12 de maio de 2015

Trechos O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília

Em dezembro de 2013 lancei a 2ª edição do livro O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília, dessa vez pela editora Briquet de Lemos/Pedra na Mão, comandada pelo professor e mestre Briquet de Lemos, pai de Fê e Flávio Lemos do Capital Inicial. Seguem alguns trechos do livro para sua degustação.
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24/04/2018
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Capítulo ABORTO ELÉTRICO

Dinho Ouro Preto - Com 16 anos eu achava o Aborto Elétrico a maior banda do mundo. Eu curtia mais escutar as fitas do Aborto do que Ramones, Pistols ou Clash. Por incrível que pareça, minha banda favorita era aquela ali da esquina. Foi a 1ª vez que ouvi aquele tipo de rock em português. Mas era muito mais pelo Renato, por que era impressionante. Eu admirava o Aborto e, quando moleque, você costuma se imaginar em sua banda favorita e eu me imaginava no Aborto. Era uma coisa de adolescente, fantasiosa, tipo quando você coloca um som e fica na frente do espelho com a raquete de tênis pensando que está tocando guitarra. Era assim. O Aborto era uma banda maravilhosa que eu amava e amo.
Flávio Lemos - Nós tocávamos no porão do Cafofo para os amigos. Tocávamos na rua pra quem quisesse parar e ver. Tinha gente que parava, via 12 segundos e ia embora. Pronto. Era isso. E fazíamos isso com essas canções que você ouve hoje em dia numa boa e muitas delas viraram sucesso depois...


Capítulo CAPITAL INICIAL

Loro Jones – A Heloísa estudava com o Fê, na UNB, mas não era da Turma. Aí, um dia ele apareceu no ensaio dizendo que tinha conhecido uma menina que tocava guitarra, era canhota e cantava – mas ela não cantava nada e também não tocava nada, só era canhota. Um dos shows que fizemos com ela foi no Iate Clube. Ela era filha de militar e seu pai não queria que ela tocasse com a gente. Quando ela saiu da banda, falou pro pai que tinha que pegar o equipamento na casa do Fê. Ele mandou uma escolta do exército lá. Eles chegaram e perguntaram onde estava o “begue” (gíria para amplificador). Quando nós entregamos o “begue” e eles não acreditaram, porque pensavam que se tratava de uma pessoa. Eles saíram de lá putos.


Capítulo PLEBE RUDE

Herbert Vianna – Uma vez eu e Bi fomos assistir um ensaio da Plebe Rude. Nesse ensaio, escrevemos uma letra que entrou no nosso primeiro disco. Eu fui usar o equipamento do Philippe, que era 110 V, e liguei numa tomada de 220 V. Queimou tudo. O Philippe nunca me perdoou.
Philippe Seabra – Rolavam muitas jams na sala de ensaio. O Herbert foi uma vez para o Rádio Center, e a primeira vez que o vimos foi na sala de ensaio numero 2090, que dividíamos com a Legião e o XXX. Ele ficou sentado no canto, sem dar muita bola para a galera. Não nos incomodamos porque ele era daquela “banda chata do Rio”, e era amigo dos figurantes (o pessoal da 104 Sul). Depois que saímos fora, ele ficou tocando e usou um pedal meu. Ligou, acidentalmente, na tomada sem transformador, mas não falou nada. Quando cheguei para ensaiar num outro dia, meu pedal não estava funcionando.


Capítulo LEGIÃO URBANA

Iko Ouro Preto – Inicialmente, a Legião tinha um guitarrista que era muito bom, mas ele era metaleiro demais, fazia solos intermináveis (Paraná). Esse não era bem o estilo que o Renato estava procurando. Ele queria algo mais cru, mais forte, mais moderno. Pouco antes de montar a Legião, ele havia me convidado pra entrar na banda, mas eu recusei. Depois, ele me convenceu e eu acabei entrando. A certa altura, o Renato sentiu que tudo poderia dar certo. O Paralamas tinha lançado disco e as gravadoras estavam procurando novos talentos. Então, ele quis se mudar para o Rio de Janeiro. Eu detestava o Rio e resolvi não ir.
Dado – A primeira vez que toquei na Legião foi na casa do Fê, numa festa que chamamos de “Caro Hernano”. Ele foi a Brasília fazer a matéria para a Pipoca Moderna. Nesse dia, tocamos “Ainda é Cedo”. Eu nem sabia tocar. Fiquei fazendo uns barulhos com a guitarra.
Foi na época do Festival da ABO que eu entrei, definitivamente, para a Legião Urbana. O Iko tinha ido para a Espanha e o Bonfá me chamou. Eu também estava pra ir embora – só faltavam seis meses pra terminar a UNB. Eu ia morar com meu pai na França mas acabei ficando no Brasil. Foi na casa do Renato que fizemos as primeiras músicas...


Capítulo FESTAS

Pedro Ribeiro - Rolavam as invasões nas festas. A galera se apertava nos carros e íamos atrás delas. Aí chegavam um bando de punks, mas a cidade era pequena, então você sempre encontrava gente conhecida nessas festas, desde o playboy do clube até o ‘cdf’ do colégio. Aí chegávamos de mansinho, íamos nos ambientando e, de repente, colocávamos nossas fitas e saíamos pulando, os donos das festas ficavam putos! Teve outra que um cara deu uns tiros e todo mundo saiu correndo. Sempre rolavam os ataques à cozinha, ligações internacionais no telefone da casa, caíamos na piscina, enfim, tomávamos conta do lugar até sermos expulsos. Tem uma em que fomos expulsos e juntou umas vinte pessoas na frente da casa e mostramos a bunda para os convidados.
Babú - Teve uma festa na 307 Norte que não nos deixaram entrar e nós abrimos as mangueiras de incêndio de todos os andares e saímos fora.
       Num reveillon eu tive que comprar cocaína pra uma galera, exatamente porque eu não cheirava, então não haveria o risco de eu dar o "balão" em ninguém. Aí fui, comprei e voltei pra festa com a coca no bolso da camisa, mas quando cheguei, tinha acabado de dar meia noite e as pessoas estavam naquela euforia e me jogaram na piscina, molhou todo o pó.


Capítulo RENATO RUSSO

Adriane - O Renato tinha uma mania esquisita de gravar as conversas com as pessoas que iam à casa dele. Uma vez eu fui lá com o Eduardo e mais alguém e o Renato começou a fazer algumas perguntas filosóficas, parecia que ele estava manipulando a conversa. Eram poucas pessoas que sabiam disso e, pra elas, ele mostrava algumas das gravações. O dia em que eu o flagrei gravando nossa conversa, ele se explicou, pediu desculpas e desgravou à fita na minha frente. Eu fiquei sem reação porque estávamos conversando sobre coisas íntimas, infância, problemas e outras coisas desse tipo. Foi aí que percebi que ele manipulava as conversas.


Capítulo ROCKONHA

Loro Jones - A primeira Rockonha foi legal, mas a segunda foi aquela roubada. Antes da festa, a polícia já estava pronta para invadi-la. Quando fomos, passamos por uma blitz, logo no início da estrada. Estava todo mundo, eu, Helena, Gutje, Fê, Geruza, o carro estava lotado, tinha gente até no porta malas. Estávamos todos bebendo dentro do carro, a maioria era menor de idade, mas mesmo assim passamos pela barreira policial e nem desconfiamos de armação, algumas pessoas acharam esquisito o fato deles não nos pararem, mas fomos em frente. Chegando perto, já não dava pra fugir porque a polícia estava na porta mandando entrar e estacionar. Já saímos do carro com a mão na cabeça. O sinal para a invasão policial eram aqueles fogos sinalizadores, o pessoal da festa viu aquilo e achou legal pensando que fazia parte, de repente, tinha guarda gritando: "Mão na cabeça" e foi aquele negócio de liberar as coisas ali mesmo no chão. Foi todo mundo de ônibus para o batalhão de choque de Sobradinho, no caminho ainda tinha gente dispensando coisa pela janela. Chegando lá, ficou todo mundo em fileira no pátio do batalhão e os menores foram para um auditório. Eu saí porque sou filho de militar. Teve um cara que voltou ao local da festa, no dia seguinte, e achou até narguilé (uma espécie de cachimbo) no chão.

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