9 de outubro de 2019

Raimundos 1994 - Por Canisso



Fuçando nas pastas reencontrei este texto que eu nem me lembrava. Pelo que entendi Canisso, a meu pedido, o escreveu para comemorar os 15 anos de lançamento do 1º do Raimundos pr’eu publicar no blog Rock Brasília Desde 1964, o qual era colaborador. Pelas contas isso foi em 2009.

Nesse início de Banguela eu estava bastante presente, mas não só eu. Além de todos os grupos contratados, tinha um monte de gente amiga que aparecia no Be Bop. Era um lugar que servia de “esquenta” pras festas, shows, baladas...

Em 1994 corria meu primeiro ano na MTV e ela ficava perto do Be Bop. Como os horários lá eram flexíveis, e nessa época acontecia tudo ao mesmo tempo agora, eu vivia no Banguela. Tanto que nem consigo lembrar se eu estava lá na gravação desse ou daquele disco, porque na verdade cada vez que se ia lá, era uma gravação diferente acontecendo.

Algo que me marcou muito foi o fato de ter sido lá a última vez que vi e interagi com Fejão como nos velhos tempos de Brasília. Não sei se era o 1º ou o 2º do Little Quail quando Miranda e Gabriel juntaram sei lá quantas zilhões de pessoas pra fazer o maior backing vocal da galáxia, e Fejão estava lá (se não me falha memória Parente, Bulhões e Helder também estavam lá - Dungeon). Eu peguei a câmera caseira de Gabriel, subi em em uma escada dessas de obra e filmei tudo. Fumamos alguns baseados, falamos um monte de besteiras, demos boas risadas e depois não lembro de ter visto Fejão novamente... (talvez quando Dungeon foi ao Fúria... mas era outro clima).

Bem, o que posso dizer da gravação desse primeiro disco do Raimundos é sobre a energia que a envolvia, e que lembrava muito a mesma que havia em Brasília quando Paralamas, Legião, Capital e Plebe gravaram nos anos 80. Era um novo horizonte se abrindo.

Mas o mais legal era que tudo era novidade. Ficar hospedado em hotel, não pagar alimentação, ter uma estrutura profissional dando apoio, ir a festas e shows, conhecer gente importante do meio artístico... Era tudo vantagem, e necessário aproveitar ao máximo.

Sempre lembro de um fato curioso em relação ao Raimundos ser o primeiro lançamento do selo Banguela criado pelo Titãs. Bobinho, mas curioso: Em 1986 o Titãs foi tocar em Brasília, era a turnê do 'Cabeça Dinossauro'. Eu e Digão estávamos juntos, e mesmo sendo menor, ele estava de carro. Terminado o show resolvemos passar no Gilbertinho (que era o point que frequentávamos). Chegando lá ficamos surpresos em ver que estava tudo fechado. A única coisa que estava lá era o tio do cachorro quente, então resolvemos comer um. Descemos do carro e pra nossa surpresa lá estavam Branco Mello e Charles Gavin. Ficamos lá comendo e conversando com eles, que queriam dar um rolé pela cidade. Não lembro o que aconteceu (talvez Digão lembre), mas acredito que tenham ido embora para o hotel... e quase 8 anos depois acontece esse "reencontro" de Digão com Branco e Charles...

Nessa época também houve uma das primeiras viagens profissionais do grupo, e foi para o Rio de Janeiro pra participar do Top 20. Eu estava lá pela MTV e lembro de termos nos esbaldado no hotel já que a produção (do Raimundos e da MTV) disse pra não ter preocupação com os gastos. Comemos bem. Muito bem. Teve também o Juntatribo, mas essa balada não lembro... por que será?

1994 foi um ano bastante intenso, daqueles que não vão acabar nunca...

E lá se vão 25 anos....

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Canisso no Porão do Rock 2000. Foto minha.

“Pois é, e a gente dá uma piscada e lá se vão 15 anos... nós quatro chegamos de Brasília de ônibus e nos hospedamos no Arthur's hotel, um hotelzinho meia bomba que ficava em pinheiros, que diziam as más línguas já ter sido um hospital e tinha fama de mal-assombrado... iríamos gravar no Be-Bop, que acabou se transformando na sede do Banguela, duas mesas e uma linha de telefone gentilmente emprestados pelo Marcelo e pela Ana, donos do estúdio...

Lá entre caixas e caixas de pizza pra viagem e no meio da névoa espessa de cigarros feitos á mão foi traduzido pra uma gravação decente toda a tosqueira e espontaneidade de um som visceral e urgente, resultado da união de influências e vivências de quatro malucos de Brasília que de certa forma conseguiram juntar no seu som elementos pesados e ao mesmo tempo populares, música pra headbanger e porteiro de prédio, forró e hardcore...

Encontramos no Be-Bop uma estrutura fenomenal, um quartel-general com  todo o apoio dos Titãs, sócios do Miranda na empreitada de fazer um selo pra dar lugar às novas tendências que já começavam a pipocar... gravamos com instrumentos emprestados, virando madrugadas sem sentir, e a coisa foi ganhando vida própria, até hoje não canso de ouvir e me surpreender... 

Com o disco pronto começaram os shows, e aí pintou o desafio de transportar aquela sonoridade obtida arduamente no estúdio pras apresentações ao vivo, e isso foi norteando o trabalho desde então, com humildade pra aprender nas oportunidades que tivemos de tocar com bandas mais experientes, e investindo em equipo e instrumentos... mas no começo foi pauleira, viajamos muito de ônibus de linha e van, empilhados junto com os cases e disputando espaço com os caminhoneiros nas churrascarias de beira de estrada...mas bastava uma horinha de show com a mulekada começando a conhecer e cantar junto nossas músicas pra dar uma sensação estranha, um misto de orgulho e dever cumprido...

Existia um clima de solidariedade, de pessoas em diferentes posições dentro da cena que se formava com um mesmo espírito de "fazer acontecer", de dar sua contribuição ao "movimento" espírito esse muito bem traduzido pelo Miranda na definição perfeita: BRODAGEM!!!

Eram jornalistas, radialistas, bandas, produtores, empresários... o barulho feito por essa corrente que queria dar voz a uma nova forma de fazer música pesada BRASILEIRA, começou a incomodar a mesmice reinante, e sem abaixar a crista pra nada que viesse de fora e tocando de igual pra igual com os "medalhões" a parada vinha como um caminhão sem freio numa ladeira, atropelando tudo no seu caminho, e começou a invadir os salões chiques com seu sotaque de peão, lavando a alma com orgulho de ser brasileiro e cantando em português chulo...”



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