Gastão grava Clássicos MTV |
Nós do departamento de produção cuidávamos da realização dos programas musicais que iam ao ar, dos simples como um VJ no fundo chroma key ou complexo como uma transmissão ao vivo do U2 no Morumbi.
A MTV ficava em um prédio, os departamentos ficavam separados pelos seus nove andares. A configuração sempre mudava, mas quando entrei, produção e jornalismo ficavam em salas diferentes, mas ambos no 4º andar. Relações artísticas e marketing no 1º andar; sala vip no 9º andar. Estúdio A e B ficavam em andares diferentes (A é o menor e B o maior). Figurino e maquiagem no 2ª andar, o mesmo do estúdio A. Enfim...
Quando comecei a dirigir, ainda como free lancer, em fevereiro de 1994, a produção contava com pelo menos sete diretores. Cada diretor tinha ao menos dois programas para cuidar, além de outros trabalhos especiais. Por exemplo, o diretor do Disk também cuidava do Pé da Letra (programa de clipes traduzidos) e acabava indo para os EUA para gravar com algum VJ material especial durante o VMA. Éramos muitos, mas havia muita coisa pra se fazer.
Eu e Camila Pompeu |
A cada ano a funções mudavam. Cada diretor cuidava do programa que tinha mais afinidade musical. Tinha o pessoal mais interessado pelo pop americano, pela MPB, pelo rock brasileiro, pelo rock internacional, pelo metal, pelo alternativo.
Claro que ninguém precisava usar terno e gravata. Tinha gente que ia trabalhar de havaianas (que não tinha o mesmo status de hoje), bermuda, camiseta e cabelo despenteado. O engraçado era que no prédio se via engravatados que trabalhavam nos departamentos administrativos e “a molecada porra louca”, que éramos nós da produção, do jornalismo, do promo, TAR...
Todos iam para as mesmas festas, os mesmos shows, os mesmos lugares. Era normal você ver gente dormindo debaixo de suas mesas, usando a mochila como travesseiro. Ressaca braba. Éramos uma grande turma.
As paredes do departamento eram cheias de pôsteres e colagens. Como recebíamos praticamente todas as revistas internacionais e muitas delas tinham pôsteres, eles acabavam nas paredes. Parecia quarto de adolescente. Cada canto, cada mesa tinha sua própria customização, seus adesivos.
Durante o trabalho um ajudava o outro, porque às vezes havia um trabalho para fazer de um artista pouco conhecido, então se pedia ajuda a quem conhecia melhor, que pudesse fornecer uma curiosidade ou história bacana. O que tínhamos de material de pesquisa eram reportagens de jornais, revistas e livros. Um imenso arquivo, do qual já falei aqui em No Olho do Furacão (1), que nos municiava para qualquer tipo de texto sobre cultura pop. Arquivo de valor inestimável, mesmo hoje em tempos de internet. Uma pena que pessoas lá de dentro não tenham dado o devido valor e simplesmente descartaram uma preciosidade, um tesouro de enorme valor. Visão curta e destruidora... uma pena...
Soninha, a coordenadora |
Ganhávamos CDs todos os dias. Ganhávamos ingressos para todos os shows, nacionais e internacionais. Tínhamos acesso as principais revistas internacionais como Kerrang!, New Musical Express, Melody Maker, Spin, Uncut, Mojo, Billboard, Rolling Stone e outras de universo mais pop. Em alguns shows, até 1994, você nem precisava de ingresso, bastava o crachá da MTV. Era tipo Bozó, manja?
Daniel e Massari: redator e apresentador do Lado B |
Era uma turma com idade média de 25 anos. Tinha esse clima de irmandade, risadas, descontração, mas a coisa toda era séria e cada um cuidava muito bem de suas obrigações. Os trabalhos coletivos, como transmissões ao vivo, também tinham essa força e era aparente a amizade entre todos, o que ajudava na qualidade do trabalho. Essa boa relação se estendia para a equipe técnica, que também era formada por pessoas jovens.
Trabalhava-se com prazer, porque todo mundo gostava de música e a maioria entendia do assunto. Era um prazer escrever uma cabeça de VJ, procurar assuntos, notícias. Era maravilhoso poder fazer uma pauta para o Ramones, para a Legião Urbana, entre outros grandes artistas. Era enriquecedor para todos nós que estávamos iniciando a carreira.
Dep. de produção: sem computadores nas mesas |
Essa era uma época em que a MTV Brasil ainda não tinha um sério compromisso comercial. Ainda era pouco acessada e isso nos dava liberdade para experimentar. O MTV Na Chapa, por exemplo, chegou um momento em que eu o fazia apenas com micro câmera, deixava tudo PB, tinha cabeça que Cazé só dormia. O saudoso Cep MTV, comandado pelo Thunder, era outra coisa fora do comum, só cabível ali, naquele momento. As experimentações de câmeras no MTV Sports, enfim, usávamos sem medo as ferramentas que tínhamos e éramos completamente livres para criar. Mesmo levando a sério, nos divertíamos trabalhando.
E dessa forma todos fizeram história.
PS1: As fotos são de 1996.
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