Hoje infelizmente por conta dessa revolução tecnológica
que vivemos atualmente até mesmo o verão perdeu seu brilho.
Lembro de assistir a ‘Butch Cassidy and Sundance Kid’ e a filmes do 007. Surf, tatuagem,
a onda dos patins, gírias, máquinas de fliperama e até lançamento de cigarro
faziam parte desse universo que parecia infinito. Os filmes lançados perto do
final do ano também influenciavam no comportamento não só pelas roupas e
gírias, mas as músicas e os acessórios. Por exemplo, no final dos 70 as
discotecas bombavam; nos 80 eram as danceterias que bombavam; e ambas faziam
suas versões para o litoral.
No início dos 80 houve a febre dos patins, muito por
causa do filme Xanadu. Surgiram diversas pistas de patins e um dos hits do
verão foi “De Do Do Do De Da Da Da”, do Police.
Muita data legal pra registrar aqui, e muitas
evidentemente diretamente ligadas ao verão, mas vou por ordem cronológica, e já
no final dos anos 50, mais precisamente em 1957, quando o rock brasileiro tinha
apenas 1 ano e 3 meses, já teve lançamento de Agostinho dos Santos (“Até Logo,
Jacaré” – versão de “See You Later Alligator”), Betinho e Seu Conjunto lançou
regravação rock (já visando o público jovem) de “Neurastênico”, música de sua
autoria bastante regravada entes dele mesmo, mas em versões fox, orquestradas
como com Raul de Barros e com Os Cariocas. Essa música foi resgatada na trilha
da novela ‘Estúpido Cupido’, junto com outras da 1ª geração rock.
Ainda em 1957 há um fato absolutamente importante para a
história do rock brasileiro: Caubi Peixoto gravou “Rock’n’Roll em Copacabana”,
primeiro rock brasileiro cantado em português, e bem ousado e pesado pra época.
Caubi o gravou porque ainda não havia cantores de rock e como as gravadoras
queriam apostar nesse novo gênero, então escalaram o grande galã da época.
Pra fechar os anos 50 – se vê como o rock brasileiro há
história “a dar com pau” – também em janeiro, só que de 58) que o filme ‘Minha
Sogra é da Polícia’ foi lançado. Nele tem o próprio Caubi Peixoto cantando
“Let’s Rock” acompanhado com The Snakes, banda de Tim Maia, Roberto e Erasmo
Carlos. Uma pérola que se encontra no YouTube.
Em 1961 teve lançamento de Tony Campelo e Sônia Delfino,
e também o primeiro disco lançado por Roberto Carlos chamado ‘Louco Por Você’,
mas 100% bossa nova.
Pouco depois surgiu a Jovem Guarda e diversos lançamentos
dessa cena. The Clevers, Rento e Seus Blue Caps e The Jet Blacks tem
lançamentos de verão, mas há três que merecem destaques por terem se tornado
clássicos eternos: Em 1966 a dupla Leno & Lilian lançou compacto com “Pobre
Menina” (daqueles hits que você lê o título cantando); em 1967 Eduardo resgatou
a carreira com o clássico disco ‘O Bom’ (com “Vem Quente...”, “Goiabão” e
outros hits); e também em 1967 Sérgio Reis lançoucompacto com “Coração de Papel”,
um hit que se tornou tão grande que ultrapassou a classificação de qualquer
gênero pra se tornar uma canção da música brasileira.
Como se vê, para o nosso rock os verões brasileiros eram
plataforma de lançamento já nos anos 1950!
Dos lançamentos dos anos 70 destaco dois: Em 1970 o
Módulo 1000 lançou o mega clássico ‘Não Fale com Paredes’, disco cheio de
histórias e hoje super cultuado sendo procurado por colecionadores do mundo
todo; o outro é o ótimo ‘Vamos Pro Mundo’ do Novos Baianos, lançado em 1975,
sendo o primeiro sem Moraes Moreira, apesar dele assinar algumas composições.
Mesmo em uma década em que o rock ficou fora da grande
mídia, muita coisa aconteceu. De forma independente ou não, muitos discos foram
lançados, muitos shows foram realizados – tanto em teatros, quanto em ginásios –
e mesmo estando fora da mídia eletrônica como televisão e rádios, havia certo
espaço na mídia impressa.
Inclusive festivais foram realizados, e outros tantos
cancelados pelo Regime Militar. Mas tiveram alguns que entraram pra história. Em
1975 aconteceram, por coincidência, dois grandes festivais: Hollywood Rock e Águas
Claras, em Iacanga.
O Hollywood Rock aconteceu no Rio, no estádio do
Botafogo, e foi organizado por Nelson Motta. Esse chegou a ir para as telas de
cinema em 1976 com o super título de ‘Ritmo Alucinante’. Era só artista de
ponta como Mutantes, Raul Seixas, Rita Lee, Celly Campelo, Erasmo Carlos, O
Terço, O Peso, Vímana e Veludo. Mesmo que em pedaços, as apresentações estão
disponíveis no YouTube. Registro maravilhoso e importantíssimo, único para
grupos como Veludo, Vímana e O Peso.
O Festival de Águas Claras realizado em Iacanga, interior
de São Paulo fez história e teve força pra 4 edições. Ano passado foi lançado o
excelente documentário ‘O Barato de Iacanga’, agora disponível na Netflix, e
vale muito a pena assistir. O que seria algo local entre amigos acabou se
tornando palco para shows de Mutantes, O Terço, Moto Perpétuo, Som Nosso de
Cada Dia, Walter Franco e tantos outros nomes.
Foram 4 edições: 1975, 1981, 1983 e 1984. Porém só a 1ª
edição aconteceu em janeiro. Sem dúvida foi o nosso Woodstock, mesmo sem ter
essa intenção. A história de ambos é até parecida, pois os dois aconteceram por
acaso, sem intenção de ser o que foi, aconteceram no interior e em fazendas, movimentou
multidões e mexeu com a economia da região. Além do ‘O Barato de Iacanga’ vale
assistir também o filme ‘Aconteceu em Woodstock’, os dois imperdíveis.
Já que estou aqui falando de festivais de verão, vou
pular um pouco a cronologia pra abrir a década de 1980 com o Rock in Rio de
1985. Inclusive ele aconteceu no dia 11 de janeiro, mesma data do Hollywood Rock
75. Aliás, no dia 11/01 há vários acontecimentos.
O Rock in Rio foi o primeiro festival internacional que
aconteceu no Brasil. Abriu o ano que foi o 1º após o fim do Regime Militar,
momento em que o país via novos horizontes cheios de esperança. Era o fim de
uma repressão que nos colocava medo. Um amigo que foi em todos os dias do RiR,
disse que no primeiro dia chegou embrulhado na bandeira do Brasil e o
funcionário da catraca falou: “Me dá essa bandeira porque tu extá
dexrexpeitando a pátria”. E tomou a bandeira do Rodrigo, e ele não pôde falar
nada.
Mas nesse novo horizonte também estava incluída uma
gigante mudança de comportamento.
Havia muito ceticismo no ar, por parte de todo mundo,
mesmo pra quem havia comprado ingresso. Eram nomes importantes da música
internacional que viriam pra cá e mesmo vendo todos eles chegando no aeroporto
do Rio, e caminhando pelo calçadão de Copacabana, havia muita gente – inclusive
eu – que só acreditaria em tudo na hora em que todos eles subissem no palco.
Pra piorar todo o ceticismo em volta desse 1º RiR, também
havia a história da previsão de Nostradamus que falava, grosso modo, de muitas
mortes em um grande evento. Muitas reportagens foram feitas, e muitos pais e
avós pediram aos seus filhos e netos que não fossem para a cidade do rock.
É difícil dizer um momento alto do festival porque todos
os shows foram históricos e todos eles tiveram momentos eternizados, como BarãoVermelho cantando “Pro Dia Nascer Feliz”, música que caiu como uma luva para o
momento do país. O show do Yes, que foi o último; Iron Maiden, AC/DC, e até
James Taylor fez história ali.
Abrir o festival com show do Ney Matogrosso já foi
começar com o pé direito, mas o melhor show do RiR 85 foi do Os Paralamas do Sucesso, que era
só o trio e seus instrumentos tocando de dia. Não havia cenário ou qualquer
produção, era apenas o tesão e a vontade de botar pra fuder. Com sugestão de
Caetano Veloso o trio pegou alguns coqueiros que estavam no corredor dos
camarins e os colocaram no palco. Essa foi a produção, esse foi o cenário. Puta
show!
Ainda no dia 11 de janeiro, além de dois grandes
festivais, há a estreia de dois grandes grupos: Aborto Elétrico e Engenheiros do
Hawaii. O show do Aborto aconteceu em 1980, o do Engenheiros em 1985
(rivalizaram com o RiR!).
Esse 1º show do Engenheiros existe em áudio, e no
repertório tem até “Lady Laura”, de Roberto Carlos. A formação era a mesma que
gravou o 1º disco,
lançado em 1986.
Mas antes de lançar o ‘Longe Demais das Capitais’, o EdH
participou da histórica coletânea ‘Rock Grande do Sul’, lançada janeiro junto com
os grupos Replicantes, De Falla, Garotos da Rua e TNT. Engenheiros entrou com “Sopa
de Letrinhas” e “Segurança”.
Quem gosta do Rock de Brasília sabe que o Aborto Elétrico
foi o 1º grupo punk de Brasília e que tinha em sua formação Renato Russo e os
irmãos Fê e Flávio Lemos. Fim do grupo em 1982 surgiram Legião Urbana e Capital Inicial, e cada um desses grupos aproveitou músicas do Aborto em seu
repertório. O resto é história. Esse 1º show não assisti, mas vi a muitos
outros que aconteciam perto de onde eu morava em BsB.
Coincidências da vida, janeiro foi o mês em que Renato
Russo fez o 1º show de sua vida, mas também foi o mês que fez o último show de
sua vida. Também foi o mês em que foi lançado seu primeiro disco. O último show aconteceu em Santos, no Reggae Night, e
foi o encerramento da desgastante turnê do disco ‘O Descobrimento do Brasil’.
Já que falei de coincidências e curiosidades, vale então registrar que o grupo Tokyo, de Supla, começou e encerrou a carreira profissional em janeiro! O primeiro disco foi lançado em 1986 e o último show - assim como Cazuza - aconteceu em 1989. Apesar de ter algumas músicas legais, Tokyo foi nada relevante. Apesar disso o ex-tecladista Marcelo Zarvos se tornou um compositor de trilhas de filmes para Hollywood e chegou a ser até indicado ao Oscar pela trilha do filme 'Fences' (Um Limite Entre Nós), e o guitarrista BiD virou produtor e foi responsãvel pelo excelente 'Afrociberdelia' do CSNZ, entre outros trabalhos.
Já que falei de coincidências e curiosidades, vale então registrar que o grupo Tokyo, de Supla, começou e encerrou a carreira profissional em janeiro! O primeiro disco foi lançado em 1986 e o último show - assim como Cazuza - aconteceu em 1989. Apesar de ter algumas músicas legais, Tokyo foi nada relevante. Apesar disso o ex-tecladista Marcelo Zarvos se tornou um compositor de trilhas de filmes para Hollywood e chegou a ser até indicado ao Oscar pela trilha do filme 'Fences' (Um Limite Entre Nós), e o guitarrista BiD virou produtor e foi responsãvel pelo excelente 'Afrociberdelia' do CSNZ, entre outros trabalhos.
Já escrevi aqui um texto em que
comparo a carreira de Renato Russo e Cazuza – alias um dos mais lidos do blog – e aqui vai outra curiosidade na carreira dos dois: foi em janeiro que
Cazuza fez seu primeiro show solo e também foi quando ele fez seu último show
da carreira.
E veja só, o mês abre com o lançamento do 1º disco daLegião Urbana. Por falar em lançamento histórico, há alguns outros tão
importantes quanto. Vou aos lançamentos: o 1º compacto do RPM com “Louras
Geladas” (foi quando também o saudoso amigo PA entrou para o RPM); Rádio Taxi
com o compacto que tem “Garota Dourada”; Cazuza com o ao vivo ‘O Tempo Não Para’;
Sepultura com ‘Arise’; Herva Doce com 'Amante Profissional'; Eduardo Dusek & João Penca com ‘Cantando no Banheiro’
(o show rolou no Circo Voador). No contexto das efemérides, a curiosidade desse
trabalho conjunto é que Dusek assistiu a um show do João Penca em janeiro de 82
e convidou o grupo pra trabalhar junto, e que culminou no ‘Cantando...’.
Falar em verão é também falar em Circo Voador, principalmente
se tratando de anos 80! Durante os verões muitas coisas aconteciam na lona do
Circo, inclusive seu próprio surgimento que aconteceu em 15 de janeiro de 1982,
ainda na Praia do Arpoador. E pouco tempo depois, já nos Arcos da Lapa, teve
início o evento chamado ‘Rock Voador’, idealizado por Maria Juça e que durou
até 1986. Por ele passaram todos os nomes do rock brasileiro dos 80 e de
registro deixou a coletânea ‘Rock Voador’ lançada também em janeiro e que tem Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Sangue da Cidade,
Celso Blues Boy, Papel de Mil, Malu Vianna e Maurício Mello & Companhia
Mágica.
Dá pra notar que os acontecimentos dos 80 são infinitos!
Nos anos 90 o festival Hollywood Rock reinou nos verões
dessa década até 1996, quando aconteceu a última edição com Rolling Stones,
Rita Lee e Barão Vermelho, pra fechar com chave de ouro.
E de marcante mesmo nessa década são dois fatos: a
criação do selo Banguela, numa parceria entre Titãs e Warner, e que
praticamente resume o que foi o rock brasileiro nos 90. Não pelos lançamentos,
mas pelo pioneirismo em vários sentidos. Participei bem de perto desses anos
todos de Banguela, e muita coisa girava em torno dele, assim como muita coisa
girava em torno da MTV. Esse miolo dos anos 1990 foram ultra mega intensos e os
descrevo um pouco na ‘Série Anos 1990 SP’ (acho que são 13 publicações a partir de julho/2010).
Infelizmente fecho o texto com um triste acontecimento
envolvendo o Sepultura, pois foi exatamente em janeiro que Max Cavalera
anunciou sua saída do grupo.
PS: Acompanhe no instagram efemerides_do_rock_brasileiro
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