1 de dezembro de 2020

O Rock Brasileiro em dezembro...

Já escrevi textos sobre os principais acontecimentos de vários meses. Alguns não escrevi, e agora pretendo preencher os que ainda faltam. Dezembro é um deles...

Para o mercado de entretenimento dezembro é sempre um bom mês, já que há o Natal e as vendas de tudo em geral aumentam, e isso não é diferente para o mercado fonográfico.

Dezembro é mês de boas energias por ser férias escolares, ter férias coletivas, festas de Natal e réveillon, viagens para praia, clima de missão cumprida, etc. Então lançamentos, shows, eventos são sempre bem vindos!

A chegada do verão que é a estação das tendências, é também ponto inicial para novos projetos. É quando muitas áreas fazem o balanço do ano, no caso da música, por exemplo, sempre há listas dos melhores, dos destaques, essas coisas.

Tem muita gente que acha que essa coisa de listas e premiações só foi acontecer nos anos 1990 com o Video Music Brasil da MTV, mas essas listas/comemorações/premiações já existem desde a década de 1960. A Jovem Guarda teve muita força, ganhou espaço nas mídias da época e elas faziam seus especiais, sejam em listas de revistas e jornais, seja nas rádios ou em programas de TV. Nos 80 havia a votação da Bizz, mas não conta muito já que era manipulada...

Os anos 1970 foram bastante ricos nesses eventos e também em shows.  Durante alguns anos no miolo dessa década acontecia em SP a Semana do Rock’n’Roll com shows e depois o TroféuRock que era a premiação do melhor do ano. Raul Seixas, O Terço, Joelho de Porco, Secos e Molhados, Som Nosso de Cada Dia e tantos outros se apresentaram e/ou ganharam prêmios.

Ao contrário do que muita gente pensa, o rock brasileiro dos anos 1970 foi bastante ativo com lançamentos festivais e shows. Muitos desses shows aconteciam em teatros já que não havia lugares específicos para rock.

Para se ter uma ideia em 1974 foram gravados cerca de 20 discos de grupos brasileiros, aconteceu algo em torno de 300 shows e mais de um milhão de cópias vendidas de discos de rock brasileiro.

Foi em dezembro de 1972 que o Secos e Molhados com a formação clássica estreou. Outra grande estreia que aconteceu no mesmo ano foi a do grupo de Recife Tamarineira Village que, dois anos depois se tornou o cultuado Ave Sangria. Fato de suma importância para o Rock Psicodélico do Recife e do Brasil! Foi também em dezembro que o Ave Sangria fez o lendário show ‘Perfumes Y Baratchos’.

Essa coisa de eventos especiais está na raiz da história do rock brasileiro. Foi em dezembro de 1956 que aconteceram dois grandes fatos para sua história. O 1º foi a realização do 2º Grande Concerto Brasileiro de Jazz que aconteceu no RJ e pela 1ª vez um grupo, no caso o Grupo Farroupilha, tocou temas de rock.

O outro foi a estreia nos cinemas do filme ‘Ao Balanço das Horas’, o famoso ‘Rock Around The Clock’. Foi por causa desse filme que em outubro de 1955 foi gravado o 1º rock no Brasil, e era a música tema do filme aqui no Brasil interpretada pela cantora de boleros Nora Ney.

O impacto na vida dos jovens foi tão grande que em São Paulo o então prefeito Jânio Quadros proibiu a exibição do filme. O rock é um fenômeno também por ter esse poder de incomodar mesmo não fazendo parte do mainstream.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, Agostinho do Santos gravou “Até Logo, Jacaré”, regravação ultra bem sucedida de “See You Later, Alligator”, lançada em janeiro de 1957. Ou seja, logo em seu 1º anos de vida, o rock brasileiro já invadiu o verão como nova tendência. Depois disso ele nunca mais parou!

Sérgio Murilo, Beat Boys e outros artistas da 1ª geração do rock brasileiro tiveram lançamentos em dezembro. Assim como artistas da Jovem Guarda como Renato e Seus Blue Caps, Sérgio Reis, Roberto Carlos e outros tantos.

Lembrando que aqui não falo de todos os lançamentos!

Mas mesmo assim dezembro foi mês de lançamento de músicas como “Brotinho de Biquini”, “Coração de Papel”, “Meu Bem Não me Quer”, “Negro Gato”, “Eu Te Darei o Céu Meu Bem”.

Lançar hits no verão é até tradição. Nos anos 80 houve uma chuva torrencial deles. Um dos mais significativos foi “Uma Noite e Meia” da Marina Lima. Mas assim com,o no início de toda essa história, muitos hits do rock 80 começaram a tocar em dezembro e janeiro.

Blitz, Legião, Lobão, Ultraje, Paralamas, Hanoi Hanoi, Brylho, Cazuza, Barão... a lista de artistas que colocaram hits chiclete as rádios vai longe!

“Pro Dia Nascer Feliz”, “Será”, “Faroeste Caboclo”, “Egotrip”, “Inútil”, “Rock Europeu”, “Somos Quem Podemos Ser”... Tem um monte delas. Essas citadas foram lançadas em dezembro, mas há muitas outras que foram lançadas em discos durante o ano, mas que estouraram no verão.

Desses lançamentos vale destaque para “Pro Dia Nascer Feliz” do Barão Vermelho. Soltar no mercado esse compacto foi um belo tiro da gravadora já que o Brasil vivia o clima da abertura política e também estava completamente envolvido pelo clima do Rock in Rio. Outras duas músicas que chegaram ao Rock in Rio absolutamente estouradas foram “Óculos” do Paralamas, e “Inútil” do Ultraje. Inclusive Paralamas tocou ‘Inútil” no Rock in Rio e citou o Ultraje. Apesar de Roger Moreira estar no palco assistindo ao show, ele não foi chamado para participar.

Também não citei mais músicas do Legião pra não parecer que estou “enchendo linguiça”, já que a maioria dos discos do grupo foram lançados no fim de ano.

‘Que País é Este?’, ‘V’, ‘O Descobrimento do Brasil’, ‘Músicas para Acampamentos’ foram discos lançados propositalmente pensando nas compras de Natal, mas praticamente todos os discos – tirando o 1º - chegaram às lojas no 2º semestre.

Seguindo esse exemplo, dos anos 1990, o Skank lançou os dois primeiros discos também em dezembro. Ainda dessa geração o 1º do O Rappa também saiu no mês do Natal.

Em dezembro também há datas de nascimento e morte de artistas.

Foram quatro os falecimentos: Em 1983 Claudio Killer, tecladista do João Penca, morreu em um trágico acidente doméstico por causa do gás aberto; em 1989 o compositor e hitmaker Joe Euthanázia morreu em um acidente de carro (Entre outras, “Tudo Pode Mudar” e “Mintchura” são dele); em 2001, a mais impactante delas que foi a de Cássia Eller que, apesar de já ter então 10 anos de carreira profissional, estava em plena ascensão com os lançamentos do ‘Acústico” e do ‘Com Você...’. A mais recente aconteceu em 2018 que foi a morte do guitarrista Guto Barros que tocou na Blitz e no Lobão e Os Ronaldos.

Foram tristes perdas e todas pegaram público, amigos e familiares de surpresa.

Entre os nascimentos destaco o aniversário da inigualável Rita Lee, a eterna ‘Princesa do Rock’ (já que Celly Campello é a Rainha). Bem na virada do ano comemoramos também essa ótima data!

E não é por ser 31 de dezembro o último dia do ano que as coisas não acontecem!

Houve shows de estreia de artistas nos anos 70, e também houve com artistas que estouraram nos anos 90.

Digo estouraram nos anos 1990 porque o Raimundos, que surgiu nos anos 1980 e fez seu 1º show no réveillon 1987/88 na casa do Gabriel Thomaz, só foi fazer sucesso na década seguinte.

Agora, provavelmente a data mais curiosa de todas, até por ter acontecido em 31 de dezembro, é essa: depois de uma discussão com o grupo, André Jung saiu do Titãs, com quem gravou o 1º disco. Poucas semanas depois ele entrou para o Ira!

Essa foi a saga do rock brasileiro em dezembro, e que venha um ano novo cheio de amor e saúde pra todo mundo!

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