2 de dezembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 2 - Capital Inicial

Aqui Flávio Lemos descreve em detalhes o que foi gravar o 1º do Capital. É um ótimo documento e mostra um pouco da dificuldade que as bandas de rock da época tinham em gravar um disco.


“Nosso 1º disco foi gravado em um estúdio chamado Nosso Estúdio, em São Paulo. As gravações começaram em janeiro de 1986 e longos três meses depois, no começo de abril, conseguimos terminar o disco. Não foi nossa primeira experiência em estúdio, pois havíamos gravado um compacto um ano antes. Mas éramos quase virgens. E isso faz uma grande diferença. Por isso a gravação foi tão demorada. Cada música foi tocada centenas de vezes até sair certo.
Nosso produtor, escolhido pela gravadora, nunca tinha gravado um disco de rock antes. Na verdade, ele nunca tinha ouvido rock. Ele só fazia discos de MPB. Falar que queríamos um timbre de guitarra igual ao do Steve Jones (Sex Pistols) não adiantava nada. A comunicação era difícil, apesar de sua boa vontade.

Não tínhamos equipamento. O baixo não sofreu tanto, pois podia ser gravado em linha, plugado direto na mesa. Mas para gravar a guitarra foi um sufoco. Conseguir uma guitarra distorcida foi pior ainda. Lembro-me que chegamos a usar uma caixa que alguém trouxe de casa, que não era para instrumentos, e sim para ouvir discos. Ligando a guitarra nela, o som vinha distorcido, e foi isso que usamos.

Mas estávamos felizes e achando tudo lindo. Queríamos ‘sofisticar’ nosso som, e chamamos Bozzo Barretti para gravar piano e teclados. Ele acabou co-produzindo o disco e sugeriu colocar metais em algumas músicas. Nós gostamos do resultado final, mas os amigos mais puristas que nos conheciam da época de Brasília não acharam muita graça.

Das onze faixas do disco, seis foram compostas em Brasília, e cinco foram compostas em São Paulo. Nós nos mudamos para SP em janeiro de 1985, e passamos o ano todo ensaiando e compondo. Ensaiávamos todo dia, no porão do sobrado onde Dinho morava. As músicas compostas em SP foram: “Gritos”, “Linhas Cruzadas”, “Cavalheiros”, “Sob Controle” e “Tudo Mal”.

Com o disco terminado, fomos fazer fotos para a capa. Chamamos Ico Ouro Preto, nosso amigo de Brasília e irmão de Dinho. Fizemos várias fotos na frente do Museu do Ipiranga, e uma delas, na frente de um espelho d'água. Nossa imagem ficou refletida. Ico depois cortou a foto, e usou só o reflexo na água. Ficou um efeito interessante, numa época sem photoshop, nem computador.

Não tínhamos nenhuma expectativa com relação ao disco. Fizemos uma lista das músicas que achávamos que poderiam tocar nas rádios. “Música Urbana” ficou em último lugar. Aí a gravadora liga e diz que a música de trabalho escolhida era “Música Urbana”. Ok.
O disco só foi lançado cinco meses depois de pronto, em agosto. Nessa altura, a gente já achava o disco ruim e mal gravado. A tiragem inicial foi de quatro mil cópias. Ficamos muito felizes quando soubemos que esgotou rapidamente. Já estava bom, mas começamos a sonhar que talvez pudéssemos chegar à marca de dez mil cópias vendidas. Após um ano do lançamento, havíamos vendido 250 mil!

Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial

Nenhum comentário: