Tivemos liberdade total, só mostramos o disco para os executivos quando estava pronto. O lado ruim da baixa expectativa foram os horários de estúdio que nos deram. Gravamos nos períodos que sobravam de outros artistas. Até hoje não consigo ouvir o disco sem lembrar que gravei muita coisa no início das manhãs.
Quem produziu foi Reinaldo Barriga, um cara com os dois pés no chão e sem muitas pretensões artísticas. Era exatamente o que precisávamos, pois idéias nós já tínhamos demais. Ele nos ajudou muito, pois tinha a cabeça nos anos 70. Nós não estávamos muito interessados nas mudanças tecnológicas que estavam começando a invadir os estúdios.
Queríamos estar longe demais das capitais, na contramão da euforia que rolava na cena. Predominava no ambiente uma vontade estranha de ser londrino ou nova-iorquino. Algum tempo depois pintou a onda terceiro mundista e o orgulho estranho de ser banguela. Nunca entendi estas tendências.
A foto da capa não é nada urbana. O local sugere o pampa gaúcho, mas é mais perto de Porto Alegre do que se pode imaginar.
Eu já tinha escrito todo o material antes de entrar em estúdio. As músicas já rolavam nos shows. Gosto de pensar que poderia ter feito aquelas canções hoje de manhã. Até citaria os mesmos Fidel e Pinochet em “Toda Forma de Poder”.
Um fato revela qual era nosso espírito durante a gravação: o pessoal do estúdio se enganou na hora de pegar as fitas e uma canção foi gravada sobre a anterior. Foram horas de trabalho jogadas fora. Os caras olharam para a gente apavorados, esperando que tivéssemos um ataque histérico. Nossa reação foi cair no chão de tanto rir. Teríamos que fazer tudo de novo? Que bom!"
Humberto Gessinger, líder do Engenheiros do Hawaii
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