Ao
contrário da Pipoca Moderna que circulou nessa mesma época, mas que infelizmente teve
vida curta. Não lembro exatamente, mas durou poucos meses e deixou ótimas matérias. Alguns nomes que escreviam para a Som
Três também escreviam para a Pipoca. Esta sim tinha opinião em suas reportagens
e nas resenhas de discos e filmes. Era cultura pop mais focada em música. Muitas bandas tiveram suas primeiras
matérias feitas pela Pipoca Moderna: Blitz, Eduardo Dusek e João Penca, a cena
punk carioca, a Turma da Colina em Brasília, Paralamas (apenas uma nota com foto).
A
Pipoca Moderna pegou o início da cena 1980 e conseguiu registrar essas e outras
boas matérias. A postura, apesar da formação de opinião, era de jornalista
mesmo, um olhar de fora e a intenção era dar uma força para a nova
cena que surgia. Aqui mesmo no Sete Doses de Cachaça você acha matérias onde o jornalista vai ao show,
descreve o ambiante, o clima das pessoas e diz até se a cerveja estava gelada ou
não. Nas resenhas de discos até apareciam críticas negativas, mas não tinham a intenção de atingir o artista por algo pessoal. Muitas vezes era até um texto, digamos, inocente.
Mas
logo que Pipoca Moderna saiu de circulação, apareceu a Roll. Grande revista que
dominou o mercado de 1983 até o surgimento da Bizz em 1985. Era a principal e
melhor publicação sobre música. Nessa época ainda havia a Som Três, mas como
falei, era mais voltada para equipamento (deve ter durado até 1987/88). E não foi pouca coisa não. Só pra se
ter ideia, foi a Roll que cobriu o Rock in Rio desde o anúncio oficial até o
fim do festival. Fez matérias, entrevistas com os artistas, a chegada deles, toda a montagem, e o que mais podia! E todos eles tiravam fotos com a revista na mão. Muito legal.
A
Roll também pegou o filé mignon da cena 1980 o surgimento e a consolidação de
toda ela. Era uma revista feita no Rio de Janeiro, mas tinha muita matéria de
São Paulo e outros lugares do Brasil. Foi ela que fez as primeiras
entrevistas com Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Ultraje, Paralamas, Ira! (antes da exclamação).
Cobriu a saída de Cazuza do Barão, a morte de Cláudio Killer (João Penca), de
Júlio Barroso (Gang 90). A Roll não cobria só o que as gravadoras majors
estavam apostando, mas também o underground do eixo Rio-São Paulo e de
outros lugares como Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e Brasília. Ela
mostrou o Camisa de Vênus, Coquetel Molotov, De Falla, Beijo AA Força, TNT,
Mercenárias, Voluntários da Pátria, Último Número, Picassos Falsos, Finis Africae...
Tinha
também uma opinião forte e, como a Pipoca Moderna, uma postura amigável, mesmo
que algumas vezes surgisse alguma opinião negativa. É bom deixar aqui
registrado que nesses primeiros anos de publicação segmentada havia uma torcida
para que a cena rock, que estava surgindo junto, desse certo. A turma da MPB já
não era novidade, as bandas que haviam, e que misturavam o rock na MPB (e não ao
contrário), era o que pegava mais nesse período 1981-1983, mas como surgia uma
nova geração de jovens, com ela novas bandas e a esperança de que elas pudessem
chegar nas rádios para mudar as coisas, por isso, o jornalismo e a
opinião de Pipoca Moderna e Roll era de apoio, de querer mostrar para as
gravadoras “escuta isso aqui que é legal”. Até porque essa cena era conteúdo para publicar e se desse certo teria
mais conteúdo ainda. Não era uma revista com boa qualidade técnica de impressão e papel, ao contrário de sua maior rival.
Quando
a Bizz apareceu na metade de 1985, já chegou chutando a santa. Era feita em São
Paulo e formada por um time de jovens jornalistas que também eram músicos,
tinham suas bandas e compunham suas músicas. Isso, de certa forma, não foi bom.
Esses jornalistas/músicos tocavam no mesmo circuito que tocavam as
bandas que apareciam nas revistas. Às vezes faziam shows juntas, se encontravam
nas casas noturnas, em festas, mas na medida em que o tempo passava, algumas bandas conseguiam assinar com grandes gravadoras, outras não. Acabou que bandas que
eram do underground passaram a ser do mainstream: Ira!, Titãs, Legião, Plebe,
Ultraje, Capital, Blitz, Lobão, RPM. Na época da Roll esses e outros artistas eram underground, estavam começando. Quando a Bizz surgiu, alguns desses artistas estavam em seus primeiros discos, salvo algumas poucas exceções. Claro que alguns desses jornalistas/músicos se
incomodaram de ver seus amigos se darem bem, gravar, tocar nas
rádios, ficarem famosos, shows por todo Brasil, hotel, mulheres, contrato,
dinheiro.
Tudo
ficou diferente, porque antes era só escrever sobre os pequenos shows do
underground e, de repente, virou resenha de disco lançado por multinacional,
entrevista, reportagens mais profundas. Aí começou aquele negócio de falar que
escreveu mal sobre o disco ou o show, só por inveja da nova condição do amigo.
Havia discussões através da seção de cartas, artista que falava que não dava
mais entrevista para fulano ou sicrano.
Quando
o rock se estabeleceu de vez nos 80, aí virou um festival de jornalistas
desprezarem o rock brasileiro, falarem mal dos discos e dos shows. Até hoje há os jornalistas que ignoram o rock brasileiro.
De
1985 até seu fim em 2001 a Bizz teve uma postura bem diferente de suas
antecessoras. A Roll foi até 1988, mas já no final de 1986 ela não tinha mais a mesma
força. Até porque a Bizz era forte, de uma editora forte, já chegou com bom
papel, qualidade técnica igual e de outras grandes publicações brasileiras de respeito, uma equipe pronta que recebia discos e respeito das gravadoras. Por ela já
chegar forte, também já chegou arrogante. Não que isso fizesse dela uma revista
ruim, mas nela haviam jornalistas ruins, desses que tem mau caráter mesmo.
Durante todo o resto dos 80 e durante todo os 90 a Bizz foi a principal
referência como publicação musical, mas chegava a irritar até mesmo seus
leitores. Havia todo um time de jornalistas/músicos frustrados fazendo parte
dela e isso era o lado negro da revista.
Aqui no Brasil, a imprensa especializada e as publicações também fazem parte de uma história esburacada, como a do próprio rock. Hoje há publicações especializadas, mas elas nunca mais irão ter a mesma força de antes. Infelizmente, publicações especializadas aparecem e desaparecem sem deixar rastro.
Aqui no Brasil, a imprensa especializada e as publicações também fazem parte de uma história esburacada, como a do próprio rock. Hoje há publicações especializadas, mas elas nunca mais irão ter a mesma força de antes. Infelizmente, publicações especializadas aparecem e desaparecem sem deixar rastro.
2 comentários:
Paulo, lembro bem das publicações... forma pioneiras e especiais por nascer junto com a própria cena do rock nacional, embora os "senões" que vc citou, no que concordo. Lembro de um artigo do Ezequiel Neves na Som Tres, creio que de 1981, falando sobre o início da carreira do Barão... caraca, o tempo passa, abç Paulo
Oi Marcelo. Em sebos é possível encontrar várias Som Três. Roll e Pipoca são mais difíceis. Uma vez encontrei um site que publicou todas aws capas de Som Três. Grande revista!
Valeu!
abç
Postar um comentário