O rock brasileiro é recheado de clássicos desde a década de 1960 até o final dos 1990. Mas por conta de sua história esburacada e problemas com a qualidade de produção e gravação, como escrevi aqui, a história desses clássicos também é esburacada. Além da preguiça e da ignorância de quem diz gostar de rock, mas que se limita a escutar algumas poucas bandas e a pesquisar praticamente nada. Um exemplo do que estou dizendo são os clássicos dos anos 1970 completamente esquecidos. Mas isso é outra história...
Quero aqui aproveitar uma data redonda: 20 anos se passaram desde 1996 (ah é?). 1996 foi um ano importante para a geração 90, que já é velhinha, como as outras gerações anteriores a ela. É difícil acreditar, mas Samuel Rosa, Digão, Marcelo D2, Yuka, Fernanda Takai, Jorge Du Peixe, são todos hoje veteranos.
Para a maior parte dessas bandas que marcaram a década de 90, digo entre outras, Planet Hemp, Raimundos, CSNZ, O Rappa, Skank, Pato Fú, e que começaram ainda na virada dos 80 para os 90, o ano 1996 foi de suma importância, porque é a velha máxima: lançar o primeiro disco é fácil, agora vai lançar o segundo ou terceiro! E naquele momento era isso que estava acontecendo com essa geração.
Para o lado da música e entretenimento, a década estava ‘fervendo’, também graças a estabilidade econômica. As vendas de CDs em alta, videoclipe no auge, rádios e TVs aproveitando essa onda, e agendas cheias. Como consequência, havia um bom número de casas noturnas que movimentava a cena underground.
Foi o ano da morte de Tupac Shakur e da ascensão do Britpop. Era o auge do CD e não tinha nada de computador ou internet (aqui no Brasil). Teve também o Massacre de Carajás, Boris Ieltsin e Bill Clinton reeleitos, e o fim do Apartheid na África do Sul. Vai longe à lista dos acontecimentos históricos...
Ah! E foi o ano em que ressuscitaram o Beatles em grande estilo com o doc Anthology. Ele foi lançado pela BBC em novembro de 1995, mas foi degustado em 1996. Duas músicas inéditas, videoclipe com imagens raras... um deleite!
E 1996 já começou com duas porradas. Uma ótima e outra terrível. O Sepultura lançou o incrível Roots no final de fevereiro, e menos de uma semana depois a rapaziada do Mamonas Assassinas foi vítima do trágico acidente de avião. Claro que os fatos não tiveram conflito. Eu lá na MTV assisti as primeiras imagens brutas feitas após o acidente...
O lance é que Roots deu um nó na cabeça de qualquer roqueiro no mundo. É daqueles discos que, de tão fortes, forçam uma mudança de comportamento, e foi o que aconteceu no universo do metal. Era o caminho natural pra quem já tinha feito Arise e Chaos A.D. Muito foda!
- Alanis Morissette “Ironic”
- Adam Clayton & Larry Mullen Theme From "Mission Impossible"
- Barão Vermelho “Vem quente que eu estou fervendo”
- Claudinho & Buchecha "Conquista"
- Gera Samba “É o tchan!”
- Oasis “Wonderwall”
- Jota Quest “Encontrar Alguém”
- Tiririca “Florentina”
O mercado fonográfico nacional pegando fogo, gravadoras contratando e era o auge da moda em misturar rock com ritmos brasileiros, tudo por conta do sucesso de CSNZ e Raimundos. Daí apareceu Catapulta, Jorge Cabeleira, Os Virgulóides... Valia qualquer coisa com rock: choro, samba, frevo, capoeira... O que chegava de coisa ruim na MTV daria fácil pra fazer 3 catálogos de 17.629 páginas em 12 volumes. Mas o que interessa é que o negócio todo estava movimentado. Em SP, além da MTV, tinha as rádios 89FM e Brasil 2000, que eram especializadas em rock, todas as gravadoras e um circuito de shows.
O Pato Fú lançou Tem Mas Acabou e “Água” está na lista das mais tocadas. Na sequencia vem uma obra prima do rock dessa geração, o 2º do CSNZ, o Afrociberdelia. A essa altura a banda já tinha caído no gosto até de dinossauros da MPB. Pra mim, o inusitado desse disco é “Criança de Domingo”, do Fellini. Uma vez troquei uma ideia com Chico Science pra entender como ele conhecia Fellini no Recife dos anos 80 e ele disse que a influencia de bandas paulistanas nele era forte e citou várias do underground.
Aí, coincidências da vida, cinco dias depois o mundo livre s/a também lança o segundo disco.
Era tudo ao mesmo tempo agora. Muita coisa acontecendo. 1996 também foi o ano da segunda edição do VMB, e naquela época a premiação, nova em folha, gerava mais correria entre as gravadoras e artistas. Os clipes ajudavam, e muito, nas vendagens de discos e shows.
Em 1995 “Segue o Seco” de Marisa Monte havia ganho 5 prêmios, incluindo o de Melhor Videoclipe do Ano. Justíssimo. Belíssimo trabalho. Quando lançado deixou a todos de queixo caído. Causou uma revolução na produção de videoclipes. Virou referência.
Foram vários os clipes que capricharam na produção. Dois que causaram furor em 96 foram “Garota Nacional” do Skank e “Vem Quente que Estou Fervendo” do Barão Vermelho. O do Skank por causa daquelas gatas todas, seios de fora e bela fotografia. O do Barão chamou a atenção por conta da brincadeira feita com a banda tocando em um tanque d’água que, com os efeitos, a fez flutuar de uma forma que ninguém tinha visto antes. Bela produção. Muito bom!
Outras músicas mais tocadas de 1996:
- Chico Science & Nação Zumbi “Maracatu Atômico”
- Spice Girls “Wannabe”
- The Beatles “Free As A Bird”
- Sepultura “Roots Bloody Roots”
- Sepultura “Roots Bloody Roots”
- Jamiroquai “Virtual Insanity”
- Carlinhos Brown “A Namorada”
- O Rappa “Pescador de Ilusões”
- Paralamas do Sucesso “Lourinha Bombril”
- Paralamas do Sucesso “Lourinha Bombril”
Quem ganhou uma grana extra de direitos foi o Hyldon, porque em 1996 Kid Abelha invadiu paradas com “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” e Jota Quest, ainda J Quest, explodiu com “As Dores do Mundo”.
Raimundos lançou Lavô Tá Novo em 1995, mas foi em novembro. O disco mesmo foi trabalhado em 1996 - com o despretensioso e bem legal clipe de "Eu Quero Ver o Oco". Ainda rolou o maravilhoso 9 Luas do Paralamas, Feijoada Acidente Vol. 1 e 2 do RDP, Rapa Mundi do Rappa, O Silêncio de Arnaldo Antunes, Benzina de Edgard Scandurra.
Titãs voltou, depois de uma pausa, com o disco Domingo. Amado por uns e odiado por outros.
E a Legião Urbana lançou o disco A Tempestade ou O Livro dos Dias, o último com Renato Russo ainda vivo. Na verdade ele morreu logo depois do lançamento, que teve sua finalização adiantada, exatamente para que isso acontecesse. As vozes do disco são vozes guias. É um disco bonito, mas difícil de ouvir, por causa de todo contexto envolvido nele.
Como se vê, a geração da década de 80 também estava a todo vapor! E 10 anos antes, em 1986, ela estava no auge lançando seus segundos ou terceiros discos que se tornaram clássicos.
Como se vê, a geração da década de 80 também estava a todo vapor! E 10 anos antes, em 1986, ela estava no auge lançando seus segundos ou terceiros discos que se tornaram clássicos.
1996 foi um ano agitado, intenso.
PS: Se 1996 foi assim, imagine então 1995! Aqui está ótima reportagem da Superinteressante a respeito de 1995. Vale a pena.
PS: Se 1996 foi assim, imagine então 1995! Aqui está ótima reportagem da Superinteressante a respeito de 1995. Vale a pena.
2 comentários:
Viajei no tempo lendo esse post, lembro do lançamento de "A Tempestade" como se fosse há poucos dias,a alegria pelo lançamento inédito, o choque pelas letras pesadas, entre outras coisas. E Pato Fu, o que dizer?! O Rappa! Muitas coisas incríveis aconteceram em 96!
Obrigada por mais esse post, que desperta tanta saudade!
Putz me lembro desse ano como se fosse ontem...o tempo voa !!!! Saudades!!!!
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