Aí a pessoa resolve que quer ser diferente. Então pergunto: o que é ser diferente? Pra muita gente ser diferente é fazer uma louca tatuagem, um piercing malandrinho no nariz, língua ou umbigo, ou qualquer outra intervenção no corpo.
Também tem gente que acha que ser diferente é conhecer Londres, Paris e Nova York. É viajar de mochila nas costas, é se mostrar independente, se mostrar inteligente (mesmo não sendo), só falar de assuntos legais (mas o que são assuntos legais???).
Fico me perguntando o que faz uma pessoa se achar diferente por causa de uma roupa, de uma viagem, de uma tatuagem descolada, ou até mesmo por conta do trabalho que faz.
Eu mesmo, que trabalho em televisão e vídeo, percebo uma porção de profissionais iguais a mim que se consideram a última bolacha do pacote. Mas por quê?
Cargas d'água! Será que ninguém percebe que ser diferente não significa mudar a embalagem? Ninguém se torna diferente. A pessoa nasce diferente! Não adianta encher o braço esquerdo com 237 tatuagens, a língua com 78 piercings ou tatuar o branco dos olhos. Se você não é diferente, não é isso que o tornará diferente.
Mas a pergunta permanece: O que é ser diferente? E não existe uma resposta exata. Pensando em ídolos da música, quem poderia ser considerado diferente? Joey Ramone? Elvis Presley? Keith Moon? Jimi Hendrix? Jim Morrison? Janis Joplin?
Mas por que eram diferentes? Quem os considerava diferentes? Há quem os achassem chatos. Johnny Ramone achava Joey chato e vice versa. O pessoal do Who se cansava das brincadeiras de Keith Moon e havia quem não aguentasse segurar a onda doida de Hendrix, Joplin e Morrison.
Pra mim ser diferente é ter personalidade própria (não confundir com personalidade forte!). Por exemplo, tenho um monte de amigos que nos anos 1990 fizeram tatuagem com símbolos tribais, o que foi moda na época. Tenho um monte de amigos que colocaram piercings ou fizeram outras intervenções no corpo, mas só o fizeram agora, quando tudo isso é moda. Não conheço ninguém que tenha posto piercing em 1991 ou que fez uma tribal em 1984.
Automaticamente tendo uma personalidade própria você será uma pessoa diferente. E o que é ter personalidade própria? É não seguir moda, é não ser “maria vai com as outras”. E quantas pessoas são assim?
Lembro que no ano passado, no inverno, eu costumava, dentro do busão, brincar de contar quantas mulheres eu via vestidas com calça jeans e bota de cano longo por cima da calça (geralmente jeans). Tinha vez que, de 50 mulheres, 40 estavam iguais... e todas querendo ser diferentes!
Tem muita gente que vemos na televisão, nas revistas, nos shows, gente que admiramos, que achamos ser diferentes, imaginamos ter algo a mais, mas que no fundo são pessoas tão normais quanto qualquer outra. Pessoas chatas que falam demais, que tem suas manias, que precisam ir ao banco pagar suas contas, que vão ao almoço de família, que são egocêntricas, que não leem sequer um livro por ano, que reclamam das mesmas coisas que nós e que, por fim, não tem nada de especial ou diferente, além do visual ou do fato de ser famosa.
Essas pessoas que gostam de se achar assim diferenciadas, são as pessoas mais normais que as ditas normais. As pessoas que de fato são diferentes, não saem por aí se dizendo ou se portando como se fossem diferentes, e nem fazem nada para que isso se torne algo aparente. Quem é diferente nem sabe que é diferente, até porque pra essa pessoa, ser diferente é normal.
Sobre esse assunto eu poderia ficar aqui filosofando por mais mil parágrafos, mas a intenção é apenas mostrar que ser diferente na embalagem não quer dizer que você será automaticamente uma pessoa diferente na essência. São coisa absolutamente diferentes!
PS: E aí garota, você já fez sua tatuagem na coxa da perna?
PS: E aí garota, você já fez sua tatuagem na coxa da perna?
Um comentário:
concordo integralmente!
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