19 de agosto de 2015

Série O Resgate da Memória: 44 - O Terço (Criaturas da Noite)

Essa semana um dos grandes clássicos do rock brasileiro completou 40 anos de seu lançamento. Foi em agosto de 1975 que O Terço lançou Criaturas da Noite.

Aqui fica a homenagem a esse grande trabalho. Escolhi essa reportagem da Folha por trazer além de boas informações do disco, também contextualiza o rock feito naquele momento. Perceba que alguns questionamentos que estão na matéria são feitos até hoje...




Rock
O som mágico do Terço, uma boa realidade
(Jornal Folha de São Paulo, arquivo digital, edição de 18 ago 1975, caderno Ilustrada)

Por Carlos A. Gouvêa

A grande rivalidade, que existia há alguns anos entre dois grupos cariocas de rock, acabou. “A Bolha” tinha por seu maior concorrente “O Terço”. Do primeiro, devido às indefinições bem próprias dos elementos de nosso “showbusiness”, pouco se ouve falar nos dias de hoje. O segundo é tipo como um dos melhores e, por alguns, o melhor grupo de rock brasileiro.

O Terço acaba de gravar mais um LP. Na verdade é o terceiro mas na prática é o primeiro, que vem demonstrar pela qualidade que apresenta, os longos anos de vida que esse grupo deverá ter. Composto por Sérgio “Magrão”, na guitarra-baixo; Sérgio Hinds, na guitarra-solo; Flávio Venturini, nos teclados, e Moreno na bateria, esse conjunto no ano passado recebeu o troféu Rock 74, oferecido por Lady Jane, por ter apresentado o melhor show do ano (13/10/74 no MASP).

O álbum tem o título “Criaturas da Noite” nome da primeira faixa do lado “B”. A capa foi feita por Antônio e André Pelleov com fotos de Leonardo; gravado nos estúdios da Vice-Versa para a Copacabana e produzido pelo grupo e por seu empresário Mário Buonfiglio.

Este disco foi iniciado há cerca de um ano e a matriz da fita fez uma peregrinação por várias gravadoras. Sérgio Hinds conta a história: “Toda vez acontecia o mesmo. Levávamos a fita para os produtores, eles gostavam e, depois de fazerem uma reunião vinha sempre a resposta negativa”. O investimento para gravarem esse disco foi grande. O próprio conjunto custeou as gravações para depois vender a fita a alguma gravadora. Achando essa fórmula mais prática, pois infelizmente nosso rock é marginalizado pelas fábricas de discos, cujos “produtores” nem se preocupam em ouvi-lo e acham mais fácil dar uma resposta negativa, dizendo que rock não vende, os músicos do Terço querem fazer do anti-comércio (como os dirigentes de gravadoras chamam o rock) uma união de boa música acompanhada pelo sucesso da vendagem. “Terço”, pertencente a gravadora Copacabana cujo proprietário, Adiel Macedo, acreditando muito no sucesso que poderá render o conjunto disse que “O Terço” é ótimo para o Brasil, mas será muito melhor quando for lançado na França e Inglaterra, pelo selo “Virgin” conforme promessa feita por Adiel ao empresário do grupo, Mário Buonfiglio.

Sérgio Hinds guitarrista do conjunto durante a entrevista fez uma pergunta bastante oportuna, sobre o movimento de rock no Brasil: “Por que o público brasileiro não prestigia seus próprios conjuntos de rock, lotando teatros e comparecendo em massa a todo evento que se fizer! Eu acho que, Rita Lee, por exemplo, deveria ser assistida por 15.000 ou 20.000 pessoas no Anhembi. Não vamos chegar à casa de milhões de pessoas porque o rock ainda precisa de muita força e, principalmente, de boa vontade por parte dos dirigentes de gravadoras e empresários de shows. Público tem e bastante. Por que o Slade, um fraco conjunto inglês que apresenta música inferior a nossa consegue reunir na própria Inglaterra 200.000 pessoas para assisti-lo. E, no Brasil, em nossos shows só vai um pouco mais que a lotação do teatro?”

Ele mesmo responde: “Na Europa não existe rivalidade entre os grupos. Existe respeito. Ninguém cola cartazes em cima de outros cartazes. Os grandes grupos evitam fazer shows no mesmo dia, e com tudo isso o público recebe melhor informação, pois não existe bagunça. E outra coisa: lá não existem divisões descabidas entre música popular, rock e futebol. Os próprios artistas, a exemplo de Rod Stewart, gostam de futebol (consequentemente o público que comparece aos estádios para ver um jogo, vai também a um concerto de rock. As discriminações e preconceitos existentes no Brasil são fatores altamente contribuintes para o bloqueio do sucesso do rock”.

Moreno o baterista, intervém: “Apesar de tudo o público rock no Brasil, sabe o que quer e não se deixa mais iludir por mentiras e shows sem qualidade, e muito menos discos que apresentam qualquer coisa”

Os teatros estão cobrando, em média, 25% da renda bruta. A Prefeitura 10%; direitos autorais, mais 10%. Além disso, existe o pagamento obrigatório de cartazes volantes, anúncios em jornais, iluminação, transporte e pessoal técnico. Como é possível fazer shows em teatros? Qual o lucro? (se houver, pois parece-me que existem mais despesas).

O empresário do Terço, Mário Buonfiglio, responde:
“O lucro financeiro não existe, pois isso é conseguido quando da venda de shows em clubes. Os teatros de rock estão faturando mais do que teatros que não apresentam rock, pois a frequência de público é maior. Entretanto, os teatros que não apresentam rock têm uma regalia: são isentos dos 10% cobrados pela Prefeitura. Nossa produção é cara. E para uma peça de teatro, às vezes vai o ator, um violão e cadeira. Nós temos um caminhão com quatro toneladas de equipamentos, dois tipos de iluminação, uma própria e outra da Crow, e mais uns 12 mil de promoção. E com todos esses gastos dificilmente voltaremos a fazer teatro em São Paulo, onde estão cobrando uma taxa absurda de 25% da renda bruta. Isso nos leva ao incentivo de fazer teatro apenas no Rio de Janeiro, onde as taxas são bem menores e lá não tem Prefeitura. Só aí, ganhamos 25% sem trabalhar”.

Sérgio “Magrão” contrabaixista do Terço acha uma grande bobagem um conjunto ser avaliado pelo número de instrumentos importados que possui: “Hoje, no Brasil, a técnica da construção de aparelhagem é toda nacional, menos a bateria. E muita gente pensa que é importada pelo som limpo que nós tiramos”.

Melhor do que falar do Terço é assistir seu show, que estreia quinta-feira (28) no Teatro Bandeirantes, indo até domingo, no horário das 21h30. Sábado, o grupo fará uma segunda sessão denominada “Sessão maldita”, à meia-noite.

Nos espetáculos serão apresentadas as músicas do novo LP – “Criaturas da Noite”, além de algumas inéditas, como “Espanhola”, de autoria de Flávio Venturini e Guttemberg Guarabira. Pode-se prever uma coisa: durante a execução de “Hey, Amigo”, a plateia toda dançará e cantará com o grupo a exemplo de outros shows. Essa música pode ser considerada um fenômeno, pois ano passado, sem estar gravada, já era cantada por todos. Hoje, data oficial do lançamento do disco, já é desde algumas semanas a música mais executada em várias rádios. Já foram vendidas cerca de dez mil cópias por antecipação e foram prensadas cerca de 30.000 capas.

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Cenário-Pop

Rick Wakeman...

Rita Lee
Rita Lee despediu-se ontem de seu público na curta temporada de 11 dias, no Teatro Aquárius. A casa estava lotada quase todos os dias e seu LP – “Fruto Proibido” – já atingiu a casa das 20 mil cópias vendidas. Em poucas semanas segundo previsões do crítico Nelson Motta, o disco de Rita deverá chegar à casa das 50.000 cópias vendidas, o que representa vitória para o nosso rock.


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