15 de setembro de 2010

Espiritismo

Agora está na moda falar de espiritismo. Depois que três filmes espíritas feitos entre 2008 e 2010 levaram mais de 4,5 milhões de pessoas para os cinemas, a mídia percebeu um filé para vender revistas, jornais e buscar audiência em rádios e televisão (inclusive a Globo conseguiu bons índices com a novela das seis que acabou no dia 10. Não vi, mas foi muito elogiada).


Algumas coisas que li, vi e ouvi me incomodaram, mas não quero me ater em detalhes. Até porque é preciso levar em conta que 98% de tudo que saiu a partir do sucesso desses filmes foi feito por profissionais que nitidamente não conhecem a doutrina espírita. Normal. Ok. Mas o que não pode é transformar ignorância em piada. Aí já vira informação errada. E é isso que incomoda.


Tem gente que falou que é ruim morrer porque a vida continua igual, outras duvidaram do caráter do filho de Chico Xavier, outros tiraram sarro do aerobus que aparece no filme Nosso Lar, gente falando em fantasma, fazendo piada do umbral, enfim, um show de horror. Essas pessoas acabam passando vergonha.


Vale alguns esclarecimentos sem muito aprofundamento porque quem quiser saber mais vai atrás. Eu mesmo participei de grupos de estudo e fiz cursos. No espiritismo não há pregação e ninguém o obriga a nada. O livre arbítrio é respeitado. E quanto mais conhecimento se tem, mais responsabilidade também terá. É como na vida: se você faz uma coisa e sabe que é errada, as conseqüências podem ser mais pesadas. São leis naturais.


A doutrina espírita não é uma religião. Não há hierarquia e não há dogmas – alguns poucos como abrir e fechar as reuniões com orações e coisas assim. Há sim, claro, nos centros, um organograma para administrá-lo. Nada mais. Não existe um líder rodeado de pompas, com avião próprio, cadeia de rádios e televisão, sistema de arrecadação de dízimo, ou prestação de contas a uma central, uma matriz. Ninguém é tratado como um Deus. Não há nada disso. Os centros se conhecem, mas cada um trabalha por conta. 99% dos trabalhadores dos centros (médiuns, passistas, esclarecedores, presidentes, coordenadores, palestrantes) são voluntários. Geralmente paga-se o vigia, a faxineira, o ajudante, esses serviços gerais. Os demais nada ganham.

O plano espiritual é muito complexo. Não basta morrer para ver Deus, Elvis Presley e todos os seus amigos e parentes já mortos. Há a evolução moral de cada espírito e ela irá determinar a camada a qual você fará parte. Um assassino ou corrupto evidentemente não estará junto de Gandhi ou Madre Tereza de Calcutá. Um suicida também não estará junto de quem morreu de morte natural.


O plano retratado em Nosso Lar é próximo ao plano material, e sua principal função é ajudar aos espíritos de uma camada ainda baixa, e por isso ainda há água, comida e um formato bastante parecido com o nosso. É difícil se desprender rapidamente de coisas como beber água, comer e até mesmo ter ainda uma aparência física. Aos poucos o espírito recém desencarnado vai se livrando desses costumes e de outras vontades.


Também no filme, das mãos dos trabalhadores espirituais que ajudavam na recuperação de desencarnados recentes sai uma luz verde, mas isso é apenas uma forma visual que o diretor encontrou para mostrar os fluídos do passe.


O assunto é delicado, exige muita leitura, muito estudo. A dupla André Luiz / Chico Xavier deixou uma série de livros que retratam de forma simples essa relação entre o plano material e espiritual. É leitura que prende mesmo o descrente. Outros livros incríveis que também costumam ser lidos vorazmente em poucos dias são os da dupla Emmanuel / Chico Xavier. Títulos como ‘Há Dois Mil Anos’, ’50 Anos Depois’ e ‘Paulo e Estevão’ é trama da melhor qualidade, com amor, traição, morte, suspense e tudo também retratado de forma simples, leitura agradável e que deixa você curioso querendo saber o desfecho dos acontecimentos. São histórias reais que trazem lições de vida.


Há os romances e os livros de estudo. A obra de Alan Kardec é obrigatória para quem quiser conhecer a base de tudo, principalmente ‘O Livro dos Espíritos’, um livro de perguntas (dos encarnados) e respostas (dos espíritos), o primeiro da codificação.


Tudo isso é uma pincelada rápida e, como falei, sem profundidade. Se deixar vai longe. Minha intenção é apenas esclarecer alguns erros publicados por aí.

 PS1: O 1º filme assumidamente espírita foi o ‘Joelma 23º Andar’, de 1979, com Beth Goulart como protagonista.

PS2: Há sites espíritas que disponibilizam para download toda a obra de Kardec, entre outros clássicos espíritas.

Nenhum comentário: