13 de janeiro de 2008

Entrevista com Nando Reis


Em 2000 após sete de MTV Brasil, saí da emissora e fui ser editor de música de um site chamado TantoFaz.net que hoje não existe mais. Naquele ano inclusive ganhamos o prêmio IBest de Melhor Site Para Adolescentes. Bom, o fato é que entrevistei muita gente legal. Muitas dessas entrevistas perdi, mas outras acabei encontrando em disquetes que julgava perdidos. Aqui é a vez de Nando Reis e essa conversa aconteceu na sede da gravadora e era época de divulgação do novo disco Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro. Infelizmente só achei a entrevista editada...

De férias dos Titãs e de seu fiel instrumento, o baixo, Nando Reis entrou num avião e rumou para Seattle. Gravar fora do Brasil? Não foi frescura nenhuma e sim, necessidade, pois Nando havia achado os músicos certos para seu novo trabalho… e eles eram gringos. Durante três semanas de intenso frio em Seattle, Nando e sua banda se fecharam no estúdio e acabaram gravando ótimas onze músicas. Em outubro ele começa sua turnê e, em abril de 2001, os Titãs se reencontram.


Paulo Marchetti – Você acha que esse segundo álbum é uma extensão do primeiro?
Nando Reis
– Eu acho que… claro que sim. Mesmo tendo um intervalo de cinco anos, principalmente porque as músicas são todas minhas, eu que canto, eu que compus, eu que toco violão, então acho que tem um estilo que une os dois. Não tem como negar que seja uma extensão.

Paulo Marchetti – Eu digo isso também pelos instrumentos usados…
Nando Reis – Acho que nesse ponto ele é diferente. Porque ele tem mais presença de teclado, ele é todo feito no violão de aço, tem um outro tipo de percussão… ele é menos “brasileiro” nesse aspecto, porque toda a percussão foi gravada nos EUA… aliás, todo o disco foi gravado lá. Embora com o Fernando Nunes e Waltinho (Villaça), que tocam na banda da Cássia (Eller), tenham ido pra lá. A base toda foi feita lá e todos os overdubs e percussão foram gravados pelo baterista, que é um americano, então isso, evidentemente, tem um acento diferente. Eu diria que entre o primeiro e o segundo, a distinção é porque um foi feito com violão de nilon e gravado com um baterista muito mais brasileiro, com um percussionista que é… a banda de apoio, tinha percussão do Marcos Suzano, tinha o Cesinha, o Dadi e o Luis Brasil… essa é a base do primeiro disco. A outra, o batera é um americano, o tecladista é um americano, o baixista e guitarrista brasileiros. Então a distinção da formação é a distinção da sonoridade.

Paulo Marchetti – Por que você optou por gravar fora do Brasil?
Nando Reis
– Porque eu estava muito a fim de gravar com esse tecladista (Alex Veley)…

Paulo Marchetti – Só por causa disso?
Nando Reis
– Também por causa disso. Quando o Titãs foi pra Seattle gravar As Dez Mais, eu tava um pouco preocupado, sabendo que ia gravar um disco e… eu tinha feito o disco da Cássia Eller e de alguma maneira tinha esgotado um pouco uma idéia de uma sonoridade… e eu fui assistir um show lá, de uma banda local pequena e vi o Alex tocando teclado e tinha uma cara comigo que já havia trabalhado com o Alex e era amigo dele… O Alex é incrivel… ele trabalha com uma timbragem bem anos 70 e tinha um jeito de tocar… que me agradou muito. Também porque eu queria novos ares… o estúdio tinha uma energia muito boa.

Paulo Marchetti – Como foi a comunicação entre vocês?
Nando Reis – Eu fui preocupado com isso, porque o meu inglês tem suas limitações, mas a minha personalidade, dependendo do estado, da empatia, da afinidade, eu supero essa barreira, até porque meu inglês não é tão mal. Eu estava mais preocupado em me comunicar em relação as coisas técnicas. A afinidade entre a banda derrubou a barreira da língua.

Paulo Marchetti – E a participação do Peter Buck (guitarista do REM)?
Nando Reis
– Ele é muito amigo do Barret (baterista do disco), eles tem uma banda, chamada Tuatara, de música instrumental. Ele estava em Seattle e nós fomos assistir um show de uma outra banda dele, na qual ele toca baixo. Acabou o show, Barret nos apresentou e ficou por isso mesmo. Eu imagino que o Barret deva ter comentado com Peter da gravação que estávamos fazendo e o Peter ficou com vontade de ir ver a gravação. O Peter acabou gostando e perguntou se não poderia participar. Combinamos um dia, eu e Jack (Endino) escolhemos duas músicas, Peter chegou lá com vários instrumentos, escutou as músicas e gravou.

Paulo Marchetti – Como foi pro Jack Endino gravar uma coisa que não seja rock? Ele estranhou?
Nando Reis
– Quando o Titãs gravou As Dez Mais, ele disse estar satisfeito porque finalmnte alguém tinha dado à ele algo diferente das bandas que ele costuma gravar. Ele não impõe nada no som e é aí que está o grande produtor. Ele foi muito importante e ele gosta muito desse disco… Ele sabe gravar e tirar som, seja qual for… Ele é mais que um produtor, ele também é engenheiro de som. Ele trabalha muito rápido e gosta de fazer tudo sozinho, sem assistente.

Paulo Marchetti – O fato de não tocar baixo. É férias do instrumento também?
Nando Reis
– É. Tocar baixo é uma coisa que, pra mim, dá trabalho… Eu gosto de tocar baixo e acho que eu sou o baixista certo para o Titãs. Mas pra tocar baixo eu preciso pensar bastante. Gravando meu disco solo, prefiro ter outras preocupações.

Paulo Marchetti – O Titãs volta em abril de 2001. Vocês já tem idéia do que querem fazer?
Nando Reis – A gente sabe que não queremos fazer nada do que já fizemos. Eu não tenho idéia. Eu estou no período ‘sem idéias’ para o Titãs.

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