo o que tinha em SP para fazer, mas
quando cheguei em 1987 ainda ia ao Madame Satã e Rose Bom Bom (lembro de uma
apresentação doida e muito boa do Bocato no Madame). Tinha o Teatro Mambembe,
com seus memoráveis shows; o Espaço Off, que era um pequeno teatro onde também
havia shows e pequenas peças (era uma arena minúscula que deveria caber 50
pessoas, talvez 60 pessoas); o Aeroanta era novidade absoluta e foi inaugurado
em fevereiro; tinha o Anny 44 que ficava no Jardins; o Ritz, também no Jardins,
que era bastante frequentado pelos descolados da época, principalmente aos domingos.
Lembro-me de ter ido (e foi uma roubada para voltar) ao Ácido Plástico, uma
casa noturna que era em uma antiga igreja e ficava ao lado do Carandiru. Foi
uma de minhas primeiras saídas em SP. Nem conhecia a cidade e fui lá de metrô
assistir a um show. Na hora de ir embora nem sabia que direção tomar.
Na Consolação com a Paulista ficava o Belas Artes e o Bar
Riviera. Junto deles havia um boteco, uma cafeteria (grande), um bilhar na
sobreloja. Era um local bastante movimentado, e fazia parte do circuito
noturno. Você podia chegar ali às 20h ou as 4h que havia gente, cerveja e
café. Um pouco mais adiante, na Av. Dr. Arnaldo ficava (e ainda ficam) o
Toninho & Freitas e o Burdog, duas lanchonetes 24 horas com sanduíches
maravilhosos. Parada obrigatória antes de ir para casa. Ah! e tinha o Cais, lá
embaixo na Consolação, bem na Praça Roosevelt. Ele passou por fases: teve a de
black music, a alternativa e, por fim, a gótica. Rolava música ao vivo e muitas
bandas tocaram lá.
Não posso dizer com exatidão, mas até 1993 o Jardins ainda
era o bairro da balada. Tudo girava em torno da Rua Augusta, onde ficam as Alamedas, as lojas chiques, os prédios ricos, em
resumo, a parte nobre. À noite aquilo ali ficava um inferno, com trânsito,
gente, bares, casas noturnas, restaurantes. A própria Augusta ficava parada, as
duas vias, da Paulista até a Estados Unidos. Hoje é o contrário, a balada
acontece no outro lado da Augusta (ela é cortada pela Av. Paulista), o lado
centro, mais conhecido como Baixa Augusta. Ali era (e é) o lado podre, só com
puteiros, botecos, inferninhos, barra pesada mesmo. Isso não quer dizer que pessoas de bem não morem lá.
Eu, junto com amigos de SP e Piracicaba,
costumávamos ir para a Vila Madalena quando o Jardins estava abarrotado. Íamos
para lá porque era (ERA!) tranquilo, poucos e bons bares, sem trânsito, e uma
boa energia. Lugar de sobra para estacionar o carro. Na Vila tinha muito hippie
e estudante universitário. Ia ao Empanadas e outros botecos ali por perto.
Aí, depois, foram surgindo outras casas e bares. Dama Xoc, Nation, Columbia, New York
e Sampa. Tirando Dama Xoc, o resto todo no Jardins. O Columbia foi a
primeira casa especializada em música eletrônica, essa mais underground na
época, que tocava nas primeiras raves. Lá a casa abria só no meio da madrugada
e ia até 12h de domingo. Era algo assim. Ecstasy era novidade.
Em dezembro de 1987 foi inaugurado o Projeto SP da Barra
Funda onde aconteceu muito show internacional. Vivia lá, mesmo que não fosse
entrar no show, acabava passando pelo Projeto para ver se encontrava alguém, ou
para tomar uma cerveja no boteco ao lado. Lá vi tanto show que nem sei listar.
O show de inauguração foi com uma banda formada por Andy Summers, Stewart
Copeland e o baixista Stanley Clarke. Não fui. Estava em Piracicaba. O show foi
um fracasso. Antes disso, ao longo do ano, rolaram shows marcantes: Ramones,
Cure, Echo and The Bunnymen, Big Audio Dynamite e PIL. Sting também veio e fez
um show absurdamente chato. Capital Inicial abriu. A marofa Da Lata estava por
toda parte. Fui embora antes do show acabar.
Logo no início 1988, em janeiro, aconteceu a 1ª edição paga
e internacional do saudoso festival Hollywood Rock. O ano seguiu forte com
Aeroanta bombando, cada vez mais shows no Projeto SP, e a cena praticamente
igual. Não lembro bem, mas havia a rádio 89 e a 97, as duas especializadas em
rock. Elas eram importantíssimas para as grandes, médias e pequenas,
principalmente a 89.
1989 foi um grande ano. Cheio de novidades. Ramones voltou
para três ótimos shows no Dama Xoc; Metallica fez o histórico show no ginásio
do Ibirapuera; chegou aos cinemas o Batman de Tim Burton, com Jack Nicholson e
Michael Keaton, que fui assistir no Cine Gazeta. Quando a sala abriu foi aquela
correria de gente para pegar o melhor lugar. Parecia dia de liquidação e portão
de show que abre e todo mundo sai correndo. Foi uma grande expectativa.
Quatro grandes discos foram lançados em 1989 (para meu
gosto): Desintegration (The Cure), New York (Lou Reed), Doolittle (Pixies) e
The Stone Roses. Esses dois últimos tive a sorte de ouvir logo que saíram, pois
minha irmã tinha acabado de voltar de Londres com eles na mão. De Pixies só
conhecia algumas coisas do Surfer Rosa e Stone Roses era novidade absoluta.
Lembro também de ir à loja de discos comprar o Desintegration. Estava voltando
a escutar Cure, depois da ressaca por conta de todo o sucesso tardio que a
banda fez no Brasil em 1986-87. Passada a euforia, quando ninguém mais falava
da banda, ela vai e lança uma obra prima. É o 10º disco lançado no 10º ano de carreira
profissional. O próprio Robert Smith disse que esse disco é um dos três que
resumem a sonoridade do Cure.
A cena musical paulistana underground de 1987-1989: Gueto,
Nau, Ness, Musak, Abraão e Os Lincolns, Fábrica Fagus, 365, Gang 90, Luni,
Lagoa 66, Violeta de Outono, Skowa e A Máfia, Patife Band, Golpe de Estado, Nouvelle
Cuisine, Akira S & As Garotas que Erraram, Maria Angélica Não Mora Mais
Aqui, Não Religião e tantas outras que não lembro. O Aeroanta era o palco
principal dessa cena, inclusive nesse período não havia muitos lugares para
tocar, digo, casas noturnas. Além do Aero tinha o Mambembe, o Off e o Projeto
SP que também recebiam essas bandas.
Depois veio a década de 1990, a qual relatei em uma série
que fiz aqui no blog...
Nenhum comentário:
Postar um comentário