1982 foi um ano marcante para a cultura pop em geral, tanto no Brasil, quanto no mundo. No texto sobre as efemérides nacionais de 1982 eu contextualizo o ano com outros lançamentos na música internacional, no cinema e na televisão. Por isso mesmo, nesse texto aqui só há uma data de 82.
Como digo lá - e lembro aqui - foi o
ano em que colocamos o pé, definitivamente, na década de 1980. Novidades tecnológicas
e de comportamento surgiram ao mesmo tempo em que costumes dos anos 1970 que
ainda tiveram sobrevida em 1980 e 1981, acabaram de vez em 1982. Na música dá
pra ver a mudança sonora e visual de artistas e grupos até então progressivos:
Yes, Genesis, King Crimson, Pink Floyd, Lulu Santos, Lobão...
Um som mais dançante e pop foi o que
começou invadir as rádios com B-52’s, Devo, Duran Duran, New Order, Soft Cell,
The Cars, Police, Culture Club, U2, R.E.M. e até Michael Jackson com Quincy Jones acrescentaram pitadas de rock e pop ao fenomenal Thriller. Depois do pós-punk
e do gótico, que eram cenas com menos cores e músicas com tendências mais
experimentais, a New Wave e New Romantic vieram com tudo, cheios de batidas
dançantes e tudo colorido. Os videoclipes começaram a se modernizar e todo o
apelo visual dessas cenas foi incorporado pelos fãs que consumiam os discos,
revistas, pôsteres, até que no ano seguinte, em 1983, surgiu a MTV. Aí sim a
década de 1980 fincou sua bandeira definitiva!
Nascimento: Nora Ney, Miguel Gustavo Werneck de Souza Martins*, Rogério Duprat, Demétrius, Celly Campello, Albert Pavão, Eduardo Araújo, Sônia Delfino, Evandro Mesquita, Gustavo Mullen, Gerson Conrad, Ary Dias, Baby do Brasil, Juba**, Dadi, Carlini, Nasi, Edgard Scandurra, Branco Mello, Miranda (Produtor), Fernando Deluqui, Ronaldo Passos, Frejat, Fê Lemos, Jão (Ratos de Porão), João Barone**, Guto Goffi**, Paula Toller, Paulo Ricardo, Carlos Maltz (ex-Engenheiros), Maurício Defendi (ex-Ultraje), Cássia Eller, Rogério Flausino, Dengue (ex-Nação Zumbi), Fred Castro** (ex-Raimundos), Rodolfo Abrantes (ex-Raimundos), Xande (Pato Fú).
Óbitos: Miguel Gustavo Werneck de Sousa Martins*, Sérgio Murilo, MinhoK – Celso Pucci (Jornalista e músico, ex-Voluntários da Pátria, ex-Nº2 e ex-3 Hombres), Carlos Imperial (Compositor, roteirista, produtor, apresentador e diretor), Luiz Moreno (ex-O Terço).
* Compôs “Rock’n’Roll em Copacabana”(1957), o 1º rock autoral cantado em português. O intérprete foi Cauby Peixoto.
** São 4 bateristas que fazem no mesmo mês e em dias próximos!
Veja a lista de alguns álbuns que completam 60, 50, 40, 30 e 20 anos de lançamento: Renato e Seus Blue Caps - Twist, Módulo 1000 - Não Fale Com Paredes, Os Mutantes - Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, Clube da Esquina, Raul Seixas (compacto com “Ouro de Tolo” e “Hora do Trem Passar”), Rita Lee - Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida, Os Mutantes (compacto) “Mande Um Abraço Pra Velha”, Novos Baianos - Acabou Chorare, Cássia Eller - O Marginal, Legião Urbana - Músicas Para Acampamentos, De Falla – Kingzobullshit Backinfulleffect, Herbert Vianna - Ê Batumaré, 1º do Skank, Rodox - Estreito , Magazine - Na Honestidade, Ultraje à Rigor - Os Invisíveis, Sepultura o ao vivo Under a Pale Grey Sky e Revolusongs, Os Paralamas do Sucesso - Longo Caminho, Nação Zumbi 4º disco (o 1º sem CS), CPM22 - Chegou a Hora de Recomeçar, Charlie Brown Jr. - Bocas Ordinárias, Cássia Eller - 10 de dezembro.Dessa lista já editada, eu contei 6 clássicos a começar por ‘Twist’ 1º do Renato e Seus Blue Caps. Esse disco, que tem uma belíssima capa, conta com a participação de Cleide Alves nos vocais, tem composições de Carlos Imperial, Erasmo Carlos, Rossini Pinto. RSBC foi de suma importância para o rock dos anos 1960 e lançou alguns clássicos. Uma edição dessa em vinil é diamante raro!
Da década seguinte há 3 grandes discos: Módulo 1000 - Não Fale Com Paredes, Clube da Esquina e Novos Baianos - Acabou Chorare. Só com os mineiros e os baianos por todo 1972 a pick up ficaria ocupada. Esses dois discos, diferente do Módulo 1000, tem a mesma direção conceitual já que os dois fazem uma mistura de rock dos anos 1960 e 70 com a MPB, a Bossa Nova, o Frevo, o Samba. Os dois fazendo essa mistura com maestria. São dois discos atemporais que podem ser chamados de obras primas numa boa. Fora o fato de que tanto um, quanto o outro, são carregados de histórias!
Digo tudo isso sem desmerecer o ‘Não Fale Com ‘Paredes’, mas ele já é mais segmentado, dentro do universo do rock pesado e, além de ser uma referência pra quem gosta desse rock progressivo, é hoje uma raridade procurada por colecionadores do mundo inteiro. É também um grande disco, um clássico do rock brasileiro. Esse disco tem a história de ter demorado a ser lançado e, quando aconteceu, o grupo já estava ensaiando e tocando um novo repertório bem diferente do que foi gravado. Não era fácil lançar discos nos anos 1970!Em relação aos anos 1980 é preciso ler o texto O Rock Brasileiro em 1982 porque tem muita coisa boa e mereceu um texto a parte, portanto vou direto para os anos 90 que destaco apenas Cássia Eller. Lembro bem que na época o disco não foi bem comercialmente, mas foi melhor que o 1º e público e mídia começaram a falar mais de Cássia. Logo que saiu o disco um amigo de Piracicaba comprou e o que me chamou a atenção de cara foi ter músicas de Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé/PatifeBand e Jimi Hendrix.
Mas esse não foi o disco que a estourou
nacionalmente. Fui a um show dela no Aeroanta, sabia que ela tinha começado a
carreira em Brasília, foi do Malas e Bagagens, mas não a conhecia. Tem uma apresentação da Cássia no
programa Metrópolis da TV Cultura, acho eu que de 1987. Vale muuuito a pena e é
o retrato do que ela fazia nessa época. Depois, nos anos de MTV, nos
encontramos e conversamos algumas vezes. Muitos amigos em comum...
Tem um momento bonito sobre Cássia Eller no especial qiue fiz com Skank e Nando Reis, durante a entrevista com o Nando quando ele fala de "All Star". Emocionante.
O último dos clássicos listados por mim é o 1º do
Skank, lançado primeiramente de forma independente e depois relançado pela
gravadora Sony. Tem grandes hits e também dá pra dizer que foi o pioneiro
de uma cena que estava pra estourar com Planet Hemp, O Rappa, Pato Fú,
Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s/a, etc.
Skank foi o primeiro grupo dessa geração 90 a lançar disco e também teve uma carreira mais linear em comparação a maior parte dela. As composições sempre foram muito bem pensadas, assim como a produção dos discos, a arte gráfica. O Skank tem suas canções pop de amor e de temas leves, mas nunca abandonou temas mais engajados, e a influência rock. Todos os discos têm as "lado b" que são maravilhosas e nunca vão tocar em rádio. Esse 1º disco é o exato espelho do que se seguiu a discografia do grupo. Sou suspeito, porque além de gostar, respeito muito o grupo.
É preciso também citar ‘Kingzobullshit Backinfulleffect’,
disco doido do Defalla que é o retrato do que foi os anos 90 com o crossover, a
madchester, o grunge e essas cenas que misturavam influencias diversas, de
Beatles, Black Sabbath e Ramones a Run D.M.C e Neil Young. Disco lançado de forma
independente em uma época em que o Brasil passava por uma turbulência do mal
chamada Fernando Collor. Corajoso e, para o Brasil, um disco pioneiro. Foi nessa época que o Defalla se apresentou no Hollywood Rock.
O grupo veio para São Paulo para participar do festival e aproveitou pra fazer dois shows de lançamento do Kingzobullshit. Os dois shows na mesma noite. Um no Retrô e outro no Der Temple, casas de shows alternativas que fizeram história nos 90. Depois do show no Retrô os equipamentos, grupo e amigos se amontoaram nos carros disponíveis, incluindo meu saudoso Fusca 80.
Ainda sobre lançamentos vale o
registro sobre Os Mutantes e Rita Lee. 1972 foi intenso para o grupo: Primeiro
lançou o ótimo Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets; depois o
grupo recebeu convite para estrear o novo estúdio Eldorado, mas como já havia lançado
disco, entrou no estúdio e gravou o Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida, creditado como sendo da Rita Lee. Mais tarde foi lançado o compacto com a música “Mande Um Abraço Pra Velha”. Esse compacto foi o último do Mutantes com
Rita Lee, um mês após o lançamento, Rita foi
saída do grupo. 1972 mutantemente agitado!
Para o rock psicodélico, mais
precisamente o de Recife, 1972 foi um ano importante porque foi quando o grupo Tamarineira
Village estreou. Aliás fez dois shows de “estreia”. O primeiro aconteceu na
histórica 1ª Feira Experimental de Música do Nordeste e depois no bar Beco do
Barato no Recife. Tudo com poucos dias de diferença. Também logo depois Tamarineira
Village se tornou o fabuloso Ave Sangria. E vou dizer aqui pra quem não gosta muito de rock: esse disco tem muita influencia de MPB.
Quando se fala de rock e música brasileira dos anos 70 um dos nomes que
logo surge à cabeça de qualquer pessoa é Secos e Molhados. Há 50 anos o grupo
estreou a formação clássica com João Ricardo, Gerson Conrad e Ney Matogrosso.
Aconteceu em SP, na Casa de Badalação e Tédio e foi um show só.
Pra fechar um grande acontecimento
que rolou há 20 anos. Herbert Vianna voltou aos palcos em duas canjas: uma no
show de Fito Paez no Canecão e outra no Ballroom durante o show de Reggae B
(projeto de Bi Ribeiro). Depois de tudo o que ele passou, incluindo a mudança
física, esse fato é incrível e de tirar o chapéu. O mais emocionante de toda
recuperação dele foi a força que os amigos deram. Os Paralamas do Sucesso é uma
verdadeira família e ela ficou muuuito forte nesse momento. Sensacional!
Nenhum comentário:
Postar um comentário