Acredito que Avril Lavigne e as bandinhas do chamado poppy punk (sem comentários) e emo ajudaram a criar essa onda do rock feito para um público infanto-juvenil, no máximo pré-adolescente (nesse momento em que escrevo, também assisto ao filme Camp Rock 2 com Sofia, minha filha de 9 anos).
Fato é que o que trouxe o rock definitivamente para essa faixa etária foi o sucesso de High School Musical, um telefilme do Disney Channel com um enredo praticamente igual ao de Grease. Atrás dele veio Hannah Montana/Miley Cyrus, Demi Lovato, The Jonas Brothers, Selena Gomez, Emily Osment, Mitchel Musso, Justin Bieber e ainda tem Drake Bell, Emma Roberts e carreiras solos de alguns atores do HSM.
Os canais a cabo Nickelodeon e Disney que têm todo um universo de celebridades e programas como Drake & Josh, Zoey 101, I-Carly, Hannah Montana, Os Feiticeiros de Waverly Place, The Jonas, Sunny entre Estrelas, acabam ditando modas (todos esses nomes e mais outros são freqüentes em revistas como Capricho, Todateen, Yesteen!....).
95% das trilhas desses seriados, telefilmes e filmes são compostas por rock e pop de primeira qualidade, principalmente na trilogia HSM e em Camp Rock 1 e 2. Tem coisas no primeiro álbum de Demi Lovato (a estrela de Camp Rock) que são pesadas, mais até que Fresno, NXZero, Avril Lavigne e até mesmo Joan Jett. São músicas com riffs de guitarra e distorções, com roupagem pop, tremenda qualidade, tudo perfeito, do jeito que americano sabe fazer.
Seguindo essa linha aqui no Brasil algumas bandas acabaram atraindo esse público. Falo de NXZero, Fresno, Glória, Strike, Cine, Restart, Hori, Replace, Hevo 84 e tantas outras iguais ou parecidas. De um jeito ou de outro, querendo ou não, o que essas bandas fazem é basicamente esse mesmo rock/pop feito pelo elenco do Disney Channel. Seu público era de 16 anos, passou para 12 anos e agora já chegou nos 9 anos. Prova disso é a edição 2010 do ‘Meus Prêmios Nick’ que será apresentado por Di Ferrero e Lucas Silveira. O Nickelodeon pega principalmente esse público de 8 a 12 anos.
Pasteurizado ou não, com músicas compostas por produtores ou compradas de compositores profissionais, não importa, fato é que elas são boas e caem muito bem na trilha sonora dos filmes e seriados. Inclusive adoro todos esses seriados da Nick e Disney que assisto com Sofia. São muito divertidos e a maioria dessas músicas não me incomoda quando Sofia está no quarto dela escutando som alto. Como diz um amigo meu: “É melhor do que escutar Xuxa ou Britney Spears”. Sem dúvida. Mas essa qualidade é em relação aos gringos, porque os nacionais são de doer (Sofia só gosta de Restart).
Não dá pra levar essas bandas a sério. O problema é que ELAS se levam a sério. Isso me lembra muito que aconteceu como Menudo e RPM, que fizeram sucesso com esse público pré-adolescente e quando ele cresceu virou as costas para seus ídolos como quem diz: “não sou mais criança para ouvir isso”.
Também acredito que pelas composições serem fracas, com uma estrutura formatada, letras sem muita profundidade e vocabulário pobríssimo, tudo isso ajuda a atrair crianças.
Não quero parecer agressivo, mas fico irritado quando vejo essas bandas reivindicando um lugar ao lado de nomes como Raul Seixas, Novos Baianos, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Nação Zumbi, Skank e, de uma forma as vezes velada, cobram isso da imprensa. Se elas quiserem de fato ter respeito e vida longa, vão ter que começar a escutar música, conhecer boas influencias musicais, escolher melhor seus produtores, parar de dar entrevistas bobas para essas revistas “teens”, e também parar de se vestir de acordo com a moda. Se isso não acontecer, não adianta reclamar de que não é levado à sério, porque não será mesmo.
Não acho ruim a infantilização do rock. Azar das nacionais que atrairam esse público e agora terão que virar gente grande, ou ficarão pra trás.
Bem, Camp Rock 2 é bom, mas o primeiro é bem melhor.....
3 comentários:
O engraçado é que isso sempre existiu, mas ninguém levava tão a sério.
Essas bandinhas descendem dos Polegar e afins da vida. Estes, pelo menos, nunca reivindicaram lugar na história do rock brasileiro.
Abrax
Olha só, primeiro vou oscular teu ego pra depois sentar a pua.
Blog muito bem feito, com críticas urdidas por um conhecedor de rock, música, pra ser mais abrangente.
Adorei a pincelada na histórica do texto "O visionário", o final foi mortificante, não? Sobrar a produção de coisas desse tipo.
Um excerto:
"Não quero parecer agressivo, mas fico irritado "
Bem, agora é hora de sentar a mão.
Se o senhor não quer se exaltar, ou se resigna frente a isso, eu tomo essas dores e sou todo irascível! Não suporto modelozinho midiático e pagação de pau pra hermenêutica da música dessas bandinhas insossas!
É claro, é uma depravação pedir lugar ao sol, e muito mais requisitar lugar nos anais do rock ao lado de nomes que o senhor citou!
E acima de tudo tenho que concordar que o entretenimento infanto juvenil voltou suas armas ao rock...aliás, a guitarras caras, penteados besuntados por lambidas de vaca e etc.
Nessas horas que temos que causar insurreição e voltar ao politicamente incorreto.
É doloroso ver que eles se levam a sério...é risível ver que a maioria entra na dança.
Faço minhas as palavras do Nasi:
"Pastiche de sertanejo com guitarra distorcida dessas bandas é o fim do roqueiro como nós o conhecemos"
Aliás, cheguei ao seu blog através de uma entrevista do Scandurra.
Muito legal, vou continuar de olho.
Abraços!
Falai Renato! Você lembrou bem Polegar, Dominó, Tremendo... outra característica desses grupos efêmeros é o excessivo público feminino (que querem saber do artista não pela obra e sim pela beleza física).
'O Símbolo' primeiramente agradeço os elogios, de fato. Concordo com suas colocações.
A agressividade não me toma conta ao ver as crianças cantando algumas músicas dessas bandinhas, porque o roquinho delas é tão bobo que chega a ser mais inofensivo do que a Xuxa dos 1980.
Valeu a visita. Volte sempre!
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