Só agora me toquei que desde que abri o Sete Doses de Cachaça, nunca escrevi um texto só sobre o Sepultura. Então resolvi aproveitar duas datas legais pra rabiscar algo.
São 3 os meus discos preferidos: ‘Beneath the Remains’, ‘Arise’ e ‘Chaos A.D.’ Como fã eu vejo que em ‘Arise’ o grupo chegou no ponto, estava absurdamente coeso e arrebentou, mas em ‘Chaos A.D.’ Sepultura estava “voando baixo”! Não lembro o que o grupo diz sobre isso, mas pra mim o ápice está ali entre ‘Arise’ e ‘Chaos...’, que em 93, com o lançamento em setembro, só confirmou esse ápice.
Não falo de fama internacional, mas sim da coesão entre os integrantes. Fui diretor do Fúria Metal (depois só Fúria) de 1995 a 2000, nem sei dizer quantas vezes conversamos com o Sepultura. O grupo nos dava todas as exclusivas, e era a janela que confiava pra divulgar sua carreira aqui no Brasil. Quando houve a treta com Max e Glória Cavalera, a primeira entrevista foi ao Fúria Metal, assim como quando anunciaram Derrick no vocal.
Max, Igor, Andreas e Xisto caíram na estrada depois de ‘Beneath...’ e quando chegaram em 93 na hora de gravar o ‘Chaos A.D.’, acabaram por fazer um dos maiores discos de metal dos anos 90. Impecável do começo ao fim.
O que ‘Master of Puppets’ (Metallica) e ‘Reign Blood’ (Slayer) significam para os anos 80, ‘Chaos A.D.’ significa para os anos 90. Até o inglês do Max está melhor!
Bem antes de MTV, Fúria e carreira internacional era normal cruzar com Igor, Max e Andreas na noite em SP (lembro mais deles do que de Xisto!). Aeroanta, Dama Xoc, Retrô e outros lugares e shows. Até mesmo no apê em que Max e Igor moravam na Santa Cecília, que servia de esquenta. Era normal encontrar com Igor nas arquibancadas e numeradas do Parque Antártica nos jogos do Palmeiras, assim como o Kichi que sempre estava lá (ex-vocal do Kangurus in Tilt, ex-roadie do Sepultura e hoje um dos sócios do Cão Véio).
Os 4 acreditaram e não se acomodaram. Sepultura poderia ter sido como outros grupos brasileiros da mesma época, que cantavam em inglês, mas nunca tiveram a coragem de tentar algo fora. É claro que seria impossível fazer sucesso no Brasil tocando rock cantado em inglês. Jamais! Pior ainda se o grupo fosse de Metal! Sepultura tinha plena consciência disso e não pensava em outra coisa a não ser ir pra fora.
Max juntou grana e fez uma viagem na doideira e o resultado da cara-de-pau foi um contrato assinado com a Roadrunner.
Daí também no início de setembro, mas de 1989, o Sepultura embarcou para sua 1ª turnê internacional. Foram 25 shows pela Europa, e 30 nos EUA abrindo para Sodom e Faith of Fear.
Boas histórias dessa turnê não faltam e lembro de Max, Kichi... contando-as no bar do Milton, ao lado do Aeroanta. Geravam boas gargalhadas.
Se você parar pra notar, verá que as duas primeiras turnês internacionais de bandas de rock brasileiras aconteceram com bandas independentes, pesadas e marginalizadas, porque antes de Sepultura, só o Cólera em 1987 fez uma penca de shows pela Europa.
Na época dessa 1ª turnê do Sepultura, o Ratos de Porão também começava a investir no som crossover e, em 1989, gravou ‘Brasil’ em Berlim lançando-o em português e inglês, mas essa é outra história.
Fato é que Sepultura agarrou com unhas e dentes a oportunidade que teve com essa turnê e o resto é história, né?
Triste foi a separação em um momento tão bom do grupo. Participar de tudo aquilo de perto me deixou ainda mais entristecido. Mas esse sentimento não era só meu, você via e conversava com outras pessoas que conviviam perto da banda – equipe técnica, gravadora, assessoria, etc – e todo mundo cabisbaixo sem querer acreditar.
Pior! Vi com meus próprios olhos a fatídica briga entre João Gordo e Max que aconteceu no estúdio B da MTV, pouco antes de eu entrevistar Max por conta do 1º lançamento do Soufly (Gastão infelizmente já não estava mais na MTV).
Como o grupo estaria hoje se a separação não tivesse acontecido não sei, mas sei que as obras ‘Beneath the Remains’, ‘Arise’ e ‘Chaos A.D.’ permanecerão pra sempre!
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